— Eu vou sentir saudades, meu amorzinho.
— Camille faz voizinha de bebê, enquanto aperta as bochechas de meu irmão.
— Eu vou sentir mais, minha fofinha.
— Imita de forma ainda pior, dando vários beijinhos em sua namorada.
— Credo, gente. Eu e meu filho vamos vomitar o almoço que ainda nem comemos.
— Reviro os olhos, irritada com aquela demonstração de afeto.
— Awwn, também tem beijinhos para vocês. Vou sentir tanta saudade, das nossas noites de garotas. — Minha amiga sorri e lhe abraço forte. — Amo você, se cuida. Não deixe de me mandar mensagem no f*******:.
— Tá, tá! Amo você também. — Sorrio e nos despedimos em fim, seguindo para o portão de embarque.
— Pronta para uma nova vida? — Henrique pergunta, segurando minha mão e forço um sorriso, assentindo. Se estava pronta? Com toda certeza não, mas, era preciso recomeçar. É De Repente que as coisas boas acontecem, não é?
Após seis horas, finalmente chegamos no estado do Rio de Janeiro e como aquela música de Gilberto Gil "O Rio de Janeiro, continua Lindo", apesar de toda precariedade governamental e certos problemas que existem não só ali, mas, no país inteiro.
Pegamos um ônibus com mala e tudo, descendo em frente ao bairro "Madureira" e caminhamos até a minha antiga e triste casa.
— Vem, me dá essa mala. Não quero que se esforce tanto. — Daniel pega a mala de minhas mãos, enquanto caminhamos e aceito.
— Meu Deus, não me lembrava de como esse país é quente. — Respiro fundo, limpando meu suor que descia pelo rosto.
— Isso porque nem chegou o verão ainda, espere e verá o sofrimento. O pior, que para irmos á praia, teríamos que pegar uma condução lotada.
— Eu nem gosto de praia. — Ironizo e meu irmão sorri, parando em frente uma casinha pequena, com portão verde e desgastado.
— Chegamos?
— Sim, seja bem vinda. — Sorri, destrancando o portão, revelando um quintal com grama alta, tinta azul descascada nas paredes e janelas fechadas.
— Acabei ficando mais do que o esperado, então o mato cresceu e inundou tudo.
— E a...Estela, onde está? — Lhe pergunto baixinho, para não correr o risco de vê-la tão cedo.
— Deve estar no quarto, sei que vai ser difícil quando vê-la. Tenta não arrumar uma briga, por favor.
— Não posso prometer nada, sabe que nem mesmo temos o que falar uma com a outra.
— Respondo e Daniel assente, me apontando para que entre na sala, onde um cheiro forte de bebida inunda meu nariz. — Ah que horror, quero vomitar. — Sinto meu estômago se contorcer.
— Sai um pouco para fora, vou tentar ajeitar tudo aqui, tirar esse cheiro h******l.
— Daniel diz e discordo, pegando as garrafas vazias que haviam sobre a mesa de centro, na sala de estar.
— Vou ajudar, não quero ficar igual uma madame. Já basta ela. — Mostro-me irritada.
— Tudo bem, pode lavar a louças, eu cuido dessa parte com cheiro mais forte. — Fala, caminhando em um corredor que nos leva até a cozinha, onde existe uma montanha de louças que pareciam estar há décadas.
— O que disse, sobre cheiro forte? — Zombo, pondo a mão no nariz e Daniel se senta em uma cadeira, começando a chorar.
— Ei, Dani...não fique assim.
— Desculpa jujuba, eu queria lhe dar uma nova vida, sem todas essas preocupações e podridão. Você está grávida e precisa de um lugar estável.
— Para com isso, eu preciso do meu irmão que tanto amo. Não se preocupe, vamos limpar tudo e ficará como uma casa de verdade. — Beijo sua bochecha, indo em direção a pia.
— Toma, tem luvas aqui. — Pega no armário luvas amarelas e coloco em minhas mãos, começando a limpar toda aquela sujeira.
( Victor Aikyo - Rio De Janeiro)
— Aikyo, poderia me informar três principais leis trabalhistas? — Professor Paulo, aponta para mim, mesmo tendo diversos alunos que poderiam responder naquele momento.
— An...Férias, Estabilidade e registro na carteira de trabalho. — Respondo e todos aplaudem, como se fosse o evento do ano.
— Viu? Vocês deveriam ser como o Aikyo, ele sempre responde minhas perguntas corretamente.
— Professor, desculpe-me se estiver sendo inconveniente, mas, acredito que se perguntasse aos outros alunos além de mim, eles também lhe responderiam. — Falo, ao levantar minha mão e os alunos seguem rapidamente com seus olhos, para Paulo.
— Eu pergunto para quem eu quiser, na verdade, vi que falou sobre estabilidade, por que logo essa lei? Tem alguma namorada grávida?
— Não senhor, mas, foi bom lembrar para que todos saibam. Conforme o artigo 10 da ADCT da constituição, essa lei serve para gestantes desde o início da gravidez, até cinco meses depois.
— Uhuhuuuu!!! — Gustavo se move em sua carteira, chamando todos para uma rebelião escolar.
— Gustavo, saia agora da minha sala!
— Paulo aponta para a porta e Gustavo paralisa, por ser bolsista.
— Professor, por favor...não tem a necessidade de fazer isso, Gustavo apenas se alegrou ao ver que tenho conseguido me aprimorar, claro, que esse evento vem da incrível educação que recebo nesta universidade e o melhor mestre de leis, que eu poderia ter. — Bajulo o mesmo que é convencido por mim, permitindo meu amigo bobalhão ficar na sala.
{...}
— Cara, não suporto ser o seu amigo. Já não basta ser japonês, bonito e ainda joga nas minhas fuças todos os dias, que irei trabalhar como seu empregado?
— Indaga, caminhando pelo longo corredor da faculdade particular, no Rio de Janeiro.
— O que? Claro que não, nunca lhe contrataria. — Zombo e Gustavo ri, me empurrando. Nos sentamos em um dos bancos no refeitório e observo o cardápio disponibilizado pelo site. — Quer comer o que? Panqueca ou panqueca?
— Aikyo, você não aguenta viver um dia sem panqueca? Parece um maluco. — Revira os olhos, tomando o meu celular.
— Credo, seu pai está lhe enviando mensagens como uma namorada abandonada. — Joga o aparelho em minhas mãos e por pouco não cai no chão.
— Vou pegar pizza e panquecas para você, maniaco. — Comenta, caminhando até a cantina, enquanto observa todas as garotas ao nosso redor, ajeitando as calças largas no corpo cumprido e fino.
"Victor, me ligue"
"Victor, como consegue ser tão irresponsável? Precisava estar aqui, para a sua entrevista. Não pense que será contratado, apenas por ser meu filho!"
Respiro fundo, deixando as mensagens apenas visualizadas e meu telefone toca, chamando a atenção de todos para mim.
— Pai, eu estou na faculdade. Ainda não acabou a minha aula.
— Já falei com a diretoria, você está no almoço Victor. Quantas vezes lhe disse, ninguém consegue subir na vida, tendo momentos de lazer!
— Pai, não é "um momento de lazer". Estou almoçando, não é essencial para o fortalecimento dos ossos e preservação da vida? — Indago o ouvindo praguejar milhares de ofensas e longos discursos, sobre como eu nunca seria um advogado como ele.
Quando pequeno fui imposto á um teste, onde lhe é definido uma profissão logo quando criança. São colocados brinquedos em sua frente, que representam as diversas profissões e meu pai "Akira Aikyo", adora lembrar a todos, que nem mesmo pensei antes de tocar sobre a balança da justiça. Akira é um influente advogado no Rio de Janeiro, ele se mudou para cá quando jovem com seus pais, fugindo das guerras que ocorriam em seu país, casou-se com uma brasileira por nome "Clara Costa" e geraram "Rodolfo e Victor Aikyo" os detentores de toda herança histórica e peso em ter de ser perfeito. Meu irmão nunca se importou com toda tradição familiar, então papai impôs sobre mim sua última chance de salvar o nome Aikyo.
— Pai, eu preciso resolver uma coisa...
— O impeço de continuar a falar, desligando o telefone. Forço minhas vistas, para ter a certeza do que realmente via á minha frente, uma garota dos cabelos tingidos, gritando com o porteiro da forma mais estressante e perigosamente criminosa.
— Aikyo, onde você vai?!! — Gustavo grita, com os pratos em sua mão. Saio correndo até a jovem, na busca de lhe salvar.
— Olha aqui, seu m***a! Eu já disse que meu irmão estuda aqui!! Não vou roubar o ouro de vocês!! — Grita, aproximando-se do guarda, se preparando para empurra-lo.
— Com licença, jovem... — Toco em seu braço e a mesma me olha com raiva profunda, arqueando as sobrancelhas em seguida, ficando paralisada por alguns segundos. — Ei, tudo bem? — Questiono preocupado, com sua súbita pausa.
— É...esse...esse senhor aqui! — Aponta para o policial, que já começara pegar as algemas no bolso.
— Esse senhor, irá lhe levar para delegacia, sua garota sem educação! — O homem com toda razão, se revolta. E a tal, fecha o punho.
— Tudo bem, vamos todos nos acalmar. Os dois estão com os ânimos exaltados, que tal me contarem o que está acontecendo?
— Pergunto, ajeitando meu terno para parecer mais profissional.
— Quem é você? Além de um intrometido?
— Põe as mãos na cintura e respiro fundo, tentando manter a serenidade de Cristo.
— Sou o seu advogado, irritadinha. Agora me diga o que está acontecendo? — Murmuro entre os dentes.
— An...pois então, advogado. Esse senhor está me impedindo de entrar na universidade, para encontrar meu irmão.
— Senhor Aikyo, estou a impedindo pois aqui é um local particular e não podemos deixar qualquer um entrar.
— Eu não sou qualquer uma!!! — Grita e lhe seguro. Meu Deus, que senhorita mais nervosinha é essa?
— Sim, você está totalmente certo. Mas, a senhorita...
— Alice, Alice Durant.
— Isso, senhorita Alice está liberada para entrar com meu passe, tudo bem? Pode deixar que qualquer coisa, falo com a diretora eu mesmo.
— Só não quero arrumar nenhum problema, o senhor sabe que preciso deste emprego. Minha família depende de mim. — Diz e assinto, entendendo a situação de Roberto.
— Eu...desculpa, não me atentei a isso. Não preciso entrar, posso esperar meu irmão aqui fora mesmo. — Alice finalmente afasta as garras, ficando calma a ponto de ser doce.
— Acho ótimo, pode ser para você Roberto? Ela irá ficar comigo ali na sorveteria da frente. Quando o irmão aparecer, nos chame.
— Sim, senhor. Qual o nome do seu irmão, moça? — Roberto pergunta.
— Daniel Lima, ele tem sobrenome diferente, mas é meu irmão de sangue. Porque minha mãe é uma alcoolotra, então tivemos que...
— Acho que ele entendeu, senhorita Alice. Agora vamos esperar na sorveteria, tudo bem? — Lhe interrompo e a mesma concorda, seguindo em minha frente.
— Que garota louca. — Sussurro a Roberto, que sorri concordando.
— Sério, valeu pela ajuda. Achei que seria presa. — Sorri e assinto, puxando uma cadeira para me sentar e a menina faz o mesmo, logo a minha frente em mesas redondas e altas, com sorvetes coloridos estampados sobre ela.
— Você é advogado, mesmo? Parece meio novo para já ter passado em prova da OAB e tudo mais. — Diz, olhando de um lado para o outro, reparando o ambiente.
— Haha, não sou advogado ainda. Estou no terceiro ano da faculdade, na verdade.
— Respondo, acenando para um garçom que se aproxima. — Me traz um picolé de açaí, por favor. Quer algo, Alice?
— An...não, não precisa. — Mente horrivelmente m*l. — Bem legal aqui.
— Pode pedir algo, p**o para você.
— Falo e a mesma me olha, cruzando os braços. Pronto!
— Beleza, mas, não quero picolé de açaí. Gostaria de um sundae sabor morango e poderia pôr alguns M&Ms? — Questiona o garçom que concorda, seguindo para a cozinha.
— Cara, isso não quer dizer que iremos sair e se pegar depois daqui, beleza? Quero deixar claro, para não dizer que mexi no cabelo ou parecia estar querendo.
— Calma, não pensei nisto em nenhum momento. — Levanto as mãos em rendição e ela concorda, ainda passeando com seus olhos cor de mel. — Essa cor do seu cabelo, não parece natural.
— Que deselegante, ela é tão natural quanto a sua carteirinha de advogado. — Retruca e dou risada.
— Beleza, essa foi boa. — Respondo e a garota sorri, pela primeira vez. Caramba, ela tinha um sorriso lindo.
— Mas, me diga...jovem Aikyo? Você é tipo, chinês ou algo do tipo? — Indaga e lhe olho sem entender. — Desculpa, fui extremamente xenofobica?
— Talvez um pouco. Sou mestiço, na verdade. Meu pai é do Japão e minha mãe do Brasil, mesmo.
— Caraca, você não tem nada original. Até sua descendência é mista. — Fala e lhe olho surpresa. — Só estou falando a verdade, mas, não se preocupe. Eu lhe entendo, apesar de não ser motivo de orgulho, minha mãe é brasileira. Mas, meu pai era francês.
— Não gosta do Brasil? Por isso diz não ser motivo de orgulho? — Interrogo e a mesma discorda, de minha afirmação, sorrindo ao ver o sundae.
— Ahh que coisa, linda! Sabe, eu cheguei da França faz um dia e estava ansiosa para tomar um sorvete do Brasil.
— Você vai adorar, essa sorveteria é uma das melhores aqui no Rio de Janeiro. Mas, tem outra...se quiser, posso lhe apresentar.
— Não, obrigada. Não é nada contra você, só estou em um tempo anti-homens, por enquanto.
— Alice, o que faz aqui? Você está tomando sorvete com um cara estranho? — Um rapaz que é idêntico a menina, um pouco mais velho, aproxima-se cochichando alto o bastante para que eu ouça.
— Ele não é estranho, o nome dele é Aikyo...quer dizer, esse é seu sobrenome, né?
— Aponta para mim e concordo.
— Sou Victor Aikyo, muito prazer. — Estendo a mão e o rapaz me olha, arqueiando as sobrancelhas.
— Você é filho do senhor Akira Aikyo?
— Indaga interessado e concordo, com a animação de um pombo.
— Muito prazer, vou fazer uma entrevista hoje na empresa do seu pai, vai ser para uma vaga como auxiliar geral.
— Sério? Mas, você está em qual ano da faculdade? — Pergunto, sem entender porque o rapaz estaria se candidatando a um cargo tão baixo.
— No último ano, falta apenas a prova. Sou bolsista aqui na RJ. Sei que parece um cargo inferior, mas, para começar...está bom, preciso cuidar da minha irmã e do...
— Do nosso cachorrinho, ele come tanto. Não é mesmo, Dani? — Sorri, nos afastando da conversa anterior.
— An...isso, cachorrinho. Desculpe, precisamos ir Alice. Não posso me atrasar.
— O rapaz fala e sinto, uma vontade de passar um pouco mais de tempo com Alice, quer dizer... com os dois.
— Posso dar uma carona a vocês, estou indo para a empresa também. Irei me candidatar ao estágio.
— Isso é ótimo, vamos com ele Dani. Meus pés estão doendo, vim em pé naquele ônibus. — Sorri, unindo as mãos e seu irmão concorda. Não sou velho, tenho vinte anos, mas, aquela garota parecia uma moleca, sem nenhum problema em sua vida.