O que está havendo?

1996 Palavras
Agatha ― Bom dia, Agatha. Está linda hoje. Mentira. Você é linda todos os dias. - O Dr. Ricardo já começou o dia com seus galanteios. Eu abaixei os olhos, envergonhada e sorri sem graça. Eu ainda não tinha esquecido aquele papo estranho de t*****r em cima da moto. ― Bom dia, Dr. Ricardo. Muito obrigada. Ele abre a porta do escritório para mim (aliás, como sempre) e entramos juntos. ― Vi que você veio com sua moto hoje. Aliás, bela moto. Sempre tive vontade de ter uma, e a sua Naked é linda. Como consegue pilotá-la sendo tão baixinha? - diz rindo. Eu dou risada. ― A gente dá um jeito. E eu não sou tão baixinha assim, tenho 1.65 de altura. - finjo estar brava. Ele ri. Ele olha ao redor discretamente, se inclina e sussurra no meu ouvido: ― Você fica um t***o em cima daquela moto. - com um sorriso safado no rosto, ele entra em sua sala. Eu fico paralisada, tentando absorver o que ele acabou de dizer. Olho ao redor, conferindo se ninguém escutou o que ele me disse, e vou para a minha mesa, ainda perturbada por suas palavras. "O que ele quer, fazendo esse tipo de comentário?", penso confusa. ― Oi, bom dia! - Lívia fala animada. - Nossa! Parece que você não está muito bem hoje, amiga. - ela comenta. ― Bom dia, Lívia. Não é nada. Eu só dormi um pouco m*l essa noite. - disfarço. ― Foi dormir tarde? - ela pergunta. - Desculpe. Estou perguntando, porque você está com algumas olheiras. ― Tudo bem, sem problemas. Na verdade eu nem fui dormir tão tarde assim, eu só estava com muita dor de cabeça. - minto. Se bem que Hugo me deu muita dor de cabeça ontem. ― Quer um café? Acho que estamos precisando. - ela ri. ― Vamos lá. Entramos na cozinha, e a insuportável da Renata estava lá, junto com outro estagiário que eu ainda não tinha conversado. ― Bom dia. - cumprimento. Renata me ignora, mas não me importo. ― Bom dia, moça nova. - diz o rapaz alto de cabelos e olhos castanhos claros. - Me chamo, Igor. - ele estende a mão em cumprimento. ― Muito prazer, Igor. Eu sou Agatha. ― Eu já sei. - ele ri. Renata nos olha com a cara emburrada e diz: ― Eu já vou. Você vem ou vai ficar? - diz, se dirigindo ao Igor. ― Pode ir, eu vou terminar de tomar o meu café. - diz ele. Ela sai da cozinha jogando os cabelos. ― Eu ouvi quando você deu um chega pra lá na chata da Renata. Ela estava precisando de uma encoxada mesmo. No m*l sentido da palavra. - ele ri. ― É bom que agora ela aprende a não ficar folgando pra cima dos outros. - digo. ― Vocês estão muito esperançosos. Não sei se aquela dali tem conserto não. - comenta Lívia. ― Se ela tem ou não, não importa. É só ela não se meter comigo. - afirmo. ― Você não é mole não hein, garota. - diz Igor. ― Não, não sou. Não posso ser. Já pisaram muito em mim, não vou deixar que façam isso de novo. ― É isso ai, amiga. Agora tome o seu café que precisamos voltar para nossas mesas. O trabalho nos chama. - diz Lívia, bem humorada. Eu tomei meu café e retornamos ao trabalho. Minha mesa estava lotada de documentos que precisavam ser digitalizados. A manhã se arrastou preguiçosa, imaginava como deveria estar sendo o primeiro dia de trabalho de Hugo. Tudo o que eu espero, é que ele se esforce para manter esse emprego, já que foi tão difícil de consegui-lo. Na hora do almoço, arrisquei enviar uma mensagem de texto para ver como estava sendo o seu dia, porém ele nem visualizou. "Típico.", pensei com amargura. "Boa tentativa, Agatha! Muito boa mesmo." ― O que vai ser? Almoçamos fora ou pedimos comida? - Lívia pergunta, se escorando na minha mesa. ― Por mim tanto faz, amiga. - dou de ombros., ainda chateada por Hugo ter ignorado minha mensagem. ― O que foi? - pergunta atenciosa. ― Nada não. Vamos pedir comida. - sugiro, forçando um sorriso. ― Beleza. O que vai querer? ― O que você for pedir, pra mim está bom. ― Tá bom. - diz rindo. ― Posso almoçar com vocês, meninas? - pergunta Igor. ― Claro. - respondo. ― Eu já ia pedir. Posso pedir para você também então? - pergunta Lívia. ― Se não for muito abuso. Eu vou querer um P.F. - Lívia e eu rimos. ― O que foi? - ele pergunta confuso. ― Não foi nada. Vou pedir. - fala Lívia depressa. ― Há quanto tempo trabalha aqui? - pergunto ao Igor. ― Já tem um ano. Ainda resta um ano para o meu contrato de estágio acabar. - conta. - E você? Está gostando daqui? ― Estou sim. Eu batalhei muito por esse estágio, eu estava sem um real. - ele ri. ― Aqui é muito bom. Queria muito ser efetivado. - confessa. ― Quem sabe isso não acontece. - pisco para ele. ― Deus te ouça. Almoçamos e retornamos ao trabalho. Hugo ainda não tinha respondido minha mensagem. No fim do expediente, peguei minhas coisas e me despedi de Lívia e Igor. Como sempre, trombei com o Dr. Ricardo na saída: ― Já está indo? Vá devagar, hein? - brinca, sorrindo largamente. ― Pode deixar, Dr. - rio. ― Até amanhã, linda. - ele me conduz porta afora, com uma mão sobre minhas costas. Sinto um arrepio na espinha. ― Tchau, Dr. Ricardo. Subo na minha moto e piloto rumo ao trabalho do Hugo. Chegando lá, ele já estava de saída e conversava animadamente com uma moça de cabelos negros compridos, certamente sua colega de trabalho. Ela tocava em seu braço ocasionalmente enquanto conversavam, ele voltava o olhar para onde a mão dela tinha estado e sorria de canto. Senti um nó na garganta. "Eles só estão conversando, só conversando", tentava colocar em minha cabeça. Eu já estava parada há 05 minutos em frente a bendita empresa e sua conversa com a "colega'' ainda não tinha chegado ao fim. Cansada e de saco cheio de esperar, buzinei bem alto, fazendo os dois darem um pulo. Sorri por dentro do capacete. Hugo olhou em minha direção e se despediu da moça em seguida. Ela me analisou de cima a baixo e saiu rebolando, enquanto jogava os cabelos negros sobre as costas com as mãos. ― Precisava buzinar daquele jeito? - disse ele, já me repreendendo. ― Precisava Hugo. Eu tenho mais o que fazer do que ficar esperando você terminar a conversa com a sua colega, que não parecia ter mais fim. ― Hum! Então isso é ciúmes? Você só está com ciúmes de mim. - ele ri com deboche. ― Não estou com nenhum pingo de ciúmes. Só não vou ficar fazendo papel de trouxa. Se não quer que eu buzine, então trate de colocar gasolina no seu carro e se locomover para o trabalho por conta própria. Agora coloque esse capacete e suba na moto, eu tenho aula ainda hoje. Hugo fecha a cara, mas obedece. Resmungando ele faz o que pedi e sobe na moto. Eu aproveito que estou chateada com ele, para correr um pouco mais. Sinto ele apertar minha cintura e sorri comigo mesma. Hugo gosta de motos, mas tem medo de velocidade. Nunca conheci uma pessoa tão contraditória. Rafael Depois de um dia inteiro colhendo novamente os depoimentos das pessoas próximas a primeira vítima, eu encerro o expediente um pouco mais confiante que vou conseguir solucionar esse caso. Durante os depoimentos, não deixei escapar mais nenhum detalhe, me atentando a cada ponto que poderia me levar à descoberta do paradeiro da vítima. Amanhã, temos mais outro dia de depoimentos, agora com as pessoas próximas à segunda vítima. Refazer os depoimentos é importante para capturar algum detalhe ou fato que eu possa ter deixado passar da primeira vez. Pego minhas coisas e já estou me preparando para ir embora quando Rodrigo entra na minha sala: ― Já está de saída, delegado? - lembrando que ele só me chama de "delegado" para me zoar e não por respeito. ― Estou. Hoje foi um longo dia, preciso descansar. ― Está muito cansado? Que pena! Estava pensando em te chamar para a gente tomar uma naquele bar que a gente foi outro dia. - diz com ironia. ― Eu não sei não, Rodrigo. Estava querendo chegar em casa, tomar um banho e ficar no sofá assistindo televisão. Esses são os meus planos para hoje. ― Eram os seus planos para hoje, Seu delegado. Porque você vai comigo no pub essa noite. - eu reviro os olhos. ― Estou cansado, p***a! ― Nada que um bom whisky não resolva. - insiste. ― Bebida r**m do c*****o que tem naquele bar, viu? ― Deixa de ser insuportável. Vamos! Não vai deixar seu melhor amigo sair sozinho, ou vai? - faz biquinho. ― Eu bem que podia deixar mesmo. Agora para de fazer esse bico horroroso pra mim. Coisa feia da p***a! ― Esse é o meu delegado! - ele me abraça pelos ombros. ― Sai daqui! - o empurro, ele ri. ― Nós nos encontramos às 20h30 então? - ele diz. ― Fechado, até mais tarde. Saio, ao passar pela recepção me despeço de Aline: ― Até amanhã, Aline. ― Até, delegado. - ela me oferece um sorriso safado pra variar. Entro no carro e dirijo para a casa. No caminho, uma moto acelerada passa por mim. É uma mulher que está pilotando e tem um homem na garupa. Balanço minha cabeça, indignado. "Que louca!", penso. Sorte dela, que está numa via que é permitido transitar nessa velocidade. Com uma moto grande dessas, seria um estrago se houvesse um acidente. "Credo, Rafael! Não pense nessas coisas nem de brincadeira." Repreendo a mim mesmo em pensamento. Cheguei em casa, tomei um banho e me arrumei. No relógio marcava 20h00. Aproveitei para comer alguma coisa antes de sair. ... Chegando lá, Rodrigo como da última vez, estava rodeado de mulheres, mas dessa vez, já eram mulheres diferentes. ― Boa noite. - cumprimentei. ― Boa noite, amigo. Meninas, esse é o meu melhor amigo, delegado Rafael. - eu reviro os olhos. Toda vez é a mesma coisa. ― Boa noite, delegado. - as moças dizem. Eu me sento à mesa com eles e peço uma bebida para o garçom que está passando: ― Um Martini, por favor. ― Vamos de bebida sofisticada hoje, delegado? - Rodrigo tira sarro. Sua voz indica que ele já tomou algumas hoje. ― Então... Rafael, não é? - a moça de cabelos ruivos pergunta. ― Isso mesmo. - respondo, sem me preocupar em perguntar seu nome também. Ela arrasta a cadeira para mais perto da minha. ― Eu gostei de você, delegado. - diz com um sorriso safado. ― Eu agradeço. "O que está acontecendo comigo"?, penso. Ela sorri sem graça e se cala. ― Sua bebida, Senhor. - o garçom me entrega o drink. ― Obrigado. Tomo um gole da bebida e dessa vez não parece tão r**m. ― Até que não está tão r**m dessa vez. - comento. Rodrigo revira os olhos. ― Mala do c*****o. Eu dou risada. ― Então Rafael, você gosta da sua profissão, quer dizer, gosta de ser delegado? - a ruiva faz mais uma tentativa. ― Sim, gosto. Eu nasci pra isso. - digo. ― Você deve ser muito corajoso. - diz com admiração exagerada. ― A coragem vem de acordo com a situação. ― Ele está sendo humilde. O cara é f**a! - diz Rodrigo. Eu balanço a cabeça. A noite se estendeu entediante, a ruiva tentou se aproximar durante a noite toda, mas eu me esquivei. Não sei o que está havendo comigo, pela primeira vez, eu não senti atração pela bela mulher na minha frente.
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