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Wartime

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drama
mystery
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intro-logo
Blurb

Liz é uma jovem guerreira que no começo possui um desejo forte de vingança contra a família real. Após fracassar e encontrar aliados para ajudá-la a trazer a justiça para o país, ela finalmente encontra um meio de conseguir o que quer... só não esperava que o amor estaria envolvido nisso.

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O presente
-Formação!  Era uma manhã de inverno. Os pequenos flocos que caíam deixavam aquela cidade cinzenta bela. A vista pelo palácio era melhor ainda. Algo que a servidão não imaginava ver. Tudo que ela via do branco era seu uniforme de servidão. Era obrigatório estar sempre limpo no ambiente em que estava. Fora isso, o mundo parecia em vermelho. Notou então uma pequena flor no chão do jardim. Tirando o embaçado da janela com a mão, notou uma soldada ruiva. Não era comum haver ruivos entre os soldados do rei. Se não fosse ela, diriam que seria uma jovem querendo chamar atenção como cabelo. Mas ela sabia que era estrangeira, pois sabia muito bem como era o mundo fora das notas da família real ...  -O que faz aqui, seu lixo de servidão?  A exclamação a fez se retirar da janela. Com educação, ela se curvou.  -Por favor, peço mil perdões, senhor dono. O senhor precisa de algo? -Implorou em sua mente que a resposta fosse “não”.  -Perguntei o que faz aqui!  Com um chute no estômago, a servidão ficou de joelhos, segurando a boca. Alguém como ela não deveria sujar o carpete vermelho do corredor. Ou eles arrancar seu cabelo e fazer de esfregão, afim de limpar a sujeira. Tudo o que podia fazer era aguentar a dor, de cabeça baixa. Afastando as mãos do rosto, ela respondeu:  -Eu vim trabalhar para o príncipe. Sou sua ajudante geral.  -Então e logo!  Dessa vez foi na cabeça. Mas felizmente, o homem gordo foi embora, resmungando de demissão ou algo assim. Ela não entendre. Apenas se esforçava para se levantar e evitar encontrar com mais algum dono.  Caminhando pelo longo corredor, notou que não introduzida guardas em frente a porta onde o príncipe estava. Ela olhou ao redor, se perguntando se era uma pegadinha. O silêncio era estranho. Mas não mais estranho do que os gemidos que ela acabara de ouvir, vindo da sala do príncipe. Após bater na porta três vezes, resolveu entram. A cena não podia ser pior. Uma enfermeira chefe sentada na mesa do príncipe, acariciando seu rosto enquanto encarava a servidão. Dentro enorme sala, ela se sente espremida, querendo sair.  -Uma servidão? Ela se perdeu? O que aconteceu com seu uniforme?  As perguntas pareciam ser para a servidão, mas eram para o príncipe. Já que a desprezível mulher não era capaz nem de olhar nos olhos da pessoa em questão.  -Meu... -Ela finalmente notou a marca escura, causada pelo chute daquele homem. Primeiro, foi espancada, depois, humilhada e discriminada. Ela não aguentava mais. Só queria ir para casa. Após dar o primeiro passo para ir embora, notou que alguém a barrou.  -Myla Nafkalia?   O homem era alto, esbelto e sério. Parecia um mordomo, mas também não parecia ser da realeza. O coração de Myla disparou. Ela estava indo embora. “Será que serei despedida?”, “Sofrerei punição?”. Pensamentos negativos enchiam sua cabeça.   -Toc Toc.   Ela recebeu leves toques na testa, como se fosse uma porta. Só então percebeu que ele havia feito uma pergunta.  -My-Myla Naftalia, a servidão fraca que vai servir ao príncipe como sua ajudante se apresentando, senhor. Dono! -Falou, como se fosse um soldado, fazendo o homem dar uma pequena risada.  O príncipe observava de longe. Após fazer um simples sinal para a enfermeira ir embora, ele pediu que seu servo trouxesse Myla pra mais perto.  -Deixe-nos, Ifinity. -Finalizou, notando que a mesma estava tentando espionar.  Com a porta fechada, o servo levou Myla até a poltrona de couro que ficava em frente ao príncipe.  -Ela é sua nova servidão. -Ele tomou o caderno que havia trago e passou a ler. -Myla Naftalia. Pulmões frágeis sobre o pó; tontura sobre o calor; e anemia constante. -Ele viu Myla se encolher. Depois, voltou sua atenção ao príncipe. -Tem certeza? Ela tem muitos defeitos e deveria ser a última da lista. Sem ofensa. -Falou para ela, que acenou.  -Não terminou, Kenye.  Ele suspirou, e então voltou:  -No primeiro ano de registro, Myla mostrou-se qualificada como soldado do reino, mas negou o convite. Foi aprovada em quase todas as matérias para se qualificar como ajudante real e até instrutora. Uma das melhores alunas na medicina real, podendo ter grande futuro com várias famílias. Assinado a Diretora de ensino senhora Senhorft. Tia de Ifinity.   -Estou curioso. -O príncipe se aproximou de Myla. -Por que decidiu ser uma servidão quando poderia até mesmo ser acompanhante de um membro da realeza?  Com vergonha, ela respondeu:  -Minha filha... também tem pulmões fracos. Tenho que ficar com ela e servidões não trabalham a noite.  -Faz sentido. E sua filha, como se chama?  -Unity.  -Nome lindo. E seu marido?  Uma tosse seca, vindo do servo, os interrompeu.  -Verdade. -Se levantou. -Eu me chamo Ravi. Mas pode me chamar aqui de Revi. Lá fora, me chame de Príncipe Ravi, para manter as aparências. Mesmo que meu apelido seja Girassol. Como o sol. Esse é Kai, meu servo e amigo. Ele costumava ser como uma menina, por isso a chamavam de Kenye. Significa mar. -Ele colocou seu braço nos ombros dele. -Não acha que combinamos? O sol e o mar. E o seu?  -O significado? -Ela ficou confusa. -Acho que “amada pelo povo”. É o que diziam.  -AI!  Um grito agudo os chamou atenção. Vendo de uma das grandes janelas que ali haviam, notaram que um dos soldados que estavam treinando antes se feriu. Pelos prantos e a força que ele segurava a perna, devia tê-la quebrado.  -Como minha ajudante geral, cuidar dos meus soldados também é sua responsabilidade, Myla.  Dobrando e inclinando as pernas, como uma bailarina, Myla mostrou respeito pelo seu chefe.  -Entendido, Dono Revi.    Do lado dos soldados, era exatamente o que haviam imaginado. Em uma das lutas de treinamento em dupla, uma das soldadas tinha quebrado a perna da sua dupla. Em particular, a soldado ruiva. Enquanto ficavam preocupados com a vítima, mal perguntaram para ela o que realmente havia acontecido. Entre os dois, o soldado insultou os rebeldes que estariam tramando algo contra a realeza, e ela parecia uma rebelde, pela cor do cabelo.  -Onde está olhando? -Perguntou o comandante. Notou que ela parecia distraída enquanto observava todos. -Saia da minha frente por hoje. E não se esqueça de entregar uma carta de desculpas ao príncipe por machucar um dos seus soldados, sua rebelde. Você me entendeu?  -Sim, senhor.  Saindo dali, antes do príncipe e seus servos chegarem, ela saiu, sorrindo.  Nunca achou que seria tão fácil. Já era o final da tarde, e logo poderia executar o plano que tinha em mente. E não poderia haver nenhuma testemunha... era o que pensava. Enquanto murmurava sobre seu plano, notou uma sombra atrás de uma das árvores do jardim. Numa péssima tentativa, ele tentou fugir. Não foi considerado nem esforço o fato dela conseguir pegá-lo. Notando como era a pessoa, ficou espantada.  -Uma... raça azul?  Ela não acreditava no que seus olhos viam. Seu corpo era forte e grande, como de um guerreiro, mas o rosto era como de um adolescente. E apesar de aparentar ter tanta força, estava coberto de feridas e sangue. Em um mundo onde raças são discriminadas, os de raça azul tem como características dentes grandes, mucosas azuis e olhos brilhantes. Membros com sangue real contém olhos brilhantes e algumas peculiaridades. A que ela queria matar, controlava mentes.  -E daí? -Ele tentou se soltar, já que foi praticamente arremessado no chão. -Você é uma estrangeira.  Ela levantou sua adaga.  -Me mate logo, antes que eles me matem.  -Quem?  -A guilda da retaliação.   -Quem são? -Ameaçou com a arma branca.  -Uma guilda de rebeldes. Todos mestiços, pobres, odiados pelo reino. Estão querendo igualdade. Vão criar uma revolução tão grande que pretendem retaliar todos os que estiverem acima deles. Como você, já que é soldada.  Mesmo que fosse uma mentira, ela já ouvira falar desse boato. Uma revolta contra o reino. Guardou então sua adaga.  -Não vai me matar?  -Não adianta. Não é você quem quero. E se estiver falando a verdade, então quer dizer que você um traidor. Se me disser tudo, vou arrumar um lugar seguro para você ficar. Eu prometo.  Ele não sabia se podia confiar em um soldado, mas não tinha mais nada a perder.  -O chefe quer iniciar uma guerra contra a família real, por toda a dor que as outras raças sofreram. Mas precisam de alguém do nosso lado no campo inimigo. Alguém que possa estar em cima do muro. Uma estátua nossa no jardim da família real. Mas não havia ninguém assim antes.  -E agora tem...?  -Uma mestiça está trabalhando na família real.  -Ela tem sangue real? Sério?  -É uma amiga. Se ela estiver envolvida nisso e a família do rei descobrir... Ela tem uma filha... Você tem que ajudá-la. Não deixe que levem ela.  -Não sei de quem está falando. Meu objetivo é... -Os olhos do homem estavam fechando. -Ei. Não morra agora. Eu vou te ajudar. -Ela queria, mas como?  -Tem alguém ai?! -Exclamou uma voz ao longe.  -Eles vão te punir se souber que está me ajudando. -Ele pegou a adaga dela e enfiou em seu peito. -Salve esse reino da injustiça, sem machucar as crianças.  Nesse momento, ela se lembrou de seu mestre...  “Liz Wartime. Você é a última de nós. Lute, para que nenhuma criança tenha que passar pelo que você sofreu. E seja, no final de tudo, feliz.”  Quando um soldado apareceu, Liz se levantou. O pôr-do-sol lembrou-a do sangue em suas mãos. Do sangue de seu mestre, e agora daquele homem.  -Este homem da raça azul estava tentando roubar. Eu o matei. Estou indo agora.  -Ah, obrigado pelo seu serviço.    Da enfermaria, ela não sabia que, estava sendo espionada. Por Myla.    E lá estava ela, ao anoitecer, indo em direção a grande sala do príncipe. Seria o momento perfeito, já que a maioria dos soldados estavam resolvendo a situação do cadáver.   -Com licença. -Um susto a despertou dos pensamentos. -Eu sou uma servidão do príncipe. A senhorita soldada... -Ela notou os punhos fechados e trêmulos. -Você está bem?  Era comum as servidões se preocuparem com seus superiores. Em um reino como aquele, existiam cerca de cinco níveis. As servidões eram os mais inferiores e os soldados estavam no meio. Apenas as servidões eram desprezadas.  -Sua mão está tremendo... -E era verdade. Tremendo de ódio. -Por favor, deixe-me cuidar da sua mão, está vermelha.  -Estou bem. -Confirmou.  -Eu sou uma servidão, senhorita soldada. Com todo respeito, devo cuidar dos donos. Não precisa hesitar, sou a ajudante do príncipe.  Não era como se ela estivesse com dor ou algo assim, mas retirar informações dessa enfermeira parecia ser uma boa ideia aos olhos da soldada.  -Então... -Tentou. Não sabia exatamente como iniciar uma conversa por causa da pouca convivência social. -Por que uma pessoa de nível inferior trabalha para o príncipe?  Myla a olhou. Nesse momento, constrangimento e arrependimento percorreu o corpo da soldada. Existia alguém além dela que conseguia ter uma conversa tão preconceituosa e ruim ao mesmo tempo?  -Sinceramente, -Myla continuou a conversa –eu não sei ainda o porquê de estar aqui. A senhorita é estrangeira? Pelo cabelo...  Por puro impulso, a soldada pegou sua faca e imobilizou a enfermeira. A pequena palavra “estrangeira” poderia ser alvo de fofoca e assim impulsionar uma investigação dela. Mesmo que fosse uma boa pessoa, matar inocentes também estava na parte do plano. Mas ainda tinha algo suspeito. Um detalhe muito importante que deixou faltar nessa enfermeira.  -Servidões não podem trabalhar a noite. Quem é você? -Perguntou séria.  -Mamãe...  O som fraco e agudo as chamou atenção. A pele branca, assim como a neve, foi a última coisa que a soldada viu antes de ser arremessada contra a parede. Como se fossem suas primeiras aulas de artes marciais, seu corpo todo doía. Ao se levantar com gemidos, não havia mais ninguém ali. O príncipe não era o problema agora, mas sim aquela mulher com uma força além do normal.  -O príncipe... -Lembrou.  Já era a décima vez no mês. Foi quando o rei resolveu renomear o príncipe como “líder provisório”. Só que o mesmo não imaginou que seria algo tão cansativo.  Apoiado sobre a almofada macia do sofá antigo, ele pensou na vida. Era isso o que ele queria? Viver cansadamente cada dia da sua vida assim? Ou ser como seu pai? Casar, liderar, ter um herdeiro e deixar tudo para as próximas gerações? Não era nem um pouco o que ele queria. Com exceção de ter uma família, uma companheira...  A batida leve na porta o acordou. Seu servo não estava mais por perto. Ele não faria seu único amigo sofrer como ele. E se fosse um guarda, diria algo. Dez segundos, e nada.  -Quem é? -Perguntou com um tom cansativo e um suspiro.  -Sou a soldada Liz e vim entregar meu pedido de desculpas a respeito do soldado Calvin.  -Liz? -Pensou, ainda encostado e com os olhos fechados. -Entre. -Falou, sem fazer esforço para tentar lembrar o nome de uma única pessoa.  Ao ver a cor dos cabelos, lembrou. Mesmo com a pouca claridade, seus fios vermelhos deixavam claro quem era.   -Deixe em cima da mesa, por favor. -Fechou os olhos, querendo dormir.  -Está cansado, senhor príncipe?  Ele riu com o tom de falsidade na fala.  -Ah, estou. E você? Que eu saiba está muito tarde para a entrega de cartas.  -Não gosto de deixar as pessoas esperando.  Um leve som de metal foi-se ouvido.  -Ah, como eu odeio isso...  A ação foi célere. A soldada estava em cima do príncipe, com a adaga acertando o sofá. Ele soltou um suspiro de decepção. Não ligava muito para a arma branca que quase o acertou. Era decepcionante por tentar matá-lo de uma forma tão fútil.  -Foi um presente. -Se referiu ao sofá, enquanto segurava a lâmina com a mão. -E essas roupas, eu não percebi porque estava escuro, mas, você é uma rebelde?   A proteção da frente continha um símbolo do rumo dos ventos, com a parte do norte em vermelho. Indicando que ela fazia parte da facção de rebeldes do norte.  Ela pegou outra adaga de trás das costas.  -Não preciso esclarecer nada para um morto. -Ela lançou seu braço esquerdo no rosto dele.  Com um simples movimento, ele a pegou e a marcou no pescoço com a boca.  -O que –Ela soltou um gemido. -Está ardendo.  -Meu gene é em particular curioso. Nossas famílias podem deixar a pele de outra pessoa vermelha com apenas um pouco de saliva. Isso se eu quiser claro. Também posso controlar muito bem meu sangue, distribuindo para certas partes do corpo. -Ele mostrou o corte de sangue feito com a segunda adaga. -Posso fechar esse corte no meu pescoço quando quiser, mas agora. -Ele pegou a adaga e a apontou para a jovem, caída no chão. -O que eu devo fazer com você? Devo tirar um dedo ou a mão inteira? Sabe, eu não gosto quando tira o que é meu. Como meu sofá ou minha vida.  -Você não sabe o que é ter algo tirado de você. Seu príncipe de merda mimado. -Disse como se fosse uma piada.  -Então, se eu sou mimado, onde estão os que me mimam? -Ela o encarou. Ninguém dos soldados sabia do paradeiro de sua majestade. Apenas que ele deixou o filho sozinho tomando conta do reino. -Eu fiz algo para você querer me matar?  A voz dele era doce e gentil- o que ela não esperava. Não havia rancor ou apatia diante das suas palavras.  “Tudo”  Foi o que ele ouviu antes de alguém bater na porta.   -Alteza, está tudo bem? -Era a voz do guarda noturno.   -Sério, onde ele estava esse tempo todo? Quando me dei conta, a soldado havia sumido. Bem, ela não sobreviveria sozinha nessa cidade e nem passaria pelos meus guardas sem eu saber. Não era algo para me preocupar, mas sim... o que eu fiz para ela? Ou... o que meu pai fez novamente? -Falou baixo.  -Al..teza?  -Ah, tinha um gato selvagem aqui. Ele me atacou enquanto eu dormia. Estou bem.  Grande piada, senhor príncipe. Grande.  Após sua permissão, o guarda entrou.  -A autopsia foi concluída. O homem não carregava nada, mas estava coberto de arranhões e machucados pelo corpo todo, Alteza.  -Disseram que a soldado Liz o matou com uma adaga no coração.  -Sim.  -Se ela o machucasse tanto, os gritos poderiam ser ouvidos. Então se não foi a soldado Liz, quem foi? -Pensou.  -Também encontramos isso. -Ele lhe entregou um papel com um símbolo de lua.  -Um código?  -O homem estava marcado nas costas com esse símbolo. Acreditamos que seja uma tatuagem. Suas ordens.  -Deixem que eu cuido disso depois. Agora me faça um favor...    O servo, como qualquer outro, era muito obediente ao seu senhor. Entretanto, esse era resmungão.   “Me dispensar mais cedo? Conta outra, seu príncipe astuto. Ele percebeu como eu me comportei diante da nova serva Myla e acha que sinto alguma coisa por uma simples mulher. Ainda me pediu para ficar ao lado dela caso ela seja uma espiã? De quê? Temos diversas alianças e o que essa mulher poderia fazer? Eu consigo sentir todos os sentimentos humanos e inumanos que existem nesse mundo. Saberia se alguém estivesse traindo alguém. Ah, como eu queria férias.” Era o que Kai pensava. E aliás, ele odiava seu nome.  Cá estava ele. De frente à casa da mulher “suspeita”. A partir dali o que ele deveria fazer? Como Myla havia dito, a noite é a única segurança que servidões tem. Desde que estejam em suas casas, eles tinham a segurança como as outras pessoas. Se ele invadisse, seria preso, mesmo que fosse um servo do príncipe. Bater? E o que faria depois? Diria que veio confirmar se ela não era uma espiã ou uma assassina? Suspirou até não conseguir mais.  “Toc Toc.” Brincou, enquanto fingia bater na porta. Surpreendentemente, alguém abriu a porta velha de madeira.  -Quem é?  Assombro, Kai havia esquecido que Myla tinha uma filha.  -Oi. -Cumprimentou, sem saber o que dizer. A menina parecia ter 9 anos. Era de pele pálida, como esperado de alguém que não sai de casa, e olhos grandes e heterocromáticos, o que o espantou. -Que olhos incomuns. São bonitos. Você os puxou do seu pai?  -Eu não tenho pai. Nunca o conheci.  Kai não queria esperar o pior. Mas não era incomum servidões mulheres serem abusadas ou darem à luz crianças de pais ausentes. Ele não conhecia muitas mulheres, mas nenhuma que estava cuidando de uma criança com uma casa e viva tão precária. Ele odiava como essas pessoas eram tratadas. Não que ele odiasse a realeza por ser um servo, mas ele odiava a pobreza.  -Me diga, qual a sua comida favorita? Posso cozinhar algo para você.  -Mesmo? -Os olhos dela brilhavam mais do que noite de lua cheia. -Gosto de carne vermelha e suco de morango. A mamãe matava animais na floresta, e mesmo machucada cozinhava. Ela transformava um animal morto em comida gostosa. E colhia morango mesmo que os insetos a picassem. Como esse foi o primeiro tipo de comida que provei, se tornou meu favorito pro resto da minha vida pequena.  Aquela garota falava mais que o príncipe. E falava sobre mortes e ferimentos com tanta naturalidade como se fosse comum na vida dela. Em uma das histórias, ela contou como sua mãe retirava cada órgão e o preparava na panela.  Ele entrou. Entrou fundo em algo que não sabia que era capaz.  Um homem solteiro entrou numa casa com uma criança pela primeira vez. E só depois foi notar que não perguntou de Myla. E se ele fosse acusado de invasão, estaria ferrado.  -Onde está sua mãe?  -Dormindo. Ela dorme quando chega e depois toma banho. Aí nós dormimos juntas. A essa era ela deve estar indo tomar banho ou vindo jantar. Hoje comemos carne. Mamãe conseguiu um emprego novo, sabia? Como ajudante do príncipe.  -Mesmo? -Ele pediu permissão para abrir a geladeira. -E o que ela achou do novo trabalho?  -Ela gostou de todo mundo. Disse que a casa é muito grande e...  Enquanto a garotinha falava até encher o cômodo, Kai procurava por comidas saudáveis nos armários. Pegou o pedaço de carne, macarrão, farinha laranja, corante, temperos e arroz. Ele poderia pagar tudo de volta. Na verdade, ficou surpreso por Myla ter tanta comida para uma família de duas pessoas. As panelas não eram tão velhas, mas o forno parecia usado. Era um forno a lenha.  -Isso usa madeira ou carvão?  -Madeira. E sabe o que mais? A comida que eles servem no palácio são...  Kai finalmente conseguiu acender o forno. Como servo, ele cozinha para o príncipe. Já que haviam pessoas que queriam envenená-lo. Era normal. Ele era o único herdeiro do trono e ninguém sabia a situação de sua Majestade. Ele pegou um pires e provou. Depois, pegou um pouco para a menina. Ela provou como se fosse a melhor refeição da vida dela. De joelhos, acariciou o cabelo negro da menina.  -Quando eu tiver morangos, virei correndo trazer para você, está bem? E muitos outros doces.  Ela chorou de felicidade.  O que Kai estava fazendo? De repente, ele se sentia em casa. Queria saber mais sobre Myla e cuidar daquela menina. A forma que ela falava e expressava seus sentimentos era mais lindo que tudo para ele. Talvez viver por muito tempo trabalhando e reclamando, ele tenha sentido um alívio diante daquela pequena criaturinha fofa.  -Unity?  Se aquilo fosse uma situação normal, no qual Myla saberia que sua filha estava chorando de felicidade e vendo o servo do príncipe cozinhando para elas, um sorriso de agradecimento sairia daquele rosto. Entretanto, ela chegou na hora em que sua única filha estava chorando perto de um adulto que estava segurando na cabeça dela. Kai não pôde ver nada, além do seu corpo ser arremessado contra a parede, e Myla segurando com força em seu pescoço. Quem diria que uma mulher de pulmões fracos seria tão forte? Kai não podia fazer nada além de ficar impressionado. Ele não podia ferir uma mulher dentro da casa dela. Ninguém acreditaria em nada no que ele dissesse.  -Querida, -falou com a menina –por favor, fale a verdade. Esse homem, ele entrou ou você o convidou?  Nunca um homem sentiu tanto medo diante de uma mulher e teve esperança em uma criança como Kai.  -Eu... -ela chorou de novo, mas de preocupação. -Eu o convidei. Desculpe... eu sei que não podemos convidar pessoas na casa, mas eu nunca conversei com ninguém além de você mãe. -Myla começou a descer Kai. -Você nunca está em casa, e eu tenho que me esconder porque somos de classe baixa. Mas ele não veio machucar você, eu sei disso. -Disse com confiança.  Ela se ajoelhou na frente da filha. -Eu acredito em você. -E encarou Kai. -Mas não em você. O que veio fazer na minha casa?  -Eu... -Ele havia esquecido o que contar. -Vim falar com você... -Ela esperou. -O príncipe tem uma doença na língua transmissível que machuca as mulheres. E estão havendo boatos que ele gosta de homens... -Ele queria morrer. -E muitos acham que ele e eu estamos...  -E você queria manter segredo dele? -Ela perguntou na maior inocência. Ele pareceu concordar. -Entendi. Amanhã verei o que posso fazer. E já que fez a comida, que tal jantarmos agora?  “Estou salvo.” Pensou ele.    A falta de ar estava quase matando a soldado. Era como se um veneno forte estivesse matando-a aos poucos.  -Aquele loiro idiota... -Disse. -Então a família dele têm um dom forte... -Descansou então em uma árvore, perto do parque, onde dava para ver de longe a mansão.  -Sua filha é igual você. -Uma voz de longe falou.  Liz se espreitou mais. Notou duas silhuetas vindo em direção ao parque. Era a servidão e o servo. Eles pareciam se dar bem. Ao contrário dela, que estava morrendo. Deduziu então que não estavam atrás dela.   -Sabe Myla. -Ele parou no meio do parque, e ela parou em seguida. -Preciso de contar uma coisa.  Enquanto os dois estavam tendo uma conversa séria, Liz só conseguia pensar em como ela era a pior vela do mundo.  -Antes disso, senhor Kai. Deixe-me lhe dizer... -Ela respirou fundo. -Gostaria que nunca mais fosse na minha casa. Mesmo que seja o senhor, minha filha é a única coisa que tenho. E uma serva como eu andando ao lado do servo do príncipe...  -Entendi... -Mas ele não parou. -Só que eu preciso de você. -Ela começou a corar. -Quando cheguei a mansão, eu precisava aprender toda a rotina de um servo e mudar meu modo de falar. Até meu modo de vestir. Eu não sabia o porquê, mas era obrigado a aceitar sem questionar.  -Que vida dura...  -Sim. -Ele não entendeu a ironia dela. -O ponto é que... eu não posso pedir isso ao príncipe ou confiar na família então... me ajude a recuperar minhas memórias.  Kai segurou os braços de Myla, deixando-a desorientada.  -Preciso que encontre alguém que tenha o mesmo sangue que aquele idiota do príncipe e me ajude a recuperar a memória.  -Está se referindo ao dom forte da família dele? A que pode controlar o sangue que percorre o corpo? E a mente?  -Isso. Por causa dos venenos que ingeriu quando criança, ele deixa o corpo das pessoas dormente.  -Então é disso que você estava falando antes...  “Dormente? Meu corpo vai ficar apenas dormente? Não é veneno?” -Liz queria morrer de tão burra que se sentia naquele momento.  -Mas a família dele é especialista em controlar mentes. Eles podem ter feito algo comigo. Eu não tenho sangue da realeza, mas queria saber o motivo de estar aqui. Eu te dou dinheiro e comida para Unity. O que você quiser, mas me ajude a saber o motivo de estar aqui, e se eu tenho uma família. Não quero mais ficar sabendo de nada.  Ela respirou.  -Só para saber, você está me dizendo para trair meu chefe e arriscar a minha vida e a da minha filha para descobrir sobre seu passado e o segredo da família real de todo o Reino?  -Sim.  -Mesmo que em troca eu peça dinheiro, comida e total segurança e educação para minha filha?  -Correto.  -Ok.  O som dos arbustos os interrompeu.  -Esperem. -Disse Liz se levantando aos poucos. -Eu também quero ir contra a família daquele filho da mãe.  Eles não sabiam o que fariam. Estavam falando sobre trair um membro da família real! É claro que na pior das situações poderia envolver os soldados. E Liz seria de grande ajuda, já que era uma das melhores em combate. Isso se ela ainda fizesse parte dos soldados... Só que nenhum dos dois sabia disso.  -Eu conheço cada um dos soldados e como eles agem... -Tentou convence-los.  -Será...? -Myla olhou pra o servo.  -Não temos escolha, ela nos viu.  -E se... -Myla fez um sinal de morte no pescoço.  -Você! -Ele ficou espantado com a forma que ela lidava com tais situações, mas lembrou que Myla já preparou um animal do zero. -Não! Ela está ferida, devemos ajudar.  -Porque eu sendo a ajudante do príncipe, tenho que ajudar sempre os outros?  Liz realmente era a pior das velas. Ficou olhando os dois falando entre si enquanto deixava a dormência ir embora. Até que resolveu intervir.  -Uma pessoa da família real matou minha família... eu quero descobrir quem foi. -E finalmente disse, com toda sinceridade.  Myla olhou novamente para Kai que concordou, fazendo um sinal com a cabeça.  -Você pode se juntar a nós. -Ela hesitou. -Mas quero conversar com você a sós.  Liz também concordou.   As duas foram mais a fundo na floresta. Sem perceberem, Kai se aproximou de uma das árvores ali perto, para espioná-las.   -Então? -Liz começou. -O que queria conversar?  Num piscar de olhos, Liz foi jogada ao chão. Myla olhou no fundo de seus olhos e prendeu seus pulsos.  -Me diga seu nome e origem. -Ela disse, sem piscar.  -Liz Wartime. Venho de uma família de guerreiros, no qual foram mortos por ordens da família real.  -Qual é seu objetivo?  -Quero matar todos da família real, mas percebi que o príncipe não deve ser o culpado, por isso, meu objetivo é encontrar o culpado do assassino e obter justiça.  -Certo... -Myla se levantou. -Em uma hora, você estará no porão do palácio, com suas feridas saradas e não se lembrará da nossa conversa agora a pouco. Agora, volte para casa.  -Sim. -Liz saiu caminhando.  Myla de repente, sentiu uma falta de ar. Parecia que estava sendo sufocada, mas não tinha ninguém machucando-a. Sua visão começou a embaçar. Segundos depois, ela desmaiou.   Vendo aquela situação, Ele não creditava.  -A Myla é... um membro da realeza?  E enquanto dormia, o símbolo de lua ficou a mostra. Revelando outra verdade dessa mulher.  Kai se aproximou com cuidado.   -O fato do príncipe escolhe-la, do fato de ficar curioso com sua família e me provocar, era para eu descobrir sobre ela. Mas ela não tem registro, onde esteve antes de vir ao país? Sua filha é mestiça, então seu marido era um plebeu? Quem é ela?    Na frente da casa de Myla e Unity, alguém bateu na porta.  -Mãe?  -Senhorita Unity? -Um soldado cozido.  -Onde está minha mãe ...? -Seu olhar foi de espanto.    A vida do príncipe estava em risco. Segredos de Myla e Unity foram revelados. Kai falou sobre traição a um membro da família real. E Liz não fez ideia de quem eram as pessoas que a rodeava.    Qual seria o destino deles?     

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