Rafael Lopes
− Há essa hora nosso pai já deve ter chego. – Sussurro, enquanto Natacha e eu caminhamos silenciosamente até os fundos da casa. – Ele vai acabar conosco.
− Bom, valeu a pena para mim. Nunca me divertir tanto, adorei conhecer a Sophia e também foi ótimo saímos…mamãe!!!
− Natacha grita ao ver nossa mãe deitada no chão desacordada, enquanto Marcos chorava desesperadamente ao seu lado.
– O que aconteceu?!!
− O que fizestes com ela, seu monstro?
− Exclamo lhe empurrando para longe de minha mãe, a segurando em meus braços e seguindo para garagem.
− Não imaginei que chegaria neste ponto, mas, sua mãe tem me desrespeitado filho.
– O mesmo busca explicar o inexplicável. Marcos havia passado de todos os limites e não ficaria assim.
− Nunca mais chegue perto de nossa família, seu verme!! Vou leva-la ao hospital e quando a mesma acordar, irá contar tudo para a polícia! – Digo, fechando a porta do carro de forma ríspida e sigo diretamente para o hospital com mamãe e minha irmã. Meu coração nunca ardeu daquela forma, sentia tanta raiva que poderia fazer coisas ruins e não me arrependeria, mas, eu precisava saber se Samara estava bem, era minha prioridade.
− Não acredito que, o papai agrediu nossa mãe, ele nunca tinha chego neste ponto.
− Ouço Natacha dizer, enquanto vejo pelo retrovisor seus olhos sendo molhados por lágrimas.
Finalmente chegamos ao hospital mais próximo de nossa casa. Hospital “Marie Curie”, é um dos maiores hospitais que existem em nossa região e tem um enorme acervo de médicos e doutores renomados, suas paredes são brancas e todas as portas verdes, sem nenhuma exceção. Sei que parece estranho, reparar tais atributos de um hospital, mas, foi exatamente o que fiz durante uma hora inteira esperando notícias de minha mãe. Marcos chegara vinte minutos depois e sentou-se ao lado de Natacha que se esforçava para não conversar com o mesmo, por pensar que assim estaria me traindo.
− Boa noite, vocês são a família de Samara Lopes? − uma senhora de cabelos grisalhos, olhos fundos, óculos vermelho e conjunto de saia e terno azul, questiona e os três concordamos. – Podem vê-la agora.
– Diz e a seguimos, até um quarto branco com a porta verde e aparelhos por todos os lados. Mamãe se encontrava deitada em uma maca, seu olho estava roxo e sua face vermelha, suas respiradas eram lentas como se contasse cada uma delas.
− Mãe, a senhora está se sentindo bem?
− Pergunto segurando sua mão e Samara assente abrindo os olhos. – Nos conte o que aconteceu?
− Rafael acho melhor deixarmos sua mãe descansar. – Marcos diz e eu só queria esmurra-lo, respiro fundo ao sentir mamãe apertar minhas mãos e sorrir suavemente.
− Acabei me desequilibrando e caindo, querido. Você sabe como a mamãe é desastrada. – Diz e não consigo entender por que a mesma insistia em mentir, para defender aquele homem.
− Sim, é normal acontecer quando alguém está tão fraca como sua mãe. Samara, a senhora está em um grave estágio de anemia, precisa se alimentar melhor, fazer o tratamento e repousar.
− Não se preocupe doutora, nós vamos cuidar muito bem dela...como a família maravilhosa que somos. – Marcos diz enquanto abraça Natacha e demonstra aquele sorriso amarelo, de político que só ele tem.
− Mãe? − Digo assustado ao ver os olhos de minha mãe se revirarem e a mesma começar a perder o ar. Somos empurrados para fora da sala e a porta é fechada logo em seguida, nos deixando sem entender o que havia acabado de acontecer.
Sophia Castilho
− Oh meu Deus, como você está linda!!
− Mamãe grita como uma líder de torcida, ao me ver usando um vestido branco com flores azuis que havia ganhado em meu aniversário de quinze anos e nunca usado. – É incrível como continua do mesmo tamanho de cinco anos atrás. – Diz e reviro os olhos, pondo um vans da mesma cor do vestido. – Vai de sapatilha, como uma mocinha!!
− Mãe, acho que está querendo demais.
– Falo e a mesma me consome com um olhar de “gordo que perdeu a hora do almoço” “musculoso que esqueceu a carteira da academia” e “ladrão alto, que não conseguiu passar em baixo da cerca” − Tudo bem, essa está boa? − Pergunto, ao calçar uma sapatilha rose e a mesma assente com o pescoço por várias vezes. Terminamos de nos arrumar e seguimos em direção a igreja. Estamos indo andando, pois, o fiat uno de Humberto está com muitos problemas.
− Pai, o que o senhor acha, de eu levar seu carro para o concerto?
− Hum. Não sei... – Diz enquanto me olha pensativo e logo em seguida, dirige seu olhar para minha mãe que segura sua mão.
– Me diz você, Ana acha uma boa eu deixar a Sophia levar meu carro para o concerto?
− Bom amor, seria bom para que ela começasse a se preparar para quando tiver o seu próprio carro. – A mesma assim diz, finalizando, entregando-me uma carta branca e papai faz o mesmo, com seu olhar de “sua mãe, sabe mais”. Chegamos em frente ao jardim da igreja evangélica “comunidade Maravilhosa Graça”, adentramos e nos sentamos em nossas cadeiras roxas almofadadas, sigo com meus olhos por toda a extensão do altar com um enorme quadro desenhado um rio, escrito “Deus não está morto”, os obreiros se preparando para ajoelhar-se e o pastor Lemuel, olhando para o teto todo revestido de branco e roxo, imaginando...não faço ideia do que ele estava imaginado, desculpe. Hoje o culto seria de oração, então eu havia vindo preparada, almofadas para os joelhos, livro saga “imortais”, lenços, revistas e tudo isso que se precisa em um culto de oração (BRINCADEIRA) a parte dos livros e revistas.
− Graça e paz a todos, me sinto exultante em dizer que conseguimos finalizar o revestimento do teto de nossa igreja, Deus é bom, glórias a ele. Já não aguentava mais irmãos, pensar que os obreiros estavam chorando, quando na verdade tínhamos uma infiltração que caia sobre a cabeça deles.
– Lemuel diz e todos sorrimos. Bom aí está a resposta das imaginações do pastor, estão satisfeitos? − A palavra de Deus diz em efésios 6.18 “ orai o tempo todo”.
− Tá parecendo um coringa com tamanho sorriso. − Murmuro, ao meu amigo.
− Entrei na rede da garota que me falou, ela é linda. – Caleb diz ao adentrar a igreja e se sentar ao meu lado. Pastor Kennedy nos olha e sorri de forma amável. Ele adorava saber da conversa dos jovens, sempre foi muito atencioso conosco e apesar de ter quase sessenta anos, ainda guardava em si a juventude, é como ele sempre diz “ Nunca devemos nos deixar envelhecer na presença de Deus, o tempo passa, mas, nosso Senhor se renova a cada dia.”
− Neste momento peço que se ajoelhem, orem por aqueles que você ama e também por seus inimigos, sabe aquela pessoa que você gostaria de depositar um soco ungido? Não faça isso, ore por ela para que o Senhor a abençoe e preencha o vazio que existe em seu ser.
− Bom, vou orar por você, Sophia. – Caleb diz e sorrio, ajoelhando-me logo em seguida. Fecho os meus olhos e começo me lembrar da única pessoa que eu gostaria de agredir naquele momento, quer dizer...orar.
− Olá Deus, sou eu, a Sophia...sei que as vezes cometo muitos erros, digo coisas ruins e penso ainda mais, só quero que me perdoe e saiba que eu te amo. Quero orar em favor do Rafael, a vida dele não parece ser muito boa, a gente percebe isso quando vemos o jeito que ele é irritante, arrogante e....desculpa, só cuida dele, por favor, ajude a família dele, que sua alegria chegue ao coração do Rafael quem sabe assim, ele comece a ser mais gentil. Se caso esteja passando por uma fase difícil, dê forças para que consiga supera-la e não o deixe sozinho, bom é isso...agora, vamos falar de coisa boa, não vejo a hora de realizar o meu chamado...
Rafael Lopes
Pode parecer que eu esteja propondo uma teoria da conspiração, mas, não existe nenhum relógio no mundo que demore tanto de mover os ponteiros quanto os relógios de um hospital. Natacha havia adormecido recostada em meu ombro e Marcos fora embora, pois, tinha uma viagem de trabalho. Naquele momento não era mais capaz de sentir raiva daquele homem, só queria que tudo voltasse ao normal e minha mãe ficasse bem.
− Senhor Rafael Lopes? − Um policial de meia idade indaga, levanto meus olhos movendo a cabeça em concordância.
– Foi feito um exame de corpo de delito na senhora Samara Lopes, precisamos saber quem estava com ela durante a tarde?
− Minha mãe está bem? Aconteceu algo grave? − Natacha questiona abrindo os olhos e o policial nos observa de cima a baixo, quando nos levantamos.
− Nós somos os filhos dela, estávamos fora de casa e quando chegamos a encontramos desacordada no chão. Meu pai estava em casa.
− Sim, mas, nossa mãe disse que ela havia caído...não foi isso que aconteceu?
− Natacha pergunta e a medica que atendia Samara surge, entregando um prontuário ao guarda.
− O desmaio ocorreu pela falta de nutrientes suficientes no corpo de sua mãe, também... – A doutora diz, sendo interrompida pelo guarda.
− Sua mãe teve uma pequena fratura na cabeça, acreditamos que não tenha sido apenas uma queda e sim... agressão física. Conversamos com o pai de vocês. – Ele diz.
− Sério? O que ele disse para vocês? Quer dizer, também queremos muito saber o que aconteceu com nossa mãe, pois chegamos em casa e só ele estava lá. – Digo cruzando meus braços e Natacha me olha irritada. Só queria entender qual desculpa meu pai havia contado agora.
− O Senhor Marcos Lopes estava em uma reunião, já fora confirmado o álibi do mesmo, ele chegara poucos minutos antes de você e sua irmã. Onde vocês moram tem tido muitas ocorrências de assaltos, peço que estejam na delegacia amanhã para prestar esclarecimentos de onde estavam.
− O Senhor acha que somos culpados de alguma coisa? − Pergunto e o mesmo me olha como se respondesse “sim” para minha pergunta.
− Senhor Rafael, o seu pai nos contou que, você tinha algumas amizades duvidosas, mas, não se preocupe...se nos levar alguém que possa confirmar onde esteve entre 15:30 ás 16:30hras, tudo ficará bem. Agora já podem ver a mãe de vocês. – Respiro fundo e Natacha me puxa para que possamos entrar no quarto de mamãe, que sorriu ao nos ver.
− Por que não conta que foi o papai? Mãe, a senhora não pode continuar em um casamento como esse. Ele vai acabar lhe matando.
− Rafael, meu filho. Não se preocupe, estou bem, Marcos é uma boa pessoa, só precisa que entendam ele. – Diz segurando minha mão e me desvencilho da mesma, não conseguia entender este amor que se permite ser ferido.
– Ainda estamos sendo acusados, de lhe agredir. – Falo me escorando na porta.
− Nós podemos falar com a Sophia, ela será nosso álibi, afinal estávamos juntos na sorveteria.
− Eu disse ao policial que não quero prestar queixa, o mesmo deve estar apenas querendo averiguar algo. – Samara comenta e reviro meus olhos.
− Esse cara deve fazer parte da máfia do Marcos, não duvido nada. – Natacha me deposita um t**a e mamãe respira fundo. Desculpa se sou o único, capaz de dizer o que penso nessa família. – Mais uma coisa, você quem vai conversar com a garota desbocada. – Aponto com o dedo para Natacha.
Mamãe precisaria ficar em repouso no hospital por mais alguns dias, então Natacha decidiu que deveríamos ir à casa de Sophia e lhe pedir um favor, pessoalmente. É incrível como a internet lhe dá todas informações sobre uma pessoa, buscamos o nome de Sophia Castilho e lá estava ela em frente a placa de seu bairro.
− Deveríamos ter contado tudo ao guarda, que o papai bateu na mamãe. – Digo enquanto dirijo. Natacha respira fundo e solta um ar cansado.
− Rafa, quando você era criança o papai quase bateu na mamãe, nossa tia pediu para que ela conversasse com a polícia e a mesma negou. Nossa mãe nunca irá se separar do Marcos, a única coisa que podemos fazer é tentar protege-la e não, ficar julgando suas escolhas.
− Sinceramente não consigo entender vocês, parecem estar dormindo.
− lhe apresento a vida, muitas das vezes, por medo de ferir a quem amamos fingimos dormir para algumas situações. – Diz. Me n**o a escuta-la e simplesmente paro, em frente a uma pequena casa de cor amarela, com arbustos que pareciam engolir as paredes. – Vou falar com ela rapidamente e já vamos embora. — Natacha desce do carro, ajeitando seu vestido cinza e seus cabelos desgrenhados, aproxima-se do portão e toca uma campainha de pássaro, ao lado do mesmo.
Sophia Castilho
Hoje após o culto algo novo aconteceu, eu e meus pais fomos em uma pizzaria, conheci um homem digno de filme de comédia romântica e me apaixonei. Estava eu indo buscar ketchup, quando o mesmo se aproximou e perguntou:
“Acabou os molhos, quer um pouco dos meus?”
“Eu adoraria” respondi fazendo a fina.
“ Então fazemos assim, você fica com cinco e eu com os outros” Olho dentro de seus olhos e me lembro, Bianca diria para que eu investisse.
“ Você é muito gentil, prazer, sou Sophia”
“Muito prazer, Pietro. Bom, tenho que ir agora...meu namorado está esperando”
“Ahhh, claro, boa pizza” Digo e seguro minha face para que não caia, vejo papai sorrir e mamãe pôr as mãos sobre a cabeça em sinal de genuína decepção. Eu havia me apaixonado e nosso amor era impossível, como Romeu e Julieta, só que ele já havia encontrado seu próprio Romeu.
− Filha, poderia ver quem é?! − Dona Ana grita, como se falar normalmente não estivesse em seu vocabulário.
− Tá!! − Grito com a mesma intensidade. Calço minhas havaianas e sigo para o portão, encontrando uma jovem muito familiar pendurada nas grades de minha tão nobre moradia.
− Olá Sophi!! Sou eu, a Nath... podemos conversar. – A mesma diz de forma quase inaudível, não duraria um dia em minha casa. Tenho um grande problema com imaginações, meu cérebro inicia uma grande tragédia. A garota dos cabelos de fogo, segue até minha casa, pois seu irmão havia se transformado em um zumbi e chegaria em breve para se vingar de minha pessoa.
− Eai Nath, tudo bem com você? − Indago e a mesma assente sem vontade. Abro o portão e saio para fora. − Quer entrar?
− Ela n**a. – Beleza, então desenrola...quer dizer, pode falar. – Me corrijo, ao lembrar de mamãe em meus ouvidos.
− É que aconteceu um acidente com a minha mãe, preciso que vá a delegacia para informar que estávamos contigo na praia.
− Diz e meu queixo cai, agarro ele pelos braços e continuo.
− Claro, posso ir sim...não vou ser presa, né? É que tenho uma promessa, sabe “Não ter ficha criminal até os trinta”. – Ela sorri e n**a. Um zumbi abre a porta do carro e se debruça na mesma, fazendo sinal para que Natacha o siga.
− Tenho que ir agora, muito obrigada pela ajuda. Eles precisam que esteja lá pelo menos umas dez horas da manhã, pegamos você aqui. – Comenta olhando o celular. “Caramba, de madrugada” Penso.
− Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Só espero não ter que m***r ninguém e esconder o corpo, tenho um sério problema na coluna. – Brinco, a mesma me abraça e segue para um carro que parecia ter sido caro, eles devem ser bem de vida...financeira, pelo menos.
− Filha, quem era? − Mamãe pergunta, enquanto Humberto massageia seus pés.
− Uma garota que conheci hoje. Bom, vou dormir...amanhã tenho que ir bem cedo para delegacia.
− O que você fez? − Ana Paula tira seus pés do colo de meu pai em segundos e já se encontra de pé, com as mãos na farta cintura em posição de xícara. – Ah meu pai, eu sempre soube que em algum dia isso aconteceria.
− Não se preocupe, eu queimei o corpo e tirei todas as minhas digitais do local do crime. Não vão conseguir me pegar. – Digo e a mesma respira aliviada, sentando-se e pondo os pés sobre meu pai novamente.
– Ainda bem, é como eu sempre digo “nunca deixe digitais, jamais”. – Diz e sorrio, seguindo para o meu quarto, ouvindo papai dizer “vocês precisam se tratar” e Ana gargalha, a risada mais incrível do mundo é a dela.
Ps: Gostandooooo pesssoaaaal?