Da.Vida XII

1397 Palavras
Com uma súbita parada aterrissamos no estacionamento de um pequeno restaurante. Ele se encontrava próximo a alguns sítios de nossa cidade, era possível ouvir o som do riacho ao longe. — Esse foi o primeiro restaurante que vim, meu pai me trouxe aqui aos meus quinze anos. — Saanvi conta desligando a ignição e apontando com a cabeça para que eu descesse. Ambos fazemos juntos e procuro meus fones, percebendo que os havia esquecido em meio a tanta ansiedade. — Saanvi, preciso voltar. — Falo e a garota me olha com indagação. — Esqueci meus fones, o lugar deve estar barulhento e não me sinto preparado para um restaurante. — Saanvi sorri e caminha em minha direção, ela olha em meus olhos e diz: — Não se preocupe, você ficará bem. — Fala e estende sua mão para mim, respiro fundo e nossos dedos se unem de forma espontânea. Ao passarmos pela porta, os barulhos de conversas, pratos e talheres tinindo tomam toda minha audição, quero gritar e fugir dali, minha mão por pouco não se desentrelaça da jovem, mas ela era forte e ainda me prende aos seus dedos finos. — Saanvi, querida. Onde está seu pai? — Um senhor de cabelos escuros e bigode farto, agarra Saanvi lhe beijando ambos os lados da bochecha. — Olá tio, estou bem, obrigada por perguntar. — Alfineta e ele ri sem graça. — Hoje trouxe meu-meu Davi. — Ela gagueja e sorrio levemente. De repente me tornar posse de alguém pareceu extremamente acolhedor. — Mesmo lugar de sempre? — Pergunta e ela concorda com a cabeça. — Me sigam, por favor. — Sou carregado por Saanvi em direção às escadas, subimos seus degraus até uma área no andar superior. — Aproveitem. Ahh, precisa soltar a mão de minha sobrinha para que possam comer. — O homem me desconecta dos pensamentos e a solto rapidamente, sentindo meu rosto queimar. — O que acha? Silencioso o bastante? — Saanvi pergunta. Seu tio desce às escadas e ela caminha pela sacada com parapeito de vidro. No centro do espaço há uma mesa redonda com toalha branca, duas cadeiras douradas e um jarro pequeno de flor. Há varais de luzes brilhantes sobre nossas cabeças e a lua estava cheia e luminosa. — A noite está linda, não é? — Sorri se escorando no parapeito e me aproximo, fazendo o mesmo. — Sim, a noite está linda. — Falo, lhe observando. — Seus olhos, agora consigo ver que cores são, negros como este céu. — Falo de forma despretensiosa. Desde que vira Saanvi naquela noite, não fui capaz de tirar meus olhos de toda extensão de seu corpo e sua face. Ela usava um vestido azul escuro tomara que caia, era justo em seu pequeno corpo e seus cabelos longos estavam soltos cobrindo suas costas nua. Me preocupei se ela sentiria frio naquela noite, mas me permiti ser egoísta enquanto o tempo ainda estava quente, queria aproveitar e olhar um pouco mais os seus ombros tão brilhantes por conta da sua pele bronzeada. — Sim, eles são pretos. — Diz, se afastando de meus olhos. Eu havia lhe deixado envergonhada? Confesso que não pude esconder a mistura de sensações que haviam em mim naquele momento. — Me lembro até hoje, quando me perguntara por que meus olhos eram tão pretos e como conseguia ser tão f**a. — Zomba, franzindo o nariz e sorrio envergonhado. Ela caminha até a mesa e se senta em uma das cadeiras, faço o mesmo logo a sua frente. — Me desculpe, não lembro disto. Mas, peço desculpas eu estava completamente errado. Quer dizer, seus olhos continuam extremamente pretos, mas você é bonita. — Digo e viro meu rosto para o lado. "Ah caramba, o que está acontecendo comigo?!" — Obrigada, eu me esforcei bastante para essa noite. Este vestido custou entrar em mim, nem mesmo tomei café da tarde. — Como assim? Eu sinto muito, espero que não tenha feito algo assim por minha causa. — Falo e ela ri de lado. — Mas, valeu a pena. — Tagarelo e quero esconder-me embaixo daquela mesa. O que estou fazendo? Seria este o tal do "flerte" que tanto dizem??? — Com licença, vocês já querem pedir? — O garçom se aproxima e agradeço pela salvação temporária. Eu precisava me controlar, um lugar escuro com meus olhos vidrados em uma tela seria o ideal neste momento. — Sim, queremos. — Saanvi morde o lábio sorrindo para mim e voltando a atenção ao garçom. — Pode ser massa, Davi? — Ouço sua voz ao longe. — Davi? Pode ser macarrão? — Sinto sua mão tocar sobre a minha e desperto junto de um soluço. — An...sim, pode ser macarrão. Traz uma água também, por favor. — Peço e o homem concorda. — Então será duas massas e vou querer um suco de laranja com cenoura. — Fala e sorri animada, como se já sentisse o gosto do alimento. — A comida daqui é maravilhosa, você irá adorar! — Conta e concordo com a cabeça, pego meu celular do bolso e escrevo uma mensagem para Yasmim. "Yasmim, o que devo fazer"? "Como assim, Davi? Não iam assistir filme? Deve ficar em silêncio no cinema" "Não estamos no cinema, ela me trouxe ao restaurante. Vem me buscar, quero ir embora". — Dígito por fim e sorrio sem graça para Saanvi, que bate os dedos sobre a mesa. Ela estava ansiosa? Eu a estava deixando constrangida? Meu telefone vibra e o pego rapidamente. "Agora lascou, vai ter que conversar com ela. Meus pêsames. Adeus!" — Se eu puder lhe ensinar algo hoje, seria... não usar o celular quando estiver em um encontro com a Isadora. — Ri sem graça e abaixa a cabeça. — Me desculpe, não vou usá-lo mais. — Respondo e Saanvi concorda, passando as mãos sobre os ombros. O tempo havia mudado e uma brisa gelada começara tocar nossos corpos. — Aqui, fique com minha jaqueta. — Me preparo para tirá-la. — Não precisa, sei que não gosta de dividir seus pertences. Não sou friorenta. — Diz e concordo, sorrindo de lado. — Com licença, trouxe os pratos. — O garçom vem, ele coloca os pratos de macarrão ao molho em nossa frente e estende um moletom de zíper para a jovem. — Seu tio pediu para trazer, ele sabe que sente frio até mesmo no calor. — Ahh obrigada. — Sorri envergonhada e abaixo minha cabeça. — Desculpe por mentir. — Se dirige a mim e coloca o casaco em seu corpo, o fechando e cruzando os braços por alguns segundos. — Tudo bem, a culpa é totalmente minha. — Digo. — Vamos comer, deve estar delicioso. — Falo e começo a comer. Depois daquele momento tudo ficara tão silencioso, que meu desejo era fugir dali mesmo ansiando tanto pela presença de Saanvi. Me sentia constrangido por não agir como um rapaz normal, que fala sobre tudo com a garota que gosta. A noite se findou e seguimos para o carro de Saanvi, após ela se despedir de seu tio que com certeza a aconselhou nunca mais sair comigo. — Acho que irei tirar esses saltos. — Sorri levemente, tirando as sandálias e jogando para o banco de trás. — Está pronto para irmos? — Sim, estou. — Respondo, colocando o cinto e Saanvi começa a dirigir. Havia tantas palavras em minha boca, diversas frases formuladas para pedir desculpas, insistir que saísse comigo mais uma vez, que me desse a chance de demonstrar o quanto aquele momento era mágico para mim, mas nenhuma delas saíram de meus lábios. Ao parar em frente a minha casa, Saanvi me olha e seus lábios se abrem como se desejasse dizer algo, minha boca parece imitar a sua, mas ambos ficamos em silêncio até que seu celular toque. — Desculpe, só um minuto. Sim? Notícias sobre a vovó? Tudo bem, estou indo para casa. — Desliga em seguida e sorri. — Tenho que ir, meus pais receberam uma ligação de onde minha avó está, eles querem que eu vá para casa, assim esperaremos juntos o retorno. — Ah claro, pode ir. — Digo e Saanvi me olha, batendo os dedos novamente, agora no volante. — Nossa, desculpa. Como vai ir comigo no carro? Boa noite, Saanvi. — Desço do carro e corro para dentro de casa, fugindo de sua presença e daquela lastimável situação.
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