O começo de uma nova vida

1732 Words
- Conseguiu assinar os papéis do divórcio?- Perguntou Estela, aflita, abordando sua filha na frente da confeitaria, antes mesmo que a jovem passasse da soleira. - Sim, já sou uma mulher livre.- Laura ergueu o canto da boca em um sorriso fraco, claramente forçado. - E posso saber o porquê dessa carinha?- Estela deslizou os dedos suavemente pelo rosto da moça, que por mais que tentasse esconder seus tormentos, não estava fazendo um trabalho bem feito. - Depois do cartório, estava com tanta enxaqueca que fui para casa. Como já está perto de pagar as contas, eu ia deixar o dinheiro separado, mas não tinha um centavo lá, o Pedro roubou as minhas economias.- - Filho da…- Estela mordeu os próprios lábios, não queria falar impropérios na frente de sua filha. - Não queria te preocupar… Mas não consigo esconder nada de você.- - E não tem que esconder nada de mim.- Estela segurou as duas mãos de sua filha, apertando-as devagar como um gesto de consolo.- Vamos arranjar uma forma de resolver tudo. Eu tenho umas economias guardadas, e…- - Não, mãe, não. Não quero que gaste seu dinheiro comigo. Eu tenho algo guardado na loja e consigo negociar com o banco o pouco que faltar para pagar. Bom, ao menos consigo me livrar da maioria.- - Esse dinheiro que eu guardo não é para mim, Laurinha. Eu já estou velha, quase no final da vida. O que guardo é para sua irmã e para você.- - Não gosto quando diz que está no final da vida.- - Mas é a verdade. O final chega para todos.- Disse Estela, não parecendo melancólica ao falar. - E a loja? Muita movimentação?- Laura achou melhor mudar de assunto, nunca gostou de debater a respeito de assuntos mórbidos. - Literalmente acabei de chegar, não cheguei a entrar. Mas sempre tem muita movimentação.- Estela tomou a iniciativa de subir o primeiro degrau que tava acesso a confeitaria. As duas mulheres mal atravessaram a soleira, e viram Patrícia desesperada, quase aos prantos na frente do caixa. Laura correu na direção de sua funcionária, por mais que não soubesse do que se tratava, o seu coração batia forte, e um corte áspero rasgava sua garganta. - Patrícia, o que aconteceu?- - O-o seu marido, Laura. Ex marido agora…- Explicou a mulher, atrapalhada.- Ele veio aqui há uns dez ou vinte minutos, disse que iria te esperar para combinar os dias que visitaria a Sophie. Sentou em uma das cadeiras próximas ao balcão e me pediu uma fatia de bolo. Bom, como é um lugar público, e ele não fez nada para desrespeitar ninguém, não podia expulsá-lo.- - Por Deus, Patrícia, fale logo o que aconteceu, mulher.- Disse Laura, nervosa. - O Pedro limpou todo o caixa. Não sobrou um centavo para dar de troco.- Os olhos da mulher que já estavam marejados, transbordaram-se em lágrimas. Já Laura, estava perplexa demais para esboçar uma reação. Não tinha mais nada para pagar as suas contas, e o dia do vencimento estava próximo. Por mais que sua mãe ajudasse com o dinheiro guardado que tinha, não era o necessário para manter a casa e a confeitaria. Estava perdida, de mãos atadas, precisava tomar uma decisão rápida para garantir o sustento de sua filha. - Meu Deus.- Disse Estela, boquiaberta.- Precisamos prestar queixa na polícia. Esse bandido não pode te roubar e ficar por isso mesmo. Não pensou nem na própria filha.- - Por mais que me aperte o coração ter que denunciar o pai da minha filha, é exatamente o que vou fazer.- Laura limpou as lágrimas que fugiam pelo canto de seus olhos, tentando manter o equilíbrio emocional por mais difícil que fosse.- Mas as contas não esperam. Não querem saber que eu fui roubada, e se em três dias eu não tiver o dinheiro, vou ficar com o nome sujo. Não vou ter dinheiro nem para comprar comida.- - Eu jamais deixaria faltar comida para vocês.- Rebateu Estela. - Eu sei, mãe, eu sei.- Laura fungou, dando batidinhas amigáveis no ombro da mais velha.- Bom, só há algo a fazer… Para manter minha casa, precisarei vender a confeitaria e arranjar um emprego fora.- - Não vou deixar que abra mão de seus sonhos dessa forma. Se for preciso, eu vendo minha casa, eu…- - Mãe, não. Precisaria também da assinatura da Camila para vender a casa, e ela jamais concordaria com isso. Já vive ressentida porque eu fiquei com a padaria.- - Mas ela ficou com o apartamento.- Rebateu Estela. - Sabe como é a Camila, não sabe? Ela não vai aceitar vender a casa para ajudar os meus negócios, e infelizmente o que você tem guardado não é o suficiente. Muito obrigada por sua ajuda, mas eu terei que resolver sozinha. Não há o que fazer, vou vender a confeitaria, quitar minhas dividas e procurar emprego.- - Já tem algo em mente?- Perguntou Estela, frustrada com a situação. - Vou pedir ajuda a Jessica, aquela minha amiga. Com certeza ela vai me auxiliar para que eu tenha um norte.- … Não foi necessário mais do que 72 horas para Laura vender a confeitaria e quitar as suas dívidas. Naquela mesma manhã, recebeu uma ligação de Jessica, sua amiga mais antiga. A mulher trabalhava como gerente em um dos setores do departamento de bebidas, e informou para Laura que o presidente da Beauchamp’s estava recrutando uma nova secretária. Durante todo o percurso do elevador até o quinto andar, onde ficava o escritório do quase todo poderoso, Laura treinava mentalmente tudo o que diria para o homem, assim que cruzasse a porta da sala dele. Precisava impressioná-lo a todo custo. O futuro de sua filha dependia de que conseguisse assinar um contrato de trabalho. Aguardou por aproximadamente meia hora, e após duas candidatas, ela foi a terceira a ser chamada. Um nó se formou em sua garganta antes mesmo de atravessar a soleira, e seu coração batia mais forte a cada vez que se aproximava da mesa de Simon Beauchamp. O homem ainda analisava o currículo da jovem anterior, quando Laura parou de frente para ele, só percebendo a presença da mesma ao ouvir o barulho de sua respiração. Assim que desviou os olhos esverdeados e bem desenhados para a moça, sentiu o ar rarefeito. Um desejo inflamado incendiou o corpo masculino desde o momento em que encontrou o rosto delicado, não evitando explorar com os olhos cada centímetro das curvas esculturais da desconhecida. Ele pigarreou ao perceber que estava sendo um pouco óbvio demais em sua análise, se remexendo brevemente em sua cadeira para recuperar a compostura. - Pode ficar a vontade.- Simon acenou para a cadeira a sua frente, indicando que a garota deveria se colocar cômoda. De imediato, ela acatou as instruções. - Por favor, apresente-se.- Fitou rapidamente a aceleração nervosa do traço fino do pescoço de Laura, evitando continuar o caminho perigoso até as coxas grossas que se cruzavam provocativamente á sua frente. - Sou Laura Dávila, e sou formada em economia pela faculdade de São Paulo, com especialização em finanças e empreendedorismo. Já fui estagiária da Espósito e da Doce’s ilimitada’s, uma indústria alimentícia.- Simon assentiu, absorvendo a informação fornecida pela moça. Ele esticou a mão para segurar o currículo dela, avaliando-o antes de começar com suas perguntas. - Você tinha uma confeitaria.- Constatou Simon, com ar de dúvidas. Lançou um olhar interrogatório para a jovem, esperando que ela falasse algo a respeito. - Tinha, mas precisei vender.- Laura pigarreou, vacilante quanto a continuação de sua resposta. Não queria passar a imagem de incompetente, então achou melhor dizer a verdade.- O meu ex marido roubou todo o meu dinheiro, e não tive como pagar as minhas contas. Tenho uma filha pequena, então…- Laura suspirou, frustrada com o rumo que sua vida estava tomando.- Então preciso pensar nela em primeiro lugar.- O homem balançou a cabeça devagar, admirando a disposição da moça de seguir em frente com a vida. O certo seria fazer um pouco de suspense e entrar em contato com Laura apenas no dia seguinte, mas pelo desespero da moça de conseguir logo um trabalho, temia que pudesse perdê-la. Tinha algo em Laura que o intrigava, e ele queria saber mais a respeito da moça. - O seu currículo é muito bom, e como você tem experiência dinâmica… O cargo de secretária é seu.- Laura respirou fundo, aliviada demais para disfarçar. - Quando posso começar?- - Pode ser hoje?- Perguntou o homem. - Claro.- Ela concordou. - Seja bem-vinda, senhorita Dávila. Será um prazer trabalharmos juntos.- Ele esticou a mão na direção dela, aguardando pacientemente que ela o cumprimentasse. Talvez Laura fosse um pouco ingênua demais para perceber, ou talvez Simon tivesse aprendido a controlar melhor os seus impulsos primitivos. O olhar do homem, no fundo, deixava transparecer que queria sentir outro tipo de prazer com aquela mulher. - Obrigada pela oportunidade.- A mulher segurou a mão de seu chefe com firmeza, não perdendo o contato visual com o mesmo.- O prazer é todo meu.- No momento em que sentiu a pele morna e suave tocar a sua, Simon estremeceu. Sua respiração desestabilizou, quase se perdendo na intensidade dos olhos acinzentados e femininos. Focou brevemente a atenção para o contorno sedutor dos lábios, imaginando qual seria o sabor afrodisíaco que teriam. Talvez tivesse se transformado em um pervertido, porque naquele instante, os sentidos aguçados de Simon gritavam para que ele beijasse as partes mais sensíveis e í.n.t.i.m.a.s do corpo da mulher. Se Laura pudesse ler os seus pensamentos sórdidos, provavelmente sairia correndo dali. - Então venha comigo. Vou te mostrar o restante da empresa e explicar como funciona o seu trabalho.- Ele caminhou até o lado da jovem, pousando a mão nas costas dela.- Vamos?- Laura engoliu em seco, surpresa com a reação que teve ao contato dele. Seus pêlos finos se eriçaram, suas pernas ficaram levemente trêmulas. - Vamos.- Ela concordou, seguindo o seu chefe até o lado de fora da sala. ———————————————————————- Muito obrigada por estarem acompanhando essa história, que estou fazendo com tanto carinho. Cada um de vocês são especiais, e me inspiram para que cada dia faça um capítulo inédito. Conto com a ajuda de vocês para votarem em mim no bilhete lunar! Clique em #Vote#
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