Capitão
Fiquei meio sem graça quando o Chamba nos pegou em um abraço. Pode parecer nada demais, mas fico envergonhado com qualquer situação que envolve a Alice.
Nunca que, eu admitiria que gosto dela para o seu pai, extremamente protetor, que mataria qualquer um pela filha. Ele nos vê como irmãos, sempre cuidei dela e vou continuar cuidando.
Ao pedido do Chamba, fui até a boca 2.
Filé: Até que enfim, Capitão — se aproxima de mim.
Capitão: Manda o papo, pai.
Filé: Mandou o k.o de que não vai pagar.
Capitão: Seu nome? — me aproximo do homem, que pasma ao me ver.
— Você? — sorrir.
Capitão: Desculpa. Quem é o senhor?
Ele aparentava ter uns 50 anos.
— Não reconhece o próprio tio, Caio?
Capitão: Que tio? Nem família eu tenho.
— Seu pai destruiu a nossa família!- fala nervoso.
Suspiro alto. Não posso discordar, ele está certo.
Meu pai era um alcoólatra doentio. Minha mãe fugiu com a mais nova, deixou eu e a Sara com ele. Ele chegava e vinha pra bater nela, seu foco era bater em mulheres.
Eu sempre defendia a Sara, mas teve uma vez que eu estava fora. Então, ele desceu a porrada nela. Quando eu soube, fui correndo pra casa e já o vi morto no chão do quintal. Chamba tinha o matado.
Daí em diante, ele me ajudou. Desde os meus 15 anos, ele me dava o que de comer e vestir, o mesmo pra Sara. Ficávamos mais em sua casa do que na nossa. Por isso,minha aproximação da Alice.
— Alivia isso pra mim, meu sobrinho.
Capitão: Se eu aliviar dessa vez, você vai fazer de novo e de novo. Então, não.
— Como assim, Caio?
Capitão: Eu sou o Capitão! Não me chame de Caio — digo sem paciência — O Chamba disse pra cessar teu lado, mas não vou pagar a tua dívida, tenho que sustentar minha irmã e nem te conheço.
— Como eu vou pagar isso tudo?
Capitão:Pensasse nisso antes. Podia ao menos ter empenhado algo, não estaria nessa situação agora.
— Parcela pra mim — bufo e reviro os olhos já acionando o Chamba no rádio.
Ele me diz que pode parcelar no máximo em três vezes.
Capitão: Três vezes e nada mais. Não somos Casas Bahia pra ficar parcelando — ele assente — Quanto, Filé?
Filé: 300 contos em cada mês, pai.
— Com vou pagar isso tudo?
Capitão: Se vira, tem dois meses pra pagar. Forma de parcela, Filé — peço. Não somos Casas Bahia, mas sabemos calcular no carinho.
Filé: Terça é o primeiro. No próximo mês, pegamos o restante e aviso direito.
Capitão: Eles vão na sua casa, na terça. Paga direitinho ou o b.o vai ser pior.
— Você mataria seu tio?
Capitão: Talvez — dou de ombros —Mas o Chamba, não pensaria duas vezes em ter sua garganta fora — solto uma risadinha.
Subo na minha moto e vou direto pra casa.
Ao chegar, guardo a moto e entro na casa.
Sasa: Capitão! — pula em meu colo.
Capitão: Isso é saudades? — ri, a colocando no chão.
Sasa: Fiquei triste por não dormir aqui.
Capitão: Tento dormir hoje. Sabe que eu tive meus motivos, fiquei de...
Sasa: Plantão — completa, e concordo — Eu entendo. Faz isso pelo meu bem, por isso é o melhor irmão do mundo.
Capitão: Por isso que eu te amo, garota — dou um beijo na sua testa.
Subo pra tomar um banho, visto uma bermuda e volto pra sala, deitando ao lado da Sara.
Enquanto ela assiste um filme, fico mexendo no celular pra ver qual é a do baile.
Capitão: Vai no baile, Sasa?
Sasa: Não sei se quero — faz bico — Mas com certeza, a Lice vai me arrastar pelos cabelos — ri nasal.
Capitão: Eu levo você até a casa dela.
Ela assente, e eu subo pra me arrumar. Coloco uma bermuda preta, uma blusa camuflada e calço meu tênis da Cyclone. Bato no quarto da Sara que logo abre a porta.
Sasa: Como estou? — dá uma voltinha rindo.
Capitão: Linda como sempre — dá um beijo no meu rosto.
Sasa: Vamos. Alice já está reclamando — me puxa descendo as escadas varada e fomos de moto mesmo
Alice
Dou uma conferida no espelho, após ter me arrumado todinha. Estou muito gata!
Escuto a campainha tocar e deduzo ser a Sara. Desço as escadas correndo e abro a porta já com um grande sorriso.
Capitão: Oi, Lice — sorrir sem graça.
Alice: Oi, Capitão — murcho o sorriso.
Capitão: Vai mesmo ficar assim comigo? — dou de ombros.
Sasa: Não estamos atrasadas? — Sara me lembra do baile.
Alice: Vou pegar meu celular, já volto! — saí correndo, peguei meu celular e voltei pra sala.
Capitão: Cadê o seu pai?
Alice: O Chamba? Deve estar no baile já. Não vai? — ele nega.
Capitão: Estou exausto. Mas seu pai adora uma farra, assim como você, logo ele me aciona e eu broto lá.
Alice: Talvez eu te veja lá, o que eu não quero — puxo Sara comigo até o campo principal do morro. Onde acontece os melhores bailes do Vidigal.
Sara: Vou buscar umas bebidas! — ela grita por conta do som e eu concordo.
Começo a rebolar no ritmo da música.
Logo Sara vem me dando um copo de vodca e outro de cerveja. Bebo tudo de uma vez.
Alice: Rebola comigo!
Voltei a rebolar junto com a Sara, somos muito sincronizadas nas reboladas. Nem te falo que ensaiamos a semana inteira. Fomos no ritmo da música, cantando e descendo até o chão.
-Me maceta, me maceta, me maceta...
Sinto umas mãos na minha cintura me puxando mais pra perto, continuo rebolando e me esfregando mais em seu corpo.
-Vai rebola pro pai, vai novinha vai... — ele canta pra mim.
Sinto um arrepio e me viro pra ele. Ele é bem bonitinho. Quando me aproximo pra lascar um beijo nele...
— Tá doida, Alice? — me puxa.
Alice: Você não é meu pai, Caio!
Capitão: Estou fazendo isso por ele.
Alice: Você não me manda — me solto dele — Me deixa em paz, porra!
Capitão: Não começa a ficar de gracinha, Alice.
Alice: Eu já disse que você não me manda. Se meu pai não está se preocupando com o que estou fazendo, por que você está? — desafio ele me aproximando mais.
— Por.. Por que... — abaixa a cabeça e sai dali sem dizer uma palavra.
Caio me irrita, acabou com a minha noite.
— Você... — me viro pro garoto.
Alice: Eu o quê?
— Ele é seu namorado?
Alice: Relaxa, não.
— Ele me parecia com bastante ciúmes, vai atrás dele, morena — me dá um beijo na bochecha e se vira pra ir embora.
Obrigada, Caio. Acabou com a minha foda.