Em busca do cetro perdido

4957 Palavras
Aquela sensação que m*l teve, uma magia forte demais para a ilha com uma barreira protetora fez uma tempestade surgir, tão forte que provavelmente derrubaria qualquer barraco naquela ilha. O que mais assustou o mais novo "casal" foi o barulho inesperado do trovão. -Vamos olhar a caixa? - Ben sorriu olhando para m*l, recebendo como confirmação um sorriso da garota. Os dois se ajoelharam no chão ao lado da caixa. Foi m*l a abriu, tirando uns contos e lhe entregando o seu. Ela riu involuntariamente ao achar um em questão. -Esse era o meu favorito? - Disse entregando a Ben a história de seus pais, e foi aí que ele compreendeu o riso. -A Bela e a Fera. - Leu o título - Não conheço... É bom? Mal riu e deu um soquinho em seu ombro. -Bobo - Disse risonha, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, e voltou a vasculhar a caixa. - Esse era o favorito dele - disse mostrando a Ben. Branca de Neve e os Sete Anões. -Vamos ler? - Ben perguntou sorrindo ainda encarando o título do conto em suas mãos. Saudades de você, Ayla, pensou. Mal puxou a coberta de sofá e foi para o colo do Ben, fazendo o garoto se surpreender com tal ação. Ele se cobriu com aquela manta e envolveu a garota também. Pegou o conto da Bela e a Fera e começou a ler. Mal o admirava enquanto ele lia com tanta paixão, seus olhos faiscavam em amor. No fim das contas entre os contos e as trocas de sorriso eles adormeceram ali. Apesar de estarem no chão, encostados no sofá, m*l se sentia confortável demais ali entre os braços de Ben, e ambos dormiram sorrindo. Logo no amanhecer, m*l e Ben estavam vestidos apropriadamente para a missão, suas mochilas bem equipadas, eles já estavam nas ruas de paralelepípedo. Não havia uma alma ali há não ser eles, então m*l realizou o pedido de Ben de dar a mão para ele, nem se fosse por pouco tempo. O sol nascendo no horizonte dava a impressão de que aquele dia seria belo, mas sejamos realistas e convenhamos, aquela ainda era a Ilha dos Perdidos. Evie e Carlos dormiram na casa de Harry, evitavam voltar para casa, com medo do quarteto vilanesca ter tramado algo. A azulada e o De Villa ajudavam Harry com o seu novo look, agora ele estava parecendo oficialmente o filho do Gancho. Carlos passou a noite inquieto, não dormiu direito, algo o estava deixando preocupado, talvez devesse ser Jay o motivo, ele foi o único dos quatro a preferir dormir em casa. Evie dormiu abraçada a Harry, ainda estava com medo do que m*l ia fazer com ela, até esqueceu o porquê dela ter contado. Harry a fez dormir acariciando os seus cabelos após uma bela xícara de leite quente. Eles levantaram cedo e se vestiram apropriadamente para a missão, chegaram cedo no local marcado, mas não antes de Allison. Rolou uma troca de olhar vingativo entre Evie e ela. -Gostei do estilo, Harry - Falou não desviando o olhar da de vestes azuis. No horário marcado, m*l e Ben chegaram lado a lado, Allison não contou que os viu de mãos dadas vindo do horizonte, estava evidente o brilho de seus olhares trocados. Era amor, isso era fato. -Então, vamos? - m*l perguntou, num tom feliz. -m*l, será que- -Eu falo com você depois, Evie - A voz foi séria. Evie abaixou a cabeça, sentiu as mãos de Harry, envolver as suas. Logo sentiu Allison limpar a garganta propositalmente. -Vamos? - A voz de Allison soou áspera. -Você está com o radar? - Perguntou a garota de cabelos púrpura para Carlos. Ele assentiu. A caixa soltou um barulho, como se estivesse concordando. -Pera... - m*l olhou para os lados - Cadê o Jay?! - Todos se entreolharam, até que passa um ser de cabelos cumpridos correndo quase derrubando m*l e logo a puxando. -Ja- -O corvo está vigiando - Sussurrou, deixando m*l em pensamentos neuróticos, e voltou para o g***o disfarçando. -O mapa está comi- - Jay ia dizendo antes de m*l lhe dar um soco na boca do estômago. Aquilo era para disfarçar, mas doeu, não que ele não aguentasse a dor. De acordo com o mapa, eles teriam que andar pela vila até a faixa costeira, e de lá a rota os levaria para a fortaleza. Eles seguiram caminho, Carlos na frente de Jay, seguidos por Evie, Harry e Allison. m*l ia ao fim da fila, cuidando da retaguarda. Ela os observou andando à sua frente. Sabia que era possível Jay roubar o Olho de Dragão para si na primeira oportunidade, Evie ainda queria o seu perdão e logo pediria para alguém carregar sua mochila e que Carlos não queria estar ali, sabia o quão Allison era fiel, e que o príncipe de Auradon não era única ameaça, pelo menos não para ela. E ela estava pensando sobre o que Jay lhe contou ser uma farsa. Mas não importava. De alguma forma eles tenham um objetivo em comum: encontrar o Olho de Dragão. E o melhor, ela não precisava ir para Lugar Nenhum sozinha. Mal tinha sua g****e de ladrões. Seus próprios capangas. E aquilo sim era progresso. Seu plano maligno - grandioso e indecente - estava funcionando. O caminho próximo ao litoral era plano e aberto no início, porém foi se tornando cada vez mais pedregoso. m*l estava cansada. Seus pés doíam dentro das botas, mas ela sumiu a dianteira da fila, impiedosa, seguindo a direção do mapa. Logo atrás, dava para ouvir os passos leves de Evie, Harry ao seu lado carregando a sua mochila, Carlos em concentração na sua máquina - ele estava querendo parar e aquele não era o momento -, e atrás dele estava Allison, Jay com passos pesados e os vacilantes passos de Benjamin. -Eu vou, eu vou, pro trabalho agora eu vou - Cantava Ben baixinho. Evie estremeceu. -Não! - Gritou olhando para o monarca. -O que você tem contra... Ah! É... - Disse ele. - Desculpe. -Tudo bem. -Então aquela era sua mãe, hein? - Carlos se direcionou a Harry, tentando passar o tempo. -É, a primeira e única Lady Tremaine - Respondeu Harry, desviando de uma hera venenosa. -Ela não é tão r**m assim - Disse Evie, abaixando-se para não trombar com um galho ameaçador. - Pelo menos ela não faz como a minha mãe, que finge ser o Espelho Mágico e diz que estou longe de ser a mais bela de todas. Carlos parou de repente, fazendo Allison trombar nele, Ben e Jay se entreolharam, chocados. Até m*l tinha virado para olhar para ela. Harry não conseguiu compreender a atitude daquela mãe com a sua própria filha. -Sério? Mas você é linda - Disse Jay, olhando-a. - Quer dizer, não faz meu tipo, mas você tem que saber que é bonita. -Você acha mesmo? - perguntou ela. -Não, sua mãe está certa. Você é um tribufu - Brincou Jay, rindo. Recebendo como desaprovação um t**a na nuca de Ben. - Ei! - reclamou, fitando o monarca. -É h******l ela fazer isso - disse Allison baixinho. -Enfim... - Disse Evie. - Não importa. -Tem certeza disso? - Perguntou m*l, vacilando com a pergunta. -Quer dizer, não é muito diferente da sua mãe, certo? - A garota tinha razão. Eles eram os filhos dos vilões mais malvados do mundo. O que esperavam? Amor? Alegria? Compaixão? -Acho que não... - Carlos comentou baixinho, lembrando-se de quando sua mãe tentou tirar as suas sardas com palha de aço, seu rosto ficou em carne viva durante semanas. Se não fosse pela ajuda de Evie, provavelmente nem rosto teria mais. -E seu pai, Jay? Não se importa apenas com a loja? Jay parou para pensar. -Sim, claro. Mas com o que mais ele deveria se importar? - Perguntou ele com franqueza. Mal ouvia a conversa, achando estranhamente reconfortante ter outras pessoas por perto, só para variar. Ela nunca gostou de companhia. Mas, também, Malévola sempre insistiu para que elas vivessem fora do bando: superiores, sozinhas e sedentas por vingança. Solitária, pensou m*l. Ela era sozinha. Eles também... Evie, com sua mãe obcecada por beleza. Carlos, com aquela taquara rachada mandona. Jay, o ladrão despreocupado e esperto com um sorriso cativante, que podia roubar qualquer coisa no mundo, menos o coração de seu pai. Benjamin, o herdeiro puritano, que ao invés de estar salvo em Auradon, preferiu se arriscar ao caos da Ilha. Allison, o mistério em pessoa, mas por algum motivo ela se conectava de um jeito diferente em m*l, de um jeito que nem mesmo Evie seria capaz. A neblina cinzenta que circundava o litoral estava cada vez mais próxima. Logo eles teriam que andar pela Bruna e entrar em Lugar Nenhum. Quando fizessem isso, será que se tornariam ninguém? m*l se perguntou. Ela estalou os dedos de ambas as mãos. Seus joelhos começavam a doer. Mal optou por não ter uma parada de descanso, se o Corvo tivesse mesmo perseguindo-os, era melhor manterem quietos e distraídos. Eles marcharam em silêncio por um tempo, até que um assovio agudo cortou o ar. Era Jay, que agora ia à frente. Evie pisou em alguns galhos enquanto andava, provocando um ruído tão alto que deixou Carlos amedrontado. Os passos de Allison eram silenciosos como os de m*l, elas estavam acostumadas a andar nas sombras, como Jay. Ben já sentia estar em seu limite, não estava acostumado a andar tanto, mas mesmo assim tinha atitude suficiente por seguir sem reclamar. Mal assobiou de volta. Jay correu para onde os outros três estavam reunidos. -O que foi? - Resmungou m*l. -Eu vi alguma coisa... nas sombras. Escondam-se! - Ordenou ele, desaparecendo atrás de uma pedra. Desesperado, Carlos subiu em uma árvore. Evie deu um gritinho e se escondeu atrás de alguns arbustos. Allison simplesmente desapareceu. Harry puxou Ben sem prévio aviso. Mal, entretanto, simplesmente congelou. Por alguma razão ela não conseguia se mexer. Primeiro ficou irritada com o fato de a filha de Malévola ter que se esconder de qualquer coisa, mas quando a sombra cresceu, aproximando-se, ela temeu não ter tomado a decisão certa. A sombra tinha um par de chifres enormes e um r**o pontudo. Seria um dragão? Mas sua mãe era o único dragão por aquelas partes, e tinha perdido a habilidade de se transformar em um, já que havia a barreira mágica. Eles escutaram um gemido, um lamento aterrorizante como nunca tinham ouvido. Era um cão do inferno, sem dúvida. Uma criatura mítica e lendária, com dentes e garras afiadas. A criatura então emitiu um som que só poderia ser definido como um adorável ronronar. -Belzebu! - gritou Carlos, da árvore. O tal monstro emergiu das sombras, e uma pequena gata preta com um sorriso malicioso apareceu. A sombra havia distorcido suas orelhas (pareciam chifres) e seu r**o (dava a impressão de que tinha uma ponta de seta). Mas era só uma gatinha. -Você conhece essa criatura i****a? - Perguntou m*l com desdém, para esconder a vergonha de ter se assustado. Seu coração ainda estava acelerado. Todos apareceram de onde haviam se escondidos. -É a gata do meu primo - Disse Carlos. - É da cria do Lúcifer. Ela é a sua companheira do m*l. -Ah, legal - Falou Ben pegando a gata no colo. -Irado! Não creio que ele ficou com um dos bebês do Lúcifer. - Comentou Harry. Ben deixou a gata se esfregar em sua bochecha. -Vamos lá, Bel. Vá para casa, pare de seguir a gente. Diego deve estar preocupado. Ben a colocou de volta ao chão e Carlos com um galho começou a cutucar a gata para ir embora, ela nem ligou para a fina madeira a empurrando. Finalmente eles se depararam com a neblina cinzenta que circundava a ilha e marcava a fronteira de Lugar Nenhum. A névoa era tão densa que tornava impossível enxergar além. Era preciso coragem para ver o que estava do outro lado. Por toda a vida, os quatro tinham ouvido que deviam manter distância da névoa e ficar longe daquela fronteira cinzenta. -Quem vai primeiro? - Perguntou Jay. -Eu não - Disse Evie. -Nem eu - Disse Carlos. Ben fitava o lugar, tentando entender onde estava. Um lugar desconhecido, de acordo com o que Allison havia lhe contado. Estavam em direção a Lugar Nenhum. Harry se manteve quieto, estava pensativo, seu olhar às vezes se direcionava à Evie, outras vezes à Allison. -Dã - Bufou m*l. - Como se um de vocês fosse. -m*l? - Emendou Jay. - Você primeiro. A garota mordeu os lábios. Afinal, a busca era dela. -Tá bom. Eu vou, seus covardes. Endireitou os ombros, ergueu a cabeça e entrou na névoa. Ben ia segui-la, mas Jay o segurou pelo braço e negou com a cabeça. O príncipe o encarou e logo fitou a névoa, onde a garota havia entrado. Era como andar no meio de uma chuva fria, e ela se arrepiou. Lembrou-se de que não havia magia na ilha e que nada poderia machucá-la. Ainda assim, a escuridão era impenetrável, e por um momento m*l quis gritar. E então ela chegou ao outro lado. Ainda inteira. Não desintegrada. Não nada. Ela respirou aliviada. -Tá tudo bem - chamou. - Venham pra cá! -Se ela está dizendo - Disse Jay. Ben o seguiu e depois Evie, Carlos, Allison e por fim Harry. Finalmente os descendentes estavam do outro lado da neblina, parados adiante de Lugar Nenhum. -Uau - Disse Benjamin. Eles olharam para baixo. Estavam literalmente à beira do penhasco. Mais um passo e teriam caído do pedaço de terra rochosa que era a Ilha dos Perdidos, despencado no mar abaixo e virado comida de crocodilo. -Grande Lúcifer, o que diabos temos que fazer agora? - Perguntou m*l. -Não sei, mas essa coisa não cala a boca - Disse Carlos. Era verdade. A caixa soltava um barulho alto agora, e quanto mais perto ele chegava da praia enevoada e pedregosa, mais rápido ela apitava. - Está ali. Tem que estar - Continuou, aprontando para o mar. -Bem, eu não trouxe meu traje de banho e não quero ser devorado por répteis, então é com vocês, galera - Disse Jay, se afastando da água. -n******e estar dentro da água - Disse m*l, tirando o mapa de seu bolso. Ela suspirou. - Pessoal. Venham aqui. - Eles se juntaram em volta de m*l. - Olhem! Tem mais! Mais tinta havia aparecido, e dessa vez eles viram que a fortaleza não estava tecnicamente na Ilha dos Perdidos, mas sim localizada em uma ilha própria, ou melhor, em um pedaço de rocha flutuante, chamada Ilha dos Condenados. -Ok, isso é empolgante - Disse Ben. -E como vamos chegar lá? - Perguntou Evie e logo encarou Harry. -Que foi? - Ele ficou confuso. -Você é filho do Gancho, dá um jeito ou sei lá. Mal observou o mapa ignorando o fato do parentesco de Harry, apontou para um lugar no mapa chamado PONTO DOS DUENDES. Jay cruzou os braços fitando m*l, como ela roubou o seu mapa tão facilmente a ponto dele nem perceber? -Vamos pegar uma carona com um de nossos amigáveis vizinhos duendes para nós levar até lá, é claro - Disse m*l, passando pelo g***o e descendo à praia cheia de lama em direção às docas onde os duendes descarregavam os barcos vindo de Auradon. -Duendes amigáveis não existem - Suspirou Carlos, que, assim como o resto deles, seguiu atrás de m*l. Eles chegaram rapidamente ao porto movimentado. Principalmente porque os crocodilos tentaram morder seus pés na água rasa da praia, e eles começaram a gritar e correr em direção às docas. O porto estava em plena atividade. Duendes passavam pelos sete jovens, descarregando o que vinha dos grandes navios de Auradon que podiam entrar e sair da barreira mágica. Eles colocavam os produtos apodrecidos sobre o deck de madeira e pulavam para dentro e para fora de seus barcos improvisados. Gritavam e vociferavam em sua língua de duendes, atirando sacos de migalhas e restos - roupas, comida, cosméticos, eletrônicos, tudo que o povo de Auradon não queria ou não usava mais - em carroças mambembes para vender no mercado. Ben engoliu em seco ao ver a situação que o povo da Ilha vivia. -Vamos ter que pagar as passagens - Disse m*l. - Eles não vão levar a gente de graça. -Eu p**o - Ben tirou suas moedas de ouro dos bolsos. Jay pegou as moedas da mão do monarca e se encarregou disso, pois falava um pouco da língua dos duendes por causa de seu trabalho na loja. Logo depois, asseguraram seus lugares em um barco de tralhas. Ou seja, um barco que pegava tudo e qualquer coisa que saía do lixo de Auradon. Era o maior coletor de lixo entre todas as embarcações. Eles descobriram do pior jeito que o barco de um duende não era feito para levar os adolescentes. A caixa de madeira flutuante rangia e gemia conforme m*l e os outros subiam a bordo. -Se eu morrer - Disse Jay, sombrio. -, ainda assim, não podem ficar com as minhas coisas. -Vamos ficar bem - Disse Evie. Mas ela parecia dizer mais para si mesma do que para os outros. O duende soltou um relincho e deu partida no motor velho e enferrujado, e lá foram eles pela névoa densa. Era estranho ver a Ilha dos Perdidos da água. Parecia quase... bonita, pensou m*l. A floresta era vasta e verde nas bordas da ilha, e a praia rochosa se desenrolava de forma dramática pelo cobertor de água azul-marinho. À distância ela pôde ver o Castelo da Barganha. De longe, parecia brilhar com a luz do sol, que ia se pondo. -É estranho como as coisas parecem diferentes de longe, não é? - Disse Evie, seguindo o olhar de m*l pela Ilha dos Perdidos. -É, com certeza, sei lá - Disse m*l, virando as costas para a garota. Uma sensação estranha surgia em seu âmago de novo, e ela não gostava disso. Nem um pouco. Mal só percebeu que eles haviam chegado à Ilha dos Condenados porque o motor parou. Eles ainda não conseguiram enxergar um palmo à frente. m*l tateou para encontrar o caminho para fora do barco em direção à praia rochosa, seguida pelo resto do g***o. O duende foi embora rapidinho. A névoa ficava mais suave conforme eles passavam pelas árvores. Logo estavam diante de um portão coberto por uma floresta de espinhos ameaçadores. Atrás dele, no alto de uma montanha íngreme, ficava um grande castelo n***o, uma ruína proibida cuja silhueta despontava no céu. Os espinhos em volta do portão eram grossos e retorcidos, tão afiados que poderiam apunhalar ou arranhar qualquer um que ousasse chegar mais perto. Pior ainda, eles eram repletos de aranhas venenosas e mortais, e o local tinha uma atmosfera tóxica e sinistra. Eles ficaram ali, paralisados, imóveis, sem saber o que fazer a seguir, enquanto a caixa preta nas mãos de Carlos apitava incessantemente. Se ela estava mesmo se comunicando com o Olho de Dragão, era óbvio que o cetro se encontrava em algum lugar além do portão de espinhos. Mal contorceu seu rosto, frustrada. Foi Jay quem quebrou o silêncio. Ele deu para m*l, Allison e Ben adagas de prata, e spray contra insetos para Carlos e Evie. Ele próprio e Harry empunhavam cada qual um facão de cabo vermelho. -Você carrega tudo isso nos bolsos? - Perguntou Ben. -Quem não carrega? - Disse Jay com um sorriso. - Quando você rouba coisas de todo lugar, sempre chega preparado. Mal precisava admitir que as bugigangas de Jay tinham vindo a calhar ali. Os rapazes abriam caminho com seus facões, e os outros o seguiram de perto. m*l cortou um galho de espinhos com sua adaga de prata, e ele murchou e encolheu com o toque. Allison fazia o mesmo do outro lado, Ben no centro enquanto Carlos espirrava o líquido em uma tarântula cabeluda, fazendo-a se irritar e fugir pelo galho onde estava. Ele se sentiu um pouco ingênuo quando se lembrou de que aranhas não eram insetos, e uma daquele tamanho não morreria por um inseticida, mas agradeceu ao fato de que ninguém pareceu ter notado sua gafe. Evie mais se afastava do que ajudava Carlos, e por isso nem percebeu nada. Ia ser difícil, mas eles já estavam acostumados. O g***o começou a desbravar a floresta obscura em direção ao castelo no alto. A cada momento aquela aventura provava ser um pouco mais aventureira do que Carlos tinha imaginado. Isso podia ser um problema para um homem da ciência, que não gostava de correr pelas sepulturas e passava máximo de tempo possível enfurnado no laboratório. É verdade que o filho de Cruela de Vil tinha enfrentado um leve enjoo durante a viagem para a Ilha dos Condenados, mas ele havia conseguido driblar o m*l-estar e o eventual vexame. Visto dessa maneira, ele já provara ser mais aventureiro do que qualquer pessoa que o conhecesse pudesse esperar. Pelo menos foi o que Carlos disse a si mesmo. Depois ele se convenceu de que havia provado ser melhor do que ninguém em Ciência Maluca. E até riu alto ao imaginar seu inimigo de classe naquela mesma situação, obrigando Jay a lhe dar um empurrão para seguir jornada e questionar se ele não estava levando esse lance de cientista maluco mais a sério do que deveria. - Eu não sou maluco! - Carlos dissera a seus colegas de expedição. Ainda assim, segurar-se para não cair nos mar agitado exigira bastante de sua cota de determinação desgastada, e quando os jovens, já em terra firme, conseguiriam abrir caminho pela floresta de espinhos - sem sofrer muito, exceto por alguns arranhões e coceira nos cotovelos -, o rapaz sentiu-se aliviado e satisfeito ao vislumbrar uma trilha cheia de pedras para o castelo sombrio no morro diante deles. Poeira e pedras nunca pareceram tão boas. Até que começou a chover, e a poeira virou lama, e as pedras se tornaram escorregadias. Pelo menos não era o mar, Carlos se consolou. E as chances de uma pessoa se afogar na lama ou em pedras eram incrivelmente baixas. Além disso, sua invenção estava agora apitando em intervalos regulares, com seu sensor brilhando mais forte e mais rápido a cada passo que davam em direção à fortaleza. - O Olho de Dragão definitivamente está ali - Disse Carlos empolgado, vivenciando o mesmo entusiasmo de um cientista envolvido em um experimento inovador. - Se essa coisa está mesmo certa, estou captando uma grande onda de energia. Se há um buraco na barreira, está deixando a magia vazar aqui de alguma forma, diferente da Ilha dos Perdidos. - Talvez o buraco esteja bem em cima deste lugar - Disse Allison. - É, eu também consigo sentir - Concordou m*l, marchando à frente do g***o na trilha. - Vocês também sentem? - Ela parou para observá-los, protegendo os olhos da chuva com a mão. Carlos a encarou, surpreso. - Sentindo o quê? Isso? - Ele levantou sua caixa, que apitou bem na frente dela. m*l pulou para trás, surpresa, quase derrubando Evie, e Jay riu, se divertindo com a situação. - Pois é - Disse Carlos. - Entenderam o que posso dizer? A energia está pulsando. Mal sentiu-se acanhada. - Não tenho certeza. Posso estar apenas imaginando, mas é como se um ímã estivesse me puxando por esse caminho. - Isso é tão perturbador - Disse Evie, parando para limpar o suor da testa, misturado com a chuva, usando a ponta de sua capa. - É como se fosse o destino literalmente chamando. - Bem - Disse Carlos -, não. Não exatamente. Se estivesse chamando literalmente, estaria, sabe, chamando por ela. Jay riu. Evie fulminou o rapaz com o olhar. - Está bem. Literalmente puxando como um ímã, só que não exatamente, porque é, você sabe, o destino. Está feliz agora? - Literalmente? - Carlos levantou uma das sobrancelhas. Jay riu novamente, o que fez Carlos se sentir bem, embora não soubesse explicar direito o porquê, nem para si próprio. - Vocês não estão sentindo? - m*l estava nervosa. Ninguém disse nada, e ela bufou, retomando o caminho pela trilha lamacenta. Eles tinham acabado de entrar numa curva quando m*l tropeçou e caiu, derrubando algumas pedras pela trilha. - Aaaaaah! - Gritou m*l, se debatendo. As pedras escuras estavam tão escorregadias por causa da chuva que ela não conseguia se colocar de pé, derrapando de novo. Ben segurou m*l antes que ela caísse de cabeça no chão de pedras. O casal desabou em cima de Harry, que quase despencou sobre Carlos, que por pouco não derrubou sua máquina em Allison, Evie se agarrou a Jay para não cair. - Peguei você - Disse Ben risonho, ajudando m*l a se equilibrar. - Sim, e eu peguei vocês - Disse Harry rindo. - O que é ótimo pra todo mundo, menos pra mim - Disse Carlos, com um braço tentando segurar sua máquina e o outro segurando Allison. - A escora humana. - Estou definitivamente com os sapatos errados para isso - Disse Evie, se separando de Jay, estremecendo só de olhar para os próprios pés. - Precisamos de nadadeiras, não de sapatos. A chuva transformou a trilha um rio de lama. É melhor darmos as mãos - Sugeriu Jay. - Vamos trabalhar melhor se estivermos juntos. - Você realmente disse isso? - m*l balançou a cabeça, enjoada. - Que tal se a gente cantar para animar o ambiente, tirar flores da lama e colocar no cabelo e se mudar para Auradon para completar? - Qual é, m*l! - Ben tentou não sorrir. Carlos sabia que a garota, entre todos eles, tinha mais dificuldade para lidar com qualquer coisa menos maligna que o padrão determinado por Malévola. - Tem uma ideia melhor? - Jay estava envergonhado. - Se queria segurar minha mão, era só pedir - Brincou Evie, estendo a mão para Jay e mexendo os dedos. - Olha só - Jay deu uma piscadela. - Quem diria... Evie soltou uma gargalhada. - Não se preocupe, Jay, até que você é bonitinho. Mas ladrões não fazem meu estilo. - Eu não estava preocupado - Disse Jay, calmo, segurando a mão dela com firmeza. - Só não quero tomar um banho de lama hoje. - Do ponto de vista da física, faz sentido. Se estiver falando da segunda e terceira leis de Newton - Acrescentou Carlos, tentando soar tranquilo e natural. - Sabe, ação e reação e tudo mais. - Falou e disse, seja lá o que isso signifique - Assentiu Ben, com a mão na própria cabeça sentindo uma dor insuportável. Quanto mais Carlos falava sobre o seu QI, mais o incomodava. Jay alcançou a mão sobre o ombro de Ben tão de repente que o assustou. - Relaxa e fique esperto - Jay alertou. Ben segurou a mão de m*l com tanta força que a mesma se incomodou um pouco com o ato. Carlos o observou, se perguntando se Jay e Evie estavam flertando, e se era por isso que m*l estava brava. Não. Jay e m*l brigavam como irmãos. E Jay e Evie só estavam tentando esconder o fato de que estavam com medo. Jay tinha dito a ele mais cedo que até achava Evie bonita, mas que pensava nela assim como encarava m*l, o que significava que não pensava mesmo nela. Carlos imaginou que, se as garotas fossem suas irmãs, m*l seria a irmã irritadiça e ranzinza, e Evie será a linda e manipuladora. E, se Jay fosse seu irmão, seria do tipo que passa o tempo todo rindo da sua cara batendo em você, isso quando não estivesse ocupado roubando suas coisas. Quanto mais Carlos pensava naquilo, menos entendia o porquê de estar criando essas teorias, já que Evie parecia amar Harry e Ben estar atraído por m*l. Ele só havia chegado à conclusão de que não era tão r**m ser filho único, afinal. Harry segurou na mão de Evie, e Allison na mão do "pirata". Carlos segurou na mão de Allison, ficou por último pelo simples motivo de estar carregando a caixa. De algum jeito estranho, aos poucos, eles se puxaram e empurraram e se ajudaram a patinar pelo caminho cheio de lama com suas palmas suadas, tornozelos imundos e pés congelados. Não demorou muito para fazerem outra curva, e agora a pesada nuvem de chuva parecia ter se dispersado em torno dos aventureiros, revelando uma vista dramática: uma ponte de pedras estreita e longa, parcialmente coberta por névoa, que se projetava sobre um abismo rochoso. - É lindo! - Disse Evie, tremendo. - De um jeito bem aterrorizante. - É só uma ponte - Retrucou Carlos, erguendo sua caixa. - Mas temos que atravessá-la. Vejam... - A luz estava brilhando com tanta intensidade e rapidez que ele cobriu o sensor com uma das mãos. -Não é só uma ponte - Disse m*l com voz baixa, observando a forma cinzenta à sua frente. - É a ponte dela. A ponte de Malévola. E está me puxando. Tenho que atravessar. Ela quer que eu passe para o outro lado. -Não é com a ponte que estou preocupado - Disse Carlos, olhando à distância. -Vejam! Além da ponte e da névoa, um castelo n***o se elevava em um pilar de pedras. A ponte era o único caminho para chegar a ele, já que penhascos circundavam a construção obscura por todos os lados. Mas a fortaleza em si era tão inóspita que não se parecia com um lugar que quisesse ser alcançado. -É isso - Suspirou m*l. - Essa tem que ser a Fortaleza Proibida. - O lugar mais escuro daquela ilha escura, o antigo covil de Malévola e seu lar ancestral.
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