Enriquecimentos Maléficos

2046 Palavras
Como muitos nerds antes dele, Carlos gostava da escola. Ele não tinha vergonha de admitir — diria isso para qualquer um que eventualmente perguntasse. Porém, como ninguém perguntava, ele mesmo revia os argumentos. Ele gostava das estruturas e das regras da escola. Gostava do trabalho também — de responder às perguntas que tinham resposta e explorar as que não tinham. Havia coisas na escola que eram uma t*****a, como quando ele era f*****o a correr até as tumbas na aula de Deseducação Física (para que praticar corrida de fuga se eles moravam em uma ilha?), ou quando tinha que fazer trabalho em g***o (geralmente com as pessoas que caçoavam dele por não conseguir correr até as tumbas), mas havia muita coisa boa para compensar. As partes boas — as partes em que ele realmente tinha que usar o cérebro — , e Carlos gostava de pensar que sua cabeça era muito melhor equipada que a de um vilão comum. E ele estava certo. Pois o cérebro de Carlos de Vil, em comparação, era quase tão grande quanto o closet de casacos de pele de Cruela. Pelo menos, era isso que o garoto dizia a si mesmo, especialmente quando era obrigado a correr até as tumbas. Sua primeira matéria do dia era Ciência Maluca, que ele sempre aguardava com ansiedade. Foi depois da aula sobre ondas de rádio que ele originalmente teve a ideia de fazer sua máquina. Carlos não era o único crânio da sala. Estava empatado com o mais próximo que tinha de um rival em toda a escola: Reza, o magricela quatro-olhos. Reza era filho do antigo Astrônomo Real de Agrabah que havia se reunido com Jafar para ter certeza de que as estrelas estavam bem alinhadas em mais de uma nefasta ocasião, e foi assim que sua família havia trilhado o caminho para a Ilha dos Perdidos, como todos os outros. Ciência Maluca era a matéria na qual o filho de Cruela dava o melhor de si. A presença de Reza, que era tão competitivo no laboratório quanto ele, só fazia Carlos se esforçar ainda mais. E, por mais que todos achassem Reza irritante — ele usava frases longas e pomposos para se referir a tudo (mesmo que as menores estivessem corretas, inseria palavras a mais, até de forma inadequada) — , ele ainda era esperto. Muito esperto. Ou seja, Carlos adorava superá-lo. Recentemente, eles estavam trabalhando em um elixir, e Reza ficou furioso porque o rival descobriu o ingrediente secreto antes dele. Sim, Reza era tão esperto quanto irritante. Agora mesmo ele tinha acabado de levantar a mão, e ficou balançando-a no ar. O professor da turma, o poderoso feiticeiro Yen Sid, ignorou o rapaz. Yen Sid havia sido enviado para a Ilha dos Perdidos pelo Rei Fera para ensinar aos filhos dos vilões como viver sem magia e, em vez dela, aprender a magia da ciência. Carlos achava que fora um grande sacrifício para ele ter que desistir de Auradon, mas que o velho mago excêntrico dizia que não se importava, que sua responsabilidade era ensinar todas as crianças, boas ou más. Yen Sid finalizou a lição do dia com sua frase favorita: "Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia". Do alto do púlpito, com a careca brilhando e a barba comprida e grisalha cobrindo-lhe metade do peito, o bruxo misterioso sorriu. Ele havia trocado suas vestes de mago por um jaleco branco de químico, já que agora não havia artigos de magia para comprar e… bem, nenhuma coisa mágica sobre o que conversar. Reza ergueu a mão novamente. Mais uma vez, Yen Sid o ignorou, e Carlos riu baixinho. — Só porque não há magia na Ilha dos Perdidos não significa que não podemos fazer mágica — disse Yen Sid. — Na verdade, podemos criar tudo de que precisamos para um feitiço aqui mesmo nesta sala. A resposta para nossa situação está bem à nossa frente. De fogos de artifício até explosões, tudo pode ser feito com… ciência. — Exceto pelo fato de que a ciência é sem graça — disse o filho de Gaston. — Além do mais, que cheiro é esse? Porque, vocês sabem, feijões são mágicos… — Cale a boca — sussurrou Carlos. Ele queria prestar atenção na aula. Reza levantou a mão de novo. Eu, eu, eu. — Estou falando sobre a magia da ciência — disse Yen Sid, ignorando Gil e Reza. — Com licença. Com licença, professor? — Reza não conseguiu mais se conter. Ele estava praticamente guinchando em sua cadeira. Carlos bufou e o professor suspirou. — O que é, Reza? O garoto se levantou. — De qualquer maneira nenhuma, a irrelevância do comentário de meu colega não tem importância alguma para esse esses experimento, de fato, afinal. — Obrigado, Reza. — Yen Sid tinha entendido, assim como Carlos, que ele havia dito que Gil era um i****a. O que não era nenhuma novidade para ninguém. Reza limpou a garganta. — Se a ciência é de fato mágica, por exemplo, per se, então alguém pode correspondentemente e adequadamente postular que a magia é, logo, portanto, C.Q.D., Como Queríamos Demonstrar, também uma ciência? Yen Sid revirou os olhos. Sons abafados e risadinhas ressoavam pela sala. — Sim, Reza. A ciência poderia ser descrita, de fato, como magia. De algumas perspectivas. Mas não precisa acreditar em mim. Por que não inicia o experimento de hoje e descobre por si mesmo…? A mão de Reza levantou de novo. Toda a classe começou a rir. Yen Sid digeriu a ele um olhar severo. — … como seu amigo Carlos, que, em vez de perder tempo falando, já está no meio do experimento. — e levantou uma sobrancelha, mirando o rapaz. Reza ficou vermelho. A classe riu mais ainda. O foco da lição do dia era engenharia. O coração de Carlos se aqueceu quando ele se curvou sobre a mesa, focado na tarefa de aprender como fazer uma vassoura robótica que varria sozinha. Era a solução para seu problema do outro dia. Com essa invenção, ele poderia ter limpado o Salão do Inferno rapidamente. Ele já tinha até um nome para ela: Vassobot. Gil resmungou, mas Carlos nem ouviu. Não quando estava trabalhando. E apertou um parafuso do motor de sua vassoura com a chave de f***a. Essa era a verdadeira magia. No fim do primeiro período, Carlos não era o único que estava feliz por estar na escola. Evie estava contente de ter decidido ir também. Para começar, ela não tinha visto nem sinal de m*l. E, isso a preocupou bastante, também não havia sinal de Ben. Como sempre ninguém tinha notícias da Allison, graça. Era ótimo perceber que, embora sua mãe não achasse que ela era bonita o suficiente, ela certamente era bonita o bastante para o Seminário de Selfies, que apenas alguns alunos de Introdução ao Egoísmo podiam fazer. No fim das contas, ela poderia até mesmo ser a professora. — Estão ótimos! — disse Mamãe Gothel ao conferir o dever de casa de Evie. Os alunos deveriam produzir uma série de autorretratos, e Evie tinha passado horas, antes da festa de Carlos, trabalhando duro em seu book, tirando fotos de si mesma. A beleza requer esforço, certo? Não era o que sua mãe sempre dizia? Como sua mãe lhe havia ensinado tudo sobre ângulos, truques de luz e maquiagem, Evie tinha as melhores fotos. Na verdade, essa aula não era nada. No momento em que aprendeu a segurar uma escova de dentes, ela já sabia parecer ser dez vezes mais bonita do que realmente era. Era tudo um grande truque de espelhos, pensou ela, tremendo só de pensar na palavra espelhos. Era assim que você se tornava a mais bela de todas. Ela tentou ignorar as outras garotas da sala, especialmente Uma, a filha da Úrsula, que a olhava irritada. — É como se você passasse cada segundo olhando para o próprio reflexo! — disse Mamãe Gothel, maravilhada. — Isso é ser autocentrada! Evie sorriu. — Ora, Obrigada. Eu tento. — Sua mãe deve estar muito orgulhosa — disse Mamãe Gothel, devolvendo as fotos. Evie apenas assentiu. Neste momento m*l, Ben e Allison entraram juntos. Digamos que m*l estava ali f*****a por Evie. Seria a primeira vez de Ben naquela aula. E assim como Evie, Allison amava fotografias. Mas a chegada dos três juntos havia causado uma certa desconfiança na filha da Rainha Má. — Atrasados! — Mamãe Gothel cerrou os dentes. Ela odiava quando os alunos chegavam atrasados. m*l soltou um risinho e foi se sentar em seu lugar. Ben a seguiu. Allison desejou um mau dia e foi para o lado da filha da Úrsula. — Quem é você? — a professora se dirigiu a Ben. — Aluno novo… — Harry o ajudou. — É filho de qual vilão ou vilã? — interrogou a vilã arqueando uma das sobrancelhas para Ben. O próprio engoliu em seco. Allison cerrou os dentes enquanto encarava m*l. — Ele é plebeu! — chutou Allison. Uma soltou uma risada e negou com a cabeça. m*l bateu a ponta dos dedos na própria testa. — m*l! Você andando com plebeu? Isso não é do seu jeito de ser. Acredito que isso seja mentira. Até porque o rosto dele não é desconhecido… — Gothel encarou o rosto do garoto analisando-o. — Quer saber!? Isso não me interessa! — ela se irritou. — Senta aí com a m*l. Vou passar um trabalho em duplas. — O quê?!! Por que comigo?!! — reclamou a de cabelo roxo. — Sem reclamações, m*l — cantarolou a professora achando graça. — Harry — chamou Evie e Allison ao mesmo tempo. O filho da Madame Tremaine ficou sem graça. m*l riu e negou com a cabeça. Uma não gostou disso. — Façam vocês duas juntas! — ordenou a professora. — O QUÊ? — gritaram em uníssono. — Sem reclamações! Estou cansada de ver vocês brigarem na minha aula! Harry faz com a Uma. Com as duplas já prontas, a professora passou o trabalho. Eles teriam que fotografar três coisas: um lugar, um cenário e alguém. Sem limites para quantidade de cada. Eles teriam muito tempo para isso, para uns poderem fazer com mais calma e para outros enrolarem por mais tempo. Durante a explicação, no começo Evie, às vezes, dava uma olhada para Ben, mas ele estava focado demais em m*l que não dava a mínima e desenhava algo em seu caderno de artes. Então esqueceu o príncipe e focou em Harry. Ele e Uma conversavam, pareciam bem felizes. Allison não gostou dos sorrisos que Uma direcionava a Harry. Parecia que aquilo não era mais um triângulo amoroso… já que Uma se meteu onde não devia. Depois de levar bomba na prova de História do Mundo c***l, Jay se abaixou para se esconder de uma garota que havia acenado para ele de forma provocante. Atrasado para a aula de Enriquecimento, ele se esgueirou pelas sombras até achar abrigo atrás de uma estátua na escadaria. Droga. Não que ele não tivesse gostado de dançar com ela na noite da festa. Ele tinha gostado, e roubar o coração de uma garota era praticamente um hobby para ele. Mas não era tão divertido quanto roubar outras coisas, pois corações vinham com muitas amarras. E certamente não pagavam tão bem assim. Além do mais, Jay gostava de sua liberdade. — Jayyyyyy — a voz dela ecoou pelo corredor. — Oh, Jayyyyy, acho que você tem algo que pertence a mim, e eu quero de volta. Estou muito, muito brava com você, seu garoto m*****o — disse ela, soando nem um pouco brava. Mas ele não sairia de seu cantinho atrás da estátua de Malévola versão dragão. A monstruosidade de pedra, encomendada pela própria, ocupava mais da metade do segundo e terceiro andares subterrâneos da escola e havia se tornado um dos esconderijos de confiança de Jay. Não demorou muito para que sua parceira de dança desistisse da busca. — Essa foi por pouco. — ele saiu de seu esconderijo e encontrou Carlos, que franziu a testa sem desviar a atenção de seu livro enquanto andava. — Por pouco como das outras vezes? — É… não. Não mesmo — Jay suspirou. Carlos virou a página, e os dois garotos se dirigiram à próxima aula.
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