A decisão

1032 Palavras
~ Carolina Minha boca tardou mais do que o normal na borda da xícara — estava evitando a conversa que precisava ter. Olívia estava sentada de frente para mim, ela na poltrona e eu na cama. Minha amiga já tinha desistido de conversar e checava as mensagens, quando eu decidi quebrar o silêncio: — Acha que o Victor sabe do meu noivado?— Mordi o lábio inferior e enruguei a testa. Ela levantou os olhos na minha direção e piscou algumas vezes. — Não acha essa pergunta um pouco óbvia? — Não esperava que minha pergunta fosse respondida com outra pergunta — Resmunguei. — Tudo bem…— Ela ajeitou o corpo na cadeira confortável.— O seu pai e o pai do Victor são sócios e se encontram com frequência. Acho que mesmo sem querer notícias suas, é inevitável para ele. — Então ele deve ter ligado os pontos— Levei uma das mãos para o rosto. — Acho que todo mundo percebeu que aconteceu algo muito errado no seu relacionamento. Sabe como cidade pequena é… Soltei o ar devagar, não contendo minha frustração. — Eu não deveria ter ido beber sozinha. Isso foi o que chamou atenção. — Agora já foi. Não adianta chorar pelo leite derramado— Ela se curvou na minha direção e pegou a xícara vazia. — Parece que toda a minha vida virou pelo avesso. Não sei o que fazer. Não sei quais providências tomar — Meus olhos voltaram a marejar. — Não precisa pensar em nada agora. Acho que você tem que viver o seu luto primeiro. Aquiesci, concordando com a sugestão. — Como eu vou contar isso para os meus pais?— As lágrimas começaram a escorrer por minhas bochechas.— A minha tia Silvia com o meu noivo — Sibilei, tentando me convencer do que vi.— Eu acho que vou ser atormentada por essa visão pelo resto da vida. — Não me surpreende vindo da Silvia, ela nunca gostou de você. Mas o Breno… ele parecia tão apaixonado. Ele investiu tanto em você quando ainda estava enrolada com o Victor. — Acho que depois que conseguiu, a conquista perdeu a graça — Funguei, secando minhas lágrimas. — Ele é um burro. Jogar fora quase sete anos de relacionamento desse jeito… — Eu não sei o que dizer ou o que sentir. Estou tão confusa. Parece que alguma coisa morreu, sabe? Eu tô muito triste, muito decepcionada e com muito odio! — Cerrei o punho trêmulo. Olívia lançou um olhar enviesado para a minha mão antes de pigarrear. Foi aí que percebi que ainda usava o meu anel de noivado. Até tinha esquecido dele. Arranquei o objeto do meu dedo e o olhei com um misto de desprezo e ressentimento. Toda a minha história com o Breno ao longo dos últimos 7 anos rolaram como um filme na minha cabeça. — Se quiser, posso devolver o anel no seu lugar — Sugeriu Olívia. — Não — Rebati, incisiva.— Eu preciso colocar um ponto final nisso. Em algum momento terei que encarar aquele cretino. — E quanto ao Victor? Está pronta para encará-lo depois de tudo? — Acho que não — Fui o mais sincera possível. — Olhar para o Victor me obriga a pensar na escolha errada que fiz sete anos atrás. — Acha que ainda pode sentir alguma coisa por ele? — Nem perderia o meu tempo pensando nisso. Seria mais uma frustração para encarar. — Não pode ter certeza disso — Rebateu Olívia. — Qual homem em sã consciência escolheria uma mulher covarde? … ~ Victor — Não vai responder? — Insistiu Cecília, com os braços cruzados. Tentei respirar fundo, mas o ar estava pesado demais. Não podia mentir para a minha noiva, mas tinha plena consciência do quanto a verdade abalaria o meu relacionamento. — Recebi uma mensagem do Natan, um amigo de infância. Uma conhecida nossa estava bebendo sozinha em um bar, na companhia de um desconhecido. — E você foi resgatar a donzela em apuros? — Ela perguntou, sarcástica, sem abrir mão da sua pose de interrogatório. — Faria isso por qualquer pessoa que estivesse na situação em que ela estava e você sabe disso. Inclusive fiquei indignado com as pessoas do lugar por não terem agido. — Por um acaso essa mulher também é uma conhecida minha? A desconfiança estava nítida na voz dela. Desde que colocamos os pés em Girassóis parecia ter virado uma chave na cabeça de Cecília. — Se quer saber se é a Carolina, a resposta é sim. Era a Carolina que estava naquele bar. Ela levou a mão para a boca, imediatamente. Seus olhos marejaram e soluços escapavam através da respiração pesada. — Não, meu amor, por favor… — Tentei me aproximar, mas fui afastado. — Não me chama de meu amor. Não é possível que depois de todos esses anos juntos, bastou chegarmos nesse maldito lugar para você correr atrás da sua ex. — Será que não pode se colocar no meu lugar por mim momento. — Ah, claro, assim como você se colocou no meu — Retrucou, sarcástica. — Preferia que eu deixasse o p.ior acontecer? — Ninguém mandou beber mais do que aguenta! — Não me decepcione assim, Cecília, você é melhor do que isso. — Acha mesmo que pode reverter esse jogo? Bastou a primeira situação para você largar tudo e ir atrás dessa mulher. — Vamos nos acalmar antes de continuar essa conversa, por favor? Ela aquiesceu, tentando controlar o tremor. — Eu preciso ficar sozinha. Vou tomar um banho para esfriar a cabeça. Nem pense que vai dormir no mesmo quarto que eu nesta noite! Cecília deixou a sala do apart hotel para ir direto para a suíte. Deixei o meu corpo cair sobre o sofá, estava exausto. Uma notificação fez o meu celular vibrar. Talvez um pouco de distração me fizesse esquecer um pouco dessa crise no meu relacionamento. Como se fosse enviada pelo d***o, lá estava Carolina. “ Não tenho palavras para te agradecer o resgate de ontem. Ainda assim, muito obrigada”. Virei a tela de cabeça para baixo, contrariado. A forma com a que meu coração disparou me deixou muito preocupado.
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