Sophia Castilho
Um novo amanhecer, é um lindo dia nublado e triste em Angra dos Reis, mas, acordo animada...teria minha chance de dirigir novamente, após três anos de solidão. Para, eu sei que iria levar o uno do meu pai no seu Jorge, mas, se alegrem, isso é muito.
— Sophia toma cuidado com esse carro, lembre-se que da última vez fomos parar no pão de açúcar. — Mamãe diz e aceno em despedida. Termino de calçar meus tênis e adentro aquela lata velha maravilhosa. Me sinto Alicia Silverstone, em Patricinha de Beverly Hills dirigindo seu carro, batendo em latas de lixo e tudo mais.
— Uai menina, o que ocê tá fazendo aqui?
— Seu Jorge diz, enquanto se aproxima tirando seu boné da seleção, penteando o pouco cabelo por se encontrar calvo e ajeitando a calça frouxa sobre a circunferencial barriga do mesmo.
— “ Uai”, vim trazer o carro do meu pai para o senhor arrumar. — Seu Jorge é mineiro e sempre nos ajudou desde quando chegamos aqui em Angra, ele conhece meu pai desde mais novo.
— Nó...pode deixar aqui, vai dar um cadin de trabaio, mas, depois do carnaval está pronto. — Fala, enquanto observa dentro do carro.
— Hum, vai curtir o carnaval...vou orar pelo senhor, viu, “Jorge pegador”. — Digo e o mesmo ri, ficando corado. Pego meu skate no banco traseiro e sigo para casa, ainda precisava fazer um favor. Remo até minha casa e antes de passar pela porta da cozinha, olho para o céu. Apesar da maioria das pessoas não gostarem de dias nublados, sei apreciar uma boa nuvem cinza, eu estava feliz, havia dirigido, iria fazer uma boa ação, parecia que finalmente as coisas começavam se encaixar. — Mãe, desde quando a senhora deixa animais além do Sherlock entrar dentro de casa? Me deem uma arma, preciso de uma arma agora!!
— Grito de forma histérica, apanhando um guarda-chuva que se encontrava ao lado da porta e o apontando para aquele meteoro com sorriso de vilão de novela mexicana.
— A gente precisa conversar. — Max vem em minha direção, seu cabelo loiro balança como se dançasse, aquele queixo quadrado de bom mentiroso, meu sangue ferve, o mesmo se aproxima ainda mais e o agrido com o guarda-chuva.
— Quem deixou esse filisteu entrar aqui? — Me sinto o Sherlock, quando encontra o gato da vizinha, só me faltava ranger os dentes.
— Fui eu quem deixei, ele ainda ama você, querida. — Mamãe diz abaixando sua cabeça, respiro fundo olhando nos olhos daquele jovem rapaz que praticamente destruiu minha confiança nas pessoas e digo:
— Vai embora daqui, ou então vou enfiar esse guarda-chuva em sua garganta. A senhora não tinha o direito de me fazer passar por isso. — Sigo pelo corredor e meus olhos começam se encher de lágrimas, fazia tanto tempo que eu não chorava, poderia ficar ali por horas.
— Nós ainda vamos ficar juntos, fomos feitos um para o outro. — “Cara, ninguém me avisou isso”
— Cala a boca, quando a conversa chegar no banheiro eu lhe aviso. Não estou falando contigo! — Falo, se jogando em minha cama.
— Sophia, o Maxsuel gosta muito de você, ele foi embora bem triste. Vejo que depois dele nunca mais arrumou ninguém, não pode ficar sozinha. — Dona Ana Paula diz, encostada no umbral da porta.
— Não vejo nenhum problema nisso. A senhora só está vendo o quer ver, não sabe o que aconteceu entre mim e ele. — Digo e a mesma puxa todo ar para dentro, ela iria dizer algo desnecessário.
— Você é muito m*l-agradecida. — Diz.
— Desculpa se não sou a filha que queria, Só me adotou por que não pode gerar.
— Disparo sem pensar. A mesma limpa uma lágrima que começa a escorrer em seu rosto e segue para cozinha, me deixando só. Vou em direção ao quintal de casa e logo Natacha aparece, com seu irmão ao volante. Talvez eu devesse pedir perdão á minha mãe, antes de morrer.
Rafael Lopes
Lá estava ela, a garota com gostos peculiares para roupas, eram tão estranhas que pareciam ser feitas por ela mesma.
— Chegaram bem em cima da hora, será que não vai dar b.o? — A mesma diz adentrando no carro e sentando-se no banco de trás ao lado de Natacha que sorri para mesma.
— Se não morasse aonde Judas perdeu as botas, teríamos chegado mais rápido.
— Judas usava sandálias, não botas. — Ela sussurra e Natacha ri.
— Como sabe dessas coisas, Sophi?— Minha irmã pergunta muito interessada.
— Não é querendo me gabar, mas, eu era estilista dele. — Diz e me esforço para não sorrir. — A Natacha me disse que não era bom com pessoas, então lhe trouxe isso. Apesar de babuínos serem inteligentes, ainda não se comunicam tão bem. — Fala me entregando uma banana, acabo me irritando. Aquela garota só sabia brincar, não era capaz de um momento de seriedade.
— Sabe, você é tão desnecessária. — Digo.
— Rafael, fica quieto. — Natacha ordena, me olhando pelo retrovisor.
— Não sei se, você é burra ou simplesmente não sabe conversar de forma adulta, mas, acho que deveria parar, ninguém acha graça.
— Não tenho culpa se sua vida é tão triste, que não consegue sorrir. — Naquele momento paro o carro e a mesma desce batendo a porta.
— Sua infantil! Vai procurar crescer!! — Grito descendo do carro, Natacha nos observa ainda dentro do carro, bufando irritada.
— Eu deveria crescer? Desculpe, mas, é você quem fica naquela sacada imaginando que um dia vai ser feliz quando sabe que sempre será um nada. Você nunca será feliz porque não tem coragem de tentar!!
— Quanto exemplo cristão. – Digo, sabendo logo em seguida que deveria ter ficado quieto.
— Você nem sabe o que é ser cristão, vive desejando o que o mundo tem, não conhece o próprio Deus que serve. — Meus olhos ardem, sinto as lágrimas rolarem. Ela tinha tocado no que mais me doía, sempre soube que não conhecia a Deus, acredito que nunca me permiti conhece-lo.
Quando mais novo, Marcos falava sobre Jesus, era possível ver o brilho em seus olhos, mas, depois de uma noite, em setembro, estava chovendo naquele dia e meu pai chegou, seu terno estava encharcado, seus olhos vermelhos e havia dor em seu semblante. Me escondi debaixo da cama, o mesmo levantou a mão para mamãe e acredito que tenha sido naquele momento em que o mesmo se esqueceu de quem era. Nunca contei isso a ninguém, Natacha pensara que eu estava dormindo, mas, a vi chorando e tentando o empurrar com suas mãos tão pequenas. Desde aquele dia, me perguntei quem era Deus e se ele havia deixado minha mãe sobreviver como forma de me punir, não sei no que acreditar agora. A mesma toca suas mãos macias em meu rosto e limpa minhas lágrimas e diz:
— Além de tudo, tem m*l gosto. Não se pode por “Eu amo Arqueologia” na traseira de uma minivan. — Sorrio e ela faz o mesmo, que coisa, essa garota tem um sorriso bonito demais. Dirijo em silencio e Sophia faz o mesmo, acredito que estávamos nos controlando para que não corrêssemos o risco de brigarmos novamente. Ao chegarmos no DP, somos recepcionados por uma mulher corpulenta e de aparência rude, que nos olha como se estivéssemos em frente à TV, atrapalhando a mesma assistir o último episódio de sua série favorita.
— Com licença, temos uma hora marcada com o delegado. — Natacha diz, entregando seu RG. A mulher tira um pirulito da boca, digita alguma coisa no computador, nos olha de cima a baixo e responde. “Imagine a mesma respondendo com a voz, de alguém chato. ”
— Vocês estão atrasados, então não vai acontecer. — Sophia se aproxima olhando no relógio de pulso, lhe puxo novamente para o meu lado, deixando que Natacha continue a conversa. — Está desconfiando de mim?
— Não, só estava assistindo novela.
— Sophia retruca. Deus, por que as pessoas fazem perguntas para a Sophia?
— Moça, desculpa...a minha irmã tem alguns problemas. — Digo tentando remediar.
— Tenho mesmo, problema em não suportar gente chata. — A mesma finaliza com chave de ouro, nossa destruição. A recepcionista chama os guardas e somos presos, por desacato a um funcionário público. — Lá se vai meu projeto “não ser presa até os trinta”.
— Resmunga.
— O papai vai nos m***r, quando souber. Não deveria ter lhe chamado aqui Sophia, você só nos traz problemas. — Natacha fala em meio a soluços, enquanto Sophia se aproxima de três brutamontes.
— EaÍ, de boa? − A mesma indaga apertando a mão dos homens, sigo até a mesma e lhe puxo para perto de mim. — Para Rafael, eles são pessoas de bem. — Diz e prefiro permanecer em silencio. — Bom Nath, pelo menos poderá me conhecer mais. — A mesma diz animada e Natacha abaixa sua cabeça, lhe deixando sem resposta. — Ei, eu tenho direito a uma ligação!!
— Tudo bem garota, pode vir! − Um dos policiais que passava em frente a grade, leva Sophia até os telefones. Só espero que ela não faça nenhuma besteira.
Sophia Castilho
Lá estávamos os três, presos. Eu havia tirado o dia para decepcionar quem eu gosto, não que eu goste do Rafael, falo sobre a Natacha, o Rafael eca, estou tentando dizer que gosto da minha mãe e da Natacha. Disco o telefone do meu pai e só da caixa postal, pronto tudo pode ficar pior do que está.
— Moço, deixa eu fazer mais uma ligação, por favor. — Imploro e o mesmo n**a com a cabeça, me jogando dentro da jaula dos monstros.
— Parece que não deu certo, vamos ficar aqui a vida toda. — Rafael diz e eu só quero esmurra-lo, cadê o amor fraternal? Sento-me no chão e ouço a voz de um dos presos que eu havia feito amizade anteriormente, sabe, sou uma pessoa amigável.
— Ai loirinha! A gente tem um celular aqui...quer emprestado? — Diz e sorrio mais animada do que deveria. — Só que o seu amigo emburradinho vai ter que dançar um pouco.
— Não sei se ele vai aceitar, desculpa.
— Digo e os caras guardam o celular. Abaixo minha cabeça e Rafael se aproxima sentando-se ao meu lado. — Só me meto em encrenca, acho que deve ser genético.
— Seus pais não parecem ser desse tipo.
— Diz e forço uma lágrima, nunca tive problema em ser adotada, mas, precisava do celular para nos tirar de lá.
— Sou adotada, nunca conheci meus verdadeiros pais. Isso é tão frustrante, sabe. — Digo e o mesmo abaixa a cabeça pondo sua mão sobre a minha, sinto meu corpo tremer e me desvencilho do mesmo.
— Queria poder fazer alguma coisa, para se sentir melhor. — Diz e sorrio para o mesmo.
— Ah Sophia, eu quero tanto acabar com você. – Rafael choraminga.
— Tchu Tcha Tchu Tcha. — Os homens cantavam e Rafael dançava, da forma mais desengonçada que já vi alguém dançar. Natacha esquecera de chorar e começou a sorrir, foi lindo. Ligamos para Bianca, os pais dela emprestaram um dinheiro para o Rafael, já que a mesma não quis falar comigo e nos tiraram de lá.
— Nós vamos paga-los assim que pudermos, não se preocupe. — Papai diz, quando Rodolfo, pai de Bianca me entrega em casa.
— Não se preocupe, somos amigos Humberto. Vocês já cuidaram por muitas vezes de nossa filha. Até mais, boa noite.
— Diz seguindo para o seu carro, enquanto papai dirige seus olhos em direção a mim, com um forte olhar de “está de castigo, por toda vida”.
— Você tem uma semana para se tornar independente, não vamos mais ficar lhe bancando!! — Mamãe diz extremamente irritada.
— Calma Ana, a Sophia tem trabalhado muito bem comigo. — Meu pai responde.
— Não se preocupem, vou conseguir um emprego, nunca mais serei um fardo para vocês. — Digo seguindo para o meu quarto e deitando em minha cama, só queria que aquele dia se acabasse e começasse tudo novamente, quem sabe assim pudesse fazer tudo melhor.
Eita Giovana: Sophi, dá uma olhada no que sua amiga postou no blog dela. :0