Capítulo 6

1384 Palavras
  Camilla   No meio daquele caos, pensei rápido e aja mais rápido ainda. A primeira coisa que fiz foi tentar assumir o controle da situação, já que o Dylan tinha o poder da narrativa e todos os olhos estavam nele e nas mentiras que ele podia inventar. Saí da moto imediatamente, passando pelos alunos que se aglomeravam para ver o espetáculo — eles adoravam isso mais que festas ou formaturas, especialmente quando envolvia a nerd e o garanhão da escola. A dupla improvável, sem contar o casal mais inusitado do século. Se eu me importasse com eles, seus pensamentos ou palavras. Mas não me importava. Tinha preocupações maiores, coisas mais importantes na cabeça. Estava à beira de perdê-lo.   Corri em direção ao Kyle, que se afastava na direção oposta, tentando colocar o máximo de distância entre nós. E com razão. Sua namorada agora mora com um cara que tem fama de ficar com metade das garotas da escola, ele a viu pelada, e no dia seguinte ela chega abraçada a ele numa moto. Soa terrível.   "Kyle, por favor, espera." Implorei. Ou ele não andava tão rápido, ou não queria realmente fugir. Alcancei-o em instantes, estiquei a mão e segurei seu braço.   "Entendi. Não sou tão popular quanto ele, nem tão bonito, mas pensei que você não cairia no joguinho dele. Achei que você seria minha. Me forcei a pensar e acreditar que você é minha, que você é diferente, mesmo sabendo que ele abriria seu caminho."   Percebi a dor por trás de suas palavras, e a culpa era minha. Bem, em grande parte do Dylan por ser um completo i****a, mas não posso dizer isso a ele. Estou tentando ser a pessoa madura.   "Kyle, não é nada disso. Ele só estava me dando carona. É só isso que aconteceu, ele está sendo o Dylan e tentando criar uma cena, inventar algo do nada. Juro, nada aconteceu e nada vai acontecer."   "Ele não devia te deixar a um quarteirão de distância ou algo assim?" Kyle se virou e jogou na minha cara. É verdade. Foi o que combinamos. Dylan deve ter acordado e decidido jogar tudo fora.   "Juro, não faço ideia do porquê ele fez isso e não me importa, Kyle, eu te quero. Não a ele. É só que..." Estiquei a mão para seu braço, que ele afastou quase instantaneamente. Isso doeu. Soltei um fungo e tentei de novo, conseguindo tocá-lo por um breve segundo, mas ele me afastou dessa vez. Meu coração afundou.   "Por favor, Kyle." Meu coração estava sangrando por dentro enquanto eu implorava, ali parados no corredor.   "Kyle, por favor." Formei as palavras em um sussurro, lutando para segurar as lágrimas.   "Olha nos meus olhos, Camilla, e me diz que você não sente nada por ele, nem mesmo a menor coisinha, e eu esqueço tudo isso. Eu consigo ler seus olhos, pode parecer loucura, mas eles não mentem para mim." Ele disse.   Fiquei congelada, encarando-o, tentando formar as palavras. Elas fugiram.   "Hesitação." Ele sussurrou, baixo o suficiente para só nós dois ouvirmos.   Estremeci e pressionei os lábios antes de fechar os olhos. Senti aquela pontada de novo.   Antes que eu pudesse dizer mais nada, ele virou em direção às salas de aula e se foi.   O pior? Eu não consegui estender a mão nem fazer nada para impedir. Fiquei ali, parada, olhando para o nada. O que me levou a perguntar:   "O Kyle acabou de terminar comigo?" Perguntei a ninguém em particular, estática no lugar.   O tempo passou. Minutos se arrastaram. Os alunos murmuravam ao passar pela estátua no corredor. Os que testemunharam tudo entre Kyle e eu tentavam disfarçar a satisfação; os que não viram compensavam com fofocas sobre Dylan e eu. Estou um desastre.   Não sei quanto tempo passou, mas recuperei a compostura e consegui chegar ao meu armário. Não fiz nenhum projeto ou tarefa, e agora o Kyle me deixou — tudo por causa do Dylan. Ele não terminou oficialmente, mas sua linguagem corporal dizia tudo. Eu o machuquei. Machucamos nós dois.   "Por que eu não consegui simplesmente dizer que não o quero?" Murmurei e dei um tapa leve no próprio rosto. Soltei o ar e olhei meu reflexo no espelho, prestes a fechar o armário.   "Oi."   Engoli em seco.   Ele estava bem atrás de mim, sussurrando aquela palavra diretamente no meu ouvido.   A audácia dele. Me virei rapidamente. Ele tinha um sorriso maldito no rosto — estávamos tão perto que eu podia sentir seu cheiro adocicado. Péssima ideia.   Empurrei-o para longe. Ele m*l se moveu, mas eu lhe dei um tapa na cara. Ainda bem que não tinha ninguém no corredor para ver. Espera, isso é r**m. Preciso que todos saibam o quanto esse i*****l me enoja. Eles precisam parar de criar cenários ridículos na cabeça.   "Pra você tudo é um jogo doentio?" Disse, notando o sorriso ainda estampado em seu rosto.   Ele cantarolou, indiferente, e eu quase caí no choro.   "Você disse que ninguém devia saber que moramos juntos, que me deixaria a uma distância. Eu concordei. Não reclamei, apesar do transtorno. Depois de tudo combinado, você faz algo completamente diferente. Só pra rir? É isso? O que eu sou? Uma piada doentia? Fonte de entretenimento? Porque se for, não achei graça nenhuma. Você não faz ideia do que isso me custou. Nenhuma!"   Apontei o dedo para ele, fervendo de raiva.   "Na verdade, eu sei... Sim, eu sei. Só não queria levar bronca dos meus pais quando você contar a eles que não te levo até a escola."   A resposta dele foi desleixada, como se tivesse ignorado metade do que eu disse e ido direto ao final.   "Sério?"   Se ele soubesse o quão furiosa eu estava naquele momento, teria escolhido melhor as palavras e não me testado por mais tempo.   "Isso é inacreditável. É o que as pessoas dizem em momentos assim, mas pensando bem, não é. De jeito nenhum. Você só pensa em si mesmo. Não é surpresa, é um fato conhecido. Você só pensa em você ao tomar decisões, como fez agora. Não parou pra pensar em como eu me sentiria, não é? Claro que não. Você e eu sabemos que eu nunca te denunciaria, você fez isso porque se acha um maldito rei, agiu como se eu fosse uma das suas garotas, me mostrou pra escola toda pra inflar seu ego e******o. Vou dizer isso uma vez, de forma clara: fique longe de mim. Podemos morar juntos, mas não precisamos trocar uma palavra." Bati o armário com força, batendo os pés no chão enquanto marchava para a aula.   Meus punhos tremiam, tudo que eu via era vermelho e eu só queria dar mais tapas nele. Não acredito que o Kyle foi embora. Tecnicamente, ele não disse que terminamos, mas sinto que, mesmo se voltássemos, nosso relacionamento nunca seria o mesmo. O Dylan era só mais um desses caras que passam, eu nem devia lembrar o que aconteceu entre a gente — quer dizer, ele não lembra, então por que não pude contar isso pro Kyle? Por que tenho que ser tão burra?   "Senhorita Riene." A professora chamou, tirando-me dos meus pensamentos. Quando cheguei aqui? Um minuto estava no corredor, no seguinte já estou sentada. Se controla, Camilla. É isso que ele quer. Não dê a ele o prazer de estragar seu dia.   "Sim, senhora." Respondi secamente.   "Estava explicando sobre a Revolução Inglesa e você parecia longe. Talvez uma detenção clareie sua mente." Fiz uma careta quando ela me entregou o bilhete.   "Ótimo." Murmurei quando o sinal tocou. Aula acabou? Maravilha.   Peguei minha mochila e saí da sala devagar. Era hora do intervalo e eu só queria ir pra casa. Sabia que não podia, então resolvi descansar numa sala vazia pra organizar meus pensamentos. Fechei o armário, tentando manter o equilíbrio e não desabar. Três garotas apareceram do nada. Cruzaram os braços e me lançaram olhares de morte.   "E aí, vadia." A do meio cuspiu, veio em minha direção e, antes que eu pudesse dizer "Jack", suas mãos acertaram minhas bochechas.   "Primeiro aviso, não vai ter segundo. Da próxima será pior. Fique longe do Dylan Emerton." Ela avisou. Como se tivessem ensaiado, as outras duas viraram, me encarando com crueldade, antes de segui-la.   Peraí. Segura. Cerrei os dentes. Isso não acabou de acontecer. Não aconteceu.   Eu vou acabar com ele. Vou acabar com o Dylan.
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR