Capítulo 2

1826 Слова
  Durante as próximas quarenta e oito horas, me tornei uma só com a minha cama. Sem chamadas. Sem o mundo lá fora. Apenas eu, um monte de cobertores e o peso esmagador da humilhação.   Aquele tapa do Rhys não foi apenas um golpe no rosto. De muitas maneiras, foi um tapa em toda a minha vida – uma vida imersa em desespero, ilusão e uma ânsia patética. Me forçou a despertar. Me fez olhar para tudo que eu já havia feito para que ele percebesse minha existência, tudo que fiz por uma fantasia chamada “nós” que nunca realmente existiu.   Deus, por onde eu começo?   Como naquela vez que ele mencionou casualmente que gostava de meninas com cabelo liso e sedoso. Naquela noite, pedi três frascos do xampu que ele uma vez elogiou. Meu couro cabeludo ficou cheio de erupções. Sorri apesar da dor e disse: "Tudo bem—algumas reações alérgicas valem a pena."   Ou quando ele disse que estava ocupado demais com o trabalho para jantar, então eu passei a noite aprendendo a fazer bolos e levei uma caixa de doces na chuva. Ele nem abriu a porta—apenas pediu à recepcionista para me dizer: "Não se incomode da próxima vez. Não gosto de doces."   Teve também aquela noite na festa de um amigo dele. Engoli ostras—minha comida mais detestada—só para parecer "elegante e agradável." Passei a noite toda curvada sobre o vaso, contorcendo-me em dor até às 3 da manhã. Ele não perguntou se eu estava bem. Riu e disse: "Não consegue nem comer frutos do mar? Isso é teatrinho."   Mas o pior?   Aquela vez em que ele citou uma frase do filme O Poderoso Chefão que gostava. Passei a noite inteira lendo ensaios sobre o filme só para casualmente soltar a citação em uma festa. Errei. Ele me corrigiu na frente de todos, zombando: "Não finja gostar de coisas que claramente não entende."   E eu ri. Ri e disse: "Você tem uma memória tão boa."   Que piada. Nunca percebi que eu nunca fui a pessoa que ele queria.   Ele nunca me enxergou de verdade. Para ele, eu não era nada além de uma versão barata da "perfeita e intocável" Catherine. Um substituto sem graça.   Eu não era ela, mas podia oferecer a ele uma vaga ilusão de tê-la de volta. Era para isso que eu servia.   Enterrei meu rosto no travesseiro e ri até tremer. Não porque era engraçado—mas porque a dor havia sido profunda demais para lágrimas.   Felizmente, após meus pais me darem um ultimato final dois dias atrás, não entraram mais em contato.   Uma pequena parte de mim se perguntou - será que Rhys interferiu? Será que ele finalmente percebeu o que tinha feito? De repente, a campainha tocou. E não parou de tocar. Por cinco minutos inteiros.   Eu gemi no meu travesseiro. Ai meu Deus. Interação social.   Arrastando meu corpo exausto até a porta, eu a abri.   Yvaine Carlisle—minha melhor amiga e a única pessoa que tinha o direito legal de gritar comigo—estava do outro lado, mãos na cintura. Seus olhos pousaram no meu rosto.   Sua expressão congelou. A luz em seus olhos se apagou. "Que diabos aconteceu com você?"   "Estou bem," eu disse, tentando soar casual. Ela não acreditou.   Ela estendeu a mão, gentilmente colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Seu maxilar se contraiu.   Então—silêncio.   Não do tipo constrangedor. Do tipo perigoso. Do tipo que vem logo antes de algo explodir.   "Quem te bateu?"   "Entra," murmurei rapidamente, tentando não chamar a atenção dos vizinhos. Isso seria humilhante.   Yvaine não se mexeu. Ela segurou meu braço e falou entre dentes cerrados. "Mira. Quem. Te. Bateu?"   Assim que a porta se fechou, desabei nos braços dela. Meu rosto estava enterrado no suéter dela e, em segundos, o tecido estava encharcado. Ela não se mexeu. Apenas me segurou, sua mão se movendo em círculos calmos e reconfortantes nas minhas costas.   Eu não sabia quanto tempo chorei. Tempo suficiente para minha garganta queimar e meu nariz ficar vermelho como o do Rudolph. Eventualmente, consegui dizer uma única palavra.   "Rhys."   Yvaine não se moveu. Todo mundo em Skyline City conhecia esse nome. Rhys Granger não era do tipo de homem que precisava usar os punhos para destruir alguém. Um telefonema para a pessoa certa e sua vida estaria acabada. Reputação, dinheiro, status—ele tinha tudo isso.   Cada movimento dele era planejado, cronometrado com perfeição—como o tique-taque de um Rolex. Quando ele escolhia entrar em uma guerra, era como um nobre manuseando a crueldade como uma obra de arte, provavelmente com um copo de uísque envelhecido na mão.   As pessoas o chamavam de arrogante. Ninguém jamais o chamava de violento. É por isso que, quando Yvaine processou o que eu acabara de dizer, eu praticamente podia ouvir as engrenagens na cabeça dela gritando em protesto.   "Não pode ser," ela murmurou para si mesma, como se negar em voz alta pudesse, de alguma forma, tornar isso mentira. "Rhys? O seu Rhys? Ele não poderia ter..."   Eu entendi. Eu realmente entendi. Rhys deveria ser o cavalheiro. O menino de ouro. O cara perfeito, elegante, intocável.   "Foi ele," eu disse baixinho. Ela exalou bruscamente, depois voltou a esfregar minhas costas, dessa vez mais devagar. "Me conta o que aconteceu."   Eu engoli seco. "Eu estava na casa dele. Eu, uh... acidentalmente quebrei uma caneca."   Todo o corpo dela ficou tenso. "Só uma caneca?"   Eu assenti.   Silêncio. Em seguida, ela cerrou a mandíbula e disse: "Juro por Deus, se você me disser que era uma relíquia de família inestimável, feita à mão e única—"   "Era a caneca da Catherine."   A mão de Yvaine parou no meio do movimento.   Tudo mudou. Em um segundo, ela era minha melhor amiga preocupada. No seguinte, era uma mulher planejando assassinato.   Segurei seu pulso antes que ela pudesse pegar algo pior. "Acabou entre Rhys e eu."   "Sério?"   "Sério. Mesmo que a terra se partisse ao meio e Skyline City afundasse no oceano, eu não me casaria com ele."   Isso a impediu de sair correndo para cometer um homicídio.   "Catherine. Aquela cobra venenosa—" Yvaine cuspiu o nome como se aquilo a machucasse fisicamente. "Ela nem está mais aqui e ainda está conseguindo destruir a sua vida! E seus pais? Eles só ficam assistindo! Juro, eles poderiam vê-la colocar fogo na sua casa e ainda entregariam os fósforos para ela. É inacreditável!"   Eu me sentia como um balão que alguém acabou de estourar—murcha, exausta. Aquela dor familiar se alojou profundamente no meu peito. Eu sabia que alguns pais sempre amariam mais o primogênito. E não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso.   "Desculpe, Mira."   Yvaine sentou-se ao meu lado e empurrou minha cabeça com firmeza em direção ao ombro dela. Eu me afastei e consegui esboçar um sorriso fraco. "Na verdade, acho que é uma coisa boa. Pelo menos descobri que tipo de homem ele é antes de nos casarmos. Melhor agora do que depois dos votos, né?"   Ela soltou um longo suspiro, os olhos se suavizando. "Mira, você sabe que não importa o que aconteça, eu vou estar do seu lado."   Bem nesse momento, meu estômago roncou alto o suficiente para interromper o momento. Bem alto.   Como uma mágica, Yvaine pegou uma sacola de comida atrás dela e me lançou um olhar que praticamente gritava: Eu sabia que você estaria assim.   Eu queria abraçá-la, mas estava ocupado demais comendo feito um duende faminto.   Depois do jantar, ela me empurrou para dentro do quarto e foi limpar tudo. Deitado na cama, olhando para o teto, me sentia exausto e sobrecarregado. E agora?   Através da porta entreaberta, ouvi ela no telefone. Não peguei todas as palavras, mas as que ouvi... foram icônicas.   "Merda."   "Completamente pirado."   "Ah, acha isso r**m? Espera só até eu te contar o que esse brutamontes realmente fez—"   Ela provavelmente estava falando com Zane Hasterton. E ao contrário de Rhys, Zane nunca levantaria a mão para ela.   A maneira como Yvaine me escolheu tão instantaneamente, tão ferozmente—sem hesitar, sem questionar—me fez engolir em seco. Ela acreditou em mim. Ninguém mais acreditou. Mas ela acreditou.   Isso não era algo que ela fez levianamente. A família de Rhys estava no topo da cadeia alimentar—intocável. E eu não tinha dúvidas de que os pais dela não ficariam felizes de vê-la confrontá-los.   Me enrolei ainda mais na coberta e soltei um suspiro lento.   Por que meus pais não podiam me amar assim?   Desde que a filha favorita deles deu um jeito de escapar do plano mestre, eu me tornei o Plano B. Mas isso não significa que eles perdoaram minha existência.   Vamos ser honestos: a única razão pela qual pararam de me criticar abertamente foi porque fiquei noiva de Rhys. Esse arranjo de alguma forma me elevou de "vergonha irreparável da família" para "potencial salvação".   Parte da razão pela qual aceitei o noivado—e sei o quão patético isso soa—foi porque achei que talvez pudesse finalmente conseguir algo que Catherine tinha: um pedaço de afeto parental. Um mísero sinal de aprovação.   Mas agora que o noivado tinha acabado?   Eu era dispensável novamente.   Pelo que ouvi, eles estavam empacotando minhas coisas, prontos para me despachar para alguma selva remota onde eu passaria o resto da minha vida fazendo amizade com sucuris e pagando pelos meus pecados.   Eles eram perfeitamente capazes disso.   Eu gemi no meu travesseiro. O que diabos eu faço agora?   A menos que... Eu me casasse com alguém mais poderoso que o Rhys.   A ideia era tão ridícula que eu ri sozinha. Claro. Porque bilionários estão por aí em Skyline City esperando para se casar com uma órfã de 23 anos que não tem paciência para suas besteiras.   E ainda assim—   Um rosto surgiu na minha mente.   Três dias atrás. Meu novo vizinho.   Lembrei-me, de maneira bastante inconveniente, de pensar que não me importaria de estar sozinha com ele em seu apartamento, onde ele poderia fazer todo tipo de coisas de classificação para maiores comigo.   Eu sacudi a cabeça, rapidamente afastando o pensamento. Eu nem sabia o nome dele. Apenas que ele tinha uma aura capaz de dividir uma pessoa ao meio.   Não. Muito perigoso.   Eu gemi novamente.   Se eu não tivesse quebrado aquela caneca estúpida, tudo poderia ter dado certo.   Mas não era. E não é. E não tem volta.   Droga! Por que sou eu que estou tentando consertar isso se nem fui eu que estraguei tudo?! Eu me sentei — e, de repente, a porta se escancarou.   Yvaine entrou com determinação. "Dormir só vai te fazer sentir pior. Vamos nos arrumar e encontrar um cara que valha a pena amar—alguém melhor que o Rhys."   O QUÊ?!   Enquanto eu ainda estava boquiaberta, ela já tinha me trocado para uma nova roupa.   Assim, partimos para o clube mais exclusivo de Skyline City — só para membros.
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