Capítulo 2

1507 Palavras
  Camilla   O i*****l nem sequer desviou o olhar depois que me cobri com a toalha. Continuou me encarando, percorrendo meu corpo com os olhos como se estivesse me despindo mentalmente, imaginando arrancar a toalha de mim com as próprias mãos. Aff!   Levantei a cabeça, constrangida, e o encontrei sorrindo como se nada tivesse acontecido.   "Ah, espera, acho que me lembro de você agora." Ele disse, e eu congelei. Meu constrangimento se transformou instantaneamente em medo. Ele me pegou tão facilmente.   "Ah, não..." pensei, enquanto ele inclinava a cabeça para o meu lado, chegando a dar um passo à frente.   "Estudamos na mesma escola, né?" Ele perguntou. Soltei o ar aliviada antes de acenar com a cabeça.   "Sabia. Bom, então te vejo amanhã. Por favor, não saia contando pra escola toda que moramos juntos. Prefiro que isso fique entre a gente. Entendeu?" Não era uma pergunta, era uma ordem. Ele se achava demais, e claramente me via como insignificante. Imagina o escândalo quando as ficantes dele descobrissem que ele divide o teto comigo. Ele teria que dar um monte de explicações — estaria poupando ele de muito estresse se só ficasse quieta. Uma partezinha de mim queria muito espalhar, só para provocá-lo, e quem sabe me divertir um pouco, talvez ganhar alguma atenção. Sei lá.   Só revirei os olhos em resposta, levantando o dedo do meio para ele.   "Pode acreditar, eu adoraria. É mais fácil agora que moramos juntos — estou a poucos quartos de distância, sempre que você estiver a fim." Ele respondeu antes de se virar.   "Ah, quase esqueci — belo r**o, por sinal." Ele estalou a língua. Eu suspirei irritada, peguei um travesseiro e joguei na direção dele, mas ele fechou a porta na hora, fazendo com que o travesseiro batesse na madeira em vez de nele. Resmunguei, cruzei os braços e deixei meu corpo cair na cama. Fiquei brincando com o cabelo enquanto refletia sobre minhas escolhas de vida. São só algumas semanas, depois caio fora desse buraco, deixo ele pra trás.   "Tanto esforço para evitá-lo..." murmurei. Levantei, dei alguns passos até a porta para trancá-la, e então me livrei da toalha.   Verifiquei o armário — gente rica sempre tem robes por aqui — e havia algumas roupas, mas pareciam masculinas; esse quarto devia ter sido ocupado antes. Sem opção, peguei algumas, jogando-as na cama para escolher. Terria que me virar com elas por essa noite. Vesti uma camiseta básica que chegava até meus joelhos. Como cobria metade do meu corpo, nem precisava de shorts.   Deitada na cama, os pensamentos sobre o incêndio invadiram minha mente. Virei de um lado para o outro, incapaz de me livrar da culpa ou pelo menos pegar no sono.   "Desculpe, pai..." sussurrei, quase derramando lágrimas. Já não tinha mais nenhuma para chorar.   "Além do incêndio, havia outro fator na minha cabeça. Dylan Emerton. Ele pode não lembrar, mas eu lembro. Vividamente. Isso só complica tudo. Não posso brincar com fogo, nem literalmente e nem figurativamente. Vou ter que evitá-lo a todo custo, não importa o que aconteça. Se ele descobrir a verdade, estou perdida." Pensei, soltando um suspiro profundo.   Espero que as coisas não mudem. Só quero continuar minha vida entediante como a garota invisível da escola. "Você é ingênua." Minha consciência zombou de mim, e eu sabia que ela estava certa. Minha vida tinha mudado e talvez nunca mais fosse a mesma. Só me restava tentar salvar o que sobrava e torcer pelo melhor.   NA MANHÃ SEGUINTE   Os raios de sol foram meu despertador natural, e assim que tocaram minha pele, comecei a acordar aos poucos com um longo bocejo. Não me entenda m*l, eu adoro dormir, mas não consegui muito na noite passada. Dormi feito uma pedra e agora estava cheia de energia para o dia. Normalmente, eu já teria separado as roupas para lavar, mas as coisas mudaram. Saí da cama apressada, peguei minhas roupas sujas e as deixei no banheiro para depois.   Ouvi uma batida suave na porta. Dylan nunca bateria, bateria? Esquece o Dylan. Devia ser minha mãe ou meu pai. Fui até a porta, destrancando e girando a maçaneta, só para encontrar Dylan com um sorriso maroto. Eu estava errada, ele estava sendo educado...? E até batendo na porta. Será que acordei num universo paralelo?   Seus olhos percorreram meu corpo quando percebi que estava só de camiseta. "Deixei umas roupas aqui, mas ficam bem melhores em você. Duvido que precise delas." Ele levantou uma sacola e eu estendi a mão para pegá-la, fazendo com que a camiseta subisse, enquanto Dylan olhava descaradamente para minhas pernas. Arranquei a sacola da mão dele, fechando a porta na cara dele enquanto pressionava a mão contra meu coração acelerado, tentando me acalmar. "Ficar perto dele não me faz bem, preciso manter distância," murmurei, abrindo a sacola para escolher as roupas do dia.   Depois do banho, vesti um vestido floral e desci para a sala de jantar. Todos estavam na mesa, menos meus pais. Será que saíram? Ou ainda estavam descansando depois do dia exaustivo de ontem. A Sra. Emerton percebeu minha confusão e suspirou.   "Seus pais tiveram uma emergência, precisaram sair do país, mas voltam logo." Ela finalizou com um sorriso tranquilizador.   "Eles foram embora sem me avisar?" Fiquei um pouco magoada. Na verdade, muito magoada. Nem um bilhetinho?   "Sinto muito, querida. Eles deixaram uma bolsa e um dinheiro. Prometeram ligar mais tarde, mas tiveram que sair correndo." Disse o Sr. Emerton enquanto eu pegava o que precisava. Isso era horrível. Horrível mesmo.   Deixei a maioria dos meus livros no armário, o que foi um alívio.   "Não tô com fome, vou comer alguma coisa no recreio." Ofereci um sorriso triste, para não parecer m*l-educada.   "Dylan, querido, seja gentil e leve a Camilla para a escola." Ordenou a mãe dele.   Ele resmungou algo ao se levantar, mas não teve escolha enquanto saíamos de casa.   Para completar a imagem de 'bad boy', ele recusava ter carro e só tinha uma moto. Ele me entregou um capacete enquanto eu subia, abraçando-o com força e sentindo o cheiro dele antes de partirmos. E aquele papo de não sermos vistos juntos? Mas não tô reclamando.   Minha alegria durou pouco. Gostei de abraçá-lo e sentir o cheiro dele o caminho todo, mas o Dylan tinha outra cartada na manga.   Ele parou a moto a alguns metros da escola. Desci. Claro, ele me deixa longe de olhares curiosos.   "Eu sei, ninguém pode saber que moramos juntos," repeti, revirando os olhos.   "Ótimo." Ele sorriu enquanto eu começava a me afastar.   Assim que cheguei à escola, fui direto ao meu armário pegar os livros para as aulas. Senti duas mãos quentes envolverem minha cintura e uma voz perto do meu ouvido.   "Oi, amor." Ele sussurrou. Conhecia bem aquela voz. A presença dele me fez lembrar do incidente mais uma vez.   "Oi, querido." Respondi, me virando e colocando as mãos em seu pescoço.   Esse é o Kyle. Talvez você já tenha suspeitado, mas vou confirmar: ele é meu namorado. Dois anos juntos e ainda firmes, ou algo assim.   "Desculpe por ontem." Ele se desculpou, e eu suspirei. Ele não precisava tocar no assunto, eu estava tentando esquecer.   "Não foi sua culpa."   Estávamos trocando mensagens quando a casa pegou fogo, você sabe o resto...   "Você arrumou algum lugar pra ficar?" Ele perguntou carinhosamente. Engoli em seco, encarando seu olhar intenso. O que eu faço? Não posso falar sobre o Dylan, não por medo, mas porque o Kyle não entenderia.   "Sim, na casa de um amigo do meu pai." Bom, isso não era totalmente mentira, mais uma meia-verdade.   "Mas sinto muito, vamos pra aula." Fechei meu armário e seguimos de mãos dadas para a sala. Fiquei aliviada que ele deixou o assunto pra lá — crise evitada, por enquanto. Conhecendo o Kyle, ele vai querer saber mais em breve. Muito em breve.   "Camilla..." O Dylan chamou atrás de mim. Como assim?   Juro que a voz dele me fez congelar, fiquei completamente paralisada, sem reação. Ele está falando comigo? Chamando meu nome, ainda por cima?   A gente estuda na mesma escola desde o fundamental, ele m*l diz oi, mesmo a gente tendo três aulas juntos, e agora resolve gritar meu nome no corredor? Me enterrem. A ideia era não chamar atenção, não era? Mentalmente, me dei um tapa na cara antes de me virar para encarar o Kyle. Claro, ele estava com as sobrancelhas franzidas, com aquele olhar de " explica agora". Tô perdida.   "Quem é ele?" Kyle perguntou, me puxando para perto. Ele sabia muito bem quem era o Dylan. Todo mundo sabia. Ele queria dizer "Quem é esse cara pra te chamar assim?" A mesma pergunta que eu estava me fazendo. Devíamos perguntar ao Dylan.   "Eu não sou ninguém, mas sou o cara que a viu pelada ontem. Ainda assim, não sou ninguém." Ele respondeu com um sorriso malicioso. Meu queixo caiu. Ele não acabou de falar essa merda. Queria que o chão engolisse na hora. Kyle ficou com um olhar matador, sem contar o brilho de traição nos olhos. Como é que eu vou explicar isso?
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