CAPÍTULO UM

1064 Words
— A senhora está se sentindo bem? – Perguntou Lara, à uma senhora na rua. Não propriamente na rua. Lara estava em frente ao seu trabalho, no centro e tinha atravessado a rua para comprar um café antes de começar o seu dia. Viu uma senhorinha de uns sessenta e cinco ou setenta anos e percebeu que ela não conseguia atravessar para o outro lado. — Eu… A senhora parecia mesmo não estar se sentindo bem e Lara colocou uma mão sobre seu ombro, quando viu a palidez de seu rosto.  — Alguém me ajude! – Gritou Lara, derrubando o copo de café que acabara de comprar para amparar a senhorinha que revirava os olhos e perdia a consciência. Um rapaz que passava, estava atravessando a rua correu ao encontro das duas, Lara tentava sustentar a senhora, e por mais que ela fosse bem menor que Lara, soltara o peso do corpo e ficava difícil segurá-la para que não se estabacasse no chão e a levasse junto. — Pode soltá-la – pediu o rapaz, ele era alto e não pareceu  se esforçar para pegar a senhorinha. Tirou a do sol, da calçada e entrou com ela dentro da cafeteria que Lara tinha acabado de sair. – Meg, traga um copo de água, por favor. – Pediu o jovem rapaz à mulher que estava atrás do balcão, a mesma que havia servido o café para Lara. Lara tinha corrido atrás do rapaz e só depois percebeu que ele trabalhava ali, era inclusive muito parecido à Meg. Meg trouxe o copo de água, mas a senhora ainda estava desacordada. O rapaz a colocou em uma poltrona sentada, Meg a abanava com um pano de prato, fazendo perguntas ao rapaz, que Lara supunha seu irmão e Lara estava com o celular colado ao ouvido, chamando uma ambulância. Eram sete e trinta e cinco da manhã, o horário de pico poderia interferir e atrasar a chegada da ambulância e Lara perguntava ao atendente em quanto tempo chegariam ali. — Moça – interrompeu-a Meg, a dona ou funcionária da cafeteria. – Sua mãe sofre de algum problema de saúde? — Ela não é minha mãe, eu não a conheço – Lara respondeu, mas sua atenção estava no atendente da urgência. – Sim, no centro, trouxemo-la para uma cafeteria. Sim, esse é o endereço, obrigada. Lara desligou o celular e foi para junto da senhorinha que parecia estar mais corada agora e voltando à consciência. — Olá, a senhora está se sentindo melhor? – Lara estava agachada ao lado da senhora. Ela abrira os olhos aquosos e preocupados para Lara. As rugas no rosto, lhe deixava parecido a pergaminhos. Ao lado dos olhos haviam muitas linhas de expressões,  ela se sentou mais ereta na poltrona e tentou se levantar. – Por favor, não se levante. A senhora passou mal, chamamos a urgência e já estão chegando. — Já estou bem, meu bem. Não há necessidade nenhuma de ser atendida… — Pode até ser, mas vamos esperar a chegada da ambulância e se a senhora estiver bem, vai para sua casa, ou para onde estava indo, tudo bem? Lara falava firme e carinhosamente com a senhorinha. A mulher parecia ser muito amável e educada, se recostou melhor na poltrona e agradeceu Lara. Meg e seu irmão lhe ofereceram água, mas ela recusou. — Estão chegando – avisou Lara, ao ouvirem o barulho da sirene da ambulância. A senhora pareceu ficar desanimada ou sem graça, claramente achando que já estava melhor e não queria dar trabalho. — Está tudo bem, como eu falei para a senhora, se descartarem algo, a senhora estará livre, mas eu me sentiria muito melhor se a senhora fosse atendida por eles – pediu Lara com um sorriso para a senhorinha e ela anuiu. Lara nunca tinha andado ou solicitado uma ambulância na vida, não sabia o protocolo e mesmo assim prometera à mulher que ela poderia ser liberada caso estivesse bem. Enquanto eles estacionavam, ela aproveitou para ligar em seu escritório e explicar a situação. Que atrasaria uns minutos. Só tinha saído para comprar um café, mas pelo jeito iria demorar um pouco. — Olá, tudo bem? – Foi a pergunta que o socorrista fez ao adentrar a cafeteria e Lara não conseguiu deixar de olhar para ele com espanto. Ele não estava só, seu companheiro motorista havia descido com ele e traziam maca e maleta. Ele entrou na frente, o rosto fechado, a preocupação profissional na expressão, mas Lara ficou meio hipnotizada. Percebeu que não foi a única. Meg suspirou e falou baixo: — Senhor, se a senhora não quiser ir, ele pode me levar no lugar dela, porque minha pressão com certeza está alta. Só Lara e o suposto irmão de Meg ouviram, pois ele lhe deu uma cotovelada de leve para chamar sua atenção. Meg estava certa. Lara pensou que deveria ser proibido um homem tão lindo daquele trabalhar com socorro. Imagine se você volta de um desmaio e dá de cara com ele. É infarto na certa. Ou a pobre pessoa pode achar que morreu e foi para o céu. Na verdade, não era que ele era lindo, nem parecia-se a um modelo nem nada disso. Mas é que o uniforme brilhante de Socorrista agarrado ao seu corpo, era impossível olhar uma vez só. As coxas – que era claro que deviam ser grossas – , marcavam a calça, o coturno até quase os joelhos, tudo, o conjunto todo o deixava maravilhoso. Além da imponência com a qual entrou no lugar. Pronto para socorrer. Lara se recriminou por dentro, envergonhada de estar pensando uma coisa dessa nesse momento. — Ela passou mal ali na calçada – começou a dizer Lara e o rapaz que a trouxera nos braços para dentro, continuou a explicar. — Sim, a trouxemos para dentro para tirá-la do sol, mas ela acordou rapidinho. Os Socorristas estavam um de cada lado da senhora. O que Lara vira dirigindo a ambulância, aferia a pressão da senhora e o deus que entrara primeiro, usava uma lanterna pequena nos olhos dela e lhe falava com muito carinho: — Qual é o nome da senhora? — Mirtes. — Senhora Mirtes, a senhora se sente melhor agora, sente algum desconforto, alguma dor? Jesus, que voz era aquela? Lara pensou que deveria estar ovulando, porque não era possível que ela ficasse com pensamentos assim do nada.
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