Capítulo 9

966 Palavras
  Quando a noite caiu, as pálpebras de Catalina finalmente se abriram. Um gemido baixo escapou de seus lábios ao sentir a dor latejante no pulso. Ao virar a cabeça, seus olhos turvos depararam-se com uma silhueta sentada numa poltrona, braços cruzados, observando-a.   "Estive esperando por isso desde o amanhecer," disse Wesley, sua voz um fio gelado no quarto silencioso.   Ignorando-o, Catalina tentou se erguer. Quando finalmente conseguiu sentar, encarou-o, seu olhar desprovido de qualquer brilho.   "Por que me salvou?" Sua voz era um sussurro áspero, carregado de uma fadiga que ia além do físico. "Por que não me deixou morrer?"   Algo no peito de Wesley estremeceu, um frio passageiro que ele imediatamente sufocou. Seu rosto permaneceu uma máscara de impassibilidade.   "Já disse, não sou um monstro. Não posso permitir que alguém morra sob meu teto." Ele inclinou-se para frente, os cotovelos apoiados nos joelhos. "E já que sou tão 'generoso', tenho uma proposta a fazer."   "Um homem bom não faria propostas a alguém que acabou de despertar de um coma," ela retrucou, a voz ganhando um fio de desafio.   Uma batida discreta na porta interrompeu o tenso silêncio. "O jantar, senhor."   "Pode entrar!"   Uma empregada jovem entrou, carregando uma mesa auxiliar com pratos, seguida por outra, mais velha, com uma bandeja de chá.   "Coloquem na cama," ordenou Wesley, apontando para Catalina.   A garota observou, confusa, enquanto a pequena mesa era posicionada à sua frente.   "O que é isso?", sussurrou, desconfiada. "Quer me envenenar?"   Wesley soltou um suspiro exasperado. Após agradecer e dispensar as empregadas com um gesto, ele se levantou e sentou na beira da cama, ao seu lado.   "O que você quer?", Catalina rosnou, encolhendo-se para longe dele. Seus olhos e mãos tremulavam, traindo seu medo.   "Quero ter certeza de que você come. Não suportaria outro desmaio. Seria... inconveniente." Ele espetou um pedaço de melão com o garfo e levou até sua boca.   Catalina desviou o rosto. "Não quero. Deve ter colocado algo na comida."   Wesley riu, um som seco e sem humor.   "Colocado o quê? Sonífero? Para quê? Você não dormiu feito uma pedra por horas? Ou veneno?" Seu olhar se intensificou. "Se quisesse você morta, por que hesitaria? Você mesma pediu duas vezes."   Catalina calou-se por um momento, seus lábios trêmulos. "O que você quer de mim?", perguntou, sua voz mais fraca. "Está sendo 'gentil' porque quer algo em troca, não é?"   O sorriso de Wesley se alargou, finalmente atingindo seus olhos de forma calculista.   "Exatamente."   Ele colocou o garfo de volta no prato e pegou uma pasta da mesa de cabeceira.   "Quero que assine um contrato. Assim, não precisará mais se preocupar com a casa. Receberá cinco vezes a indenização e estará livre para ir."   Catalina pegou a pasta e, com um movimento brusco, a atirou ao chão. Wesley ficou boquiaberto com a reação.   "Você acha que tudo neste mundo se resolve com dinheiro?", sussurrou ela, as lágrimas finalmente rompendo o dique e escorrendo por suas faces. Seus ombros tremiam incontrolavelmente.   "Então, o que você quer, hein? Diga!"   "Admita seu erro! Peça desculpas!"   Wesley ergueu o queixo, soltando o ar de forma controlada.   "Meu erro?", repetiu, a indignação tomando conta de seu rosto. "Já disse e repito: sou inocente. Não fui eu quem destruiu sua casa."   "Não, não foram suas mãos, mas foram seus homens! Aqueles que obedecem às suas ordens!" A voz de Catalina fraquejou, mas sua convicção não.   "Isso não é verdade! Alguém invadiu meu e-mail e enviou uma ordem falsa!"   Ela balançou a cabeça, um suspiro de descrença escapando. "Então, não espere que eu aceite sua 'proposta'."   Os olhos de Wesley se estreitaram. A teimosia daquela garota era infuriante.   "Tudo bem. Isso significa que você concorda em continuar presa aqui. Enquanto não assinar, não porá os pés fora desta casa. Nem mesmo para aquela competição de piano na próxima semana."   A expressão determinada de Catalina se desfez instantaneamente. As palavras "competição" e "piano" a atingiram como um golpe físico. Uma lágrima solitária rolou. "Já não tenho esperanças de ganhar..."   Ao ouvir o desalento em sua voz, os cantos da boca de Wesley se curvaram ligeiramente. Era a brecha que ele esperava.   Ele se levantou, recolhendo os papéis do chão com movimentos deliberados.   "Que pena que recusou. Se aceitasse, poderia arrumar um novo lugar para viver... e um novo piano. Poderia voltar a praticar. Quem sabe até competir..." Suas palavras eram melífluas, seu olhar atento a qualquer sinal de hesitação em seu rosto.   "Deixe-me perguntar mais uma vez." Ele ergueu uma sobrancelha, a pasta agora segura com firmeza. "Você realmente está recusando este contrato e todos os seus benefícios?"   "Pense bem. Qual é a escolha mais sensata? Assinar e correr atrás dos seus sonhos... ou apodrecer aqui, presa a más lembranças, sem ganhar nada com isso."   Catalina engoliu em seco. Seus olhos piscaram rapidamente, a dúvida nítida em seu olhar.   "Sua mãe... ela ficaria orgulhosa se soubesse que você desistiu?" Wesley sussurrou, sua voz baixa, mas cortante como uma lâmina.   Catalina fechou os olhos, as lágrimas escapando por entre seus cílios. Quando os abriu novamente, seu olhar encontrou o de Wesley, uma resignação profunda em seus olhos.   "É só assinar?", perguntou, sua voz quase inaudível.   "Sim," ele confirmou, sua expressão neutra, embora uma centelha de triunfo brilhasse em suas pupilas.   "Então... eu aceito."   Um sorriso de satisfação estampou o rosto de Wesley, rapidamente controlado. Ele não deveria celebrar tão cedo.   "Assine aqui." Ele apontou para a linha pontilhada, estendendo a caneta.   Catalina pegou a caneta com dedos trêmulos.   No momento em que a ponta tocou o papel, prestes a traçar a primeira letra, a caneta escorregou de seus dedos, caindo no colchão com um ruído abafado. Seus olhos, antes marejados de tristeza, arregalaram-se de puro pavor. Ela nunca tinha visto suas próprias mãos tremerem daquela maneira, violentas, incontroláveis.   "M-minhas mãos...?"
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