Honra

4446 Palavras
“Calado! Vamos sair daqui! Se ela souber que alguém a viu...” fechou a porta atrás de si, enquanto um Wei WuXian ainda atônito o encarava.   Jiang Cheng puxou-o pelo braço sadio para o mais longe possível do quarto, mas o patriarca não parava de pensar no que havia presenciado.   “Jiang Cheng, quem era aquela moça? Eu sei que a senhorita He Hua ainda está inconsciente e não poderia estar lá!” Falou raivosamente ao irmão de cultivo quando eles pararam sobre um pequeno píer às margens do grandioso rio. Embora o patriarca suspeitasse de quem era aquela silhueta, precisava ter a confirmação.   “Ela é... é... a senhorita He LiAn...” respondeu, de cabeça baixa e nitidamente envergonhado.   “Você está louco, Jiang Cheng! Você desvirtuou a prima da sua noiva?!” Segurou sua explosão de raiva em meio aos gritos sussurrados para não escandalizar ainda mais a situação.   “Eu sei que errei, mas você não tem moral nenhuma para me repreender!” Desdenhou.   “O que? Você tem coragem de falar isso pra mim? Eu nunca faria isso com uma moça! Ainda mais sendo quem ela é!” Continuava raivoso.   “Não faria com uma moça, mas fez igual, desvirtuando a Segunda Jade de Lan!” Continuou seu desdém.   “Ora, ora! Eu tirei a virtude da Segunda Jade de Lan!?” Ironizou. “Jiang Cheng, não desvie do assunto e nem queira fugir de suas responsabilidades! Se o líder He descobrir, o que será de vocês dois? Da senhorita He Hua?” Acusou, preocupado com a situação.   “Ele não descobrirá...” seu olhar perdeu o ímpeto e ele novamente se entristeceu, sabendo que seus destinos já estavam interligados, mas não do jeito que gostaria. “Eu manterei minha palavra... me casarei com He Hua!” Afirmou, ainda sem coragem de encarar o irmão de cultivo.   “O que? Como você pode?” O patriarca estava ainda mais indignado.   “E o que você quer que eu faça? ‘Líder He, eu não posso me casar com He Hua! Eu quero me casar com He LiAn por que eu dormi com ela!’ Você acha realmente que ele entenderá isso?” Jiang Cheng estava conformado de que não poderia fazer nada sobre o fato de que tinha um casamento marcado e não poderia voltar atrás.   “E se essa moça engravidar, Jiang Cheng? Você irá condenar a vida dela à desgraça!” O acusou novamente.   “Eu... eu...” pensou brevemente nessa possibilidade. “Eu encontrarei um cultivador de confiança para casar-se com ela...” essas palavras saíram como veneno de sua boca e sentiu uma punhalada no peito ao ditá-las.   “Você... você teria coragem de entregar a mulher que você desvirtuou na mão de outro homem e ainda deixar ele criar seu filho?” Wei WuXian não podia acreditar no que estava ouvindo.   “São esses os rumores sobre o meu pai, não são...” falou sem pensar.   “Jiang Cheng!?” Wei WuXian não conseguiu mais controlar o tom de voz e gritou com o irmão de cultivo.   “Eu... eu estou seguindo por um caminho igual... ou pior que meu pai...!” A agonia e a dor em seu peito eram palpáveis e até mesmo o patriarca se compadeceu do irmão de cultivo.   “Jiang Cheng, reveja suas decisões! Você está condenado a vida de tantas pessoas ao não desistir desse casamento...!” Tentou argumentar mais uma vez.   “Você fala isso por mim ou pelo Líder Lan?” Voltou seus olhos entristecidos ao patriarca.   “O-o que?” Wei WuXian se surpreendeu.   “Você acha mesmo que eu não percebi? Você acha que eu sou tão ignorante assim que não sei o que está acontecendo ao meu redor?” Foi a vez de Jiang Cheng intimidá-lo.   “Então... por que você insiste, se sabe que está comprometendo a felicidade de todos vocês?” Wei WuXian o questionou mais uma vez.   “A honra de He Hua está em jogo! Se descobrirem que ela foi rejeitada por mim e trocada pela prima, espalharão boatos, destruirão sua imagem... e de He LiAn também! O líder He não aceitará que eu anule meu noivado, para depois conceder a sua sobrinha em casamento a mim e as relações entre as duas seitas estarão acabadas...” Jiang Cheng explicou. “Eu não acredito que você está colocando um orgulho de líder de seita acima da sua felicidade e das outras pessoas envolvidas!” Wei WuXian falou atônito.  “Orgulho...!? Você acha que eu estou fazendo isso por orgulho!?” Lágrimas formaram-se em seus olhos e suas palavras saíram falhas. “Eu amo a He LiAn, mas eu não vejo outra saída! Você até pode achar que as coisas são fáceis, por que você nunca teve as mesmas responsabilidades que eu e He Hua temos! Nós não podemos desistir desse casamento...” falou, sentindo seu coração despedaçar-se.  “Você... a... ama...?” Wei WuXian ditou pausadamente. Seu irmão de cultivo admitiu amar a senhorita que estava em sua cama e que era prima de sua noiva. Não era só uma aventura. Não era banalidade.  “Amo mais que a mim mesmo...” sentou-se nas madeiras que formavam o pequeno píer. “E é por amá-la tanto que tenho que manter minha palavra...” as lágrimas começaram a rolar descontroladamente. “Não posso manchar sua honra, nem de He Hua...” sabia o peso que suas decisões tinham, mas não poderia recuar.  “Co-como você... você...” o patriarca queria entender como Jiang Cheng se envolveu nessa situação.  “Foi durante a Conferência de Cultivo...” secou as lágrimas e começou a contar para o patriarca o que havia acontecido.  He LiAn dificilmente saia de GuangKou, já que ela era a pessoa de maior confiança do líder He depois de sua própria filha, portanto, quando o líder He partia em viagem diplomática e levava He Hua junto, era He LiAn que ficava no comando da seita apesar da pouca idade. Por causa disso, Jiang Cheng ficou anos sem ver a jovem menina criada como se fosse filha do velho aliado.  Quando o Líder He propôs aos dois cultivadores o casamento e a união das seitas He e Jiang, eles ponderaram sobre o assunto, afinal, Jiang Cheng e He Hua eram amigos e acabaram acordando de ter um casamento meramente de fachada, apenas para justificar a junção das seitas, embora nenhum dos dois tivesse interesse romântico nisso.  Mas a situação tomou novos rumos duas semanas depois do final da Conferência de Cultivo, quando o líder Jiang foi visitar a seita He, sendo recebido pelo líder, sua filha e sua sobrinha. Jiang Cheng deslumbrou-se ao perceber que a menina franzina e tímida que ele conhecera desde pequena tornara-se uma mulher linda, gentil, inteligente e dedicada, que passava seus dias a auxiliar o líder He em sua seita, tomando conta de todos os assuntos administrativos e burocráticos de GuangKou.  Cada vez que ficava na presença de He LiAn, Jiang Cheng perdia o controle sobre seu coração e seus olhos. Seus batimentos aceleravam e lhe faltava ar nos pulmões. Seus olhos acompanhavam cada movimento, cada pequeno gesto, cada palavra da mulher que lhe despertara emoções nunca antes sentidas.  Na segunda noite, cansado de revirar-se em seu leito sem ver o sono chegar, o líder Jiang resolveu andar por entre os belos jardins de GuangKou, quando notou uma silhueta sob a luz do luar dentro de um pequeno coreto. A jovem estava com a postura de lótus, de olhos fechados e respiração suave, parecendo meditar. Concentrou sua energia espiritual em seus pés e andou sem fazer barulho algum até chegar na borda do coreto, admirando a face de porcelana da mulher.  “Líder Jiang!” He LiAn assustou-se ao abrir os olhos e encontrar Jiang Cheng a sua frente, estático a observá-la.  “Desculpe-me, senhorita He LiAn... eu... eu não quis assustá-la!” Falou, com a voz tranquila e serena, como a muito não usava. “Eu só estava sem sono e resolvi sair para dar uma volta...” explicou-se. “É melhor eu me retirar...!” He LiAn fez um movimento para levantar-se, mas Jiang Cheng adiantou-se. “Não! Por favor, não vá por minha causa! Não era minha intenção interromper sua meditação!” Pôs-se a sua frente, apreensivo.  “De qualquer forma, é melhor que não nos vejam sozinhos aqui fora!” Deu dois passos em direção ao degrau que dava para o exterior do coreto, mas foi contida por uma mão segurando-a pelo braço.  “Por favor, fique!” Jiang Cheng não tinha argumentos suficientes para convencê-la a ficar, então falou a primeira coisa que lhe veio em mente. “Eu não gosto de meditar sozinho! Me acompanhe!” Mentiu descaradamente, mas a senhorita He LiAn não o conhecia o suficiente para adivinhar que ele usara essa pequena artimanha apenas para fazê-la ficar.  “Só por mais alguns minutos, contanto que o Líder Jiang me solte...” ditou, encarando os olhos suplicantes do líder Jiang.  Jiang Cheng envergonhou-se imediatamente por atitude tão rude com uma senhorita tão delicada e soltou-a, inclinando-se. “Perdoe-me, senhorita He LiAn...” suplicou, constrangido. “Por favor, Líder Jiang, isso não é necessário!” He LiAn tentou fazê-lo levantar-se. Jiang Cheng vislumbrou os olhos intimidados da senhorita a sua frente e seu coração aqueceu-se tamanha era a inocência e gentileza que emanavam da jovem.  Ambos posicionaram-se e seguiram a meditação por alguns minutos, embora o senhor do raio roxo não conseguisse se concentrar e o tempo todo quebrasse sua meditação, admirando a face da jovem ao seu lado.  “Líder Jiang, já está tarde! Vou me retirar!” He LiAn falou calmamente após sentir suas energias reposicionadas e assim ter a paz para poder dormir.  “Eu a acompanho!” Jiang Cheng se ofereceu.  “Não! Por favor, líder Jiang, não é bom que nos vejam juntos!” He LiAn temia que se essa situação chegasse aos ouvidos do líder He, ela fosse duramente repreendida.  “Então vá a frente e eu a seguirei a uma distância!” Sugeriu, embora não quisesse se afastar daquela que fez ele perder completamente o controle sobre si. A jovem concordou, mas antes de sair do coreto, Jiang Cheng ainda quis mais. “Senhorita He LiAn, você virá amanhã aqui?” A questionou.  “Sim! Venho todas as noites!” Lembrou-se da primeira vez que se recordara de vir ao coreto a noite, logo que soube da morte de seus pais, vindo chorar no lugar que passara longas manhãs brincando com sua mãe. Desde aquele dia, retornava sempre depois do por do sol. Aprendeu a controlar as lembranças ruins e recordar-se apenas das boas, mas não tinha forças suficientes para vir durante o dia, quando o sol iluminava o local assim como se lembrara em suas mais doces memórias.  “Então... permita-me acompanhá-la amanhã também?” Suplicou, desejando imensamente uma resposta positiva, mas o que recebeu foi algo melhor ainda. Um sorriso.  He LiAn retirou-se, deixando para trás um líder Jiang ainda mais apaixonado, porém, ao lembrar-se dos motivos que o trouxeram a seita He, sentiu como se seu coração fosse arrancado do peito pelas mãos cruéis do destino que ele mesmo havia traçado. Apesar do compromisso firmado com He Hua, Jiang Cheng não conseguia tirar a face de He LiAn de sua mente e viu-se durante os dias seguintes ansiando pelo por do sol, afim de poder encontrar-se a sós com a moça que o fez perder o ar e a razão.  He LiAn não mantinha segredos com sua prima e confessou sua atração pelo noivo de He Hua. Apesar de ambas saberem que isso não era correto, He Hua não poderia ceifar os sentimentos da prima. Ambas sabiam que esse noivado não poderia ser desfeito de forma alguma, porém, todas as noites He LiAn era compelida a ir ao coreto, esperando animadamente pela companhia do cultivador que despertou-lhe sentimentos tão irracionais.  Era um amor impossível de se concretizar, porém, que contava com a cumplicidade de He Hua, que começou a montar guarda no quarto de He LiAn, esperando a sua volta para ampara-lá, sabendo que depois de viver momentos ao lado de Jiang Cheng, só lhe restava derramar-se em lágrimas infindáveis até dormir no colo da prima.  Noite após noite, os diálogos entre Jiang Cheng e He LiAn tornaram-se mais densos, deixando a meditação totalmente fora dos planos de ambos. Longas conversas se seguiam noite a dentro e o desejo que sentiam um pelo outro era cada vez mais latente, emanando através de seus corpos.  Os dias passaram e Jiang Cheng devia retornar para YunmengJiang, passando por LanlingJin antes. Era chegada a noite da despedida e o líder Jiang não podia suportar a dor que estava sentindo em seu coração. Quando He LiAn deu-se conta da hora adiantada, quis se retirar, mas foi surpreendida.  “Senhorita He LiAn, antes de partir, eu quero lhe pedir algo...” falou vacilante, já que seu pedido era totalmente contra qualquer convenção moral.  “Pode pedir, líder Jiang! Farei o que estiver ao meu alcance para atendê-lo!” Respondeu educadamente e isso causou enorme agonia em Jiang Cheng, já que a jovem o tratava com toda a cordialidade que um líder de seita merecia.  “Eu queria... queria lhe pedir...” temia a reação de He LiAn, mas ele não poderia recuar ou então não teria outra chance. “... um beijo...” aproximou-se, ficando face a face da jovem atônita a sua frente.  He LiAn estava paralisada, sem saber como reagir a tal pedido. Seu coração batia absurdamente rápido e sua cabeça pareceu girar com a aproximação do cultivador. Jiang Cheng também estava nervoso, mas estava decidido e colocou sua mão direta na face da jovem, enquanto a esquerda foi para a sua cintura, impedindo-a que se afastasse. Os lábios se encontraram, enquanto seus olhos se fecharam e um beijo de amor se fez. Um beijo como marca de todos as noites que passaram juntos, se conhecendo, conversando e se apaixonando cada vez mais.  “Líder Jiang... isso não está certo...” He LiAn soltou-se dos braços dele e virou-se de costas, sentindo um enorme aperto no peito e com os olhos cheios d’água. “Perdoe-me, mas eu não consigo mais esconder meus sentimentos por ti!” Jiang Cheng confessou. “Líder Jiang, você está de casamento marcado com minha prima! Será o líder das duas seitas em poucos meses e eu serei sua subordinada! Não posso me prestar ao papel de ser sua amante!” He LiAn o respondeu, tentando controlar sua voz sôfrega.  “E eu não quero lhe pedir para que seja isso, só quero que saiba que vou guardar esse sentimento em meu peito e jamais me esquecerei do quanto eu a amo!” Era como se Zidian estivesse o açoitando de tão doloroso que foi pronunciar tais palavras.  “Eu jamais o esquecerei, líder Jiang, mas é melhor deixar tudo como está!” He LiAn sugeriu.  “Eu sei... mas... mas prometa-me uma coisa!?” Olhava suplicante para a jovem, que virou-se para ver o que ele ainda queria dela. “Prometa que responderá às cartas que eu enviar? Prometa que não irá me abandonar? Prometa que continuará a pensar em mim todos os dias, assim como eu vou pensar em ti?” Suplicou.  Jiang Cheng sabia o quão egoísta estava sendo ao pedir por isso, mas só de imaginar He LiAn dirigindo suas palavras e seu carinho a outro, uma enorme raiva lhe subia ao peito e Zidian já se movia.  “Eu... eu prometo, Líder Jiang!” He LiAn foi tomada por um impulso e não pode se conter mais! Jogou-se nos braços de Jiang Cheng e o beijou com ímpeto dessa vez, pensando que talvez esse fosse o último beijo a trocarem.  Quando recobrou a razão, afastou-se, correndo o mais rápido que pode em direção ao seu quarto, deixando para trás Jiang Cheng, que estava com o coração na mão, odiando cada vez mais o destino que escolheu e que agora não poderia fugir.  Queria ter a coragem que seu irmão de cultivo teve! Queria largar tudo, jogar para o alto sua posição, renunciar a esse casamento e fugir com a mulher amada, mas muitas vidas dependiam dele! Sem ele na liderança da seita, não havia mais ninguém além de Wei WuXian para liderá-la e ele já havia deixado claro que não queria isso. Também havia Jin Ling, que necessitava do apoio do tio para liderar a seita Jin e mais uma infinitude de discípulos que contavam com sua liderança, sem falar no líder He, cuja amizade não poderia ser traída e He Hua, que perderia sua honra se ele cometesse tal disparate. Suspirou fundo e deixou o peso de suas costas esmagar o restante do seu corpo. Não havia saída... não havia... Todos os dias, enviava mensagens para He LiAn, mas quem as recebia era sua noiva, He Hua, que discretamente entregava as mensagens para a prima, e depois levando suas cartas até o mensageiro, que as direcionava ao líder Jiang. E foi assim, dia após dia, até que as senhoritas foram para a seita Lan devido ao ataque que He Hua tentou socorrer durante sua viagem até o Pier Lótus.  Embora Jiang Cheng se preocupasse com He Hua, por quem mantinha uma amizade sincera, preocupava-se mais ainda com sua amada, já que ela considerava sua prima como uma irmã.  He LiAn e He Hua mantiveram em segredo os sentimentos da herdeira He para com o líder Lan. O peso sobre as costas de Jiang Cheng já estava grande demais e se ele soubesse que alguém mais estava envolvido nisso, sua amargura iria aumentar ainda mais. Quando finalmente a comitiva de Lan chegou trazendo as duas senhoritas ao Píer Lótus, Jiang Cheng estava tão encantado de estar novamente na presença de He LiAn, que não percebeu os sentimentos do Líder Lan e ainda teve que fugir das acusações de Wei WuXian... e o pior... sabia que ele estava certo. Ter Zidian nas mãos o fez descontar toda a raiva dessa situação nos bonecos de seus campos de treinamento. Como se não bastasse toda a sua dor, ainda teria que lidar com o amargor de ter brigado novamente com seu irmão de cultivo.  Só encontrou consolo nos braços de He LiAn e novamente pode sentir o sabor da boca da jovem para quem havia entregue o seu coração. Mas mais uma vez tiveram que se separar e elas voltaram para GuangKou, deixando o líder Jiang destroçado, tendo como única alegria, as cartas que continuava a trocar com He LiAn, até que surpreendeu-se com a chegada inesperada da jovem, trazida por um cultivador He.  O desespero de He LiAn era tamanho por causa do sequestro de He Hua, que ele não pensou duas vezes! Deixou a amada no Píer Lótus e foi até a única pessoa que achou ser capaz de fazer algo para impedir seu casamento. Faria tudo para salvar He Hua e ver sua amada feliz novamente, mas o destino lhe provou mais uma vez que estava errado e teve que dar o braço a torcer para o seu irmão de cultivo e para o Cultivador-chefe, descobrindo que haviam coisas muito mais obscuras do que poderia imaginar.  Sentiu um enorme alívio ao saber que sua noiva estava a salvo de volta ao Píer Lótus e por mais que ele não tivesse sido o salvador de He Hua, sabia que tinha cumprido o que prometeu a He LiAn, trazendo sua amada prima de volta, mas esse sequestro revelou mais um segredo! O Líder Lan estava apaixonado pela sua noiva. Não havia como disfarçar! A Primeira Jade de Lan estava colocando-se em risco para salvá-la, mas Lan XiChen era mais íntegro do que qualquer outro cultivador que Jiang Cheng conhecia, além de Lan WangJi, é claro e seria incapaz de fazer He Hua sofrer por um amor impossível assim como Jiang Cheng estava fazendo com He LiAn.  Mas na noite do retorno ao Píer Lótus, Jiang Cheng cometeu o maior de seus erros. Não conseguindo dormir pensando sobre isso, foi até o quarto que as senhoritas He estavam hospedadas e chamou sua amada.  “A-LiAn, abra!” Chamou, dando duas leves batidas na porta do quarto.  “A-Cheng, o que está fazendo aqui?” He LiAn saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.  “Eu preciso falar com você! Venha comigo!” Segurou em sua mão e a puxou entre os corredores vazios do Píer Lótus, chegando até seu quarto.  “A-Cheng, o que está acontecendo? Por que você me trouxe aqui?” He LiAn estava assustada.  “A-LiAn, desde quando o Líder Lan está apaixonado por He Hua?” Perguntou angustiado.  He LiAn assustou-se com tal pergunta. Apesar de Lan XiChen não disfarçar seu interesse por He Hua, não era como se ele tivesse dito algo impróprio ou ainda tivesse cometido algum deslise. “A-LiAn, me responda, por favor!” O líder Jiang estava com a face em agonia e He LiAn preocupou-se com isso.  “Desde a Conferência de Cultivo...” He LiAn lembrou-se da prima dizendo que avistou um cultivador tão belo como uma noite de Lua Cheia e tão encantador quanto o perfume das cerejeiras na primavera.  “Por que vocês não me contaram isso?” Jiang Cheng ficou ainda mais angustiado. “Não era como se pudéssemos mudar algo, A-Cheng...” He LiAn se aproximou de seu amado, que sentia cada músculo do seu corpo ser apunhalado por milhares de lâminas.  Por sua causa, He Hua, He LiAn e agora Lan XiChen estavam com os corações destroçados e não havia nada que pudesse ser feito.  “A-Cheng, não se culpe... jamais poderíamos prever que isso aconteceria...” He LiAn tentou consolá-lo, mas nenhuma palavra traria conforto ao seu coração nesse momento.  O peso sobre Jiang Cheng era demais e seus joelhos fraquejaram, caindo sentado sobre sua cama enquanto lágrimas rolavam de seu rosto. He LiAn nunca viu o cultivador tão frágil como agora e daria tudo para retirar o sofrimento do peito de seu amado.  Em um instante de insensatez, He LiAn agiu por impulso e jogou-se no colo do Líder Jiang, sentando-se sobre suas pernas e envolvendo os braços ao redor de seu pescoço.  Esse movimento pegou Jiang Cheng de surpresa. Seus olhos encontraram-se com os de He LiAn e involuntariamente suas mãos foram até a cintura da jovem. Suas bocas pareciam imãs que atraíram-se magneticamente e se encontraram, abrindo espaço para as línguas sentirem o sabor um do outro.  Esse encontro tomou nuances de volúpia e Jiang Cheng, no fervor do momento, virou-se, levando o corpo de He LiAn a acomodar-se delicadamente contra o colchão e ela não dava sinais de que queria que ele parasse.  A luxúria tomou conta de seus sentidos. Não pensaram nas consequências dos seus atos e só entregaram-se aos seus desejos.  As mãos indelicadas de Jiang Cheng começaram a abrir as vestes de He LiAn enquanto seus lábios percorriam o pescoço alvo de sua amada, chegando a seu colo.  Os corações de ambos batiam compassados, a uma velocidade nunca antes experimentada. As mãos de He LiAn apertavam as cobertas roxas que estavam sob seu corpo e seus olhos negavam-se a abrir, deixando o prazer ser apreciado por seus demais sentidos.  Jiang Cheng não pensou duas vezes e quando terminou de despir sua amada, retirou suas vestes, sendo admirado pelos olhos de He LiAn, que abriram-se ao sentir os lábios do líder Jiang afastar-se por breves instantes de sua pele.  Não havia medo. Não havia hesitação, apenas a sensualidade emanado dos corpos de ambos. Seus lábios encontraram-se novamente quando Jiang Cheng deitou seu corpo sobre o de sua amada e não precisou muito para que seu falo encontrasse seu destino e os dois ligaram-se, formando um só corpo envolto pela insensatez de suas ações.  He LiAn soltava gemidos abafados entre os beijos indecentes que compartilhavam, sentindo-se invadir pelo ímpeto de Jiang Cheng. Ambos nunca haviam sentido prazer tão devastador, capaz de levá-los ao frenesi. E quando Jiang Cheng aumentou seus movimentos, provocando gemidos ainda mais lascivos em He LiAn, o prazer de ambos chegou ao ápice, em meio às suas respirações ofegantes e aos espasmos de êxtase.  Jiang Cheng derramou-se por inteiro no interior de sua amada, enquanto fitava-a olhos nos olhos, mas apesar de sentirem a maior alegria de suas vidas, não podiam sorrir, pois sabiam do tamanho erro que estavam cometendo.  Silêncio. Um silêncio absurdo invadiu o quarto que até instantes atrás presenciou gemidos e sussurros de deleite e somente suas respirações eram ouvidas entre as paredes do cômodo.  Jiang Cheng acomodou-se na cama, puxando He LiAn para seus braços e cobrindo seus corpos com a colcha roxa. Uma confusão de sentimento o tomou. O que ele fez? Por que deixou-se levar pelos sentidos? Por que trouxe He LiAn para seu quarto?  Ele era o mais miserável dos homens, mas que tinha em seus braços a mais angelical das mulheres. Afastou levemente uma mecha de cabelo do rosto de sua amada e verificou que ela dormia profundamente.  O que faria agora? Como manter seu noivado depois de perder completamente a razão? Mas como encerraria esse compromisso sem causar danos a todos os envolvidos? A verdade jamais poderia ser dita ou então a honra de He LiAn estaria na lama, junto com a da seita He.  Não teve tempo suficiente para refletir sobre seus atos, já que ouviu uma batida na porta e a voz de seu irmão de cultivo. Soltou sua amada de seus braços delicadamente para não acordá-la e vestiu-se rapidamente antes que seu quarto fosse invadido por seu irmão de cultivo.  “Jiang Cheng, sei que não sou a melhor pessoa para dar conselhos, mas desista de vez desse casamento! Poucas pessoas sabem desse compromisso e mesmo assim, depois que você se casar com He LiAn e He Hua estiver casada com o líder Lan, ninguém irá se importar com isso!” Wei WuXian tentou convencê-lo mais uma vez.  “Você não entende...” Jiang Cheng deu um riso amargo. “Nem nunca entenderá...” Sem saída, entregue a dor e devastado por seus atos, Jiang Cheng levantou-se do pequeno píer e andou lentamente rumando para seu quarto.  Wei WuXian não poderia fazer nada, não agora. Deitou-se sobre as madeiras e observou a lua brilhante no céu estrelado. ‘Eu só queria que Jiang Cheng e Lan XiChen pudessem viver o amor verdadeiro como eu e Lan Zhan vivemos dia após dia...’ desejou, sem saber se os deuses ou os espíritos de seus amados familiares podiam o ouvir nessa breve oração. 
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