Aquilo foi surreal.
O beijo me atormentou o final de semana inteiro. Até uma semana atrás, eu tinha convicção de que ele era meu meio irmão, e agora estou aqui, dividida entre seguir com o plano ou simplesmente desistir.
Estou perdida.
Em toda minha criação, Eva me ensinou que amor é um sentimento autodestrutivo. Eu percebi isso quando ela me tirou o Bobby, que era apenas um urso minúsculo que me fazia companhia na maior parte do tempo. Não sei o motivo que ela me afastou de Bobby, mas eu desejei que ela morresse por tirá-lo de mim.
Confesso que até hoje tenho mágoa por Eva ter feito isso, e jurei nunca me apegar à mais nada. De certo modo, isso me deixou fria, mas Jace...
Não sei exatamente o que ele despertou em mim. Devo estar enlouquecendo.
Não tenho dormido bem desde aquele dia. Nunca pensei que meu primeiro beijo fosse justo com ele.
Sim! Nunca havia beijado antes. Não sou o tipo de garota que desperta interesse nos garotos. E também, Eva nunca permitiu que eu tivesse amigos fora da escola. Claro que eu mantinha alguns escondidos para trabalhos escolares, mas sempre que podia, eu mantinha contato com Frida.
Frida não era minha melhor amiga, mas nos entendíamos muito bem, e ela me ajudava com os trabalhos que eu não podia fazer na casa dos amigos.
Enfim, não culpo Eva, eu permiti que ela me criasse assim. Mas o que eu poderia fazer?
******
De algum modo estranho, eu me sinto diferente. Não me sinto uma adolescente tola. Mas foi só um beijo. Nada de diferente aconteceu. Me olho no espelho do meu quarto, e toco meus lábios. Lembro de Jace e sorrio.
O caminho para o trabalho não é tão longo, mas parece uma eternidade. Quero vê-lo, ainda que eu fique constrangida, eu preciso vê-lo.
O elevador parece estar sempre conspirando contra mim. Demora para chegar e embora eu esteja muito adiantada, sei que Jace sempre chega cedo.
Enfim chego ao oitavo andar. As portas da ante-sala do presidente estavam fechadas. Isso nunca acontece, mas entro sem bater e o que vejo me deixa enjoada no mesmo instante.
Jace e Elizabeth.
Eles estavam se beijando. E quando abri a porta os dois me encararam. Não tive outra atitude que não fosse sair correndo em direção ao toalete. Me olhei no espelho e as lágrimas estavam jorrando dos meus olhos.
Fraca.
Eva cuidou para que eu fosse forte, mas eu me tornei fraca, e a culpa era minha. Somente minha.
A porta se abriu e eu fingi estar lavando o rosto.
- Lily? - A voz grave e sedutora de Jace. Eu reconheceria em qualquer circunstância. - Está chorando?
- Não devia entrar no toalete feminino, Sr. Wayland. - Falei puxando uma toalha e secando o rosto.
Não tive coragem de encará-lo, apenas peguei minha bolsa e fui em direção à porta, que por infelicidade estava trancada.
- Está procurando por isto? - Ele perguntou, e eu não me virei. Permaneci em silêncio, mas sabia que era da chave que ele estava falando.
- Olhe para mim, Lily. - A voz de Jace soou como uma ordem.
- Me deixe sair Sr. Wayland, por favor. - Pedi, mas recebi uma ordem ao invés de ser atendida.
- Olhe para mim, Lily. Agora.
Me virei mas mantive o olhar baixo. Era como se as palavras dele, fosse uma ordem que eu tinha prazer em obedecer.
Não queria que ele me visse com os olhos vermelhos. Não que eu tivesse escolha, pois seria inevitável que ele percebesse que eu estava chorando.
Nem que eu me xingasse um milhão de vezes, amenizaria meu sentimento de vergonha diante dele.
Com as mãos nos bolsos, ele caminhou até mim. Parou muito perto. Pude sentir sua respiração calma e o perfume que me deixava tonta.
- Ah, Lily... Eu daria uma moeda pelos seus pensamentos, se eu já não soubesse. Mas quero que você mesmo me diga. - Ele é mau.
- Apenas quero que me deixe sair.
- Eu deixaria, mas sei que você não quer, e sei exatamente o que você está pensando.
E dizendo isso, ele prendeu seu corpo contra o meu na porta. Eu lutei, tentei afastá-lo, mas não consegui. Na verdade eu não queria que ele se afastasse. Ele é mais forte do que eu e acabou segurando minhas mãos no alto da minha cabeça. A essa altura eu já não conseguia controlar minha respiração.
Sem o mínimo de esforço, sua boca grudou na minha, e eu não respondia mais por mim. Correspondi o beijo dele. Era como se eu fosse uma marionete em suas mãos. E eu era. Completamente entregue aos seus caprichos.
Sem pressa, ele se afastou.
- Hoje dei o dia de folga para Elizabeth, e você me acompanhará em todas as reuniões do dia. Tem quinze minutos até a primeira reunião. - Diz enquanto abre a porta e passa a mão nos cabelos loiros, esboçando um sorriso de vitória.
Fico sem ação.
Jace Wayland não conhece limites.