O Encontro:

3013 Words
*** Ainda com a Milly*** _ Amanheceu hoje um dia chuvoso e de repente deu meio-dia. As horas pareciam que estavam correndo, ou se apressando para o meu sacrifício. Meu tio saiu e minha tia teve que o acompanhar, resolver alguns negócios da família que recusaram me dizer o que se tratava. Nunca os viam sair juntos, a maior parte do tempo minha tia vivia em casa, nem pra conversar com as amigas ela saia. Vi aquele momento como uma oportunidade… Saio discretamente pelo portão da frente e quando penso que não, dou de cara com a Assistente social. -Que azar! (penso) _ Minha pele cora na hora_. Minto, dizendo que a vi chegar pela janela do meu quarto e vim ao seu encontro para acomoda-la em minha morada (meu quarto não tinha janelas, mas ela nunca entrou nele) _Me vi de "mãos atadas", se eu a dissesse que estava de saída, a mesma iria "bater com a língua nos dentes" para o meu tio e assim seria o fim dos meus planos de explorar a vizinhança. _ Assim que ela entrou a ofereci um café (era a única coisa que tinha disponível) _ meu tio regulava as refeições. E após indiquei um lugar para se sentar. _ Ela não aceitou o café, disse-me que seria uma visita rápida, não ia demorar, nem tampouco tomar o tempo dos meus tios. _Aí era que tava o problema, eu estava a sós na casa. Tentei organizar as palavras para explicá-la que meus tios tiveram um imprevisto de última hora e precisaram sair, mas que os mesmos não iam demorar. Cadê coragem? Eu não era tão medrosa assim, mas quando me via em situações de vulnerabilidade, em outras palavras, "em saias justas", até gaga eu ficava. Ela poderia pensar que meus tios eram irresponsáveis, que não estavam cuidando de mim como deveriam. Só de olhar para minhas roupas, já os entregavam, estavam todas um "Ó", uns trapos. Era rasgo em um canto, furo em outro e por aí se vai. Eu sempre dizia que era "roupa de casa". Quando saísse, me arrumaria melhor… eu me perguntava: "quando?". Mas também meu tio nunca comprou roupas novas para mim, gastar comigo estava fora de cogitação. Aquelas que eu usava recebi de doação das amigas da Ana, quando ela comentou com estas que eu estava crescendo muito rápido e minhas roupas haviam se perdido tudo e ela (Ana), sem trabalho não tinha como me dá este gosto, as amigas logo se prontificaram fazer doações de algumas roupas que as mesmas não usavam mais. Eram pessoas de bom coração, assim como a Ana e tinham uma alma solidária. Elas só iam lá em casa caso o tio Romero não estivesse, era quase uma eventualidade elas aparecerem. _Ele ficava soltando umas indiretas para expulsá-las, porque elas eram contra o casamento. Elas sempre diziam à minha tia, procure um cara melhor, que te ame e zele pelo seu amor. Diziam que a vida infeliz que ela levava ao lado dele, ia lhe tornar uma mulher amargurada e solitária. _ Dessa parte aí eu tomava conta pra que não acontecesse, eu não suportaria vê-la sofrendo. _ Eu não me canso de ouvir as histórias que minha tia contava, de suas saídas antes dela se casar com o tio. Era um tal de, "pega e não se apega, pra cá e pra lá". Era uma mulher "namoradeira", nunca gamou tanto em um cara, mas quando viu o tio Romero pela primeira vez, se derreteu por completo. Naquela época ele era amoroso, do contrário ela não se casaria. _ A Assistente me chama pelo meu nome: " Milly, cadê seus tios? Chame-os por favor para que eu possa fazer o "plantão". _Plantão ela chamava a análise que era feita em visita domiciliar para saber como andava meu estado psicológico, físico e educacional. Como eu estava sendo cuidada, se não estava sofrendo agressões, ou passando necessidades, resumindo bem, conhecer as condições em que vivemos. _ Eu ensaiei por duas à três vezes em minha cabeça para "soltar o verbo", mas a única palavra que saiu da minha boca foi: " Eles saíram devido a problemas pessoais". _ A Assistente me olhou com uma cara, devia tá passando um monte de coisas na cabeça dela, assim como na minha também não saía a dúvida do motivo deles, tio Romero e Ana, não me contar o que estava acontecendo. _ Ela sorriu para mim com um sorriso meio "forçado" e disse: " seja uma boa menina, fique aqui até eles chegarem. Vou ligar para eles informando da minha passagem por aqui ". Num tom frio e quase sarcástico. _ Quem ela pensa que é? Seja uma boa menina? Quando fui uma má menina? Me tratou como se falasse com uma criança de 5 anos? Ou um cachorro? Até o Bob é tratado melhor! Com os olhos já dilatados de raiva, tentei me controlar e disse: " fique tranquila, não há motivos para eu sair. Meus tios estarão logo, logo em casa. Tenha uma boa viagem de volta! " _Falei sabendo que da casa do meu tio para o Juizado de Menores, levaria aproximadamente uma hora de carro. Assim que ela saiu da casa, esperei uns 30 minutos e continuei minha "fuga". _ Não iria fugir de verdade, só ia sair para respirar um ar puro. Porque naquela casa, o clima era muito abafado, tinham janelas para nada porque do jeito que estavam ficavam (fechadas). Avistei um cara em pé de costas próximo a um lindo jardim que dava de frente para um casarão enorme, quase tomava o quarteirão inteiro. _ Fui me aproximando em busca de informação, mas com muito receio, poderia ser um mal encarado ou um sequestrador. Fiquei distante uns cinco palmos dele e o cumprimentei com um "Bom dia" que quase não saía, a voz foi tão baixa que, ele quem se assustou com a minha chegada. _ Ele se vira em minha direção, olha no relógio de marca que estava em seu pulso e diz-me: " Não é muito tarde pra um bom dia?" _ Já havia passado de meio-dia. _ Eu rio com a resposta e digo-lhe: " Desculpa-me, não me dei conta das horas". _ Ele me encara e franze uma das sobrancelhas em sinal de curiosidade. _ Tento puxar assunto já que ele não falou mais nada depois disso e fui eu quem o cumprimentei: " O senhor mora por aqui? " _Ele ri em sinal de deboche da minha cara e logo em seguida responde-me: " Por favor tire o 'senhor', eu não estou tão velho assim, estou? ". _ Entendo sua ironia e já vermelha novamente digo-lhe: " Peço perdão mais uma vez, não estava insinuando que o senhor é velho, apenas em forma de respeito, poderia ser casado". _ Ele indaga mais uma vez: - " 'senhor' novamente? _ Eu o respondo: " Me esqueci, Desculpa-me, minha cabeça está um pouco confusa _ Digo isso com uma das mãos levando a cabeça, tocando-a sobre a testa e comprimindo os meus olhos em menção à tolice que acabara de dizer. -" Podemos tentar novamente?" _ me refiro as apresentações. _ Neste momento em que fechei meus olhos, lembrei que este cara parecia com aquele que havia visto pelo basculante do banheiro enquanto lavava o local e que esqueci de perguntar a tia Ana quem era ele. O local silencia por alguns segundos e eu quebro o gelo. _Como quem não quer nada meto minha vergonha no bolso e continuo a interrogação a aquele cara cujo nome desconheço: " Se não for muita intromissão, poderia me dizer como se chama? E se mora por aqui?" Ele responde: "Sim…" _ E para do nada. Não entendi para qual das perguntas era o "sim". Não me dou por satisfeita e pergunto-lhe : " Sim para o quê? Essa resposta foi afirmando que eu sou muito entrometida, ou foi para dizer-me que mora aqui?! Ele ri levando a mão à boca _em sentido contrário à palma da mão. Pelo jeito ele tava gostando de me ver sem saber como reagir. _ Moro nesta casa. - ele diz apontando na direção do casarão. E novamente o silêncio se vem, parece que ele gosta de uma pausa, ou é muito culto e objetivo nas respostas. _ Moro desde minha juventude aqui nesta área e me chamo Jhonny, _levanta uma de suas mãos em minha direção para que eu o cumprimente, e refriza confirmando novamente: Jhonny Bernardini... satisfação... me admira muito alguém não conhecer esse nome. _Assim ele diz, pela sua enorme fama e aparição em vários jornais e programas de TV, tudo isso devido a sua fortuna e suas inúmeras empresas espalhadas pelo mundo. Ele era um empreendedor de sucesso. _ Eu levanto minha mão em direção a sua, por educação, retribuo a reverência dizendo: " Satisfação, me chamo Milly… Milly Ferreira. Moro nessa casa ao lado._ Aponto para a casa do meu tio. _ Termino minha fala com um balançar de cabeça como afirmação e solto nossas mãos. _ Ele se inclina em minha direção em sinal de respeito e pergunta-me: " Mora a muito tempo aqui bela moça? Porque nunca a vi na redondeza. São seus pais o casal que mora há anos nesta casa? _ Agora sim ele falava a minha língua, "não poupar palavras". ... Não sei por qual motivo, achei interessante as suas conversas... Dessa vez, foi eu que fui culta e objetiva nas respostas: " Há 10 anos. Não saio muito e "não" ". _Após, fico calada. Consegui despertar a curiosidade nele: " 'Não' para o quê? _ ele questiona. Movimento meus lábios como se fosse responder e faço uma cara pensativa: " Não sou filha deles"_ abaixo a cabeça. ...Ele é um tipo de curioso controlado, sabe seus limites e quais informações soltar. Não é à toa que ele é dono de inúmeras empresas... para gerir uma empresa tem que medir o que será dito "aos quatro ventos". Conversamos muito... Todas as perguntas que eu o fiz, ele respondeu, era um homem bastante direto. Não tiro sua razão, alguém poderia querer tirar informações dele para se aproveitar da fortuna dele. _ Pensava eu, que os grandes empresários eram todos discretos e sigilosos. Assim que terminamos nosso "bate-papo", o agradeço pela companhia e faço gestos de despedida com as mãos, um tchau prolongado e devagar. _Ele muda sua postura na hora. De, "um cara durão e fechado" passou a ser um homem agradável e atencioso, ele me convida para entrar, para tomar um chá com uns biscoitos. _Coisa de rico. Pensava que ricos não gostava de visitas, ainda mais de uma pobre como eu. As aparências enganam, mas desta vez me cegou total. Porque só não via quem não queria e convenhamos aquele homem tinha "um ar de mistério a ser desvendado" me senti a própria detetive, parece que minha vida se transformou em um filme, uma "colcha de retalhos", "da caça, a caçadora", juntando informações para decifrar o oculto. Uma hora, (apesar de ser forte) eu era a "coitadinha" n'outra, a "salvadora da pátria". _Não sabia se era o certo a se fazer… mas que mal tem nisso? _ Pensei mais um pouco. *** Pensamentos da Milly On*** _Um cara que mora sozinho e acabei de o conhecer, melhor não aceitar o convite e fazer essa desfeita. Ainda mais que meu tio pode chegar a qualquer instante, eles não me disseram o que iam fazer e se iam demorar, eu que mentir para a Assistente dizendo que eles não iriam demorar. _ O Jhonny me passou uma certa confiança, porém não poderia arriscar. Meu pai sempre me dizia que "os caras são aproveitadores" e que nunca se sabiam suas verdadeiras intenções. _ E se os vizinhos me vissem entrar no casarão com o "empresário" gato e fuxicassem para o meu tio distorcendo tudo. Desse enredo eu não queria fazer parte e logo agora que achei uma brecha para poder sair de casa, antes do meu tio me obrigar a casar com um estranho que "nunca vi nem mais gordo"._ Sim, o Jhonny era muito bonito, apesar de aparentar mais velho que eu, pensou Milly. Nunca namorei, mas senti um interesse por ele, não sei explicar o quê. Só sei que foi algo bom, me fez sentir bem à vontade. Aquela vizinhança era muito ativa, todo mundo sabia de informações primeiro que todo mundo, "os tal privilegiados" às vezes até a "vítima" é a última a saber, enquanto aquele povo já estavam brincando com as informações, uns até aumentavam para ficar mais intenso a história. Davam pra trabalhar em um jornal local, para eles notícias não faltavam, o que faltava era o caráter. Sem tirar o meu tio. Imagina o que aquele povo não falava de mim, só me viu duas vezes saí daquela casa que mais parece um presídio... _ De repente me vejo presa em tantos " E se? " que esqueço de dar-lhe a resposta... _ Vou inventar uma desculpa! É isso, não há outra maneira de dispensar os biscoitos que meu estômago tanto pedia. *** Pensamentos da Milly Off*** _______________________________________ *** Milly On*** _ Não posso aceitar, meus tios já devem está chegando. Tenho que ajeitar a casa para quando eles chegarem. _ Digo e saio andando. _ Ele fica me olhando enquanto me afasto, percebo seus olhares quando dou uma espiada de canto, fico fingindo está olhando para o jardim da casa dele. _ Olhei para trás ele estava estagnado, no mesmo lugar, não mexeu-se dali por nada. Ele continuava com o olhar fixo na minha direção, será que o homem tinha sofrido um AVC? Ou estava no mundo da lua? Eram tantas preocupações que ele tinha? Não conseguia "traduzir" sua face. Ele retorna aos seus sentidos pousando uma das mãos em sua boca entreabertas insinuando que iria falar ou gritar alguma coisa. Ouço seus gritos : " Ei, Milly! Posso te visitar qualquer dia desses? "_Pode um homem tão elegante como ele gritar desta forma? Virei-me e disse-lhe no mesmo tom: Talvez!... Você terá que perguntar ao meu tio… ele é o dono da casa. _ Falo com um suave sorriso de canto. _Aquela frase soou meio agressiva, mas foi sem querer. Não queria ofendê-lo, nem afastá-lo, acabei de o conhecer... ...Então, completei com: ..." mas talvez eu passe outro dia por aqui novamente ( meu "por aqui " indicava a casa vizinha, ou seja, próximo ao jardim de Jhonny). Ele entendera, sorriu e assentiu com a mão em sinal de um "jóia". _ Será que ele faz isso em uma reunião empresarial? responde com um... "legal"?... Não poderia demorar muito ali, ia comprometer-me com outro cara que meu tio arranjou, não poderia ter meu nome "na boca do povo". Meu tio não iria me perdoar, assim que soubesse me mandaria para um convento. Observei ao meu redor e percebi algo. A "vizinhança" marcou um gol, ouviu o que queria para criar a discórdia e plantar confusão. Vi uma mulher pela janela de sua casa balançar a cabeça como se tivesse me julgando, ela segurava seu terço firme em uma das mãos enquanto a outra estava sobre a janela e parecia que pronunciava alguma coisa para ela mesma, bem baixo, só via os movimentos dos seus lábios profanando algo em minha direção, seu olhar era de desprezo. Eu não me importei, não estava a fazer nada de errado. _ Sorrio para o Jhonny após minha resposta e vou imediatamente para casa. Entro em casa e vou correndo em direção à janela da casa, abro-a para dar mais uma olhada naquele homem que me desperta tanta curiosidade. Quando olho para o outro lado da rua, ele não estava mais lá. _Como pôde ser tão rápido assim? Deve tá cheio de afazeres e eu tomei o seu tempo. Um homem importante nunca teria tempo livre (Penso eu). Saio do meu transe e olho para a casa da mulher que tanto me "atirou" com os olhos. Ela não estava mais na janela, estava na frente da casa, sentada em uma cadeira de balanço com um tricô nas mãos e observando os movimentos no local. Percebo o carro do meu tio virando a esquina, fecho a janela como um "flash " e sento no sofá da sala. _É isso mesmo, ele tem um "carango" velho, talvez pior que o portão da casa. Meu tio estaciona o carro em baixo de uma árvore que tinha na pracinha da rua e vai entrando portão adentro seguido da minha tia que parecia aflita. Ele para por um minuto e olha pra mim, " Porque abriu a janela?_ Ele me interroga. _Vish, ele me viu na janela. Naquele instante só consegui pensar em dizer uma coisa: " A Assistente social passou aqui faz pouco tempo e disse que ligaria depois para o senhor informando a sua vinda." Falo rápido, atropelando as palavras ,fico até sem fôlego _ meu coração congelou, já imaginava a bronca que ele ia me dar. ...Mas até que não. Ele aceitou fácil minha resposta. Engulo a seco minha saliva de aflição e peço licença para ausentar-me em meu quarto. Ele coça a orelha com uma das mãos e diz: " Parece que não aprende nunca. Só vai a algum lugar depois de me servir. Me sirva um café, estou exausto". _Em seguida ele olha em seu relógio. Minha tia logo atrás balança a cabeça em sinal de "tudo bem". Fiquei mais tranquila porque diferente da aparência com que ela saiu daqui e a que entrou em casa, já não parecia mais tão preocupada. Como uma pessoa poderia mudar assim em fração de segundos? Ela estava com uma cor mais corada, porque anteriormente aparentava está abatida e pálida, como se tivesse visto assombração ou está sentindo algo. Todavia, não acreditei em sua mudança repentina, eles estavam me escondendo algum segredo e óbvio que não vão me dizer. Terei eu mesma que descobri. Agora o desafio triplicou, descobrir não ia ser moleza, terei que obter mais energias. Por onde começar? _ Penso.
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