Agatha Furlani
Todos me olhavam, estavam atônitos e desesperados. Meu marido se encontrava coberto por uma decepção consigo mesmo, minha filha chorava sem parar e os "Ex Câncer", não pareciam entender como aquilo estava acontecendo mais uma vez. Bruno respira fundo, soltando o ar de seus pulmões e diz, tentando ser cauteloso e otimista.
— Ainda teremos de fazer alguns exames, mas, devemos pensar no melhor, já que fora descoberto no início e as chances crescem quase setenta por cento nestes casos, certo, doutor Gabriel? — Segue com seus olhos para Biel, que deveria ser o especialista encarregado do caso.
— É...sim, claro, você está certo.
— Levanta-se, vindo até mim e segurando minha mão. — Quero que me perdoe, por não ter percebido o que estava lhe acontecendo.
— Não o culpo, sei que não queria dizer a sua esposa que ela estava mais cheinha do que o normal. — Brinco e ele sorri de lado.
— Não podemos deixar de lado, que Deus tem poder para curar a senhora como fez com a Mel e o Za, não é? — Rebeca questiona, olhando para todos que assentem com a cabeça.
— Querida, eu estou nas mãos de Deus como estive em todos esses anos, não temo o que possa me acontecer. — Sussurro, lhe trazendo para perto de mim e seguro sua mão, junto a de meu esposo. — Mas, me digam...se não é clichê eu também ter câncer? — Zombo e todos riem, assentindo. Pisco levemente para Gabriel, que tem aquele mesmo olhar de quando acabara de perder sua mãe, onde após alguns dias explodiu de forma avassaladora.
Isaque Albuquerque
— Faremos assim, ficarei para ajudar o senhor e dividiremos às visitas, enquanto Agatha estiver internada aqui.
— Bruno fala, quando estamos fora do quarto da mãe de Rebeca. Gabriel discorda, caminhando de um lado para o outro.
— Pode cuidar do seu ambulatório, eu mesmo farei de tudo para que Agatha saia curada daqui. Sou especialista em câncer.
— Ele responde.
— Mas, não descobriu o da tia Agatha, então aceite ajuda. — Melissa solta suas pérolas, cruzando os braços e seu esposo lhe olha, como se dissesse para que ficasse quieta.
— Papai, aceite a ajuda do Bruno, ele também entende um pouco sobre essa doença...qualquer ajuda, será muito bem vinda. — Minha esposa pede e seu pai cede, após alguns segundos.
— Caso queiram, eu posso vir visita-la amanhã na parte da tarde, tenho uma entrevista e depois estou livre.
— Uma entrevista? — Rebeca me olha e assinto. — Por que não me contou?
— Depois vocês discutem os segredos do casamento. Ficamos assim então, eu venho na parte da manhã quando o Bernardo estiver na escola e o Za vem a tarde. Depois trocamos com a Rebeca e os outros.
— Por mim, tudo bem. — Finalizo e todos concordam. Nos despedimos de Agatha e seguimos para casa. Rebeca permanecera em silêncio até entrarmos e caminharmos em direção ao nosso quarto.
— Por que não me contou, sobre a entrevista? — Ela pergunta, tentando abrir o zíper de seu vestido social de cor branca.
— Recebi a ligação, após o Bruno ter informações sobre sua mãe e tudo veio a tona, não tive tempo. — Respondo, me aproximando e tocando suas costas.
— Deixe-me abrir para você. — Ela permite e abro o zíper, lhe massageando o pescoço.
— Você estava certo, talvez este não seja o melhor momento para termos filhos. Nossos genes são podres, como a mamãe disse.
— Se afasta, indo ao banheiro. Era estranho, eu não me sentir aliviado em vê-lá mudar de ideia sobre termos um filho, na verdade meu coração se encontrava apertado e triste, como se houvesse perdido algo.
— Não fique assim, sua mãe é uma das mulheres mais fortes que eu conheço, ela irá enfrentar essa doença e vencerá.
— Digo e ela assente, fechando a porta levemente, chorando baixinho.
Após tomarmos banho, nos deitamos e Rebeca adormece rapidamente, por estar completamente cansada e pela primeira vez naquele mês, sinto-me um completo i*****l por negar á ela algo que lhe traria tanta alegria.
— Você é tão linda, minha princesa.
— Sussurro em seu ouvido, enquanto acaricio seus cabelos e a mesma se ajeita, abraçando minha mão.
No Outro Dia...
— Bom dia, preparei café...apesar que, sempre fala m*l do meu café.
— Resmunga, bebericando um gole em uma xícara.
— Que calúnia! Vou tomar café no hospital.
— Brinco e a mesma faz careta.
— Brincadeira, me dê um gole, será ótimo para acordar. — Estendo a mão e Rebeca me entrega sua xícara, onde sinto minha glicose pular.
— O que foi? Ainda não acertei o açúcar?
— Faz bico e deixo a xícara de lado, aproximando-me e lhe encostando no balcão, beijando seus lábios com intensidade.
— Deve ser difícil, preparar algo amargo sendo tão doce assim. — Mordo sua boca e ela ri, ficando vermelha. — Vou comprar mais açúcar, deve ter acabado depois deste café. — Corro para fora, lhe ouvindo me xingar.
{...}
— Os seus desenhos são muito bons, você tem um traçado ótimo, Isaque. — Fernanda, chefe de um escritório de arquitetura, sorri cruzando as pernas há cada um minuto.
— É...muito obrigado, senhora. — Respondo, com meus pés a tremerem, por já estar sentindo um certo desconforto com meus olhos inquietos.
— Não me chame de senhora, não sou muito mais velha do que você. Venha trabalhar comigo, está cheio de potencial.
— Levanta-se, debruçando sobre a mesa e suspiro, também me levantando e afastando rapidamente.
— Eu...eu irei pensar, tenho outras propostas em mente. — Minto, correndo para fora rapidamente. Vejo Bruno acenar e corro até seu automóvel, pegando carona, já que Rebeca usaria meu carro naquele dia e o seu iria para a revisão.
— E então, como foi a entrevista?
— Questiona animado e maneio a cabeça em negação. — Como assim? Você é o melhor arquiteto que conheço.
— Talvez "bom" demais, para as minhas possíveis chefes. — Digo entre os dentes e Bruno gargalha. — Para de rir, isso é terrível... ser assediado no ambiente de trabalho.
— Quem manda, ser um pedaço de m*l caminho? Elas não resistem. — Zomba e reviro os olhos, dando-lhe um t**a na cabeça. — Vou lhe arrumar um chefe homem ou...uma mulher, que não curta seu tipo "carinha de bom moço, inocente de tudo".
— Você é um palhaço, essa é sua "carinha".
— Cruzo os braços irritado e Bruno ri, maneando a cabeça, como se me achasse um bobo.
— Me diga, como a Rebeca reagiu com a descoberta da doença da mãe? — Indaga, ainda dirigindo.
— Chorou até dormir. Me sinto péssimo, por não ter aceitado dar a ela um filho, agora me sinto culpado.
— Não confunda, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Você não tem o controle do que acontece em suas mãos. — Diz e concordo, ainda me sentindo da mesma forma.
— E você com a Melissa? Parecem melhor...
— Falo e Bruno me olha, rindo sem graça.
— Ela já fez o exame?
— Sim, mas, disse que o exame só chegaria hoje. Eu amo a Melissa e teria muito filhos com ela, mas, não sei se ela também pensa assim. Estamos tão distantes, que em alguns momentos parece não estarmos no mesmo espaço, mesmo morando juntos.
— Então, corra e a encontre onde ela estiver. Não pode deixar que seu casamento seja despedaçado, vocês enfrentaram muitas coisas para jogar tudo fora. — Falo, sorrindo e descendo do carro junto do mesmo. Caminhamos até a entrada do hospital.
— Vou procurar o pastor, pode ir até o quarto da Agatha. — Bruno diz e assinto, seguindo para o lado contrário do que ele iria.
— Com licença, foi neste quarto que esqueceram um anjo? — Brinco, abrindo a porta e Agatha ri, ficando vermelha.
— Ahh como meu genro é um galanteador.
— Fala um pouco sem forças, cumprimento Melissa que está sentada em uma poltrona e beijo a testa de Agatha, lhe dando um abraço.
— Não é ser galante, apenas digo a verdade. Rebeca teve em quem puxar, a senhora é uma gata. — Elogio e Agatha gargalha, pondo a mão na barriga. — Desculpe, vou parar de lhe fazer rir.
— Graças a Deus, pensei que teríamos uma explosão do câncer agora mesmo.
— Melissa comenta e a olho, sem entender de onde vem seus comentários.
— Melissa! Desculpe Agatha, ela esqueceu a sensibilidade dentro da gaveta.
— Resmungo, dando um peteleco na testa da mulher, que faz careta.
— Está tudo bem...na verdade, quero conversar sobre o quanto essa insensibilidade e sua empatia, serão importantes para o que direi agora.
— Agatha se encontrava com os cabelos ruivos presos, sua pele estava ainda mais clara e já parecia sentir o quanto um câncer pode mudar tudo em você, mesmo que os pequenos detalhes.
— Tia, não faça isso...nem adianta dizer o que está pensando. — Melissa fala de antemão e ainda estou confuso.
— Venham aqui, segurem minhas mãos...vocês sabem, o quanto confio nos dois e os amo.
— Ah meu Deus, não...dona Agatha, esquece. Eu amo a senhora, mas, não posso fazer isso com a Rebeca, por favor. — Sinto meus olhos lacrimejarem e percebo que irei chorar.
— Isaque, não é querendo jogar na cara, pois sei que foi Deus quem lhe ressuscitou, mas...foi minha medula doada, só para lhe lembrar.
— Poxa, pegou pesado em. — Melissa se segura para não rir e Agatha aguarda minha resposta. — A senhora quer que a gente desligue os aparelhos?
— Quero que decidam tudo, caso eu não consiga tomar minhas próprias decisões. Melissa, sei que você tem uma quantidade necessária de insensibilidade e o Isaque, é a pessoa mais racional e coração que conheço.
— Sério, tia? Você chama o Isaque de inteligente e amoroso, enquanto sou a insensível? Já podem desligar os aparelhos hoje, ela está delirando. — Murmura e rimos, maneando a cabeça.
— Eu sei que me ama, já lhe vi chorar algumas vezes, garota. Agora me escutem, o Gabriel nunca conseguria fazer isto e muito menos a Rebeca, então sobrou para vocês dois.
— Sogra, não tem porque pensar nisto agora. O câncer foi descoberto cedo, temos grandes chances de que ele regrida com a quimioterapia e o tratamento.
— Sim, eu sei e confio na cura, mas, também conheço Deus o bastante, para entender até mesmo os "Nãos", que ele possa nos dar. Ainda irei conversar com o Biel, não o quero como meu médico.
— Gath, como assim? — Pastor Gabriel passa pela porta, junto de Bruno. Os olhos do homem estão avermelhados e Agatha suspira, deixando transparecer o quanto tudo aquilo estava sendo difícil para ela.
— Não confia em mim? — Diz, ainda em frente a porta.
— É exatamente por conhecer você e confiar em ti, que sei que não descansará até encontrar uma cura para mim. Neste momento, apesar de saber que é o melhor médico que já conheci em toda minha vida, não preciso de você...não como o doutor Gabriel, mas, sim como meu esposo, o amor da minha vida. — Sussurra derramando lágrimas, assim como todos nós que estávamos ali presentes. Agatha abre os braços e Gabriel deita em seu colo, aos prantos. Era lindo e ao mesmo tempo doloroso, ver o quanto aquele amor era forte.
— Bom...Bruno, vou pedir que ligue para uns velhos amigos meus. Infelizmente, terei de ver a cara do Marcos novamente. — Gabriel força um sorriso e rimos, não por estarmos alegres, mas, por querermos quem sabe roubar um pouco da força que Agatha esbanjava.
Rebeca Albuquerque
— Como vai o conserto do carro? — Bryan pergunta, me encontrando no corredor da ONG "Mãos que Curam" e acabo me assustando, com a aparição repentina.
— Desculpe, lhe assustei?
— Sim, um pouco. — Sorrio sem graça e o mesmo ri, levantando as mãos em pedidos de desculpa. — Está tudo bem. Como soube sobre meu carro?
— Imaginei, quando vi que estava com outro... — Fala e lhe olho desconfiada.
— Tudo bem, eu ouvi o Isaque falar com o Bruno hoje mais cedo, sobre seu carro estar na revisão. As paredes dessa ONG são finas.
— Ahh claro. — Sorrio, maneando a cabeça e entrando em uma das salas de aula.
— Já se ambientou com o lugar?
— Em partes, sim...ainda me perco para ir ao banheiro, mas, parece um bom recomeço.
— Diz e o olho um pouco interessada.
— Acabei de sair de um relacionamento, que não terminou nada bem...quando soube desta vaga para professor, encontrei aqui uma nova chance.
— Isso é lindo, ver o quanto a ONG da mamãe faz bem às pessoas. Obrigada por me contar, sobre algo tão particular, Bryan.
— Sorrio e o mesmo assente, me observando. — Bom, preciso ir...chegou minha hora de ficar com a mamãe.
— Suspiro, caminhando para fora e o rapaz me segue.
— Rebeca! — Puxa-me pela mão e a solto rapidamente. — Desculpe. Só quero lhe dizer, que gosto muito de falar contigo, na verdade...você faz parte do meu anseio em ficar aqui.
— Bryan, por favor...não diga mais nada.
— Lhe impeço de continuar, corro para fora e entro no carro de Isaque, sendo apresentado a um sentimento desconhecido para mim, ele parecia ser "culpa", mas, por que?
Chego em frente ao hospital e respiro profundamente, vendo Isaque sair para fora junto de Melissa, conversando sem parar.
— Oi!! — Aceno, tentando deixar para trás o que acontecera anteriormente. Eles sorriem, retribuindo e vindo até mim com olhares assustados. — Está tudo bem? Aconteceu algo?
— An? Não, não aconteceu nada. — Meu esposo responde, pondo ás mãos nos bolsos do jeans escuro.
— Não precisa fazer surpresa, Isaque. Meu exame deu positivo, Beca...estou grávida.
— Melissa força um sorriso e lhe abraço apertado, observando Isaque que se encontra de cabeça baixa.
— Estou muito feliz, por você...minha amiga.
— Respondo com sinceridade, apesar de ainda doer. — Não parece tão animada, aconteceu alguma coisa?
— Meninas, preciso ir...tenho trabalho na ONG. — Isaque comenta e Melissa beija minha bochecha o seguindo.
— Lhe dou uma carona, Isaque. Beca, tenho que correr para pegar o Bernardo, nos falamos mais tarde, tudo bem? — Indaga e assinto, vendo meu esposo caminhar.
— Ah! Já ia me esquecendo! — Ele volta correndo e me puxando pela cintura, beijando meus lábios e sorrindo em seguida.
— Esqueci de lhe beijar, olha que bobeira minha.
— Concordo plenamente. — Digo, achando graça e suspiro, vendo o quanto aquele homem era incrível. — Za, eu amo você...apesar de tudo, eu o amo. — Falo e minhas palavras não saem com o mesmo sentido, que deveriam ter sido ditas. Isaque sorri sem graça, acenando e seguindo até o carro de Melissa, deixando-me ali, sem saber o porquê do "Apesar de tudo"