— E desde quando se importa? — Retrucou a mulher friamente.
— Não fale assim comigo, Samanta.
— Eu cansei da atitude toda que está nessa casa, é por isso que Zaki e Scarlet foram embora daqui. Desde que Scarlet não podia fazer mais missões, você e mãe sempre a comparavam comigo, de como eu era melhor, não cometia erros, nunca precisava de ajuda.
— Samanta-
— Não! — Gritou Samanta batendo uma mão na parede, cerrou os dentes olhando f**o para seu pai que recuou um passo chocado. — Não me venha com “Samanta, mas é assim que a família é”. Bem, os anciões são velhos rabugentos que só se importam com a imagem da família Johansson, nunca pensam no futuro das próximas gerações.
— Sabia que eu tive que ajudar quatro primos por causa da pressão que estão recebendo no treinamento? — Comentou Samanta apertando as unhas na palma da mão que ainda estava na parede, sangue escorreu descendo até o cotovelo pingando no chão cinza felpudo. — Teriam cometido suicídio se não fosse eu os ajudando nos últimos meses, se toda família continuar assim, não vai existir próxima geração. Porque estarão mortas! Depressão, ansiedade, medo de falhar, medo de ser a ovelha n***a da família!
Respirou ofegante, sua raiva contra a família sendo finalmente despejada, colocada para fora antes de fazer algum m*l. Seu coração começou a ficar mais leve.
— Zaki foi forçado a se tornar uma coisa que não queria, ele queria seguir um caminho diferente, ter uma vida normal, ter amigos que não sejam membros da família — desabafou Samanta tremula, seus olhos mostrando a solidão que sofreu sem seu irmão e irmã mais novos. — Virou um espião assassino que não podia expressar seus sentimentos presos, expressar sua ideia, fazer um comentário sarcástico.
— Fugiu, apagou toda existência que ele tinha, escondido de nós — sussurrou Samanta endurecendo seu olhar no seu pai. — Aqui estou eu, irmã mais velha sem minha irmã mais nova que agora está enfrentando problemas antes que seja morta, e meu irmão mais novo que quebrou todo contato possível.
Ele fechou os lábios arrependido das suas próprias ações no passado, agora veio as consequências que separou seus próprios filhos.
— Espera, Scarlet está sendo um alvo de assassinato?! — Questionou o homem perplexo.
— Não faça essa cara de preocupação, falava m*l pelas costas da minha irmã, então coloque a expressão fria de novo — avisou Samanta rosnando.
— Me escute! — Exclamou o homem calando sua filha. Samanta ficou surpresa antes de fechar sua cara novamente. — Eu Christopher Johansson, estou arrependido das minhas ações que fiz no passado! Minha filha, você está toda correta, admito que toda família Johansson está quebrada, estou orgulhoso que você ajudou seus primos no momento mais delicado de suas vidas.
— Sua mãe chora todas as noites lamentando dos seus erros que fez com vocês, tínhamos que força Zaki por causa dos anciões, nos arrependemos por comparar Scarlet com você — desabafou Christopher sincero, derrotado pela primeira vez em anos. — Essa casa está mais silenciosa que antes, não posso te perder também Samanta, tempo para nos mudarmos, uma chance...
Samanta observou a expressão derrotada do seu pai, apertou os lábios formando uma linha fina. Desviou seus olhos mudando para sua mão machucada, sangue pingando no carpete cinza, vermelho se espalhando lentamente. A dor que sofreu sozinha sem seu irmão e irmã por perto, voltou sua atenção de novo encontrando a cor escura dos olhos do seu pai.
— Tarde demais — disse Samanta abrindo a porta saindo de casa antes de fechar com uma batida suave.
Christopher caiu de joelhos no chão, as lágrimas finalmente saíram escorrendo pelas bochechas até o queixo, olhou para a marca de mão ensanguentada na parede até o chão. O sangue explicava tudo, era a dor que seus filhos sofreram nessa casa, nunca receberam amor de pais, carinho, elogios dos seus trabalhos feitos com todo esforço que colocam, beijos na testa dizendo “boa noite”, “bom trabalho”, “estou orgulhoso”.
Gritou batendo seus punhos no chão, perdeu seus filhos que tanta amava. Só um milagre para concertar sua família agora.
— É minha culpa... — chorou Christopher apoiando sua testa no carpete. — Me desculpa...
~*~
— Até que o dia foi calmo — comentou Scarlet esticando os braços para cima.
O trabalho terminou mais cedo depois de checar que não tinha mais clientes vindo, Sarah foi para casa arrumar uma mala para passar alguns dias na mansão Lennox para a festa do pijama. Jayden estava animado, também está com saudades de Croux, felizmente Sebastian sabe cuidar de cachorros. Ethan acabou tendo uma boa conversa com o líder da máfia Alpha e sua esposa, planejaram ter mais reuniões frequentes como novos aliados e amigos.
Stella se despediu da melhor amiga antes de ir embora com seus pais. Os três estão esperando agora Sarah voltar. Scarlet ouviu um toque sair do seu celular, tirou do bolso verificando quem era, franziu a testa não esperando sua irmã mais velha fazer uma ligação, sempre era por mensagens de texto. Arrastou o botão aceitando a chamada.
— Irmã-
— Preciso ficar em um lugar, acabei de brigar com nosso pai — disse Samanta interrompendo. — Não posso ficar na mesma casa que eles no momento.
Scarlet ficou em silencio contemplando o que acabou de ouvir. Sua irmã mais velha discutiu com seus pais?!
— Certo... Onde está agora? — Perguntou Scarlet lentamente ainda surpresa. Ethan ouviu curioso, era a irmã dela?
— Indo para seu local de trabalho, estou com uma mochila com meus pertences importantes — respondeu Samanta, no fundo podia ser ouvido barulho de moto na estrada. — Em menos de vinte minutos chegarei aí.
Chamada foi desligada deixando Scarlet nos pensamentos, sabia que um dia Samanta iria explodir naquela casa, mas não esperava que ela fugiria de casa. Bem, não pode exatamente culpá-la, ela fez o mesmo quando era mais jovem não aguentando a pressão e insultos que sua própria mãe e pai faziam.
— O que houve? — Perguntou Jayden percebendo Scarlet encarando nada.
— Uh- Minha irmã está vindo para cá — respondeu Scarlet relutante. — Talvez vá passar alguns dias conosco, tem quarto sobrando na mansão?
— Sim, tem quarto de hospedes privado no andar do dormitório — confirmou Ethan dando um breve aceno com a cabeça. — Ela está vindo com alguém ou sozinha?
— Sozinha com uma moto — suspirou Scarlet franzindo a testa. — Parece que teve uma discussão lá em casa. Normalmente ela conseguiria manter a calma, mas finalmente saiu fora de controle.
— Willian não pode saber disso — disse Ethan percebendo a situação, seus olhos arregalaram horrorizado. — Espero que não venha amanhã ou esteja lá, vai ser uma confusão.
— Cheguei! — Viraram-se para Sarah que chegou com Anthony logo atrás segurando uma mala média.
— Nos avise quando voltarem, e proteja minha filha — avisou Anthony entregando a mala para Scarlet que assentiu fazendo uma saudação. — Boa noite a todos.
— Noite — disse Scarlet enquanto Jayden e Ethan acenavam. — O que vão querer fazer quando chegarmos?
— Provavelmente vou me instalar primeiro no lugar onde vou dormir, preparar um lanche noturno enquanto assistimos dois filmes animados — respondeu Sarah pensativa. — Ou três filmes até onde podemos ficar acordados.
— Não é muito tarde? — Apontou Ethan ligeiramente preocupado com o sono das duas crianças.
— Por isso que se chama festa do pijama — sorriu Sarah relaxada. — Serve para ficarmos acordados até de tarde na casa de amigos.
Pararam ouvindo som de motor de moto aproximar nas ruas, uma figura com capacete personalizado todo preto parou ao lado da calçada vazia, não sabiam qual era a marca da moto já que estava todo customizada, até mesmo a placa. A luz abaixou enquanto a figura feminina retirava o capacete mostrando sua identidade, seu cabelo preto com luzes azuis profundos caíram até os ombros.
— Interrompi alguma coisa? — Perguntou ela levantando uma sobrancelha.
— Não, é bom te ver novamente em pessoa — disse Scarlet dando um grande abraço na sua irmã mais velha que aceitou carinhosamente. — Depois tem que desabafar, eu sei que ainda está guardando rancor dentro.
— Depois, estou cansada demais para lutar hoje — bufou Samanta balançando a mão. Saiu da moto colocando seu capacete no banco, virou-se para os três que ficaram ouvindo a conversa. — Sou Samanta Johansson, irmã mais velha de Scarlet.
— Ethan Lennox, meu filho Jayden e sua amiga — disse Ethan educadamente.
— Sarah Jones — respondeu Sarah revirando os olhos mentalmente.
— Eu vou seguir vocês logo atrás, podemos continuar a conversa na sua residência — avisou Samanta colocando seu capacete de novo.
Scarlet se sentou no banco passageiro, começaram a voltar para mansão, Samanta estava logo atrás conseguindo acompanhar a velocidade. Aquela moto não é qualquer marca, na verdade nem sabe qual é, mas é uma das melhores que aceitam pedidos especiais. Tirou seu celular do bolso arrastando seu dedo na tela, clicou em contatos e procurou um nome específico.
Parou em cima de um nome da família, Zaki Johansson, irmão do meio mais velha que ela, um ano de diferença. Clicou na opção de mensagens, suas mãos ficaram úmidas com todo nervosismo que sentia, os anciões vão fazer alguma coisa se ouvirem o rompimento de Samanta, ela é a melhor nos venenos e espionagem.
Respirou fundo começando a digitar rápido, apagando umas palavras antes de recomeçar. Canto dos seus lábios subiram um pouco satisfeita com o texto resumido sobre a situação. Mandou a última frase antes de desligar o celular.
Scarlet: Reúna aqueles que desejam estar fora da família. Iremos começar uma revolução contra os anciões.
~*~
— Uma revolução contra os anciões...— Murmurou uma voz adulta masculina. Os olhos cinzas incomuns piscaram pela claridade da tela do celular, as vezes é forte demais para a cor. — Interessante, caramba, estou perdendo toda diversão nisso, irmã.
— Senhor Zaki, o carro está pronto — informou um agente com roupas profissionais, os óculos coloridos tendo brilhos incomuns de tecnologia avançada. — Os equipamentos estão estáveis, as informações que pediu sobre sua família está no seu escritório principal. Outros agentes voltaram para suas casas.
— Traga a maleta com projeto Pandora, iremos dar um uso nela daqui algumas semanas — avisou Zaki levantando-se da cadeira de couro preta. — Quero os seguranças vigiando esse lugar, qualquer problema me contate sem pensar duas vezes, que não seja sobre uma cozinha pegando fogo.
O agente balançou a cabeça em confirmação com um sorriso tímido antes de sair do escritório. Zaki jogou seu celular na cama, ao seu redor aparecendo vários hologramas de cor azul com letras contando notícias de última hora e informações da sua própria organização. Uma carranca se aprofundou em suas feições, ter uma revolução na sua própria família é coisa única.
Nunca gostou dos anciãos desde que se lembra da primeira interação, eram velhos rabugentos que se importam de ter tudo perfeito, não é tolerado nenhum erro ou fracasso. Ah, seus pais inexpressivos forçando-o a ser uma pessoa que não queria ser. Felizmente não precisa seguir nenhuma regra, sua vida estava mais calma e alegre com suas descobertas emocionantes sobre tecnologia.
— Ki, tudo está atualizado — murmurou uma voz motona vinda do celular de Zaki. Ele puxou seu aparelho para fora encontrando um rosto branco com dois olhos azuis brilhantes. — Quando o projeto lótus vai estar pronta?
— Daqui um mês, ocorreu alguns problemas, e você deveria estar sabendo da mesma maneira, Ouin — Suspirou Zaki revirando os olhos enquanto a inteligência artificial fez sons indignados exagerados.
— Claro que eu sei, só queria saber o prazo! — Apontou Ouin dramático. — E quando você aí conseguir um namorado? Não pode continuar só ficar olhando na internet.
— Quem deu permissão para você entrar na minha vida pessoal?! — Exclamou Zaki escandalizado quase jogando seu celular na parede, as bochechas ficando vermelhas enquanto tentava limpar a mente de imaginações férteis. — Tem sorte que gosto de você, se não teria desligado a muito tempo.
— Eu sei — sorriu Ouin arrogante satisfeita fazendo-o bufar. — Sou tecnicamente seu filho ou filha, mesmo que eu seja uma inteligência artificial mais avançada que Siri e Google.
— Sim, você é minha melhor criação até agora e sempre será — concordou Zaki deixando um sorriso suave aparecer nos lábios finos vermelhos. — Agora, que tal procurar contatos da minha família? Somente jovens e adolescentes, os adultos irão ficar fora por enquanto.
— Claro, não se esqueça da ligação que prometeu para tia Scarlet, também quero conversar com ela novamente — informou Ouin antes de ficar em silêncio desligando a tela do celular.
Ouin, uma inteligência artificial que demorou exatamente quatro anos para completar e revisar, não deixando nenhum erro acontecer. Demorou, teve momentos difíceis que queria desistir, mas sabia que a demora era importante para um fruto mais maduro e perfeito. Zaki fez questão de manter fora da sociedade, seria grande novidade no mundo uma inteligência com emoções, respostas rápidas, humor e poder de invadir qualquer sistema.
Talvez apresente daqui dez ou cinco anos, até lá algumas coisas mudarão. Zaki olhou para janela, observando o grande campo cheio de flores lindas, árvores criando sombras contra a lua brilhante, vagalumes piscando por todo lugar suavemente. Uma vida calma que irá se transformar em agitada, sempre irá ocorrer um conflito no dia a dia, e esse momento chegou, sua família está precisando de ajuda.
~*~
Ethan sabe que errou muitas vezes na vida, fez escolhas erradas e assim adiante. Na sua frente estava seu irmão mais velho e irmã mais velha de Scarlet encarando um ao outro com armas de choque apontadas um para o outro, as crianças de alguma forma conseguiram pipoca como estivessem assistindo um filme, Scarlet ao lado dele impressionado com a cena. Essa é a pior escolha que fez, sua mansão nunca mais vai ficar calma agora, sempre vai ter uma confusão das crianças e dos adultos sem maturidade.
Sua vida pode piorar mais? Bem, com certeza pode ficar mais caótico.