Isaque Albuquerque
— Precisamos contar a ela, Melissa. Não consigo esconder um segredo como este da minha mulher. — Digo, enquanto Melissa dirige.
— Isaque, não fale comigo enquanto dirijo, está tirando minha concentração.
— Mostra-se irritada e me calo. Não queria sofrer um acidente, naquele dia.
— Eu entendo, também não gostaria de esconder nada de ninguém, mas, a titia nos pediu que fosse assim e faremos como ela quer.
— Ainda não sei, como tive coragem de aceitar essa loucura. Sermos guardador da vida ou morte, da mulher mais importante dessa família. Você entende, que estamos com a matriarca fundadora em nossas mãos fracas e doentes?
— Você é tão dramático, a titia acabou esquecendo de falar sobre isso, quando ditou todos as suas qualidades.
— Resmunga e respiro fundo, passando às mãos sobre meus cabelos.
— Vá cortar este cabelo, esqueci de lhe avisar...Alice me contou, que haverá uma reunião beneficente no Rio e quer que vá levar o nome da Renascer.
— O que? É sério? Quando vai ser isto? Como não me conta algo tão importante assim?
— Questiono a mulher, que revira os olhos, aguardando minhas reconsideraçoes.
— Desculpa, sei que não é minha secretária mais.
— Se quiser, eu volto. Não aguento mais um minuto como dona de casa, eu retiro minhas palavras " Quero cuidar de meu filho e minha família, Isaque!" — Parafraseia o que havia dito, quando me pediu demissão e sorrio, lhe observando. — Para de me olhar, não tem que sentir pena de mim.
— O que? Eu não estou nem ai com você, Melissa. Espero que limpe muito c**ô do Bernardo, hoje. — Zombo e a jovem mulher ri, parando em frente a Renascer.
— Falando em bebê... — Começa e coloco às mãos sobre o rosto. — Quando vai dar um bebê para a Rebeca? Não aguento mais ela choramingando.
— Se quiser, compro o que você está gerando. — Falo e Melissa ri alto, parando em seguida. — Não precisa ter medo, vai ficar tudo bem, o Bruno ama você.
— Eu espero que sim, com todo meu coração. Não quero me arrepender, de ter me permitido apaixonar-se. — Diz por fim. Beijo sua testa.
— Não vai se arrepender, nenhum de nós iremos. — Respondo. — Contei a Rebeca, sobre sua fraqueza dos ossos, ela não reagiu bem. Minha esposa, não é capaz de compreender o meu amor.
— O que é o amor? Não seria se abdicar dos seus medos e lutar por aquilo que acredita? Qual é o seu tipo de amor, Isaque? Olhe para mim, estou grávida novamente no pior momento do meu casamento.
— Eu sinto muito, Mel. Não queria que estivesse passando por isso, entendo o quanto deve estar doendo.
— Como pode entender a minha dor e não entender a da Rebeca? Ela não merece sua empatia? Pense bem, e decida, qual é o teu tipo de amor. Agora vá embora, tenho que pegar o Bernardo.
— Tudo bem, me desculpe. — Forço um sorriso e ela faz o mesmo. Me despeço e caminho para a parte interior da escola de Música.
— Isaque, que bom que chegou. Cortaram a luz e disseram que amanhã será a água.
— Débora vem até mim, com aqueles enormes olhos castanhos, desesperados.
— Isaque, já redigi os contratos para matrículas pagas. Na próxima semana, quando as aulas voltarem a mensalidade será no valor de 100,00 reais por mês, ficando isento apenas os orfanatos.
— Roger diz, me entregando uma cópia e o olho sem reação.
— Roger, como pode fazer algo sem me informar primeiro? Eu não quero tornar essa escola, um point para ricos. — Respondo, indo ao meu escritório e o rapaz me segue.
— Então dê um jeito de conseguir dinheiro, eu sou contador e não mágico. As contas estão chegando, elas não ligam para o seu pensamento "socialista". — Diz rispidamente e só quero chorar e correr pra minha mãe, como quando tinha cinco anos de idade.
— Roger, não seja duro com ele! — Minha irmã interrompe, irritada com às ações do contador e amigo de longa data.
— Não precisa me defender, eu sei que o Roger está certo...só é difícil aceitar, ver que meu sonho está ruindo. — Observo todos aqueles papéis e me pergunto, onde eu havia perdido a direção. — Pode imprimir os contratos, Roger. A partir de hoje, a escola Renascer é particular e não mais pública, me dê todos os documentos, irei levar ao Rio de Janeiro amanhã e pedir que Victor cuide disto para mim.
— Sim senhor. — Responde, sendo acompanhado por Débora para fora da escola. Minha cabeça lateja de tanta dor, bebo alguns comprimidos e alguém bate a porta.
— Com licença, uma jovem me deixou entrar. — O rapaz moreno e alto, acena e só quero levantar-me e esmurra-lo.
— Não vai dizer, que se esqueceu de mim, crentinho...
— Infelizmente, minha memória é ótima...até o que quero esquecer, não sou capaz.
— Digo em tom de brincadeira, mas, com um enorme fundo de verdade.
— Continua divertido, como há seis anos atrás? — Indaga e assinto, levantando-me e o cumprimentando com um aperto de mão.
— Posso me sentar?
— Fique a vontade, Bryan. Não querendo ser rude, mas, o que faz aqui? — Me ajeito em minha cadeira e ele abre sua maleta.
— Não sei se sabe, mas irei trabalhar nesta ONG visizinha, a "mãos que curam", darei cursos de elétrica aos novos alunos.
— Que legal, fico feliz por isso. Já deve ter encontrado a Rebeca, então. — Digo, tentando pescar algo em seu olhar e ele deixa escancarado, que tem interesse em minha esposa.
— Sim, desculpe dizer...mas, ela está ainda mais linda. Não sei como pode acontecer algo assim, uma mulher ficar cada vez melhor com o passar dos anos.
— É só se casar com o homem certo, você sabe...uma rosa quando bem cuidada, costuma florescer e desabrochar.
— O olho sorrindo e o rapaz concorda. Nunca gostei de fazer o tipo "machão", mas, estava sendo quase impossível não querer expulsa-lo com um chute.
— Mas, não vim falar sobre ela.
— Muda de assunto e quase digo "Sério? Porque foi o que pareceu!"
— Estive olhando a elétrica do lugar e foi muito m*l feita, gostaria de reformar toda estrutura.
— Fui eu quem fiz a elétrica, tenho curso técnico e dei o meu melhor não só para a "Renascer" quanto "As Mãos Que Curam".
— Ah por favor, não pense que estou negligenciando o teu trabalho. É só que, quero ajudar em algo e senti que este pode ser o início. — Sorri, com gentileza, mas, não consigo sentir sinceridade, talvez pelo ciúmes que queimava meu corpo.
— Pode acarretar algum perigo para as crianças ou os alunos? Pois neste momento estamos sem recursos. — Falo mais baixo do que pensei que diria.
— Não...é apenas uma melhoria, mas, faço sem cobrar nada. Só quero realmente ajuda-los, estou recomeçando e desejo fazer isto entregando o bem às pessoas.
— Diz e assinto com a cabeça.
— Tudo bem então, voltaremos com às aulas na próxima semana. Caso queira começar nestes dias...por mim, tudo bem.
— Finalizo, levantando-me e o rapaz faz o mesmo, estendendo-me a mão.
— Ótimo, obrigado Isaque. — Se despede, seguindo para fora e meu corpo ainda grita "cilada", mas, não posso acreditar por estar afetado pelo emocional, com certeza não seria imparcial em meu julgamento.
Rebeca Albuquerque
— Com licença, espero não estar atrapalhando os exames. — Passo pela porta do enorme quarto, onde mamãe estava internada.
— Não está, entre, querida. — Ela diz e papai sorri, levantando a cabeça de seu colo.
— Estava apenas dando um carinho para o meu velho.
— Quanta falta de respeito, viu. — Gabriel diz irritado e ambas sorrimos.
— Volto depois, vou cuidar dos outros pacientes.
— Tudo bem, eu amo você. — Mamãe declara e papai lhe beija levemente os lábios, dando-me um abraço e saindo para fora.
— Vem, sente-aqui! Estava morrendo de saudades! — Estende os braços e corro para dentro deles. — Me conte as novidades, como está na ONG? E o novo professor?
— Está tudo ótimo, Bruno cuida muito bem da organização, apesar de também trabalhar no hospital. — Falo e mamãe suspira.
— O que foi? Está sentindo alguma coisa?
— Levanto-me e ela discorda, apontando para que eu me sente novamente ao seu lado.
— Não é isso...Beca, quero que encontre alguém para ficar no lugar do Bruno, ele está trabalhando demais. Hoje, quando falava com a Melissa, senti que ela está triste.
— Claro mamãe, posso ver alguém sim. Ela realmente está triste, pois nem mesmo consegue ver o Bruno durante o dia.
— Sim, não quero causar a separação de ninguém. Quando eu me for, desejo que todos vocês estejam felizes e unidos.
— Fala e meu coração se aperta. A única dor que poderia se equiparar a perder uma mãe, talvez fosse perder o filho.
— Não diga essas coisas, a senhora sabe que o papai e eu não somos capazes de sobreviver neste mundo, sem lhe ter.
— Choramingo e Agatha sorri, acariciando meus cabelos.
— Você tem o Isaque, ele a ama mais do que a si mesmo. Agora sobre seu pai, preciso que cuide do Gabriel, Rebeca...tenho medo de que ele faça uma loucura, em busca destes tratamentos.
— Desculpa, mamãe, mas não posso impedir que o papai lute para que você viva. Sei que é egoísta de minha parte, mas, a amo demais para lhe ver morrer sem ao menos termos tentado algo. — Respondo e a mesma vira o rosto por alguns segundos.
— Tudo bem, me conte sobre o novo professor de elétrica. Ele é gentil? Acha que será uma boa termos o contratado?
— An...sim, claro. Foi uma ótima contratação. — Gaguejo, sorrindo sem graça e mamãe me olha, daquele mesmo jeito quando eu cometia uma traquinagem.
— Não é nada para se preocupar, ele apenas é bastante expressivo, algo bom para um professor. — Respondo, já recomposta. Agatha assente e fecha os olhos, por estar cansada. — Vou lhe deixar descansar, tudo bem?
— Obrigada, querida. Mas, antes...quero que peça para o Bruno, me deixar ficar em casa...não posso passar meus dias neste hospital, olha essa cor de parede!
— Aponta irritada, para o azul nublado.
— Está bem, verei o que posso fazer. Amo você, muito. — Lhe abraço e sigo para fora, vendo a mulher fechar os olhos e adormecer.
{...}
— Vou esperar, que os amigos do pastor venham para São Paulo e analisem o caso de sua mãe, depois decidimos se ir para casa é uma boa, tudo bem? — Bruno responde, observando alguns prontuários.
— Tudo bem. Precisa que eu vá ao ambulatório resolver alguma coisa?
— Pergunto, procurando minhas chaves na bolsa.
— Não precisa, deixei o Guilherme cuidando de tudo para mim. Quero chegar em casa mais cedo, hoje. — Sorri e concordo. Passo pelos enormes corredores e entro no carro, dirigindo em direção a minha casa.
— Isaque, é você?! — Exclamo ao ver a porta aberta e o mesmo aponta com a cabeça para fora do quarto. — Aconteceu algo?
— Indago, indo ao quarto e o encontrando arrumando uma mochila com roupas.
— Terei que viajar para o Rio, terá uma conferência beneficente e não posso perder essa chance. — Responde, bagunçado as peças no armário.
— Está procurando algo? Não encontra nenhuma camisa social? — Pergunto, indo em sua direção e ele sorri sem graça.
— Ficam sempre nos cabides, veja.
— Empurro os ternos para o lado e aponto algumas camisas de diversas cores.
— Eu a amo, pois vê o que não consigo enxergar e me encontra, quando estou perdido. — Ele diz, segurando minha cintura e me sinto, como uma boba adolescente.
— Sinto sua falta.
— Eu também sinto a sua falta, todos os dias e há todo momento. — Sussurro e Isaque me prende com mais forças aos seus braços, beijando meus lábios com intensidade.
— Za... — O paro por alguns segundos. — Eu sei, que não deseja ter filhos...não quero obriga-lo.
— Princesa, eu desejo tudo que tiver a ver com você. Quero realizar todos os seus sonhos e estar ao seu lado no cumprimento de todos eles, peço que me perdoe por ter sido egoísta e agido como um palerma.
— Meu Deus, que xingamento é esse?
— Gargalho e Isaque ri, ficando vermelho.
— Se eu não fosse tão apaixonada por você, teria cortado todo o clima.
— Fico feliz, de isto não ter acontecido...pois estou...como posso dizer, bastante sedento?
— Indaga arqueando as sobrancelhas e dou risada mais uma vez.
— Só fique quietinho, acredito que seja o melhor.
— Peço e ele concorda, jogando a mochila no chão e deitando-me sobre a cama. Isaque fica sobre mim, acariciando meu rosto e sorri. — Eu a amo, Rebeca Sullivan Albuquerque e prometo, nunca esquece-la.
— Eu o amo, Isaque Albuquerque e prometo, nunca esquece-lo. — Reproduzo sua fala, lhe trazendo para mais próximo de mim, retirando sua camiseta e beijando seus lábios mais uma vez, lembrando-me novamente do quão bom era te-lo tão próximo de mim.