Semanas depois
Aos olhos de Nina
— Tudo certo, não é?— Perguntei.
Fred me encarou com uma expressão de cansado.
— Já é a milésima vez que me pergunta isso.
Respirei fundo, impaciente.
Estávamos no apartamento de um dos amigos de Fred, no meio da “ festinha”, aguardando a Gabi chegar.
Como teve um encontro antes com o Breno, não conseguimos chegar juntas, nos encontraríamos ali.
— Cuidado para não deixar escapar nada sobre o Alex e eu. Isso acabaria com a minha amizade.— Adverti.
Essa era a minha maior preocupação.
Um segredo quando passava a ser do conhecimento de duas pessoas, já deixava de ser segredo, imagina de três ou quatro?
A minha prima Babi era da minha total confiança, fora a Gabi sempre foi minha confidente.
Mas o Fred…
Quem me garantia que ele não daria com a língua nos dentes em algum momento?
— Você também já me falou isso pelo menos umas trinta vezes.
— E falo mais trinta se for necessário.— Rebati, irritada.
Esse cara estava se mostrando um verdadeiro purgante.
Onde o Alex estava com a cabeça quando achou que a Gabi o acharia interessante?
Graças a Deus, durante aquele pequeno intervalo de silêncio, Gabi chegou pela porta da frente.
Ela veio direto na minha direção e me cumprimentou com um beijo no rosto. Percebeu a presença do Fred logo depois.
Ele até que não era de se jogar fora. Pele bronzeada, cabelos escuros, finos e levemente encaracolado nas pontas, olhos cor de mel…
Se não fosse tão rabugento, seria até atraente.
— Espera… eu te conheço.— Disse Gabi, analisando o rosto dele.
— Eu também te conheço. Você é filha do Alex, não é? Amigo do meu irmão.
— Claro! Já nos vimos algumas vezes. Vocês dois se conhecem?— Ela perguntou, olhando do Fred para mim.
— Nos conhecemos em uma festa que eu fui com a Babi.— Menti.— Ele é do mesmo grupo que o cara que eu saí.
— A voz misteriosa que atendeu seu celular?— Provocou Gabi.— Ele está aqui?
— Ainda não chegou e nem sei se virá, espero que não.
— Quanta frieza para quem passou um final de semana tão intenso.— Alfinetou Gabi.
— Ele é grudento, e nem é tão bom de cama assim.
— Nininha, você veio.— disse outro homem, se aproximando.
Allan era um dos amigos de Fred, dono do apartamento. Ele tinha combinado com alguns dos meninos para que fingissem que me conheciam - obviamente sem revelar a verdade-.
Homens têm certos códigos que não podem ser quebrados entre eles, como o de nunca deixarem um amigo na mão, mas sem fazer tantas perguntas.
Não são tão detalhistas quanto nós, mulheres, que precisamos saber de tudo.
— Está me vendo, não está?— Rebati.
O Allan não se importou, apenas envolveu os meus ombros com um dos braços e me deixou um beijo no rosto.
— O Pedrão não para de falar de você. Depois da festa de sábado, pensei que voltariam para São Paulo namorando.
— E esse tal Pedro vem para a festa? Já estou curiosa! Há um tempo não via minha amiga com ninguém. Embora que ela tem dado uns perdidos que eu desconfio que esteja mesmo ficando escondido com alguém.
— Escondido? Por quê?— Perguntou Allan.
Lancei um olhar fulminante para Fred.
Os amigos dele deveriam me ajudar, não me encher de perguntas.
— Tá aí uma pergunta que quero a resposta. Não vejo sentido de tanto mistério.
— Gabi, chega. Sabe muito bem que estou focada na minha vida profissional, um relacionamento só iria me atrapalhar. O Pedro só foi uma ficada sem importância.
— Então trata de falar isso para ele.— disse o Fred, olhando na direção da porta.
Os olhares dos outros se voltaram para a mesma direção.
O Pedro caminhou diretamente até a mim, me surpreendendo com um beijo.
A Gabi ficou boquiaberta com a chegada tão marcante do outro.
Eu o afastei logo em seguida e olhei diretamente em seus olhos castanhos.
Precisava ser o mais realista possível.
Pedro era um dos caras mais bonitos da festa, deveria ser um dos mais cobiçados na sua roda de amigos. Tinha cabelos tão castanhos quanto os seus olhos, sendo as pontas douradas, queimadas pelo sol.
Ele era um pouco mais alto do que eu, corpo meio atlético, dentes absurdamente alinhados, um tipo bem padrão.
— Você não pode chegar me beijando assim.— O repreendi.
— Vai ficar se fazendo de difícil depois do final de semana que passamos juntos?
— Vem aqui.— disse, o puxando pela gola da camisa para que me seguisse.
Gabi e os outros pareciam se divertir.
— Acho que eles dois estão se entendendo.— Provocou Allan.— Bom, eu também preciso me entender com alguém.— Ele olhou para uma garota que passava bem na nossa frente.
Uma garota linda.
Pele bem n*egra, olhos escuros como a noite, cabelo bem crespo como uma coroa.
— Preciso ir atrás da mulher mais linda dessa festa.— disse Allan novamente.
Sem perder tempo, foi atrás dela.
— O Allan tem muito bom gosto, ela é mesmo maravilhosa.
— E você não fica nada atrás.— Fred a lançou um olhar de flerte.
Gabi não correspondeu a investida. Pelo contrário, ficou super sem graça.
— Desculpe, não quis ser inconveniente.
— Não, não foi inconveniente. É que eu estou gostando de uma pessoa… bem, é complicado, porque não é nada sério.
— Se não quiser, não precisa explicar. Prometo que vou te respeitar. Será que podemos beber alguma coisa?
— Será que é boa ideia beber? Talvez eu não pare nunca mais de falar.
— Sobre o tal cara complicado?
— Digamos que eu gosto mais dele do que ele de mim. Eu sei, deveria me valorizar mais.
— Ninguém pode te julgar, Gabi, todo mundo já teve uma experiência assim. No seu tempo, você vai encontrar o seu valor.— Fred gesticulou para o garçom e tomou a iniciativa de pegar as duas bebidas, quando o homem parou.
Entregou um copo para a Gabi e a observou dar uma generosa golada.
— É uma longa história.— Ela disse, sem fôlego.
— Sou todo ouvidos.— disse Fred, solidário.
De longe observei os dois, o Fred parecia mesmo muito atencioso, ouvia cada palavra que a Gabi falava.
— Acha mesmo que ele está prestando atenção nela, ou nos p*eitos dela?— Perguntou Pedro, observando o decote da Gabi.
— Nos dois. A Gabi é linda e muito boa de conversa.
— Você também tem p*eitos lindos.— Elogiou Pedro.
— Eu sei.— disse, sem dar muita atenção.
Estava mais preocupada no desempenho do Fred em conquistar a Gabi.
— Quer uma bebida? Podemos conversar enquanto sua amiga está ocupada com o Fred.
Me voltei para ele com cara de poucos amigos.
— Eu não vou t*ransar com você, Pedro, melhor procurar alguém que esteja disposta a isso.— Novamente dei as costas ao terminar de falar.
O Pedro se aproximou por trás, bem devagar, e levou sua boca até o lóbulo da minha orelha, para sussurrar no meu ouvido:
— Esqueceu que o Pedro está obcecado pela Nina? Não posso sair de perto de você.
— Mas não fique tão perto, ou pode acabar sofrendo um acidente.— Dei uma cotovelada bem na barriga dele, ao perceber que estava quase se esfregando em mim.
Pedro se afastou com a dor, mas sorriu.
— Eu gosto de desafios, Nina. Não vou desistir de você até o final da noite.