Salão do Inferno

4375 Palavras
Carlos nunca fugia de uma missão, e se m*l queria uma festa de arromba, não havia alternativa a não ser preparar uma. Ele não tinha opção, ainda que cursasse Maldade Avançada. Sabia direitinho qual posição ocupava na hierarquia. Em primeiro lugar, uma festa não era uma festa se não tivesse convidados. Quer dizer, pessoas. Muitas pessoas. Corpos. Dançando. Conversando. Bebendo. Comendo. Curtindo. Ele tinha que começar a divulgar o evento. Já. Felizmente, não demorou muito para que todos os capangas com quem ele cruzava na escola, e a maioria com quem estes se encontravam, começassem a espalhar a novidade, pois Carlos não tinha feito um convite, e, sim, uma ameaça. Literalmente. Ele não media as palavras, e elas começaram a tomar proporções maiores conforme o dia avançava. Os rumores se espalharam como o vento salgado e tempestuoso que castigava as águas infestadas de crocodilos em torno da ilha. — Não falte, ou m*l vai atrás de você — disse ele para seu pequeno parceiro corcunda de laboratório, LeFou Filho, enquanto eles dissecavam um sapo que nunca se tornaria um príncipe na aula de Biologia Não Natural. — Não faltem, ou m*l vai atrás de vocês e vai bani-los das ruas da cidade — ele falou baixinho para o filho de Gaston enquanto eles se revezavam no gol na aula de Deseducação Física. — Não deixem de ir, ou m*l vai atrás de vocês, vai bani-los e ainda fazer com que sejam esquecidos para sempre, e a partir desse dia serão conhecidos apenas pelo nome de Horror! — disse ele quase histérico para um g***o de alunos apavorados do primeiro ano que estavam em uma reunião do Clube Antissocial, planejando o campeonato anual de Foulball. Eles ficaram pálidos ao ouvir as ameaças e prometeram comparecer, desesperados, embora estremecessem só de pensar. Até o fim do dia, Carlos havia conseguido dezenas de confirmações. Aquilo não era tão difícil assim, pensou ele guardando seus livros no armário depois de soltar o aluno do primeiro ano que estava trancado ali dentro. — E aí, cara — cumprimentou Carlos. — Valeu, eu estava mijando nas calças — gemeu o infeliz. — De nada — disse Carlos, coçando o nariz. — Ah, e tem uma festa. Na minha casa. À meia-noite. — Tô ligado, estarei lá! Não vou perder — disse o aluno, dando soquinhos no ar de contentamento. Carlos ficou impressionado. Era um alívio saber que alguém que passara o dia todo preso no armário tivesse ouvido falar da festa. Ele tinha um dom! Talvez planejar festas estivesse em seu sangue. Sua mãe certamente sabia se divertir, não é? Cruella sempre dizia o quanto ele era tedioso, pois tudo que gostava de fazer era mexer em coisas eletrônicas dia e noite. Para sua mãe, ele era uma perda de tempo, um inútil em tudo, exceto com seus afazeres. Então, talvez, se preparasse uma festa legal, ele poderia provar que Cruela estava errada. Não que ela estivesse por perto para conferir. Ela provavelmente ficaria furiosa se visse seu Salão do Inferno apinhado de adolescentes. Ainda assim, ele desejava que um dia Cruela o considerasse algo mais do que um e*****o que por acaso era filho dela. Ele pegou o caminho de casa, com a cabeça a mil. Evie iria ajudá-lo, mas resolveu ter o seu “descanso de beleza” para esta glamurosa na festa. A parte dos convidados estava resolvida, e tudo o que ele precisava fazer era organizar a casa para o bendito evento - e isso não deveria ser tão difícil, certo? Algumas horas depois, Carlos se arrependeu. — Por que que eu concordei com essa festa? — reclamou em alto e bom som. — Eu nem queria fazer uma festa. — ele agarrou um chumaço de seu cabelo espetado com cada mão, como se quisesse arrancá-los. Seu cabelo ondulado, desfiado para cima, era bem parecido com o de Cruella. — Você quis dizer hoje à noite? — uma voz ecoou do outro lado do salão deteriorado, de trás da estátua gigante e manchada de um grande cavaleiro. — Eu quis dizer nunca — bufou Carlos. Era verdade. Ele era um homem de ciência, não da sociedade. Nem mesmo da sociedade do m*l. Mas lá estava ele, decorando o Salão do Inferno, que certamente já havia visto dias melhores, muito antes de ele nascer. Ainda assim, a mansão vitoriana decrépita era uma das maiores da ilha, coberta de vinhas mais retorcidas do que a mente de Cruela, com portões de ferro mais bem esculpidos que os ataques histérico diários da vilã. O salão de festas principal agora estava revestido de papel crepom branco e preto desgastado, parcialmente coberto de balões pretos e brancos que Carlos tinha pegado de um saco velho dentro das caixas empoeiradas no porão. Aquelas caixas, com selo das Indústrias De Vil, eram tudo o que havia restado do império da moda da família - pequenos fragmentos de uma vida boa que desaparecera havia muito tempo. Sua mãe, é claro, ficaria furiosa se soubesse que Carlos tinha mexido em suas caixas novamente. “Meus tesouros roubados”, gritaria ela, “Meus bebês perdidos!”. Mas Carlos era pragmático e, além de tudo, um colecionador adepto da reciclagem. Porque sua mãe fora tão fascinada por filhotes de dálmata preto e branco, ele não fazia ideia (e ainda morria de medo daquelas coisas!), mas ela havia se equipado para ter 101 deles, então tinha bastante coisa estocada. Ao longo dos anos, ele recolhera do acervo itens como cestos vazios - cientistas precisam de espaço nas prateleiras —, coleiras abandonadas — o nylon é uma fibra bem resistente — e brinquedinhos barulhentos — a borracha é um material isolante útil —, que ficaram esquecidos em um canto quando os planos de sua mãe caíram por terra. Um cientista e inventor com inclinação para a maldade como Carlos não podia se dar ao luxo de escolher. Ele precisava de materiais para sua pesquisa. — Por que você concordou em fazer essa festa? Dã. Porque m*l mandou — disse Jace, balançando a cabeça e mexendo os dedos, com fitas adesivas penduradas em cada um deles, exagerando no teatro. — Quem sabe, na sua próxima invenção, você não cria alguma coisa que nos liberte do controle mental dela. — Até parece que você tem coragem de enfrentar a m*l, Jace — Allison apareceu como em um passe de mágica no canto escuro do salão. Mas Carlos sabia que era verdade, nem mesmo o Jay tinha coragem de enfrentar a filha da Malévola. Jace tentou pegar um pedaço de fita, mas só conseguiu grudar a si próprio em Allison. — É, ok. Ninguém é capaz de enfrentar a m*l — disse Jace. — Até parece. Jace (Jason) era filho de Jasper, um dos capangas leais de Cruela, um ladrão desajeitado que tentou roubar 101 filhotes de dálmatas para ela e falhou miseravelmente. Assim como seu pai, Jace se esforçava para parecer mais capaz e menos nervoso do que era de fato. Mas Carlos sabia a verdade. Jace, mais alto do que o próprio pai magricela, não tinha o mesmo problema, mas, como já mencionado, era incapaz de aprender a mexer direito no suporte de fitas adesivas. Allison era um mistério, ninguém sabia de quem ela era filha e nem se tinha algum parentesco com algum vilão, às vezes ela simplesmente desaparecia, ou aparecia em algum lugar como em um passe de mágica. Ela era amiga de m*l assim como ele, Jay e Evie. Mas Allison não se dava bem com a filha da Rainha Má, ciúmes talvez? As duas sempre brigavam para ter a pouca atenção que m*l se permitia a dar. Ainda assim, era bom ter alguém para ajudar com a festa, e foi Jace quem se encolheu todo antes de resmungar. — Se m*l não gostar, estamos fritos. — Fritos — repetiu Allison. Foi aí que despertou o perfeccionista dentro dele. Ele podia fazer melhor que isso! Precisava fazer. Então, subiu as escadas correndo, pegou os antigos candelabros de bronze de sua mãe e espalhou-os pelo salão. Com as luzes apagadas, as velas brilhavam e tremeluziam como se estivesse flutuando no ar. Depois vinha o balanço no lustre — item obrigatório em qualquer festa da ilha, ou pelo menos foi o que ouviu dizer. Ela pediu para Jace subir e amarrar as cordas na luminária. Harry pulou de um dos sofás coberto com lençol para testar, levantando uma nuvem de poeira que se espalhou por todo o ambiente. Carlos aprovou — parecia que uma camada de neve havia sido espalhada pelo salão. Ele pegou o telefone de disco e ligou para seu primo, Diego de Vil, que era o vocalista de uma banda local chamada Maçãs Podres. — Querem fazer um show hoje à noite? — Se queremos! Ouvir dizer que m*l vai dar uma festa irada! A banda chegou logo depois, montou a bateria perto da janela e começou a ensaiar. O som era alto e acelerado, e Diego, um rapaz esguio com moicano preto e branco, cantava desafinado. Era maravilhoso. A trilha sonora perfeita para a noite. Depois, Carlos descolou uma Polaroid velha no sótão e improvisou uma cabine, removendo o lençol de um sofá e pendurando o trapo em um varão, num dos cantos do ambiente. — Cabine de fotos! Você tira as fotos dos convidados e entrega para eles — avisou para Jace. Carlos admirou sua obra no salão. — Nem está tão detonado — disse ele. — Agora sim! — E vai ficar melhor ainda — disse uma voz pouco familiar. Carlos se virou e viu Jay entrando no salão, carregando quatro sacolas enormes com todo tipo de guloseimas de festa: queijo fedido e uvas murchas, ovos cozidos (muito apropriado), asas de frango (pecaminosamente picantes) e muito mais. Jay tirou do colete uma garrafa da melhor sidra apimentada da ilha e começou a despejar em uma enorme tigela de ponche trincada, em cima da mesa. — Espere! Pare! Não quero que as coisas saiam do controle — disse Carlos, pegando e tampando a garrafa. — Como conseguiu todos esses aperitivos? — Ah, mas é aí que você se engana - disse Jay com um sorriso malicioso. — É melhor que sua festa saia do controle, não a m*l. Jay afundou no sofá, apoiando as botas na mesa, perto dos comes e bebes. Jace abaixou a cabeça, concordando, e Carlos suspirou. O cara tinha razão. Mal andava até a sua “casa” quando foi parada por uma voz. — Você gostou do príncipe? — Lógico que não — m*l se virou encarando o escuro do beco. — Então por que vai dar uma festa para ficar com ele? — a voz dizia brincalhona. — Allison!! — a filha da Malévola gritou o nome já impaciente. — Relaxa, Jay me contou sobre o plano. E por isso eu vim aqui te ajudar. — ela encostou na parede encarando a de cabelo púrpura com um sorrisinho de canto. — Nem vem, Allison! — Evie disse chegando. — Vocês não vão começar a brigar de novo, né!? — m*l falou massageando a própria testa. — Claro que não, m*l. Diferente dessa aí! Eu sei me controlar — Allison caminhou até o lado esquerdo de m*l apoiando uma de suas mãos em seu ombro, fazendo Evie revirar os olhos. — Vamos então? — a de cabelo azul falou. — Onde? Que eu saiba a festa é só de noite! — disse m*l, confusa. — Sim. Mas vamos nos preparar — disse Evie como se fosse a coisa óbvia. — Isso também serve para você Allison. — m*l bufou. — O que eu disser para você não vai funcionar, né? — m*l sabia como a Evie era. Não adiantaria ela negar a se arrumar porque Evie sempre a forçaria. — Vamos então — Allison ditou empurrando m*l. O trio de garotas da tão famosa Ilha dos Perdidos foram até a casa de Evie. Quando o relógio bateu meia-noite, os convidados de m*l começaram a chegar em peso. Não havia carruagens de abóbora ou escravos roedores à vista em nenhum lugar. Nada foi transformado em nada, ou pelo menos nada que alguém considerasse um veículo interessante. O que havia era vários pedestres, usando todo tipo de calçado gasto. Talvez porque seus pés fossem maiores. O filho do Gaston chegou primeiro, como sempre. Ele nunca arrisca a se atrasar para não perder a mesa do bufê, cheia de comida para devorar antes que alguém tivesse a chance de experimentar. Quebrando o silêncio embaraçoso que se seguiu à entrada do filho do Gaston, com seu cumprimento exagerado e batendo a caneca de cerveja contrabandeada com a horda de piratas, que encheria facilmente um navio, atravessou a porta junto de Harry e do príncipe Benjamin. Carlos estava apoiado no papel de parede rasgado, vigiando o ponche batizado e observando a banda tocando uma música agitada. Ginny Gothel, de cabelos pretos, chegou com um barril gigante de maçãs estragadas, e logo uma brincadeira de morder a maçã podre começou a rolar na banheira. Tinha fila para balançar no lustre, e os demais convidados dançavam animados, embalados pela banda. No fim das contas, tudo indicava que a festa realmente seria um arraso. Mais de uma hora depois que o evento havia oficialmente começado, ouviu-se uma batida seca na porta. Não estava claro o que distinguia essa batida das outras, mas que era diferente, era. Carlos pulou do sofá como um soldado convocado de repente. Jay parou de dançar com umas garotas. Gil desviou sua atenção da mesa do bufê por alguns instantes. O pequeno Sammy Smee congelou no meio da dentada que começara a dar em uma maçã. Carlos controlou seus nervos e abriu a porta. — Vá embora! — gritou, usando a saudação tradicional da Ilha. Mal estava parada na entrada. Iluminada pela luz do salão, vestida de couro púrpura brilhante dos pés à cabeça. Ela parecia ter não uma aura, mas um foco de luz trêmula em torno de si, como o vocalista de uma banda em um show particularmente bem iluminado, com fumaça, neon e outros efeitos pirotécnicos brilhantes. Evie estava ao seu lado esquerdo com os cabelos soltos e uma tiara que brilhava com a luz da lua, ela tinha escolhido um vestido curto com laços, azul-marinho, e botas de salto alto combinando. E do lado direito da filha da Malévola estava Allison, ela não estava rara igual Evie, o seu estilo era quase igual ao da filha da Malévola, só que a garota misteriosa preferia o preto do que a cor púrpura. Carlos meio que esperava que elas começasse a cantar com a banda. Talvez ele devesse ficar empolgado por uma personalidade tão famosa como era a filha da senhora das trevas ter decidido vir à festa dele. Bem, à festa dela. O fato é que agora ninguém ousaria esfriar o evento, não depois que já tinha começado, especialmente considerando o tipo de festa que m*l tinha em mente. — E aí, Carlos — disse ela. — Estou atrasada? — De forma alguma — disse Carlos. — Entre. Ele estava morrendo de medo. Em algum lugar, lá no fundo, ele queria o colinho da mamãe. — Dose de sangue de sapo! — anunciou m*l, adentrando o salão como se fosse só mais uma convidada — Para todo mundo! E assim a festa recomeçou, tão rápido quanto havia sido interrompida. Foi como se todo o salão tivesse suspirado de alívio. m*l não é louca. Ela não vai banir a gente das ruas. Ela não vai chamar a gente de Horror. Pelo menos não ainda. Mal notou o alívio nos rostos, e não culpou os convidados. Eles estavam certos. O jeito como ela se sentia era motivo para celebrar. A multidão aplaudiu quando as doses de sangue de sapo foram oferecidos a todos, e m*l, em uma demonstração surpreendente de espírito esportivo, bebeu o líquido viscoso junto com todo mundo. Ela circulou pela festa, passou a mão na carteira do filho do Gaston, se abaixou por causa do um pirata entusiasmado no balanço do lustre, deu uma mordida no cachorro-quente de alguém e pegou um pouco de pipoca murcha. Ao voltar para o salão principal, deu de cara com Jay, esbaforido depois de vencer uma competição de dança. — Está se divertindo? — perguntou ele. Ela deu de ombros. — Cadê o principezinho? Jay soltou uma risada e apontou para um canto, Ben e Evie já estavam conversando, ótimo. — E o filho de Tremaine? — perguntou ela dirigindo o seu olhar para o salão. Logo viu Allison conversando com Harry perto de uma parede de lençol que cobria uma enorme estante de livros. — Tudo conforme os planos? — perguntou o filho de Jafar enquanto roubava um copo de bebida da mão de um convidado. — Quase — ela deu um sorriso astuto. — Cadê o Carlos? — perguntou m*l. Jay olhou em volta, assim como m*l, em busca do filho de Cruella. — Parece que ele sumiu… — falou o garoto de cabelos castanhos. — Então vá procurá-lo! — ordenou a filha da Senhora das Trevas, e assim fez o filho de Jafar. Mal odiava quando seus planos malignos não saíam como esperado. Aquela era a primeira etapa da Operação Descoberta de Ben ou Algo Pior; e tinha que funcionar. Olhando para a multidão, ela bufou. Fingir estar se divertindo em um tipo de evento que você abomina era a coisa mais cansativa do mundo. Mal estava de pleno acordo com a mãe nesse ponto. — O que você está fazendo? — perguntou Anthony, o neto de 16 anos da rainha de copas, um jovem alto e elegante de cabelos escuros bem penteados. Suas roupas eram tão maltrapilhas quanto as de qualquer um da ilha, mas de alguma forma parecia que ele só usava trajes sob medida. Seu casaco de couro escuro tinha um corte perfeito, e seu jeans tingido tinha o mesmo tom. Talvez fosse porque Anthony tivesse sangue azul - e provavelmente estaria morando em Auradon se não fosse pelo fato de sua avó ser uma vilã banida. Ele já havia tentado fazer com que o pessoal da ilha o chamasse de lorde, mas os filhos dos outros vilões apenas riram da cara dele. — Nada — disse m*l. Ele ficou a encarando por alguns segundos. Algo no rosto bonito de Anthony trouxe à tona na mente de m*l um outro garoto charmoso — o príncipe em seu sonho. Ele tinha dito que era seu amigo. Seus sorriso era gentil, e sua voz, doce. m*l se arrepiou ainda mais ao pensar que esse príncipe era Benjamin. — Está querendo alguma coisa? — m*l perguntou para Anthony, desencanada. — Sim. Dançar. — o rapaz estava cheio de expectativa. E ela, confusa. Peraí, comigo? Ninguém nunca havia pedido isso antes, mas, também, ela nunca tinha ido a uma festa. — Bem, com certeza não é com ele — disse Anthony, se referindo ao filho do Jafar que havia acabado de chegar. — Tudo certo — Jay falou — Carlos está preparando. — O quê? — perguntou Anthony curioso. — Nada. E o que você faz aqui? — ele olhou para m*l. — Eu estava chamando a m*l para dançar. — ele disse, como se chamar a filha da Malévola para dançar fosse a coisa mais natural do mundo. — Algum problema? — ele arqueou a sobrancelha direita. — Relaxa — Jay mostrava os dentes de fora a fora, sabendo o quanto m*l estava desconfortável. Ele estava achando graça. — Vocês dois podem ir se divertir. Anthony, escolha uma música lenta — disse ele ao sair. — Uma das garotas está esperando por mim. Mal fuzilou Jay com o olhar e sentiu suas bochechas queimando, o que era vergonhoso, pois ela não tinha medo de nada, muito menos de dançar com o ranhento do Anthony. Então por que estou corando?, pensou. — Eu não sou exatamente uma dançarina e não estou a fim de dançar. Muito menos com você — disse ela com o semblante bem sério. — Pode deixar que eu levo você — ele tentou novamente. A banda terminou uma música punk rock com um último toque de bateria. Anthony ainda estava olhando para ela. — Então por que mesmo você não quer dançar? Porque não tenho tempo para dançar, tenho que arquitetar planos malignos, m*l queria dizer. Para deixar minha mãe orgulhosa. Ela levantou o nariz. — Não preciso de um motivo. — Não. Mas isso não significa que não haja um. Ele a havia pegado de surpresa, pois estava certo. Anthony a pegou desprevenida. m*l tinha que admitir. Em vez disso, ela olhou para ele. Depois olhou de novo, por precaução. — Talvez eu só prefira ficar sozinha. — n******e ser — disse Anthony, puxando bolinhas do tecido desgastado de sua jaqueta. Sua voz era baixa e agradável de um jeito incomum, o que fez m*l pensar novamente no lindo príncipe do lago encantado. Anthony, porém, não era tão bonito quanto o garoto em seu sonho - não que ela tenha achado ele bonito, ok? Não que ela tivesse sequer pensado nele. Afinal, era Ben esse garoto. — Ninguém gosta de ficar sozinho — disse ele. — Eu gosto — insistiu ela. Era verdade. — Além do mais, todo mundo quer dançar com um lorde — disse ele, de forma presunçosa. — Não eu! — Algum problema aqui? — a voz atraiu a atenção de m*l e de Anthony. Quando m*l virou o rosto, deu de cara com o olhar de Ben. — Nenhum — disse Anthony ríspido, ele olhou para m*l que o olhou de volta. Cara! Esse garoto não desiste logo! Ela negou com a cabeça. — Eu já disse que não vou dançar com você! — Está bem, como quiser — disse Anthony se afastando de nariz empinado. Mal olhou para Ben que a encarava. — Algum problema? — ela perguntou já impaciente. — É… nenhum. — ele afirmou. — Então vá se divertir — falou a garota de cabelo púrpura. — Você vem comigo? — Ben perguntou, como se uma chama de esperança tivesse acendido em seu coração pela garota que o encantou com apenas um olhar. — Por que quer a minha companhia? Ele deu de ombros. — Podemos dançar. — Dançar não é comigo. Se quiser dançar, chame a Evie — ela ia saindo. — Ela não é você… — ele sussurrou. — O que disse!? — ela deu meia volta. — Nada — ele engoliu em seco. Mal suspirou fundo. Ela percebeu que se quisesse que seu plano realmente funcionasse teria ela mesma que o fazer. — Ok! — ela revirou os olhos — Eu danço com você. — Sério!? — ele perguntou todo animado. A garota de cabelo púrpura estranhou a alegria do rapaz. — Uma música. Apenas isso! — ela falou e ele sorriu. — Uma música — ele confirmou. Ele estendeu a mão para levá-la para a pista, mas ela recusou e andou em sua frente. Ele seguiu sorrindo. Com o tipo de sorriso que derretia corações e deixava as garotas caidinhas por ele. Quando Ben e m*l já estavam na pista, a banda iniciou uma música lenta e até meio românica o que não era o estilo da banda. Jay! — Não precisa dançar essa se não quiser… — Ben disse passando a mão na nuca meio sem graça. — Não. Eu disse que ia dançar, não disse? Ele confirmou com um sorriso de canto. — Vamos então? — ela perguntou sem saber muito o que tinha que fazer. Ele ouviu um pouco da conversa entre ela e Anthony, então ele percebeu um certo nervosismo vindo dela. Ela não sabia dançar ou… nunca havia dançado? Ele envolveu os braços dela em seu pescoço e delicadamente tocou a sua cintura. Ele a guiou a passos lentos conforme a música, foi quando uma ação do momento deixou ambos confusos. m*l encostou a cabeça em seu peitoral com os olhos fechados. Era como se a tranquilidade do som da água batendo sob seus pés voltasse. Aquele sonho que a tocou de uma maneira que ela nunca havia sentido. Apesar de ter um grande plano pela frente ela se permitiu relaxar por um instante no peitoral de Ben. Se Benjamin fechasse os olhos por um instante ele poderia voltar ao dia de sua festa de despedida, quando dançou com Audrey no meio daquele salão. Se lembrou de como queria, no lugar de Audrey junto dele, a garota do seu sonho… Espera! Ele se lembrou do seu sonho. Uma linda garota de cabelo púrpura, diferente de qualquer pessoa em Auradon… Mas… ela desapareceu antes de ele descobrir seu nome. Foi exatamente isso que aconteceu quando ele chegou na ilha. Conheceu uma garota extremamente linda, de cabelo púrpura, diferente de qualquer pessoa em Auradon. E ela desapareceu antes de ele descobrir seu nome. — Ben. Ben! Terra para garoto?! — m*l acenava a mão na frente do rosto dele. Ben voltou de seu devaneio e percebeu que a música já havia acabado e que ele não havia largado da cintura da filha da Malévola. — Está tudo bem? — ela perguntou já que ele encarava os seus olhos. — Você… — ele disse como um sussurro sem acreditar que havia realmente encontrado a garota do seu sonho. — Eu? — ela perguntou confusa. — Você é a garota do meu sonho! — ele disse e pela primeira vez o coração de ambos bateram forte juntos. Não pode ser, pensava m*l. Não foi somente ela que sonhou com aquele garoto Auradoniano de cabelos castanho-mel. Ele também sonhou com ela. Não tinha como ambos sonharem um com o outro. Se fosse de Auradon, até poderia ser algum feitiço, mas na Ilha? A Ilha é cercada por uma barreira mágica. Sem Magia. Sem Wi-fi. Sem Saída… — É… eu… não… — ela tentava arrumar alguma desculpa ou algo que fizesse ele achar que não era ela, mas um estrondo vindo de fora chamou a atenção de todas as pessoas presente no Salão do Inferno. Cruella Cruel Cruella Cruel É mais traiçoeira que uma cascavel Em suas veias só circula fel Cruella, Cruella Cruel Cruella, Cruella Cruel Cruella...
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