Camilla
Era minha forma de tentar recuperar algum controle — se é que ainda restava algum. Tentar dominar minha raiva ou pelo menos administrá-la. Seja como for, vou matá-lo com minhas próprias mãos. Vou estrangular aquele pescoço arrogante até ouvir o estalo. Vou sufocá-lo até ele perder o ar, e não vou sentir pena nem parar por nada. Ele vai pagar pelo que fez. Vou multiplicar por dez a dor que estou sentindo e servir no prato dele.
Eu não fiz nada. Pelo menos não com ele. Claro que já magoei outras pessoas, só não ele. Por que ele insiste em destruir minha vida? Droga. Estou tão furiosa. Chega de conversa, é hora de agir. Ele está morto. Dylan está morto.
Eu sabia onde ele estava. No maldito campo de futebol. É para lá que vou. Não me importa quem ouve ou como as notícias se espalham. Que se dane se a escola inteira descobrir que moramos juntos. Ele criou essas regras e depois as quebrou, não importa se eu fizer o mesmo. Não é só ele que decide quais regras seguir, quando e quantas.
O time de futebol passa o intervalo treinando antes de ir para o vestiário. Todo mundo sabia disso. Um jogador nato, literal e figurativamente. Ele era muito bom nisso — se ao menos sua atitude fosse um pouco melhor. Aff. Sendo o astro do time, eu sabia que ele estaria lá, embora não tivesse certeza se estaria treinando. Estava preparada para esperar, porque estou cheia de ódio. Se eu perder o controle e não conseguir contê-lo, vou entrar lá e falar umas boas verdades, e repetir o que a namoradinha i****a da semana — se ela tiver sorte — fez.
Vou dar um tapa nele. Juro por Deus que vou. Meu rosto ainda ardia do tapa que aquela garota me deu, e Dylan seria o alvo da minha fúria. Eu sabia que tinha gritado com ele de manhã, mas isso foi antes "disso" acontecer. Acelerando o passo, cheguei ao vestiário rapidinho. Adivinha? Eles terminaram o treino minutos atrás e já estavam no chuveiro. Tudo bem… eu espero. Posso esperar. Hoje não tem escapatória. Ele vai enfrentar minha fúria, de um jeito ou de outro.
Enquanto esperava, meu coração pesado foi aos poucos se acalmando. Ainda estava furiosa com ele, mas não mais à flor da pele. É verdade — as pessoas pensam melhor de cabeça fria. Logo percebi que, enquanto estava cega pela raiva de matar o Dylan, de esbofeteá-lo e fazê-lo pagar por tudo, deixei de notar outra coisa. Fui burra, na verdade. Não me toquei que ele não seria o único a entrar. O time de futebol tinha mais de vinte estudantes do ensino médio.
Não pensei nisso. Ainda dava tempo de corrigir antes que virasse um pesadelo maior. Tentei me levantar. Tentei. Essa é a palavra-chave.
Antes que eu pudesse consertar a terrível escolha que tinha feito, a porta se escancarou e eles entraram correndo. Falando em timing perfeito. Isso não pode estar acontecendo.
Virei e cobri o rosto. i****a. Mas o que eu poderia fazer?
Fui pega. Que constrangimento. Ah, chão, por favor, me engula agora.
Espiei no mesmo instante em que um deles me notou, alertando os outros. Engoli em seco. Droga.
"De quem é essa gatinha?" Ele perguntou, com um sorriso largo no rosto. Levantei e recuei enquanto o resto deles passava os olhos pelo meu corpo.
"Dylan." Gaguejei, precisando de um salvador. Estranhamente, o nome dele foi o primeiro que veio à mente. Eu o escolheria em vez de uma dúzia de jogadores de futebol.
Achei que ele não tivesse me ouvido e que eu estava perdida, até que ele surgiu do meio deles. Posicionou-se na minha frente — sem camisa — encarando seus companheiros de time. Engoli em seco, admirando suas costas nuas, perfeitamente esculpidas por alguma força divina. Ele era realmente de tirar o fôlego.
"Afastem." Ele rosnou, como um leão protegendo sua presa.
Todos recuaram imediatamente. Alguns levantaram as mãos em rendição, brincando.
"Mas ela é uma gatinha, hein." Ouvi um deles comentar, enquanto se dirigiam aos armários para se vestir. Desviei o olhar, decidida a me concentrar no Dylan — o que era bem pior. Meus olhos grudaram em seu abdômen, e engoli em seco de novo, incapaz de desviar.
"Vai dizer alguma coisa ou vai ficar me comendo com os olhos o dia todo?" O comentário dele me tirou do transe. Ergui o olhar até ficarmos cara a cara.
Seu rosto brilhava com a água que escorria pelo pescoço e pelo corpo. Quase esqueci por que estava ali. Quase.
Tentei adotar a expressão mais gelada que consegui.
"Diga pra sua namorada que entre eu e você não há nada, porque da próxima vez que ela tentar me tocar, eu vou revidar." Soltei, minha voz firme e cortante.
"Que namorada?" Ele retrucou. Dylan estava fingindo desconversar, o que me deixou ainda mais furiosa.
"Por causa da sua palhaçada, eu e o Kyle estamos com problemas, e a sua namorada maluca teve a audácia de me dar um tapa." Meu tom deixava claro o nível da minha irritação. O dele, não. Primeiro, ele pareceu genuinamente confuso, depois levemente intrigado — mas assim que as palavras saíram da minha boca, sua expressão mudou.
Seu rosto mostrou excitação, e então ele esboçou um sorriso.
"Olha, Camilla, vou ser direto e honesto: sobre o Kyle, não posso dizer que sinto muito. Não quero que você namore ninguém."
As palavras dele ecoaram nos meus ouvidos, e eu explodi. Não devia ter ouvido direito. Quem ele pensava que era? Meu pai? Até ele não me proíbe de namorar. Será que ele bateu a cabeça?
"Você perdeu a cabeça, não é?" Perguntei, sufocando uma risada. Só podia ser isso.
"Nada disso." Ele respondeu, enfatizando o "N".
"E sobre a outra parte — eu não tenho uma namorada, tá? Quem quer que tenha se afirmado assim está só na onda do 'fascínio Dylan', mas eu não tenho namorada. Acredito que relacionamentos são para perdedores, e você não parece ser uma — uma perdedora, quero dizer. É por isso que devia estar feliz que o seu está acabando. Na verdade, espero um agradecimento por acelerar o processo; a única coisa que fiz foi trazer o futuro para o presente. Vou aceitar esse agradecimento agora."
Que cara de p*u!
"Primeiro, acho que você tá realmente louco. Segundo, meu relacionamento com o Kyle não vai acabar tão cedo porque vamos resolver nossos problemas. Terceiro, se ela não é sua namorada, então por que ela e as cúmplices me disseram pra ficar longe de você? Se não há nada, ela não ficaria desconfiada se você não tivesse feito sua palhaçada?" Terminei e cruzei os braços.
É engraçado como seus colegas de time espiaram pelo canto do olho.
"Espera — garota e cúmplices? Isso facilita a busca. Deixa eu adivinhar: cabelo loiro, muita maquiagem, chata?" Ele perguntou. Eu balancei a cabeça, porque ele a descreveu perfeitamente. Ele começou a rir, e eu observei com irritação.
"Ignora a Paula, ela não é ninguém."
Ele fez um gesto de descarte, abaixando levemente a cabeça para encontrar meus olhos. Fácil para ele dizer.
"Deixa eu adivinhar — você ficou com ela um monte de vezes, e ela se autoproclamou sua namorada." Ele sorriu de modo provocador, e eu soube que ele estava certo.
"Idiota." xinguei.
"Diz pra ela que pode te ter — eu não quero você. Preciso falar com o Kyle, tô vazando daqui. Você não se importa, tá na cara, mas enquanto se acha, faça o favor de deixar claro pra sua 'não-namorada' que a gente não tem nada. Obrigada."
Virei para sair quando ele me puxou de volta.
Pegou de surpresa, não pude fazer nada além de soltar um suspiro curto e ver Dylan Emerton prender minhas mãos contra a parede. Ele ficou bem na minha frente, quase me forçando a encarar seus olhos. Por que será que Deus gastou tanto tempo aperfeiçoando ele só para ele ter essas atitudes irritantes? Não se pode ter tudo, eu sei, mas se ao menos ele não fosse tão convencido… Se ao menos…
"Isso vai soar direto, mas sinceramente não tô nem aí. Eu te quero."
Ele sussurrou roucamente, seu hálito esquentou minha nuca, grudando e me congelando naquela posição. Não pude evitar um arrepio. Ele estava perto. Muito perto.
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