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1423 Words
Naiara Entrei pela porta dos fundos que da direito a cozinha e já vi minha mãe na boca do fogão. —Coroa! — Gritei a dando um susto por trás. —Naiara, sua filha da puta — Bate com o pano de prato em mim. —Bom dia, mamãe. Também estava com saudades — Rio e abraço. —Tô sem dinheiro. Nem vem, Naiara — Desliga o fogo. —Só acha que eu venho pra cá pra pedir dinheiro — Estalo a língua. —Pra que mais seria? — Me olha séria. —A senhora sabe que eu não venho por causa so pai. —Desculpa. Mas esse mês não posso pagar a tua faculdade e nem o aluguel, Nai — Alisa meu cabelo. —A Selma já tá apertando a minha mente, disse que vou ser chutada na certa se não for pagar no dia certinho. —Depois que o seu pai sofreu aquele acidente no trabalho e está impossibilitado de trabalhar, já viu. Tudo aqui em casa tá apertado demais — Vejo seu olhar triste — Me desculpa por não poder continuar te ajudando meu amor. —Tá tudo bem, mãe — A abraço. Eu preciso ajudar dentro de casa. Mas com o dinheiro que eu ganho como garçonete em uma lanchonete por meio período. Tenho que arrumar o meu jeito pra faturar mais — Eu prometo que vou dar o meu jeitinho, como sempre damos — Beijo a sua testa. —Mas eu não tinha depositado um dinheiro extra há um tempo na sua conta? — Sorrio nervosa. —Ontem eu fui checar a conta no banco, ai eu poxa, deve ter uns trezentos reais ainda. Quando fui ver o saldo só tinha quatro reais — Dou de ombros. —Como conseguiu gastar tanto, Naiara? —Contas e mais contas? Vida adulta não é fácil, mãe. É um eterno respirou, gastou cinquenta reais. Sem condições. —Você e Nicolas só me da prejuízo — Esfrega o rosto. —Falando nisso, cadê o Bambi? —Saiu de casa ontem de noite e não voltou até agora. Nem as chaves levou. —Já ligou? —Só da caixa postal. Que não tenha acontecido nada com ele — Como se Nicolas desse bobeira pra perigo. Com certeza foi pra casa de alguma menina transar e fumar. Ele sempre foi de me contar tudo, não é nada demais. —Abre o portão! — Escutamos os gritos e batidas como desespero. Já imagino quem é e vou caminhando pelo quintal a entrada. —Quem é? — Pergunto. —Sou eu — Responde como se fosse óbvio. Abro o portão — Porra, Naiara. Demora muito. —Tá achando que sou sua empregada? Quando perguntarem quem é, você diz o seu nome. Sorte tua que reconheci essa tua voz de viadinho — Enxoto ele pra dentro e fecho o portão. —Quebra viada — Bate na minha cabeça. —Você para de ficar dando sustos na mãe, Nicolas — Chuto sua canela e ele resmunga — Eu vou te quebrar na porrada. Que merda foi fazer dessa vez? — Pergunto mais baixo pra ninguém escutar. —Vou entrar pra boca — Sorrir com naturalidade. —Mãe vai infartar, Nicolas. Meu pai vai te enfiar a porrada. —Meu pai tá sem trabalhar, minha mãe tá quase sem casa pra limpar e quando aparece, tem que rejeitar por ter que cuidar do pai. Muito mal consegue alguma coisa passando roupa, ainda tem tuas despesas, Naiara. Eu tive que me mover de alguma forma. —Se move tentando passar em um concurso. Ah, é — Coloco a mão na testa — Não tem como já que nem terminou a droga do ensino médio. —Escola é pra mim não. Você é inteligente, Naiara, você vai longe. Meu único caminho é esse, dinheiro fácil sem precisar estudar — Passa por mim e vou atrás dele — Toma o teu — Me joga o pacotinho de erva e pego no ar. —Primeira guerra tu afunda, Bambi. Tá ficando doido? — Pergunto toda preocupada. Nic é meio lerdinho pra essas coisas de bandido, não da dentro. Só tem dezoito e se acha o adulto. —Obrigado pela confiança, irmãzinha — Sorrir debochado — E para com o Bambi. Apelido ridículo. —É mais uma ofensa pro Bambi ser comparado com você. Eu que lute pra segurar esse garoto. Fiquei um pouco com a minha mãe e meu irmão. A bichinha quase que virou pra trás quando ele contou que iria entrar pro tráfico, ela bem que disse pra ele que não da dentro e pipipi popopo, mas quem disse ele escuta? Escuta nada. Faz o que quer, sabendo que queremos o seu melhor. Entrei no busão tocando pro terror e desci indo de cara com aa portas do inferno. O primeiro enviado de Lucifer me espera ansiosamente para me envergonhar na frente da classe inteira pelo meu atraso, nunca pede sua oportunidade. — Licença — Peço educadamente por estar sete minutos atrasada — Posso entrar? — Que bom que chegou, Naiara — Sorrir sarcástico — Entre e senta em seu lugar — Suspiro aliviada por nenhum comentário a mais. Até eu passar por sua mesa e sentir seu aperto em meu braço — Não terá tratamento especial, Naiara. Não irei tolerar mais seus atrasos — É rude e assinto. Não quero parar na coordenação como da última vez quase sendo expulsa. Tive toda a droga do meu esforço pra chegar até aqui e não vou desistir no meio do caminho. Me sento no meu lugar e assisto a lição do inferno dada pelo tremônio. Guardo todas as minhas coisas na mochila assim que as aulas acabam e sou liberada. Vou até o pátio onde encontro uma rodinha em que envolve a Cassia. Paro ao seu lado e a mesma para de rir no instante e me abraça de lado. — Viada tu se atrasou de novo. — Nem me fale — Suspiro. — O tremônio te humilhou dessa vez? — Sorrio de lado — Eu juro que vou acabar com a raça dele — Cerra os dentes. — Calma, campeã — Brinco — Você não pode ser expulsa. Ou esqueceu que é bolsista? — Não é atoa que quebro os dentes dessas patricinhas a quilômetros daqui. Dentro da faculdade podem me expulsar, fora daqui somos apenas pessoas que trombaram os punhos por mera coincidência — Da de ombros e rio de seus pensamentos. — Cassia Monteiro e Naiara Azevedo — Escutamos aquela voz grossa que conhecemos melhor que nós duas. — Tem medo não caralho? — Cassia resmunga com o mesmo que vem com aquele sorriso sonso. — Sei que amam minha visita — Pisca pra mim e reviro os olhos. — Tá dizendo isso pra mim ou pra Naiara? — Cassia cruza os braços e pergunta com deboche pra ele que estala a língua. — Se sinta especial não — Bate em minha testa e faço careta. — Por você sinto nojo e desgosto, Rafael — Falo em provocação. — Você se fazendo de difícil só mexe mais comigo, Naiara — Sussurra próximo ao meu rosto. — Eu mandando você tomar no seu cu, mexe com você, Rafael? — Arqueo uma sobrancelha e sorrio em vitoria ao ver o mesmo se afastar. — Bora pra casa, Cassia. Vim te buscar hoje. — Continua o teatro de vocês — Incentiva — Estava adorando essa cena. Não sei porque não casam logo. — Sem chances — Respondo convencida. — O doido que tiver coragem de namorar com a Naiara, vai ter todo o meu respeito. — Se deve respeito, lindo — Retruco com deboche. — É coisa do passado — Justifica. — Passado, pipipopo — O imito até ser calada por um selinho rápido. — Bora, Nai? — Marcos, o dono do beijo me pergunta e concordo sorrindo — Cassia — Abraça ela. — Fala aí. Tem cigarro não? — A bicha até se anima. — Do verde eu tenho — Rir discreto e entrega pra ela. — Eu já disse que amo esse garoto? — Aperta suas bochechas — Casa com ele, Nai. — Traidora — Rafael fala mais alto — Até agora estava mandando ela casar comigo. — Você disse que não queria. Passei pro meu melhor abiguinho. — Vai ir a pé, vagabunda — Da as costas todo bravinho nos deixando pra rir dele. — Vou lá ou o bonito vai mesmo me deixar por aqui — Beija minha bochecha e acena pro Marcos e vai atrás do irmão.
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