Isaque Albuquerque
Acredito que, tenha vindo poucas vezes para o Rio de Janeiro, primeiro por ser longe e segundo por ter que ver aquela cara perfeita do Victor em todas essas vezes.
— Za!! — Ele acena, ao me ver descer do carro em frente ao prédio que moravam em Copa Cabana.
— Mais fei0 do que nunca. — Digo e ele ri, abraçando-me. — Você sabe, que morro de inveja de você...
— Claro que sei, mas, sou humilde e nunca jogaria isso em sua cara. — Entra na brincadeira, pegando minha mochila dos braços.
— Não precisa, eu mesmo carrego. — Tento impedi-lo, mas o mesmo já sobe os pequenos degraus até a porta de entrada.
— Cadê a Alice?
— Ela tem uma audiência, estou cuidando das crianças...quer dizer, tentando.
— Ri, quando estamos no elevador e finalmente chegamos no quinto andar, onde ficava seu apartamento.
— Pensei que se mudariam para uma casa, depois que a Vitória nasceu. — Falo, ao mesmo que digita uma senha na porta.
— Sim, estamos apenas terminando a decoração. Queremos entrar, com tudo pronto. — Diz e sorrio, vendo o quanto nossas vidas eram completamente diferentes.
— Tio Za!! — Vitória corre em minha direção. Uma pequena japonesa de dois anos, cabelos escuros e lisos e vestido colorido.
— Ah meu Deus, como você está grande e linda! — Exclamo, lhe pegando nos braços e a mesma ri, beijando minha bochecha com direito a muita baba.
— Ei Gael, vem cumprimentar o tio Isaque!
— Victor chama o menino, que vem até mim, estendendo a mão.
— Seja muito bem vindo, ao nosso lar. Onde está a senhorita Rebeca? — O garoto de seis anos, pergunta me observando.
— Ela não pôde vir, está trabalhando. Mas, lhe mandou um beijo na ponta do nariz.
— Informo e Gael sorri, voltando para o seu quarto.
— Vem querida, deixe o tio Za descansar um pouco. Vá pegar seus brinquedos e guardar no quarto. — Aponta para uma caixa e brinquedos no chão. Vitória segue até os mesmos, pondo-lhes dentro da caixa e tirando novamente. — Teremos uma hora mais o menos sem a Vitória. — Zomba e sorrio, ao ver que demoraria um pouco, para que aqueles brinquedos fossem guardados.
— Quer um café?
— Um suco, se tiver. Esse estado é quente demais. — Falo, limpando meu rosto e sentando-me em uma das banquetas. Victor abre a enorme geladeira, retirando uma jarra com suco e pondo em um copo, para que eu beba. — Obrigado, está muito bom.
— Respondo e ele sorri, escorando no balcão e me observando. — O que foi?
— Não é nada, só estava com saudades do meu primo preferido. — Responde e sorrio, também lhe olhando. — Você está feliz?
— Eu? Bom, acho que sim...Rebeca e eu decidimos ter um bebê. — Revelo e Victor se mostra animado. Ele adorava ter filhos.
— Isso é maravilhoso, Za! Sei que sou suspeito para falar, pois tenho dois e logo arrumaremos mais um, mas, filhos traz muita alegria para nossas vidas!
— Mostra-se completamente contente e tento me sentir da mesma forma.
— Não parece compartilhar do mesmo sentimento que o meu.
— Não é isso. Eu sei, que crianças são incríveis, tenho várias na escola de música e amo todas elas. Mas, não me sinto capaz de criar um filho, além dos problemas que Rebeca tem com a saúde.
— Sinceramente, você nem deveria falar sobre isso. Um homem, que foi ressuscitado, não pode pensar em duvidar do poder de Deus.
— Concordo, meu marido está completamente certo! — Alice passa pela porta, usando terninho, saia e cabelos em um coque. Uma mulher de poder, eu diria.
— Obrigado, senhorita Alice. — Seu esposo diz, indo em sua direção e lhe puxando pela cintura, beijando seus lábios levemente.
— Como foi? Ganhou novamente?
— Claro que sim, já me viu perder alguma?
— Indaga e Victor abre a boca, mas, a mesma lhe beija novamente.
— Quieto, quando perdi eu havia acabado de ter uma filha. — Resmunga e seu esposo ri, levantando as mãos para o alto.
— Isaque! — Abre os braços e lhe abraço apertado. — E a Beca, não quis vir?
— Ela está cuidando da ONG, de minha sogra...mas, mandou um beijo a todos vocês. — Digo novamente. Alice pega meu copo de suco, o bebendo rapidamente.
— Desculpa, estava morrendo de sede. Acredita, que ainda não me acostumei com esse estado? — Indaga e ambos concordamos, ao ver a mesma encher o copo novamente. — Animado para a convenção?
— Sim, muito! Eu preciso conseguir essa ajuda, as coisas estão bem complicadas na Renascer. — Abaixo minha cabeça. Era vergonhoso, ver algo que lutei tanto, andando tão m*l das pernas, se posso dizer assim.
— Za, você sabe que eu posso lhe dar uma ajuda, só me dizer quanto e faço um cheque.
— Victor diz e Alice, bate levemente na testa de seu esposo.
— Victor e sua mania, de querer sair fazendo cheque. O Isaque quer conseguir as coisas por mérito, não é?
— Exatamente. Eu agradeço muito, por se preocupar comigo, mas, sempre preferi lutar com minhas forças do que esperar a ajuda dos outros.
— Que bobagem, não sou "Outros", sou sua família e quero poder ajudar. Quanta bobagem. — Resmunga, igual a um velho de noventa anos e segue para o quarto.
— Não liga, daqui a pouco ele volta sorrindo. Ei filha, seu pai lhe botou para pegar brinquedos denovo? — Alice ri, pegando a pequena nos braços. — Vou preparar o quarto para que descanse, a conferência será amanhã pela manhã, um professor irá te ligar.
— Tudo bem. Alice, muito obrigado por se lembrar de mim. — Sorrio e a jovem retribui, seguindo para o fim do corredor e gritando com Gael e Victor, que já estavam sentados na cama jogando vídeo game.
Após alguns minutos, sigo para o quarto de hóspedes e resolvo tomar um banho, para relaxar das horas dirigindo. Meu telefone toca e saio debaixo do chuveiro, atendendo minha doce esposa.
— Quem fala? — Finjo não saber.
— Como assim, quem fala? Não tem o número da sua própria esposa no telefone?!
— Questiona irritada e gargalho, fazendo a mesma também sorrir. — Por que esse barulho de água? Está chovendo no Rio de Janeiro? — Pergunta desacreditada.
— Sim, eu trouxe a chuva de São Paulo para cá. — Ironizo e com certeza, ela revirou os olhos. — Brincadeira, estou tomando um banho.
— Hummm, então quer dizer que estamos batendo um papo no chuveiro? — Sussurra maliciosa e sinto meu rosto queimar.
— Ei, só um minuto princesa, estou com outra ligação. — Digo, já atendendo.
— Pois não?
— Isaque Albuquerque? Sou o professor Reinaldo Teixeira, diretor da conferência beneficente.
— Ah claro, é um grande prazer, falar com o senhor. Estou bastante animado para nos encontrarmos. — Respondo.
— O senhor ainda não chegou no Rio? Estou ouvindo som de chuva. — Ele diz e lembro-me do chuveiro, o desligando rapidamente.
— Foi uma chuva rápida, acredito eu.
— Minto e ele sorri rapidamente.
— Só um minuto, senhor Isaque...tenho uma outra ligação. — Me silencia e volto para Rebeca.
— Nossa, pensei que havia me esquecido.
— Ela choraminga. Tão dramática.
— Já lhe disse, que nunca irei te esquecer. Estava falando com o professor responsável pela conferência.
— Nossa príncipe, não quero atrapalha-lo. Me ligue mais tarde, quando for dormir.
— Ela fala por fim.
— Amo você.
— Eu te amo, não vejo a hora de te ver!
— Exclamo
— O que o senhor, disse? Senhor Isaque, peço que venhamos manter uma linguagem profissional durante sua estadia no Rio de Janeiro. — Professor Reinaldo diz e olho o visor do celular, vendo que minha esposa desligara o telefone, deixando-me em maus lençóis.
— O que? Não senhor, me desculpe...eu...
— Nós vemos amanhã, tenha uma boa noite.
— Desliga e sinto minha cara cair no chão, de tanta vergonha.
{...}
— Cara, não acredito que disse "Eu te amo" para o professor Reinaldo. — Victor ri alto, de minha total falta de sorte.
— Victor, não maltrate seu primo. Vê se dá o almoço para sua filha! — Entrega um prato rosa com verduras amassadas, nas mãos de seu esposo.
— Ei mulher, só sirvo para isso? Uma babá?
— Exclama e sorrio, pegando o prato de sua mão.
— Deixe que eu dou, pelo menos já vou treinando para quando nascer o meu.
— Falo e Victor agradece, olhando satisfeito para Alice, que revira os olhos.
— Estava pensando, será que eu deveria comprar um presente para o professor? Como um pedido de desculpas, por ter agido dessa forma? — Pergunto, enquanto coloco um pouco de papinha na boca da criança e ela mastiga sem dentes.
— O que? Diz que o ama e ainda quer dar um presente? — Victor indaga e Alice ri alto, pondo as mãos sobre a boca.
— Za, acho melhor só pedir desculpas mesmo ou então esquecer o que aconteceu.
— Ali fala e assinto, sorrindo para a criança que parece adorar o alimento.
— Tome, para se limpar. — Me entrega um pano.
— O que? Não estou...sujo. — Suspiro, quando Vitória vomita todo alimento em minha roupa.
— Isaque, acho que deveria vir mais vezes aqui. Minhas camisas agradecem. — Aikyo zomba, apertando meu ombro e a neném ri, debochando de minha imaturidade em relação a bebês.