Capítulo 4

1205 Palavras
  Chad, o mordomo, foi até o escritório e bateu na porta.   “Ela foi embora mesmo?” A voz de Dante soou de dentro.   “Sim, senhor.” Respondeu Chad, com um tom de pena.   Dava pra perceber que Dante tinha começado a gostar daquela garota — mas, infelizmente, ela era como todas as outras.   *********   Ao deixar a mansão, Renee caminhou devagar pela rua, uma inquietação tomando conta dela.   Será que o mordomo falava sério?   Os Moretti realmente pagariam a dívida do pai, e ela não precisaria mais se casar com Dante?   Deveria estar feliz, não é?   Deveria se sentir livre.   Não teria que se casar com aquele monstro.   Mas Renee não conseguia se livrar de um incômodo no peito.   Como deixar que resolvessem a dívida da família sem cumprir sua parte?   Foi ela quem procurou os Moretti por vontade própria.   Será que tinha o direito de quebrar o acordo?   Além disso, Dante era poderoso demais. Se ficasse magoado, poderia destruir a família dela fácil fácil. Não podia arriscar.   Assim, com os punhos cerrados, voltou aos portões da Villa.   Mas ao chegar, lembrou do rosto aterrorizante que vira. E se ele ficasse bravo?   Não se sentia segura para encará-lo naquela noite.   Agachou-se num cantinho e, sem planejar, adormeceu no chão frio, do lado de fora.   No dia seguinte, Chad a encontrou com febre alta e desacordada.   Rapidamente a levou para dentro.   Dante não esperava que ela voltasse — muito menos que dormisse lá fora e adoecesse.   Que menina teimosa.   Renee dormiu o dia inteiro e só acordou no fim da tarde.   Ao despertar, tonta, a primeira coisa que fez foi verificar as roupas — e aliviou-se ao ver que estavam intactas.   Foi quando uma voz grave ecoou no quarto:   “Pensei que você tivesse ido embora. Por que voltou?”   Ela olhou na direção do som. Um homem estava no sofá, lendo uma revista, os dedos segurando a página com naturalidade.   Ele baixou a revista, e Renee sentiu o medo voltar ao ver o rosto terrível — mas tentou disfarçar.   “Eu… a sua família já concordou em ajudar a minha. Não seria justo eu cair fora agora. Vou cumprir minha parte. Case comigo quando quiser. E… tenho certeza que logo me acostumo com a sua aparência.”   Falou com os punhos cerrados, forçando a voz a não tremer — mas não conseguiu esconder totalmente.   Dante ergueu as sobrancelhas. Levantou-se e foi em direção à cama.   Renee recuou para o canto, mas logo percebeu o erro quando os passos dele pararam.   Cerrou os dentes, juntou coragem e se aproximou de novo.   Sentou na cama e encarou ele.   Dante a achou cada vez mais intrigante.   Inclinou-se e tocou a bochecha dela com a mão grande.   “Tem medo do meu toque?”   Renee estremeceu.   Os dedos frios dele contrastavam com a pele quente dela.   Como não teria medo?   Mas aquele homem seria seu marido. Viveriam juntos por anos — tinha que se acostumar.   Respirou fundo, ergueu a cabeça e disse: “Não.”   “Você está mentindo,” Dante falou baixinho.   E então sorriu.   Sorriu para ela.   O sorriso suavizou o horror da cicatriz, e de repente ele pareceu mais… humano.   Renee fixou os lábios dele e pensou: sem a marca, ele seria muito atraente.   A mão de Dante desceu e envolveu o seio dela por cima da roupa.   Seus olhos se arregalaram, chocada.   “Ainda não sente nojo do meu toque?” provocou, enquanto a mão acariciava levemente.   Renee se surpreendeu com a forma que seu corpo reagiu.   Deveria sentir repulsa ou humilhação, mas… gostou do toque.   “Dante, sei que está tentando me assustar pra eu fugir de novo. Mas aviso: vou me casar com você.” Falou com uma coragem que nem sabia que tinha.   Dante parou de tocá-la na hora.   “Como me chamou?”   “Dante.” Repetiu, ainda fingindo confiança. “Você é meu futuro marido. Não posso te chamar pelo nome?”   Ele não estava acostumado. As pessoas sempre o tratavam por “Senhor Dante” ou “Sr. Moretti”. Ouvir o nome soou íntimo — e ele gostou.   “Pode me chamar pelo nome… ou de marido.”   Com isso, ergueu-a e a puxou para um abraço.   Seu corpo era mais quente do que esperava. Estavam colados. Ele era bem mais alto.   Renee olhou devagar para o rosto dele. A marca parecia áspera e assustadora, mas ela fixou os olhos nos dele — cinzas, e os mais cativantes que já vira.   Olhando para eles, sentiu menos medo, e se surpreendeu dizendo:   “Acabei de entrar na faculdade. Casar agora pode atrapalhar. Me dá um ano para me estabilizar. Quando fizer 20 anos, a gente registra o casamento e eu te chamo de marido. Mas por agora… podemos considerar que estamos noivos e…”   Parou, corando. Nunca imaginara que teria um noivo aos 19 anos.   Dante a observava atentamente e, de repente, começou a esperar pelo casamento que ela descrevia. m*l podia esperar.   Vendo-a corada, não resistiu a provocar:   “Já que estamos noivos, podemos nos beijar, não é? Então me beija.”   Os olhos de Renee arregalaram.   Dante aproximou o rosto.   “Disse que não tem mais medo de mim. Então por que não me beija?”   Ela respirou fundo, tentando não focar no rosto.   Imaginou que muitas pessoas já tinham zombado dele pela aparência, e ele queria alguém que o aceitasse.   Pela primeira vez, sentiu que não devia julgá-lo pela marca — por mais assustadora que fosse.   Queria conhecê-lo como pessoa.   Inclinou-se e encostou os lábios nos dele, rápido e leve… e depois recuou.   Dante riu da rapidez do beijo.   Estava prestes a puxá-la para um beijo de verdade quando bateram na porta.   O secretário entrou para avisar: havia negócios urgentes.   Assim que Dante saiu, Renee cobriu o rosto com as mãos, envergonhada.   A reviravolta que a vida dela dera era avassaladora.   ---------------------------------------------------------------------------   No escritório, a secretária entregou o dossiê de Renee Gallo.   Pouco depois, Chad entrou e o ajudou a remover a máscara do rosto.   Era tão bem-feita que parecia pele queimada de verdade — enganava qualquer um.   Por baixo, porém, havia apenas uma cicatriz. Nada tão horrendo. Na verdade, mesmo com aquela linha abaixo do olho esquerdo, ele ainda era bonito.   “Guardo a máscara, senhor? A senhorita Gallo passou no teste. Acho que se o visse assim, não teria medo.”   Quando ganhou aquela cicatriz na infância, ela abalou sua autoestima.   Ao crescer e se envolver romanticamente, apaixonou-se por uma mulher. Acreditava que era correspondido.   Até o dia em que a ouviu ao telefone com uma amiga. Nunca esqueceria:   “Às vezes m*l consigo olhar para ele. A cicatriz é assustadora. Se não fosse pelo império da família, já teria largado.”   Isso vindo de uma mulher que amava. Que sempre dizia não ver problema nele.   Terminou na hora. E talvez na fragilidade, decidiu mostrar ao mundo o que era ser horrendo de verdade — e mandou fazer a máscara.   Funcionava: as mulheres fugiam sem pensar duas vezes. Nem o dinheiro as fazia ficar.   Renee foi a primeira a voltar. A primeira a dizer que superaria o medo.   Dante sorriu de canto.   Será que ela realmente o aceitaria como ele era?
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