Como um irmão

1422 Palavras
"Oque você quer falar comigo" — perguntei ácida. Já estava fugindo da matilha há dias e justo no dia que eu não podia mais fugir, Sam resolve vir “falar comigo". Queria só privacidade! Namorar em paz, sem ninguém se intrometer! Será que era pedir demais? Oh, espíritos, por favor me ajudem!   Nos encontramos alguns metros a dentro da floresta, perto da minha casa. Ele já me esperava. Sabia que eu passaria por ali.   "Calma, está tudo bem! Só quero conversar com você!"— sua voz era tranquila e paciente, como eu acho que ele nunca havia se dirigido a mim desde que entrei para a matilha.   "Fale logo, daí você poderá voltar para a sua casa e eu terei uma longa ronda pra fazer!" — tentei falar mais calma, serena.   "Primeiro, quero dizer que Emily e eu estamos muito felizes por você e Ithan! Ele parece ser um bom rapaz! Merecedor de você!" — começou.   Agora eu me surpreendi! Podia até esperar que os outros estavam felizes pelo meu imprinting, porque assim eu pararia de importuná-los com meu m*l humor, mas não esperava isso de Sam, muito menos de Emily.   "Eu sei que depois de tudo o que aconteceu, seja difícil de acreditar, mas eu sempre gostei muito de você e sempre desejei o seu bem e a Emily também. Talvez, agora que você teve um imprinting, poderemos nos entender. Somos da mesma matilha, você sabe que não é bom para ninguém que esse clima pesado entre nós continue…" Opa… esse é o mesmo Sam grosso e e******o, líder da matilha que eu conheço? Parecia que ele havia voltado a ser o mesmo Sam da época em que ele ainda não havia se transformado.   "Olha, Sam, agora que eu tive um imprinting, eu entendi tudo e mais, todo o rancor e raiva que eu nutria dentro de mim desapareceram. Não importa mais o que aconteceu. Está tudo zerado entre nós agora. Tudo bem assim?" Jamais pensei ouvir o que o Sam me disse. Nem eu imaginaria algum dia falar o que falei nesse momento.   "Que bom! Acho que agora eu posso te tratar como trato os demais membros da matilha!"   "Ah, não! Com certeza, não! Lembre-se que eu ainda sou uma fêmea. Não quero certas liberdades que você tem com os outros! Já é insuportável alguns pensamentos que eu sou obrigada a escutar!" — falei, brincalhona.   "Não falei nesse sentido!" — deu uma cabeçada de leve na minha costela direita. É, acho que havíamos nos entendido, finalmente!   "Era só isso que você queria falar comigo?"   "Não. Na verdade, uma coisa me preocupa. Você ainda não falou para ele que você faz parte da matilha, não é?" — ele parecia receoso agora.   "Ainda não. Tudo a seu tempo. Já é demais ele saber que um monte de histórias que sua mãe contava para ele dormir são reais. Vou deixá-lo se acostumar bem com isso primeiro." — expliquei.   "Bem, acho que é melhor você contar isso para ele logo…" Já comecei a achar que ele estava se intrometendo demais nas minhas decisões.   "Por que você diz isso? Eu quero escolher a melhor hora pra contar isso para ele!" — já respondi ríspida.   "Eu e o velho Black temos razões para acreditar que Ithan poderá se transformar a qualquer hora!" — falou, preocupado.   Daí paralisei! Como assim? Não!! Eu não desejava essa vida a ninguém! Rondas noturnas, viver em constante tensão, não poder ter uma vida normal, um trabalho, uma família. Eu não queria isso para ele!   "Por que vocês acreditam nisso? Ele é mestiço, só a mãe dele é quileute e até agora ele não apresentou nenhum sintoma. Eu não acredito que isso seja possível!" — retruquei.   "Lembre-se que Embry também é mestiço. Sua mãe não era quileute!"   "Mas mesmo assim, os genes só são passados de pai para filho e o pai de Ithan não é quileute!" — argumentei.   "Uma coisa que eu aprendi é não brincar com a vontade dos espíritos. Escute bem, parece difícil de acreditar, mas eu quero que você preste atenção no que eu vou te contar e se ele se transformar e descobrir que você escondeu isso dele, será pior! Não quero vê-la sofrendo novamente e você já sofreu de mais..." — falou com uma voz terna, carinhosa, quase como um… irmão…   "Tá bom, vamos esperar a vontade dos espíritos então, mas e o que o Billy Black tem com isso?" Algo não estava se encaixando nessa história.   "Ele me procurou para falar sobre a mãe do Ithan e contar uma velha história que ele não contou naquele dia, ao redor da fogueira." Aí a coisa desandou! Nem conheço minha sogra e tem historinha dela pra me atrapalhar. Fiquei completamente desconcertada.   "Ok. Conte tudo de uma vez! Ande logo!" — ordenei impaciente.   "Billy me contou que ele era noivo de Jane Sky quando eles eram jovens…" — ele recuou, parecia uma história conhecida nossa, só nossa… — "Bem, quando ela tinha 15 anos, ela se transformou em loba, a única da tribo. Nenhum outro de sua geração se transformou, só ela e estava só. Foi buscar proteção e conselhos com os velhos anciãos da tribo, que a ajudaram a superar suas incertezas. Ela, então, se tornou a guardiã da tribo. Billy falou que ela era a mais forte loba que ele já viu, talvez até mesmo mais forte que nós!"   "Espere!" — era muita informação ao mesmo tempo. — "Então a nossa tribo estava sob ameaça naquela época? Quer dizer, as lendas de nossa tribo só falam de ameaças no tempo de nossos avós e não de nossos pais!" — eu estava incrédula.   "Eu também questionei isso, mas Billy disse que ninguém sabe os motivos que levaram ela a despertar o corpo de lobo, o fato é que ela se manteve noiva do Billy por alguns anos, até sofrer um imprinting com um forasteiro…"   "O pai do Ithan!" — Agora eu estava entendendo.   "Sim, mas o velho Jeff não aceitou. Não acreditou no imprinting. Não queria de forma alguma deixar sua filha se casar com um forasteiro, então Jane, não vendo outra saída e sabendo que se uma ameaça aparecesse, outros iriam se transformar para defender a tribo, ela resolveu fugir, abandonando a tribo, a família, o corpo de loba e o Billy." — Sam fez uma breve pausa. Parece que ele entendia o sofrimento de ser o único lobo, ele havia sido o primeiro a se transformar também. Só que no caso dele, a ameaça era real e ele não poderia fugir.   "Eu a entendo… Talvez eu fizesse o mesmo…" — baixei o olhar.   "O velho Jeff ficou profundamente envergonhado pela atitude da filha e por isso proibiu os anciãos da tribo de repassarem essa história. Com o tempo, ela se apagou da memória dos quileutes, mas não do Billy."   "E o que isso tem com a possibilidade do Ithan se transformar?" — questionei ainda esse ponto.   "Pense bem! O imprinting é na verdade a escolha pelo melhor parceiro para um lobo, ou seja, os espíritos escolheram aquele que juntamente com Jane iriam gerar os mais fortes descendentes. Eles foram feitos um para o outro para se casarem e terem filhos. E Jane foi a única de sua geração, aliás, a única antes de você a ser uma loba, uma fêmea, entende? Os espíritos querem dizer uma coisa com isso. Se eles fizeram Jane e você se transformarem, podem muito bem ter escolhido Itham para se transformar também!"   "Por isso que o Ithan disse que ele sempre se sentiu incompleto, que sempre quis vir para cá para conhecer suas origens, e por isso que Jane e o pai de Ithan não o deixavam voltar, sabiam que se ele viesse para cá, não poderia fugir de seu destino..." — deduzi.   "Exatamente, mas agora a escolha é sua. Você prefere contar para ele o mais rápido possível ou esperar ele se transformar para que ele descubra por conta?"   Fiquei em silêncio. Acho que não tinham muitas escolhas.   "Veja bem, quando ele começar a sentir que irá se transformar, ele saberá a quem recorrer. Você poderá ajudá-lo, mas só se ele souber…"   "Não vou me precipitar, farei as coisas com calma" — decidi.   "A escolha é sua. Já falei o que precisava, tenho que ir agora."   Ele saiu em direção à sua casa e logo outras vozes apareceram em minha cabeça. Ai, que droga! Não teria privacidade para ficar com meus próprios pensamentos. Bem, hoje não posso fazer mais nada. Pela manhã pensarei em como agir.
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