" Desvendando o mistério"...

3960 Words
_ Tive uma idéia! Fui ao meu quarto procurar um caderno antigo que eu usava para os estudos na época em que minha mãe me ensinava, foi o único que trouxe. Tinha apenas algumas folhas limpas, mas ia servir para o que eu queria. Aquele caderno seria um "quebra galho pra mim". Nele eu ia arquitetar minhas missões. Comecei a escrever algumas palavras. De primeira pensei em criar um mapa mental, mas depois decidi ser mais detalhista, já que teria muito o que fazer devido a falta de informações para estudar o caso. Iniciei a rabiscar aquela folha, dando um título para a minha aventura. Chamava-se: " DETETIVE MILLY EM AÇÃO!" Eu ria comigo mesma, como aquilo estava sendo divertido e tornando-se meu "passa-tempo". Dois minutos depois de intitular minha investigação, não sabia mais o que colocar. Mas sabia o que queria desvendar. Então decidi segui uma ordem de maior importância. -Defini da seguinte forma: _ 1° : deveria procurar pistas sobre meus pais; _ 2° : desvendar o mistério do vizinho gato da casa ao lado; _ 3° : descobri o que se passa com a tia Ana e meu tio; Depois que escrevi isso, rasurei o papel riscando-o por completo e escrevendo novamente. Não tinha cabimento colocar minha tia em 3° lugar. Não aguentava mais vê-la angustiada a chorar pela casa. A amo muito. É isso! Vou mudar a ordem, vou ter que deixar minha curiosidade que meu vizinho despertou em mim para depois. Foi um raciocínio lógico, conheço meus tios a mais tempo e meus dias naquela casa já estavam contados, por mais que eu quisesse me aproximar daquele cara, não poderia. Mais tarde preciso vasculhar a casa para arrumar algum vestígio. Só não sei como, meu tio tem "olhos de Águia", terei que encontrar algum meio de entreter ele. Aí que mora o perigo, nem minha tia conseguia prender à atenção dele. Pensei… pensei e pensei. Tive uma brilhante ideia, hoje minha mente estava fértil e tinindo. _Como não pensei nisso antes! Guardei meu caderno embrulhando-o em um papel filme que estava no armário da cozinha, para escondê-lo em algum lugar. Ninguém poderia saber dos meus planos, nem mesmo minha tia. Ela não ia permitir que continuasse com a investigação. Fui em direção ao local que iria colocar em ação meu primeiro plano, vou ter que "atuar ", não sei se sou uma boa atriz, agora era a hora pra testar. ***Detetive Milly On*** _ Vou para a frente da casa e deixo o portão um pouco aberto, vou em direção a casinha do Bob e desamarro a coleira do pescoço dele e digo baixinho para o Bob: "Vá Bob, pegue!". Jogando um pedaço de madeira no outro lado do portão. _Bob é um cachorro muito inteligente. Ele corre pra fora do portão. Eu já sabia dos treinamentos que o Bob recebia pelo meu tio, sabia quais comandos ele atendia direitinho. Não foi complicado fazer aquele cachorrão se mover. Agora dou continuidade a segunda parte do meu plano. Vou desesperada para a sala, com os olhos marejados, em direção a meu tio, que estava pintando um quadro pindurado na quina da janela e digo-lhe com uma voz de choro nas "alturas" e com os lábios trêmulos: " TIO ROMERO! O BOB FUGIU" Olho para minha tia: " Precisamos encontrá-lo tia, ele pode estar em perigo!" (não sei como consegui, eu era melhor do que pensava ). _ Ele se levanta derrubando o quadro no chão. Tio Romero não espera eu falar e grita: " COMO?" _ Regalo os olhos_ agora, é de verdade. _ Deu um calafrio que percorria todo o corpo. A voz dele era bastante grossa, parecia que ia avançar em mim. Minha tia o segura. Ele vai em direção a casinha do Bob conferi, volta para dentro de casa e me pergunta novamente já com a coleira na mão: "COMO ELE FUGIU, ME RESPONDA GAROTA! Ele nunca fugiu antes. E como ele se soltou da coleira?"_ Fiquei inquieta, não falei nem um "ai". "Vamos, diga-me agora ou te castigarei!"_ assim ele falou com um tom rastejante, com os dentes cerrados, e o olhar como o de vingança, segurando a ponta da manga da minha blusa e torcendo-a. Nunca vi meu tio se pronunciar desta forma, talvez eu não planejei bem, acho que exagerei um pouco. Era pra ter soltado a corrente do Bob da árvore em vez de abrir sua coleira. Assim fingiria uma possível quebra da corrente pelo tamanho do bicho e por sua "fortaleza". Me aplumo tentando assumir meu papel novamente: " Não sei tio, eu o encontrei já saindo pelo portão. Apenas o vi porque fui levar ração pra ele, deve ser que a coleira estava folgada". _ Seguro as lágrimas. _Precisava mostrar que estava falando a verdade, senão perdia a cena e junto se ia minha "carta de alforria". "Tem certeza?! "_ diz ele. " Absoluta tio, acredite em mim. O Bob jamais ia me obedecer. Eu tentei chamá-lo pra que ele retorna-se, só que ele não quis voltar. Estava muito valente e arredio, nunca o vi assim, parece que alguma coisa o chamou a atenção." _ Como mágica as palavras saíram da minha boca uma atrás da outra, sem parar para me ouvi. _Aplausos para mim. "Vou te dá um voto de confiança. Se estiver me enganando, lhe entrego para aquela enxerida da Assistente social, aliás, faço melhor, te mando para um internato. Se ligou?!" _ Que gíria era aquela? E quando meu tio começou a praticar? Ele segue me perguntando: " Aonde você o viu da última vez, venha me mostrar". _ Ele me leva pro quintal e pede pra indicar. Eu que não sou besta, indico no sentido contrário para que ele demorasse de o encontrar. E assim teria mais tempo pra pesquisar. Tio Romero segue minha indicação, liga o carro e vai devagar olhando em todas as direções com o vidro abaixado e gritando pelo nome do cão. Minha tia foi à pé e levara um punhado de ração em sua mão. Eu fiquei mais uma vez sozinha em casa, "bingo"! _consigo ver eles tomando distância. Começo a mexer em todos os móveis da sala, mas percebo que tem muitas coisas para olhar e eu não sei se o Bob foi tão longe. De repente parei um pouco, me deu uma dó no coração. Será que o Bob foi para muito longe? Ou para um lugar perigoso? Será melhor eu ir também o procurar? Mas se eu não aproveitar a oportunidade agora, quando farei isso? E que plano irei bolar? "Não, melhor não. Deixa os dois (meu tio e minha tia) o procurar. Vou continuar aqui, se eles demorarem demais e eu já tiver concluído por aqui, eu vou atrás." _ falo pra mim. "Eles nem me deram autorização pra sair"_ continuo. Até parece que eu precisaria de autorização para sair, ultimamente venho mostrado ainda mais meu lado "rebelde". Meus pais nessas horas se me vissem diriam bem assim: "não foi esse o ensinamento que nós te demos". _ Imaginei eles. Tranco a porta, caso eles cheguem terão que me chamar, já que esqueceram da chave. Melhor pra mim, ficarei alerta pra que eles não me peguem no flagra. _ O chinelo vai chiar. Abro as primeiras gavetas da instante da sala e nelas continham tintas, pincéis, folhas e um monte de clipes. Passo a mão por debaixo de uma gaveta fofada e encontro uma foto antiga. Uma das pessoas que estavam na foto parecia ser o meu tio Romero, mas as outras duas pessoas ao lado não as reconheci. Olho atrás da foto se teria algo escrito ou alguma assinatura e… nada tinha nela. Não teria como desvendar quem era aqueles "estranhos" e nem poderia perguntar aos meus tios. Eles desconfiariam que eu bisbilhotei as coisas deles. Guardo-a no lugar e foco novamente em busca de informações. Voltei à procura por entre a sala, só que agora cogitei analisar o quarto dos meus tios. Eles não vão perceber se eu der uma olhada por cima. Escuto um barulho de carro. Será que eles voltaram? Será que Bob já foi encontrado? Vou para o banheiro e olho pelo basculante_ Ufa! Não foram eles. Corro para o quarto deles, começo a andar pelo quarto inteiro, olhando por toda parte. Não vejo nada de diferente ou importante que pudesse avançar com minha investigação. Mas, também se eles tivessem algo que o comprometessem, não deixariam às vistas. Sinto muito, vou ter que ser ágil, o jeito é revirar tudo e consegui tempo para colocar no lugar antes deles me chamarem (já que a porta estava fechada). No meio daquela bagunça gerada por mim, me perco em pensamentos (sempre eu que limpava as bagunças da casa, e não o contrário. Dessa vez foi eu quem a fiz). Onde será o ponto específico que meu tio guardaria algo particular? "Onde Milly, pense!" _ Falei por forças do pensamento. Um celular toca, corro em direção ao som. Encontro o celular do meu tio dentro da escrivaninha. Pego-o, ele já não está mais tocando, foi um toque curto. Talvez fosse alguma mensagem. E se fosse algo relacionado aos meus pais? Não contive, comecei a mexer na tela do celular de forma desordenada, pois não sabia mexer. Nunca tive um celular, pedi um quando criança ao meu pai, mas ele não tinha condições de comprar. O celular do meu tio parece que estava exigindo uma senha de desbloqueio. Qual senha seria essa? Quais números meu tio escolheu. Tentei as datas de nascimento do meu tio, da minha tia, do meu pai, todas deram erradas e assim que fui tentar outra mais uma vez, apareceu uma frase na tela dizendo que, com mais uma tentativa errada bloquearia o celular e só recuperaria-o novamente com um "código PIN " ou email de recuperação. Que código seria esse? Não entendo do assunto, vou tentar outras pistas. _ Coloco o celular na gaveta limpando a tela com uma franela que estava em cima da escrivaninha. Precisava tirar minhas digitais dele. Arrumo tudo e vou para a sala. Já estava cansada, tinha feito uma sequência de movimentos muitos rápidos que me fez ficar ofegante. Mereço um descanso! _ Paro em frente a porta da sala em direção a um dos quadros do tio Romero. Olho aquela imagem fixamente, o desenho de algumas garças sobrevoando em formato de coração em um dia de céu claro, com algumas nuvens e uma única árvore, bem distante. Viajei naquele desenho como nunca tinha acontecido._ como não vi isso antes? Percebo uma inclinação no quadro. Pego o quadro com cuidado e levanto o forro dele, e " tchã rã", consigo minha primeira pista. Uma carta e uns pertences, anel, brincos e pulseira, tudo em um saquinho preto… Coloco novamente os objetos no saquinho e apenas levo a carta para o quarto dos meus tios. Na escrivaninha deles, tinha uma impressora, aquela carta parecia extensa, eu poderia levar muito tempo lendo, ainda mais que não concluí meus ensinos, já que meu tio não me deixou ir para escola. Imprimo a carta cuidadosamente para não rasgá-la, parecia um pouco frágil, deve ser antiga assim como os objetos que estavam juntos. Consegui visualizar o nome da minha mãe (Alice) na carta. _ Será que era uma carta dela, ou para ela? E quem será que a escreveu? A letra não parecia com a da minha mãe, nem mesmo com a do meu pai. _ Será que foi o tio Romero? Ou a tia Ana? _ Mas se fosse da tia Ana porque ela esconderia num quadro do meu tio? Não queria tirar conclusões precipitadas. Se houvesse algum problema, eu ia saber agora. Devolvo as coisas para seu devido lugar e levo a carta impressa para o meu quarto. Deito em minha cama e na hora em que ia começar a ler, ouço batidas na porta. Em seguida escuto a voz do meu tio me chamando. _escondo a cópia debaixo do colchão. Levanto-me e sigo em direção à porta. Assim que abro a porta, meu tio não espera, vai direto para o sofá, de cabís baixo, começa a chorar. Aquela cena me comove, não sabia como reagir ou o que fazer. Nunca vi aquele homem esboçar tamanha tristeza. _ Imaginei o pior, mas não queria o perguntar. Se fosse o que eu estava imaginando, não queria ser eu a causadora desta tragédia. Enfim… Me olho no espelho do corredor, tomo coragem para enfrentar a resposta do meu tio e lanço a pergunta: " O que aconteceu meu tio? Cadê o Bob? Não o achou? E a tia Ana, onde ela está? O senhor está se sentindo bem? Quer uma água com açúcar?" _ nem lembrava mais quantas perguntas o fiz e se ele as compreendeu. Ele abre a boca, já toda úmida de saliva envolvendo seus lábios trêmulos, ainda em choque e diz: " Eu...eu… não… o encontrei". _ as lágrimas caem. Ele completa: " Meu Bob, meu pobre Bob, tadinho dele. Sozinho e perdido pelas ruas, por essa cidade grande e perigosa. Cadê você meu amigão?" _ Pergunta como se quisesse ouvi-lo responder. Tio Romero começa a rezar. _ Nem sabia que ele rezava, nunca o vi orar, nem mesmo ir à uma igreja ou falar de Deus. Ele sempre foi um homem bem fechado e mandão. Reflito na situação em que meti o Bob, só queria a casa livre, mas não queria que o Bob tivesse em perigo. Nada mais justo eu ir atrás dele, tentar tirá-lo desta roubada. Onde o Bob poderia está? E cadê a tia Ana? Será que ainda está o procurando? Quando desviaram o caminho um do outro, meu tio e minha tia, já que os dois foram acompanhados? Não adiantava ficar tentando encontrar respostas pra tudo sem se mover do lugar, me agacho aos pés do meu tio e o falo: " Não fique assim, nós vamos o encontrar com vida e bem, tá?" _Pouso minha mão sobre seu rosto. Ele balança a cabeça em sinal de "ok"! Aproveito o momento que ele está mais calmo e o pergunto: " Meu tio, se o senhor permitir, posso ir também à procura do Bob? Quanto mais gente melhor! Não é? O senhor permite?" _ aguardo respostas. Ele levanta a cabeça e me olha, com a cara toda amarrotada e molhada de lágrimas. Os olhos vermelhos igual uma brasa acesa, cabelo bagunçado e a camisa já toda amassada de tanto aperta-las sobre o próprio corpo no momento da angústia. _ Era deprimente vê-lo desta forma. Sem sombras de dúvidas o olhar do meu tio era de "implorar por ajuda". Sem contestar, ele concorda com a minha sugestão. _Parecia mais consciente do que estava dizendo, porque anteriormente, o mesmo se perdeu em choros e pensamentos. Agora eu via um cara mais decidido e determinado a encontrar o "filho" Bob. Ele diz: "está liberada, encontre-o por favor para mim… Pode ir Milly!"_ Eu estou alucinando ou é verdade o que acabara de ouvi? Meu tio pedindo "por favor"?, o chão iria estremecer. Aquelas palavras aumentou ainda mais minha ânsia em querer achar o Bob. "O senhor vem comigo?"_ Pergunto-lhe já em posição de saída. Ele se ergue e insinua ir em direção ao seu quarto dizendo: " Vou pegar meu celular, preciso fazer uma ligação". Eu não queria tá ali pra ver esse momento, poderia ainda está a aparecer aquela frase em seu celular, me entregando ter mexido no aparelho. Inteiro minha fala com: " Já vou indo, levarei uma das chaves da casa. Te encontro aqui novamente!" _ Assim concluí. A casa tinha duas chaves, como já vem na própria fechadura. Uma era da minha tia e outro era do tio Romero. Eu não podia sair, então não tinha uma chave pra mim. Aquele dia estava se tornando mais agitado do que o normal... A casa toda enlouquecida, entrando becos e vielas atrás do nosso amigo Bob. Vou para o portão da casa e paro na calçada da rua. Analiso cada parâmetros da rua, eram muitos caminhos. Mas qual o Bob ia querer seguir? _ Tentei pensar como o Bob. No chão da calçada lá estava o pedaço de madeira, pego-o e jogo dentro de um balde de lixo que tem na praça. Graças à Deus meu tio não o viu. Foi às pressas atrás do Bob que esqueceu de ver o que o afastou. Atravesso a rua, passando em frente ao casarão do Jhonny, olho a rua de um lado à outro e começo a chamar pelo Bob. " Bob amigão, cadê você? - Bob apareça… Bob, não tenha medo, sou eu, a Milly, lembra? Bob, por favor!" - Não sabia assobiar, aprendi naquele momento". Começo uma sequência de assobios e nos intervalos de um assobio e outro gritava seu nome e ao mesmo tempo estalava os dedos um no outro. Fui de rua em rua, caminhei por léguas. Entro numa rua parada e silenciosa, não havia bar, nem supermercado e nenhum tipo de comércio. As casas todas fechadas. Penso melhor retornar. Vejo uns caras vindo na mesma direção que a minha. Parecia que eu estava num filme de faroeste, eles tinham uma aparência de mafiosos, com a mão no bolso da calça, outros na fivela como se segurasse algo por entre os dedos e a cara de bravos. Com roupas e trajes semelhantes a de um cowboy. Me afasto da calçada e vou caminhado por entre a estrada, não passava nenhum carro no momento. Assim que aproximo deles, não os olho e tento esconder meu medo. Eles não me olharam também, nem deram ligança. Ufa, que bom que não prestaram atenção em mim. _ Talvez fui um pouco preconceituosa, não é a aparência e vestes que definem o caráter das pessoas. Será que a convivência com meu tio me tornou uma pessoa antipática? Tomara que não… Bem que me dei conta disso antes, assim posso consertar minhas atitudes. Vou procurar tranquilamente pelo Bob, aonde ele esteja. Mas à frente, vejo uma senhora sentada no banco da praça com umas sacolinhas, pareciam de compras. Me aproximei dela e a perguntei: " Olá, boa tarde. A senhora viu um cachorro grande, de pêlos pretos, sem coleira, passar por aqui? "_ dei a descrição que eu sabia sobre o Bob completa. Ela me responde que "não", até porque a visão dela estava meio comprometida, já havia perdido 40% da capacidade visual. Saía de casa com bastante cuidado. _ Ela me contou com outras palavras, mas o sentido prevalece o mesmo. Digo lhe então: " Perdão, sinto muito, espero que possa se recuperar." _ sabia que pelas muitas idades daquela senhora, a tendência era diminuir seu campo de visão. Mas queria conforta-la e que ela se sentisse bem. Ela, super gentil responde-me: " Tudo bem minha querida, como poderia saber? Não é preciso se desculpar. Já aceitei... vivi muito, já vi muitas coisas com esses meus olhos que a terra há de comer. " Ela continua: _ " Aproveite-se. Não apenas da sua visão, aproveite de tudo que a vida lhe proporcionar. Antes que o tempo passe e seja tarde demais." Eu: "Obrigada minha amiga, lembrarei dos seus conselhos." _ sorrio e peço licença para me retirar. Ando alguns poucos metros e olho para trás, ela estava a tentar me enxergar. Faço sinal de tchau, mas ela não me retorna. A coitada não conseguia ver mais daquela distância. Então sigo o meu caminho. Andei tanto que nem vi as horas passarem. Já estava a escurecer. Não conhecia a cidade, nunca saí daquela casa pra ir tão longe, conhecia os meus limites, no máximo até a pracinha da rua e olhe lá, meu tio não deixava. Aquela vez do vizinho foi "as escondidas". Dos destinos que já fui, o mais longe deles, foi do interior para a casa do meu tio e depois da casa do meu tio para a assistência social. Esse é o resumo da minha vida. Tento voltar para casa, sigo as linhas que vim anteriormente, me confundo um pouco nas direções, os caminhos eram muito parecidos. Dou a "ré" e tento o outro caminho. Vejo as luzes da cidade começar se acenderem, vejo que já é hora de está em casa. _ Se eu já estava me sentindo "fora da casinha", imagina o Bob. Perdido neste enorme mundo de concretos. Apresso-me aumentando os passos e consigo ver a esquina da rua que eu morava. Me alivio com a descoberta._ rio já cansada e soando. Nunca soei tanto como hoje. Visualizo meu tio, ainda parecia aflito... Chego perto e nós dois perguntamos ao mesmo tempo: " Achou o Bob?" E respondemos em uma só voz : " Não". Pra aonde foi esse cachorro meu Deus. _ penso. Meu tio coloca as duas mãos sobre a cabeça e libera um "ar " de preocupação pela boca. "Não podemos desistir, vou procurá-lo mais um pouco." _ falo e vou me virando. "Já tá tarde!... Entre." _ diz tio Romero. " Não, não tio. Não me deixe sem notícias. Deixe-me procurar só mais um pouco, se eu não consegui… prometo voltar e não tocar mais nesse assunto por hoje. " _ digo com um olhar pidão. _ Ele se cala e, "quem cala, consente"... Por mais que meu corpo estivesse cansado e pedisse um banho e cama. Não poderia parar com a busca, era meu dever de encontrá-lo. Foi eu quem o soltei. Meu tio entra na casa e o vejo a conversar com a tia Ana pela janela. Grito pelo Bob dali mesmo: " Bob? Venha Bob, seja um bom menino" _ nesta hora lembrei da nojenta da assistente social dizendo-me " seja uma boa menina". Aff… "Ei, Milly?!" _ ouço alguém me chamar... conhecia aquela voz. Quando olho na direção da voz, era o Jhonny vindo em minha direção lindamente, parecia que o homem flutuava ou eu estava imaginando coisa. Será que era um desfile de moda? Ou um anjo, vindo me castigar pelo sumiço do Bob? Ele ainda lembrava o meu nome? _ acordo dos meus pensamentos. " Oi Jhonny!" _ respondo-o com uma cara triste. " Está procurando alguma coisa? Ouvi você chamando por um nome… se não me engano "Bob" " _ ele questiona. " Sim. É o cachorro de estimação que meu tio cria. Você o viu por aqui?" _ descrevo Bob. Ele diz: " Está com sorte, venha". _ me chama virando-se, ele olha de lado e com dois dedos levantados (o indicador e o maior de todos) volta a me chamar em formato de "pinça" ou "aspas" não saberia te explicar sinais. Juro que naquela hora assumi dupla personalidade. Uma hora pensei: "Sorte? Se isso é sorte não sei, estou exausta, parecendo uma louca pelo meio da rua, se esguelando atrás do Bob e nada dele aparecer e pra piorar foi eu quem causei a fatalidade ". Depois pensei: " só pode ser sorte grande, avistar um anjo desses por aqui após um longo e cansativo dia. E ainda me convidando para entrar ". _ meus olhos brilham nesta hora. Ele me tira do transe mais uma vez, já próximo à porta da sua casa: "Venha Milly… não tenha medo. Não lhe farei nenhum mal. Tenho uma coisa para lhe mostrar. Siga-me! " _ ele insiste. Prosigo com minhas imaginações: " Não ter medo dele? Tinha medo é de mim!. O que será que ele quer me mostrar? Mas e a minha procura? Será que o que ele tem pra me mostrar vai demorar? Ou será que é… o… o Bob?! É isso!" _ corro em sua direção com um sorriso libertador. Parecia que ia a encontro da salvação.
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