Contrato com um milionário

Laura fechou os olhos prazerosamente ao degustar o recheio suave e macio de chocolate com pimenta, feito por ela mesma, e suspirou com entusiasmo ao perceber que mais uma das suas fórmulas de bolo caseiro tinha funcionado. Serviu o doce em um de seus aparadores de vidro, e caminhou com ele da cozinha até a área da loja, pousando o objeto por cima do balcão, justo quando Sophie, sua filha de três anos, cruzou o ambiente da área comum de mãos dadas com a avó. Os olhos verdes e espertos de Sophie brilharam ao ver a sobremesa na vitrine, e a pequena correu de encontro aos braços da mãe, que saiu de detrás do balcão para abraçá-la. A mulher girou o corpo pequeno e delicado da menina, disferindo um beijo afetuoso em sua bochecha. - Achei que o Pedro estivesse te ajudando. Ele já conseguiu um emprego novo?- Perguntou Estela, mãe de Laura. - Ainda não. Mas saí todos os dias para procurar.- Laura respirou fundo antes de colocar a sua filha no chão, encarando a mulher mais velha com precisão.- Não está fácil para ninguém, mãe.- Estela assentiu, varrendo com os olhos o ambiente. A confeitaria estava tomada de pessoas, todos muito satisfeitos com os quitutes fornecidos. Antigamente, ali costumava ser a padaria do pai de Laura, lugar no qual a moça trabalhava desde os seus quinze anos. Com muito esforço e dedicação, usando todas as suas economias, logo após a morte de seu pai, Laura conseguiu realizar o seu maior sonho. Transformou a padaria em uma confeitaria, e graças ao seu talento, não apenas toda a cidade, mas todos os turistas que visitavam Bela Rosa, faziam parada obrigatória no estabelecimento. - É incrível o que você fez com esse lugar. Cada dia que vejo, tem mais pessoas provando os seus doces.- Comentou Estela, orgulhosa.- Fico emocionada de ver o quão você é dedicada. Conseguiu realizar o seu maior sonho, minha filha.- - Ah, mãe.- Laura suspirou, feliz com os frutos de seu trabalho.- Acredita que eu me falo isso todos os dias?- - Você trabalha demais, Laurinha. Não é justo que se esforce tanto para pagar sozinha as contas de casa enquanto o seu marido é um encostado.- - O Pedro não é um encostado. Ele foi injustiçado naquele cartório. Trabalhou lá durante anos, para o chefe demiti-lo como se não fosse nada.- - Não teria sido demitido se não tivesse desviado dinheiro.- Retrucou Estela.- E eu gostaria de saber para quê, já que sempre ajudou com o mínimo em casa. Se não fosse por você…- - Ah, mãe, chega. Isso foi uma tramóia que fizeram contra o Pedro, ele nunca roubou um alfinete.- - Se você quer se iludir…- Estela deu de ombros, tornando a segurar a mão de Sophie.- Venha, meu amor. Está na hora de vovó te deixar na escola.- - Obrigada mesmo por toda a ajuda, mãe. Não sei o que seria de mim sem você.- Laura pousou um beijo no rosto da mais velha, e em seguida, fez o mesmo na testa de sua filha. - Hoje vou ter bolo de lanche?- Perguntou Sophie, com um sorriso largo. - Claro que vai! O nosso combinado é que nas sexta-feiras tenham bolo no lanche. E adivinhe? Na sua lancheirinha a mamãe colocou um bolo que é novidade aqui na loja.- - É o de chocolate com pimenta?- Perguntou Estela. - É sim, mãe. Guardei um pedaço na cozinha para a senhora provar.- - Pimenta?- Sophie fez uma careta. - Não se preocupe, querida. A pimenta é só um pequeno retoque. Vai ver como você vai gostar.- Laura acariciou os cabelos de sua filha, que ainda refletia a respeito do sabor do bolo. - Vem, agora vamos, hoje é dia de prova e você não pode se atrasar.- Estela tornou a conduzir a sua neta para fora do estabelecimento. Aproveitando a saída das duas, Laura gesticulou para uma de suas três funcionárias, que se aproximou ao ver os gestos da patroa. - Patrícia, eu preciso que cuide da loja para mim enquanto vou ao banco pagar as contas daqui.- - Não se preocupe, Laura. Pode deixar que está tudo sob controle.- Disse Patricia, com um sorriso amável. - Não vou demorar muito. Só preciso passar em casa antes para buscar o dinheiro.- Laura tirou a toca e o avental, guardando-os debaixo do balcão antes de sair em disparada para fora da confeitaria. Sua casa ficava a alguns metros de distância, e só precisou atravessar a rua para chegar lá. Adentrou o lugar tranquilamente achando que não tinha ninguém, mas foi surpreendida pelo barulho de respirações ofegantes. Estava prestes a subir o primeiro lance de escadas que dava acesso ao seu quarto, quando retrocedeu. Gemidos femininos vinha da lavanderia, e guiaram Laura até a área da máquina de lavar. Pelas frestas da porta meio-aberta, conseguiu ver as costas n.u.a.s e as n.á.d.e.g.a.s de seu marido, que executava movimentos bruscos de vai e vem com o quadril. Viu quando pernas longas e femininas arrodearam as laterais do corpo grande e rígido de Pedro, e por mais que estivesse perplexa com a cena grotesca, conseguiu abrir a porta com um solavanco. Pedro deu um salto para trás, assustado, e Camila, sua irmã mais nova, permaneceu estática. Laura sentiu a garganta fechar ao ver o rosto temeroso de Camila em conjunto com os s.e.i.o.s médios e bem desenhados, que subiam e desciam devido a respiração irregular. A imagem de seu marido e sua irmã completamente p.e.l.a.d.o.s e no mesmo cômodo, fizeram Laura querer vomitar. A princípio só conseguiu olhar de um para o outro, em choque. Um silêncio constrangedor se alastrou pelo ambiente, ninguém conseguia dizer nada. - E-eu vim até aqui a pedido da mamãe. Ela pediu que eu buscasse o dinheiro que você levaria para o banco.- Explicou Camila, fingindo que não tinham problemas maiores. - O que está acontecendo aqui?- Os olhos de Laura arderam em lágrimas, transbordando, assim que olhou de um para o outro, mais uma vez.- Não, não precisam me dizer. Acho que vi demais e escutei demais.- Ela levou as duas mãos para a cabeça, de repente, o teto parecia girar. - Meu amor, por favor, me escuta…- Pedro tentou segurar os braços de Laura, mas ela o empurrou abruptamente para trás. - Então é isso, Pedro? Enquanto eu me mato de trabalhar para sustentar a casa, no lugar de procurar um emprego novo, você estava f.o.d.e.n.d.o com a minha irmã?- - P-pensei que fosse voltar mais tarde da confeitaria, e-eu tinha acabado de chegar de uma entrevista de emprego…- - Poupem-me dessas desculpas esfarrapadas. O que eu vi aqui deixou tudo mais do que claro, não tem explicações que resolvam. A minha irmã e o meu marido me apunhalaram com a p.i.o.r das traições.- Laura secou as lágrimas que ainda escorriam, seus olhos continuavam vermelhos e úmidos.- Eu quero os dois fora da minha casa, agora.- - Laura, Laura, meu amor… Pense na Sophie, não vai ser bom para a nossa filha…- Pedro tentou argumentar, mas foi inútil. - Não vai ser bom para a nossa filha conviver com um pai como você. Ponha-se daqui pra fora agora.- - Eu sou seu marido, não pode me mandar embora da minha…- - Nada daqui é seu. A casa e a confeitaria são minhas, e você não tem direito a nada. As tenho antes de nos casarmos de papel passado.- - É isso mesmo o que quer? Porque se eu passar daquela porta, não tem mais volta.- Pedro trincou os dentes, tentando soar ameaçador. - Ainda não percebeu que é tudo o que eu mais quero?- Laura o lançou um olhar desdenhoso, cruzando os braços para adquirir um pouco de empáfia.- Entrarei hoje mesmo com o pedido de divórcio. Espero que assine por bem para eu não ter que recorrer a um litigioso.- - Não se preocupe, querida.- Disse Pedro, com ironia.- Não vou levantar um dedo contra o nosso divórcio. Mas pode esperar, porque o seu castigo virá a cavalo.- - Você me trai na minha própria casa e ainda por cima tem a pachorra de me ameaçar?- Laura semicerrou os olhos, estava por um triz de comer um homicídio e um sororicídio no mesmo dia.- Não vou repetir para saírem daqui. Se eu tiver que falar mais uma vez, arranco os olhos de vocês dois.- Camila foi a primeira a fazer menção de se retirar, ainda p.e.l.a.d.a, quando Laura segurou o seu punho com força. - Um dia vai se arrepender por ter traído uma das únicas pessoas que sempre fizeram de tudo por você. A partir de agora, Camila, você não é mais a minha irmã. E pode ter certeza que nossa mãe vai ficar sabendo disso.- - E que diferença isso faz? Tanto a mamãe quanto o papai sempre gostaram mais de você. Eles sempre te defenderam em tudo, e a maior prova disso é que você foi a única herdeira da padaria.- - Então é isso? T.r.e.p.o.u com o meu marido por vingança? Não, porque para você sempre repetir essa história…- - Eu sempre gostei do Pedro.- Os olhos de Camila também ameaçaram transbordar em lágrimas, mas a mesma conseguiu conter as emoções.- Desde o primeiro dia que você o levou na nossa casa, eu sabia que em algum momento ele seria meu.- - Eu tenho nojo de você, Camila.- Laura pressionou os dedos ao redor do punho de sua irmã com mais força, encarando-a como se pudesse roubar todo o ar que ela respirava apenas com os olhos.- Você é injusta demais. Eu posso ter ficado com a padaria, mas você ficou com o apartamento do papai. Nunca fizeram distinção entre nós, mas sempre, Camila, sempre, você quis tudo o que era meu.- - Acha que é importante demais, não é, Laura?- Os lábios da outra garota começaram a tremer, revelando o ódio profundo que ela sentia.- Vai ver o seu marido procurou comigo o que não encontrou com você.- Laura engoliu em seco, obrigando-se a não cair naquela provocação. Não mostraria para Camila o quanto aquilo a afetou. - Falta de escrúpulos e de moral, com certeza.- Rebateu Laura, mostrando frieza. A outra tomou a iniciativa de atravessar a soleira para fora da lavanderia, olhando o seu amante por cima do ombro, para ver se o mesmo a seguiria. - Ainda está em tempo de desistir.- Insistiu Pedro. Laura lançou um olhar mórbido, inexpressivo, a bile começando a arder em sua garganta. - Repetindo, hoje mesmo vou entrar com o pedido do divórcio. O único que quero de você a partir de agora, é que ao menos seja um bom pai para a Sophie.- - Fez a sua escolha. Agora lide com as consequências.- Pedro pisou duro para fora do cômodo, seguindo Camila pelo restante da casa. ———————————————— Muito obrigada por estarem acompanhando essa história, que estou fazendo com tanto carinho. Cada um de vocês são especiais, e me inspiram para que cada dia faça um capítulo inédito. Conto com a ajuda de vocês para votarem em mim no bilhete lunar! Clique em #Vote#