Caça às bruxas

2123 Palavras
d***a, pensava m*l, Cruella voltou antes do esperado. Ben mantém os olhos fixos na porta que havia sido aberta, os cabelos bagunçados na cor preto e branco, trajava vestes maltrapilhas de pele falsa. — Vem! — m*l ordenou, puxando-o para o depósito do Salão do Inferno. — Não podemos deixar de ajudar o pessoal lá fora — soltou Ben. — Carlos está muito encrencado e... — antes do príncipe terminar o que ia dizer, m*l o prensou na parede colocando uma adaga encostada no pescoço dele. Qualquer movimento brusco poderia custar a sua vida. — Se Cruella perceber que você é de Auradon, considere uma guerra entre os dois lados. — m*l dizia firme, encarando os olhos do rapaz. Benjamin engoliu em seco. — E não é isso que você quer? — ele disse sem desviar o seu olhar dos olhos cor esmeralda da garota. Os olhos de m*l pareciam ter mudado de um verde claro para um verde escuro. Parecia magia. — Pelo menos não agora — ela se afastou de Ben, afastou a sua adaga do pescoço do garoto e a guardou no bolso da jaqueta. Benjamin olhou para o lado oposto da porta e se deparou com uma completa escuridão. Mal agradeceu em pensamento por Benjamin ter se esquecido do sonho. Pelo menos por agora. Não que isso importasse, mas agora ela estava presa em um depósito, com ele. Além do mais, a escuridão do armário não a incomodava. Ela estava acostumada com os horrores da noite — desde coisas escuras escondidas com olhos amarelos brilhantes nas sombras até velas escorrendo sobre crânios, o brilho dos relâmpagos e a faísca dos trovões no céu. Ela não estava com nem um pingo de medo. Afinal, ela já esteve ali com Carlos. Eles haviam entrado ali acidentalmente quando trabalhavam em uma lição sobre árvores genealógicas malignas no 6° ano. Ela tinha ficado entediada e decidiu xeretar o Salão do Inferno. O depósito de Cruella não era para fracos. Mal jamais esqueceria aquele dia. Era o tipo de depósito que assustaria qualquer um. Ela se lembrava muito bem das armadilhas de caça espalhadas por todo o chão, Carlos ainda tinha duas cicatrizes brancas na panturrilha. — O que é este lugar? — perguntou Ben desviando o olhar do fundo escuro para a garota. — Um depósito — m*l disse, encarando o ponto escuro em que o príncipe olhava antes. Ele não estava com medo do depósito. Exceto… Exceto… que seu pé havia atingido alguma coisa dura e fria… e o silêncio do lugar tinha sido quebrado por um estalo alto de aço batendo em aço. Ele gritou "o que foi isso?!". m*l n******e deixar de segurar o seu riso diante daquela situação. Quando os olhos de Ben finalmente se ajustaram à luz opaca, ele viu armadilhas de caça espalhadas por todo o chão, esperando sua próxima vítima. Havia tantas que um passo em falso poderia partir sua perna em duas. Do lado de fora da porta podia ouvir gritos e pessoas correndo, as velas começaram a tremular com o vento, até que se apagaram com o grito histérico da vilã dos 101 dálmatas. O depósito por fim ficou totalmente escuro. Com o intuito de fugir das armadilhas ele se voltou para a porta. Dessa vez foi ele que prensou o corpo da filha da Malévola contra a madeira da porta. Os rostos de ambos estavam tão próximos a ponto de sentirem a respiração do outro. — Desculpe — ele sussurrou. Era difícil enxergar alguma coisa. Se o depósito estivesse claro, Benjamin poderia ver as bochechas coradas de m*l, isso definitivamente era muita aproximação para a de cabelo púrpura. Ele deu um passo para trás, pisando devagar. Quantas armadilhas havia? Dez? Vinte? Cem? E qual era o tamanho desse depósito, afinal? Seu pé encostou em alguma coisa fria e pesada, e ele se retraiu. Como eles sairiam daquele lugar sem perder uma parte do corpo? Será que havia outra porta do outro lado? Ele apertou os olhos tentando enxergar, mas de nada adiantou. O garoto puritano não era acostumado com o escuro. — Há uma porta aqui do outro lado. — gritou m*l. O príncipe ficou um pouco confuso, como a garota chegou do outro lado assim tão rápido? Ele se moveu lentamente para a outra porta, o assoalho rangendo perigosamente sob seus pés. Ben foi para a direita, tentando escapar de uma armadilha, contornando-a, mas seu pé atingiu mais uma, e ela pulou para trás bem na hora que o mecanismo foi acionado e se fechou com uma batida forte, voando pelo ar e quase raspando em seu joelho. Seu coração disparou, e ele se desviou de mais uma armadilha, tomando cuidado para não encostar no metal, temendo que fosse pegar seu tornozelo. Enquanto ele se mantivesse fora do alcance das armadilhas, ficaria bem. Ele podia fazer isso… tudo que precisava fazer era se mover devagar, com cuidado. Ele desviou de mais uma armadilha, já estava ficando bom nisso. Encontraria o caminho até o outro lado do depósito, e talvez até a outra porta. Ele passou por mais uma, e outra, indo mais rápido, colocando um pé na frente do outro, procurando e evitando as armadilhas. Mais rápido. Um pouco mais rápido. A porta devia estar fechada, e então… Ele encostou em uma armadilha, que se acionou de repente. Ben deu um pulo e, quando a armadilha caiu no chão, acertou uma outra, que atingiu a que estava a seu lado, em um terrível efeito dominó — e, desta vez, o garoto percebeu que não deveria ir devagar, mas, sim, correr. O coro de metal estalando se espalhou na escuridão, lâminas de aço contra lâminas de aço, enquanto ele corria para a porta do fundo. As armadilhas continuavam, Bam! Bam! Bam!, uma atrás da outra, quase encostando em sua calça, e uma delas chegou a tocar quase em seu calcanhar, quando ele finalmente conseguiu girar a maçaneta, sair do depósito e fechar a porta atrás de si. Mas, quando ele achou que estava a salvo, percebeu que havia se deparado com uma presença obscura e peluda. Seria um urso? Um terrível monstro faminto? Será que ele tinha saído da frigideira e ido direto para o fogo? Ben se debateu, mas só conseguiu se afundar ainda mais em pele densa, grossa, fedida — com dois braços? Não era um urso, nem um monstro. Ele estava preso em um casaco de pele! Ben tentou se desvencilhar e tirar aquilo de cima de seus ombros, mas ela estava no meio de dezenas de casacos, brancos ou pretos, ou brancos e pretos, feitos de peles mais densas e luxuosas. Peles de onça-preta, marta, zibelina e cangambá, embalados como sardinhas, peludas e volumosas. Esse era o closet de peles de Cruela de Vil, sua majestosa coleção, sua obsessão — e sua maior fraqueza. E as armadilhas que enfrentara antes formavam o sistema de segurança, para o caso de alguém tentar roubar algum casaco. Ben finalmente conseguiu se desvencilhar e empurrar a parede de peles, e nesse momento uma mão agarrou seu punho, puxando-a para o lado. — Você está bem? — era m*l. Ben respirou fundo e concordou com a cabeça. — Onde estamos? — ele olhou ao redor. Havia um colchão velho no assoalho, ao lado de uma tábua de passar e uma pia, que ficavam perto de um balcão com dezenas de perucas. — É o quarto do Carlos. — m*l disse fechando a porta dos casacos de pele. — E agora? — Benjamin perguntou. — Devemos esperar. — disse m*l, jogando-se no colchão do amigo. — E se Cruella vim até aqui? — ele disse se sentando ao lado de m*l, ela empurrou para afastá-lo. — Cruela não vem aqui, a menos que seja para ver se Carlos fez o que ela ordenou. — disse a filha da Malévola, passando as mãos pelo seu cabelo púrpura. — Entendi. — disse ele, olhando-a. — O que foi? — perguntou ela, desviando a atenção do teto para o rosto do rapaz. — Podemos confessar sobre o meu sonho? Por favor… — seus olhos brilhavam de certa maneira um pouco fofa? — Okay, diga como foi. — ela se sentou e cruzou as pernas, olhando-o. É claro que ela nunca iria contar sobre o seu sonho, não para ele e nem pra ninguém. — No meu sonho eu andava por uma vila estranha, cheia de pessoas miseráveis vestindo trapos. — E acha que se trata da Ilha dos Perdidos? — ela levantou a sobrancelha esquerda. — É que… este foi o mesmo cenário de quando eu cheguei. — ele abaixou a cabeça e coçou a nuca sem saber se falou algo errado. — Então… — ele decidiu pular a parte das frutas podres, porque isso de certa forma era verdade, mas nada disso importava. — Eu caí dentro de uma vala, mas alguém me ajudou. — Continue — ela ordenou, ainda com a sobrancelha esquerda levantada. Ela desejava saber mais sobre Ben, em seu sonho ela havia notado um brasão dourado bordado na camisa dele. — Eu vi uma linda garota — ele disse sorrindo que olhando-a nos olhos. — Seus cabelos eram da cor púrpura, ela era diferente de qualquer pessoa em Auradon… — ele disse sonhador, como se voltasse para o sonho da primeira vez que a viu, e ele se esqueceu totalmente que estava contando o seu sonho para a garota com a qual havia sonhado. Ambos se olharam. — Eu não sou essa garota… — ela disse desviando o olhar dele. — Eu disse obrigado e perguntei quem era ela… — m*l ouvia atentamente — Mas ela desapareceu antes de eu descobrir o seu nome. E você fez a mesma coisa quando me viu pela primeira vez aqui, sumiu antes de eu saber o seu nome. — ele disse meio decepcionado consigo mesmo, como se aquilo de certa forma fosse culpa dele. Eles se assustaram ao ouvir uma explosão. — O que foi isso? — ambos perguntaram em uníssono. — Vamos! — m*l se levantou puxando Ben até a janela. — O que vamos fazer? — ele perguntou. — Cair fora deste lugar! — ela disse abrindo a janela. Mas os dois se depararam com um raio de luz cruzando o telhado de madeira da casa da árvore em direção ao céu. Evie e Carlos saíram para a sacada da casa da árvore e viram m*l e Ben na janela do quarto do filho de Cruella. Os quatro observaram o céu, de onde a luz subia sem parar, passando pelas nuvens, subindo e subindo cada vez mais, até a barreira! A luz atravessou a barreira tão brilhante quanto quando havia perfurado o teto. O raio brilhou, e a terra tremeu com o ruído supersônico quase derrubando m*l, mas Ben a segurou. Por um segundo, eles puderam ver o céu noturno sem a barreira. Carlos e Evie voltaram para dentro, e o garoto pegou a caixa. Ela estava emitindo um som que nenhum dos dois jamais tinha ouvido. E em um instante, tinha algo na televisão, que havia ganhado vida. — Olhe! — exclamou Evie. A tela estava brilhando com tantas cenas diferentes que eles ficaram atordoados. Viram um cachorro falar (Carlos gritou de susto) e dois adolescentes que pareciam comandar um hospital de super-heróis. — Uau! Quantos programas de televisão! — disse Carlos. — Eu sabia! Eu sabia! Sabia que tinha de tudo quanto é tipo! Evie riu. Então, a tela piscou e apagou de novo, e a caixa nas mãos de Carlos parou de funcionar. — O que houve? — Não sei, mas acho que funcionou, né? Atravessou a barreira por um momento, certo? — perguntou ele, se aproximando da caixa com cuidado, tocando com um dos dedos. Estava queimando, e ele logo afastou a mão. — Acho que sim — disse Evie. — É a única explicação. Sem que os dois jovens vilões soubessem, longe dali, no coração da Fortaleza Proibida, escondida atrás de uma neblina cinzenta do outro lado da ilha, um longo cetro n***o com uma joia na ponta voltava à vida, com um brilho verde, cheio de poder. A a**a obscura mais poderosa de todas havia despertado por um momento. Ao lado do cetro escondido, a estátua de pedra de um corvo começou a vibrar e, quando o pássaro bateu as asas, a camada de pedra se quebrou, virando **. Foi aí que surgiu um pequeno demônio de olhos negros, um conhecido da feiticeira malvada, o único e poderoso Diablo, o primeiro e melhor amigo de Malévola. Diablo chacoalhou as penas e soltou um grito triunfante. O m*l podia voar novamente. O m*l voltará a viver.
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