Após Giovana me enviar uma mensagem, sigo rapidamente para o blog de Bianca, onde encontro uma montagem de minha pessoa dentro da prisão, usando uniforme laranja e fumando um cigarro, pelo menos ela havia usado o corpo de uma atriz bonita. Abro e fecho os meus olhos várias vezes, buscando fazer com que meu cérebro acreditasse naquilo. Desde mais nova, sempre cuidamos uma da outra, eu estive lá sempre e não por esperar algo em troca, mas, simplesmente pelo fato de que éramos amigas e de repente, isso não importava mais.
− Essa mulher de Potifar!! − Grito de forma estridente e meus pais logo chegam em meu quarto.
− Sophia, o que aconteceu? − Os dois perguntam ao mesmo tempo e lhes entrego o notebook. Mamãe me olha de forma que estavas a preparar o sermão da montanha e papai, bom, não é possível identificar sua expressão.
– Parece estar virando rotina, passarmos vergonha por conta da Sophia.
– Mamãe diz.
− Calma amor, isso não é verdade. Certo Sophia? − Papai indaga e reviro meus olhos. Por dentro estava doendo, mas, por fora eu sentia raiva.
− Claro que não, nunca na minha vida usaria um macacão laranja. – Digo e minha mãe dá de ombros, bufando irritada.
− Ela não consegue ser séria em nenhum momento, você nunca irá crescer Sophia? Olha o que suas atitudes infantis lhe causaram, está envergonhando nossa família e até mesmo ao evangelho. – Ana Paula diz e sinto meu coração se apertar, não havia pensado neste ponto e agora começara a entender que minhas ações impulsivas feriam todos ao meu redor.
− Me desculpem, agi sem pensar e peço perdão. – Digo abaixando minha cabeça e meus pais seguem para fora, me deixando sozinha com meus erros. Começo a observar os comentários e um deles me chama a atenção.
Peregrino: "Me impressiono com a facilidade que as pessoas têm em julgar e apontar erros dos outros, quando se estão por trás de um computador."
Bianca: "Ninguém pediu sua opinião."
Peregrino: "Foi bom você tocar neste assunto, já que a Sophia também não pediu a sua e você deu, de forma errada por sinal. Acredito que as pessoas estão realmente usando a "livre expressão" de forma errada, Jesus Cristo disse para que vigiássemos e julgássemos a nós mesmos e não aos outros."
Uma coisa é certa, estou apaixonada por esse ser, não faço ideia de quem seja, mas, foi o único em meio a tantos que se permitiu me entender.
− Com licença, Sophia será que podemos conversar? − Mamãe diz, abrindo a porta do quarto que estava apenas encostada. Assinto e a mesma continua. − Peço que me perdoe, tem tantas coisas rodeando a minha mente e acabo jogando tudo em cima de você.
− Mãe, eu quem tenho que lhe pedir perdão. Tenho sido uma péssima filha e devo agradecer a Deus todos os dias, por você e o papai terem cuidado de mim, como uma verdadeira filha.
− Quero que saiba, que fizemos isto não pela falta de filhos e sim, por que amamos você desde o primeiro momento que sentimos o seu cheiro. − Sorri limpando algumas lágrimas que desciam em meus olhos, lhe dou um abraço forte, na tentativa de tirar toda dor que sentíamos. − Agora me conta, como a Bianca colocou essa foto no computador? − Acabo dando risada, minha mãe nunca foi muito antenada em tecnologias.
− Bianca pegou meu rosto e fez uma montagem, pondo um corpo de uma outra pessoa. Agora todos pensam que já fumei cigarro.
− Nossa Sophi, mas, o que podemos fazer para limpar sua imagem?
− Naquele momento colocamos nossa cabeça para pensar, as duas com a mão no queixo como uma linda obra de arte.
− Posso fazer um vídeo tentando explicar o que realmente aconteceu.
− Ótima ideia, eu e seu pai podemos aparecer no vídeo também, para que se sinta mais segura. − Diz e lhe abraço agradecendo. − Vou chamar seu pai e ajeitar o cabelo. − Fala já correndo para fora, extremamente animada.
Sophi: " E aí, firmeza? Espero que esteja de boas, valeu pelo fechamento com a fita que a Bianca mandou para geral."
Peregrino: "Olá Sophia, só um minuto... irei ler novamente."
Sophi: "Ahh, desculpa."
Peregrino: Bom, eu fiz isso pelo cristianismo. Talvez este seja o teu problema, você fala demais e ora de menos. Preciso sair agora, que Deus ilumine essa sua cabeça. Boa noite.
O que ele havia dito, acaba entrando em minha mente como uma faca afiada, minha boca grande só tem me colocado em enrascadas ultimamente.
− Acho que já podemos começar. − Mamãe diz com papai ao seu lado e sentamos os três na cama. Ser uma pessoa pública é extremamente difícil, todos os olhos estão postos sobre você esperando lhe ver cair.
" E aí, quadrados e alienígenas do mundo inteiro. Espero que estejam todos muito bem. Alguém postou uma montagem, na tentativa de zoar com a minha cara. Um novo amigo me alertou sobre conter minhas palavras e é isso que vou fazer, só quero deixar claro que quando algo assim acontece, descobrimos quem realmente está do nosso lado, no caso, minha família. Todos provavelmente já sabem o que aconteceu hoje, mas, não passou de uma situação que veio para mim como aprendizado. Agradeço a Deus mais uma vez pela paciência que ele tem comigo e peço a ele que cuide de você Bianca, que seu coração se encha de amor e que nós duas possamos respeitar mais o próximo."
Bianca: Olha Sophia, agora se superou em, mentir não parece ser algo de Deus.
Maxsuel: Gatinha, sempre que quiser fumar um é noses em
Natacha Lopes: Sophi não se importe com o que as pessoas dizem, quem lhe conhece sabe que você é uma boa pessoa. Agora um adendo, Maxsuel “noses” não existe. A língua portuguesa acaba de pular do Cristo redentor.
Maxsuel: Não tidi nda!
Natacha Lopes: Jesus Cristo, a situação só piora.
Celine: Pior de tudo é usar os pais negros para ganhar ibope.
Bianca: Tirou as palavras da minha boca, Celine.
Peregrino: Em provérbios, capítulo dezoito, verso seis, diz que "as palavras do insensato provocam contendas, e sua língua clama por açoites." Não sejais insensatos, como pregam tanto sobre o amor e não são capazes de amar nem mesmo quem está próximo de vocês?
Tudo que acontecera no dia anterior acabou por tirar um pouco do meu vigor, o despertador solta seu forte alarido, porém já estou sentada em minha cama aguardando aqueles cinco minutos, onde seu espirito volta para o corpo e o cérebro inicia suas funções. Sigo para o banheiro e tomo o banho mais demorado de todos os meus vinte anos, mamãe entendeu que eu precisava daquilo e nem mesmo chamou minha atenção por tal agressão ao seu bolso. Visto meu uniforme da vida, calça jeans rasgada e camiseta, sigo para cozinha e mamãe havia preparado o café da manhã. Algo que não acontece muito em casa, já que comemos qualquer coisa somente para "forrar o estômago".
− Bom dia, gostaria do que para o café hoje, minha querida? − Mamãe pergunta e sorrio beijando sua bochecha.
− As coisas não estão muito bem por aqui em, posso até escolher o que comer no café da manhã? − Indago e minha mãe se derrama em lágrimas. "Bom, o certo a fazer é m***r a Bianca" "Fica quieta parte desviada, precisamos orar por ela" "Eu concordo com a parte desviada, ha...dois contra um". − Mãe, não chora, por favor. Tudo ficará bem, eu prometo. Pego uma banana e sigo remando meu skate até a faculdade
"FFCF - Faculdade Federal Criando um Futuro" São tantos “Fs” em uma faculdade só. Um dos dias mais felizes em minha vida, foi quando descobri que finalmente estudaria ali, essa instituição sempre foi como um “crush” impossível para mim, desde os meus dezesseis anos. Sua fachada dourada, sua escada com vinte degraus, área verde ampla para que todos pudessem interagir em seus momentos de lazer e o refeitório, com lindas cantinas e mesas adornadas de puras madeiras. Salas de aula totalmente equipadas da melhor tecnologia, o quão bom e suave era aquela emoção. Isso faz um ano, bom, a faculdade muda depois que você se casa com ela.
Dez minutos de calmaria era o que eu precisava, com os fones no ouvido, tocando "1980 - Ao Cubo", vento em meu rosto e por um momento pude esquecer o que me esperava naquele dia.
− . Aí garota do verdinho!!! − Um garoto que nunca vi mais f**o, grita ao me ver adentrar a enorme porta vermelha da faculdade. Deus conhece meus pensamentos e naquele momento não foram "Pensamentos de vida e paz". Respirei fundo, ajeitei minha bolsa nas costas, olhei por uma última vez todo aquele enorme pátio com pessoas que diziam ser melhores do que eu, flutuando nos ares e julgando-me por estar caminhando.
− Sophia! − Natacha grita correndo em minha direção e me abraçando, a mesma estava sentada junto a Caleb em uma comprida mesa de madeira que se encontrava no refeitório. Pelo menos algo bom havia sido tirado de tudo aquilo, os dois ali juntos.
− Olá!! − Acreditem, eu havia dado o meu melhor em fingir uma animação.
− Não se preocupe, daqui a pouco todo mundo esquece isso, loirão.
− Caleb diz e assinto, seguindo juntamente com o mesmo para o anfiteatro, onde teríamos aula de fotojornalismo, após nos despedirmos de Natacha, que fazia faculdade de contabilidade.
− Olha quem chegou, a fumante. − Celine diz passando com aquela b***a em construção praticamente em meu rosto. Mas, o pior ainda estava por vir, Bianca entra na sala e todo meu sangue ferve, pude sentir o que Lyndsan Lohan, sentiu em "garotas malvadas", meu desejo era esgana-la como os animais fazem na África.
− Sabe Sophia, usar os pais para mostrar que é boa pessoa, não faz o seu tipo.
− Gargalha abraçando o bambu, vulgo Cleinilson. Não acredito que ela voltou com esse ser humano, não me importa mais.
− O que não fazem pela cota racial, não é mesmo? − Uma coisa eu lhes digo, racistas não passaram ilesos por minhas mãos, se está neste momento me imaginando em cima de Celine, você está coberto de razão. Sei que não deveria ter agido daquela forma, que racismo ou qualquer outra forma de preconceito não deve ser combatida com violência, mas quando ouvi aquela garota discriminando pessoas que só me fizeram bem em toda a minha vida, fui incapaz de resistir. Poderia ter feito muito mais, porém fui impedida por duas mãos fortes que puxaram bruscamente minha cintura e jogou-me sobre suas costas, levando-me ao exterior da faculdade.
− Me solta! Por que não me deixou acabar com aquela garota? − Indago e Rafael me põe no chão com facilidade, até agora ainda me pergunto como aquele peso pena foi capaz de carregar-me em seus braços sem deslocar nada, realmente preciso comer mais do que dez vezes ao dia.
− Por que és tão estressada? Não pode sair agredindo todo mundo ao seu redor. − Rafael diz e reviro os olhos cruzando os braços abaixo do peito, como sinal de oposição a sua fala.
− Não sou estressada, são as pessoas que insistem em me estressar. Agora, o que está fazendo aqui?
− Minha irmã esqueceu o livro dela em casa, quando vim trazer acabei lhe vendo apanhando de alguém. Sorte sua que lhe salvei. − Sorri formando aquela maldita covinha, que lhe deixava ainda mais insuportavelmente bonito. "Repita comigo, Sophia "Não faça isso com sua vida".
− Quer saber, que tal você vir comigo há um lugar, assim pode se acalmar.
− Não acredito que você seja a melhor opção para me acalmar. − Digo bufando ainda irritada. Meu sangue estava quente e eu só queria voltar naquele anfiteatro e terminar o que havia começado.
− Vem comigo, lhe p**o um sorvete, com calda de chocolate e brigadeiro. − Diz abrindo a porta do carro para que eu entre. "As pessoas pensam que podem me comprar com comida, isso é tão frustrante." Penso entrando em seu carro e seguimos viagem.
Rafael Lopes
− Olha o que tenho perdido, esse lugar é maravilhoso. − Digo, enquanto estou sentando ao lado de Sophia na areia da praia. A garota parecia ter se acalmado, não tanto quanto eu desejava, já que seu cabelo ondulado e rebelde insistia em agredir seu rosto toda vez que o vento se aproximava da mesma.
− "Cê é doido", se fosse eu quem morasse na frente da praia, não sairia daqui. − Diz satisfeita, por finalmente ter conseguido prender seus cabelos em um coque bagunçado.
− Digamos que, meu pai não é muito fã do ar livre e tudo mais. − Digo me esforçando para que a tristeza não transparecesse, sim acabo falhando.
− Ah claro, o dragão que ama sua torre. Não sei como você suporta viver com ele, o cara é muito bad. − Gesticula as mãos falando com suas gírias, acabo sorrindo.
− Mudando totalmente de assunto, por que não faz um vídeo sobre praias? Quem sabe assim voltaria á ter um melhor relacionamento com seus...como diz?
− Seguidores...espera, como sabe que nosso relacionamento está "bichado"? Nunca vi seu nome no meu blog. − Fala e acabo por um minuto não entendendo o que a mesma queria dizer com o termo "bichado", porém não me parecia algo bom, então continuei.
− Minha irmã acabou me contando por alto, não quis saber muito, já que não me interesso por essas coisas. − Sophia se levanta e se dirige para fora da praia, talvez eu tenha dito algo errado, sigo a mesma sem entender o porquê da repentina irritação.
− Ei, você se importa com minha opinião?
− Ah por favor, não seja convencido. Tchau Rafael! − Grita correndo para pista e por pouco não sendo atropelada por um motorista, que ainda foi capaz de xinga-la.
− Calma, está tudo bem. − Sussurro para Sophia, que deita seu rosto em meu peito tentando recuperar o folego.
− Me leve para casa, por favor. − A mesma se afasta rapidamente de mim. Todo meu corpo havia se estremecido, tê-la tão perto, tudo aquilo pareceu único. Sophia havia pela primeira vez lançado fora aquela imagem de durona, ela estava ali em meus braços sem nenhum mecanismo de defesa e não parecia acostumada com aquilo e acredito que nunca irá se acostumar. Algo em mim só desejava estar ao seu lado, mas, eu tinha medo, medo de nunca ser capaz de compreende-la e entender que Sophia era todas as estações do ano, todas as fases da lua em uma só pessoa. A viagem até sua casa foi envolvida por um silêncio ensurdecedor, minha vontade era simplesmente deixa-la e ir embora, na tentativa de me proteger do que estava sentindo.
− Bom, está entregue sã e salva. − Digo ao chegarmos em frente ao portão de sua casa. Sophia desce do carro e faço o mesmo para que a mesma entrasse com segurança.
− Quer entrar? Minha mãe deve ter feito um rango bem bom.
− Diz e no começo acabo relutando, ela revira os olhos e fala mais uma vez.
− Aproveita, não costumo chamar duas vezes.
− E eu não costumo negar um "rango".
− Expresso usando aspas com os dedos, para repetir sua gíria. Ao entrarmos em sua casa, posso ver que é simples se comparada à minha, porém existe uma paz naquele lugar que nem imagino sentir quando entro em meu lar. Seus pais estão sentados á mesa e me olham com surpresa ao nos ver chegar.
− Sophia, um menino!! − Sua mãe exclama extremamente animada. − Muito prazer, sou Ana Paula, mãe de Sophia. − Se apresentando, dando-me um beijo molhado na bochecha.
− Na verdade, o Rafael é um alienígena.
− Sophia revira os olhos irritada com a reação de sua mãe.
− Ah meu jovem, nem imagina o quanto esperamos por sua presença aqui. Sou Humberto. − Um senhor n***o de cabelos grisalhos, aperta minha mão firmemente. Olho em direção a Sophia um tanto quanto assustada, com toda aquela situação.
− Vocês me matam de vergonha, vem Rafael. − Puxa-me pelo braço levando-me ao seu quarto e ouço seus pais rirem na cozinha, naquele momento pude perceber que não passava de uma brincadeira. − Logo eles virão lhe perguntar sobre as alianças.
− Sophia fala e sorrio nervoso. O quarto da jovem não se encontrava o mais arrumado e ela parece ter percebido isso, já que começou a recolher algumas roupas que se encontravam em sua cama. − Eu já iria arrumar quando chegasse, pode acreditar.
− Acredito totalmente em ti. − Digo cruzando os dedos e ela ri, um sorriso engraçado, mas, mesmo assim me fez feliz. − Seus pais parecem estar empenhados em lhe arrumar um namorado. − Deduzo, me sentando no canto inferior de sua cama.
− Totalmente, mas, acredito que existam coisas mais importantes do que namorar. Tipo respirar, sabe?
− Caramba! − Gargalho e Sophia faz o mesmo. − Então quer dizer, que a senhorita nunca sentiu aquelas famosas borboletas no estomago?
− Até hoje só gases. Bom vou tomar um banho, não mexa em nada ou terá suas digitais na cena do crime. − Confesso que quando Sophia diz aquilo, meu coração se acelera. Não lhe conhecia o suficiente e agora a mesma diz que estarei em uma cena de crime. − Vou roubar um chocolate na geladeira.
− Ah, tudo bem...ha ha! − Fui ao céu e voltei em um súbito. A mesma segue pulando para o fim do corredor e observo todo aquele quarto, tudo ali tinha um pouco da identidade de Sophia, as paredes azuis pigmentadas por fotos de seus familiares e amigos, pôsteres de séries e desenhos animados, algumas comidas de pelúcias como uma pizza e um hambúrguer.
− Quer um pedaço de bolo? É de cenoura. Não adianta dizer não. − Dona Ana diz e sorrio aceitando. Quando provo aquele bolo, sinto como se eu fosse o ratatouille, nunca em toda minha vida havia comido algo tão saboroso.
− Acredito que este seja o bolo mais gostoso que já comi, como a senhora consegue fazer isso? − Lhe questiono e a mesma sorri, como se não estivesse acostumada a ouvir o que eu havia dito.
− É bem simples, na verdade. Se quiser posso dar a receita para que sua mãe também faça. − Minha alegria se vai rapidamente e só permanece a tristeza, acredito que minha mãe nunca teve satisfação suficiente para nem mesmo fazer um delicioso bolo de cenoura com chocolate.
− Mãe, quantas vezes já disse que não devemos alimentar os animais? Depois eles não saem mais daqui. − Sophia fala ao adentrar no quarto e sua mãe lhe deposita um t**a na cabeça.
− Sophia, vê se arruma esse quarto. O almoço sai daqui meia hora.
− A senhora diz e segue para fora, Sophia sorri se jogando na cama.
Natacha Lopes
− Natacha! − Caleb exclama correndo em minha direção ao me ver saindo para fora da faculdade. − Olhe, são para você. − O mesmo diz estendendo um buquê com algumas flores coloridas em suas mãos.
− Flores? − Digo e acabo eu mesma zombando de minha pergunta. − Não Natacha, são brócolis. − Ironizo e o mesmo gargalha, como se desejasse ter dito aquilo. Ele é incrivelmente lindo, cabelos cacheados e pele morena, alto um tanto magricelo e todo aquele ar de garoto desprendido com o mundo, que simplesmente deseja viver, cada detalhe em Caleb me encantava de uma forma que nunca havia acontecido.
− Gostaria de tomar um sorvete comigo?
− Indaga e discordo com a cabeça. Não imagina o quanto eu gostaria de dizer SIM, mas sabia que não acabaria bem. − Por favor, não irá demorar muito. Este quiosque tem o serviço mais rápido de Angra dos Reis.
− Tudo bem. − Digo por fim. Confesso que seria ótima a reação do meu pai ao passar aqui e me ver com um cara deste estilo. Sei que parece que estou o usando, mas somos de mundos diferentes, ele não gostaria de mim, não como sou.
− Ei, o que tanto procura em? − Pergunta quando já estamos sentados em frente ao quiosque, na beira da praia. − Não quer que lhe vejam comigo?
− Na verdade, eu adoraria que meu pai nos visse juntos. − Acabo por pensar alto e Caleb se levanta bruscamente, começando a caminhar.
− Então quer dizer que está querendo me usar? Ah cara, por isso não saio com patricinhas, pensei que era diferente!
− Caleb, por favor, desculpe-me! − O puxo pelo braço e o mesmo respira fundo, evitando olhar-me nos olhos. − Sou uma boba. Você é uma pessoa incrível, mas, tem tantas coisas em minha vida, não sei se teria espaço para você. − Digo e o mesmo me olha sem entender.
− Não estou lhe dizendo para namorarmos e nos casarmos amanhã, só quero ser seu amigo, mas, é você quem sabe...
− Meu pai não permitiria isto, ele é um homem complicado.
− Sei muito bem quem seu pai é, o deputado Marcos Lopes, terror dos missionários.
− O mesmo diz debochando e seguindo para próximo do mar. Acabo por não compreender o que havia dito.
− Como assim "terror dos missionários"?
− Corro até o mesmo e acabo tropeçando em meus próprios pés. Não se deve usar sandálias na praia, agora sei muito bem disto.
− Deixe isso para lá, vem! − Grita me pegando nos braços e correndo para o mar.
− Caleb, eu não sei nadar!! − Exclamo me afogando em meio as ondas. O mesmo me puxa rapidamente para cima. − Me tire daqui, não gosto de sentir medo.
− Calma, vou lhe ensinar nadar. Agora feche a boca e não respira. − Após dizer isto afunda novamente junto a mim e nos entreolhamos por alguns segundos, sentindo os olhos arderem pelo sal que havia na água. − Vem, vamos beber um pouco de água. − Diz sorrindo, enquanto seguimos em direção ao quiosque novamente.
− Mas é claro, ainda não bebi água suficiente. − Entro na brincadeira, tossindo um pouco e Caleb gargalha balançando seus cabelos molhados por todo lado.
− Obrigada por me ensinar afogar, foi ótimo.
− Sempre que precisar, é só chamar. − Diz me entregando um copo com água e bebo rapidamente. Caleb continua a me olhar, meus pensamentos sobre ele agora estavam confusos, era tão bom estar perto dele, mas o medo de me machucar novamente era ainda maior.
− Meu pai vai me m***r, como irei para casa com essas roupas neste estado? − Aponto para meu vestido totalmente encharcado, enquanto caminhamos pelas roupas sem uma direção certa.
− Se quiser posso lhe emprestar algumas roupas, porém seu pai com toda certeza se jogaria ao chão e rasgaria as dele, como forma de decepção. − Mais uma vez ele zomba de meu pai, como se o conhecesse mais do que estava me contando.
− Ele iria me bater e depois bater em si mesmo. − Brinco e rimos os dois juntos em um só som. No fundo eu sabia que iria apanhar hoje, mas, nunca me senti tão feliz como me sentia naquele momento.
− Já sei, vamos na Sophia ela pode lhe emprestar algumas roupas... o que acha?
− O mesmo indaga e penso bem rápido no assunto, já que eu adoraria conhecer a casa de Sophia Castilho.
− Por mim tudo bem, ah isso é um sonho sendo realizado!! − Digo muito animada e Caleb sorri sem entender nada. Ao chegarmos em frente à casa de Sophia e já encontro o carro do Rafael em frente ao portão. − É melhor a gente entrar logo, meu irmão está aqui... ele e a Sophia devem estar se agredindo.
− A senhora é mesmo uma graça! − Rafael gargalha sentado à mesa ao lado de Sophia e sua mãe que mexia uma panela no fogão.
− Nath, o que faz aqui? Suas roupas estão todas molhadas, aconteceu alguma coisa?
− Eu que pergunto, você e a Sophia estão no mesmo lugar e não houve nenhum tremor de terra? − Falo e a mãe de Sophia acena para minha pessoa, após ter abraçado Caleb fortemente. − Desculpe dona Ana, sou Natacha...irmã do Rafa.
− Ah seja muito bem-vinda, até parece que já lhe conheço. − Diz e sorrio agradecendo, sendo beijada na bochecha pela mesma. Acredito que Sophia não deve ter herdado a demonstração de carinho de sua mãe.
− Boas trutas, o almoço está servido!!!
− Ana expressa usando uma gíria desconhecida para mim e até mesmo pelo que parece, para Sophia que lhe olha sem entender. − Só se sentem, beleza? − Ela diz e nos sentamos todos.
Sophia Castilho
Natacha havia chego em minha casa há pouco tempo com Caleb, acredito que eu seja aquela amiga que não quer namorar, mas adora ver casais se formando. Rafael ganhara totalmente a simpatia de minha mãe, os dois pareciam ter a mesma idade, pois os assuntos se encontravam facilmente, era bom vê-lo sem um jugo sobre as costas, mesmo sendo por apenas algum tempo.
Mamãe prepara toda mesa, trouxemos mais cadeiras do quintal, já que a casa estava cheia naquele dia, nos sentamos e esperamos meu pai chegar com a sobremesa, para que assim pudéssemos finalmente almoçar, confesso que eu já estava faminta, estou em fase urgente de crescimento.
− O que tem para comer, estou com a fome de uns dez pedreiros. − Digo quando nos sentamos e mamãe revira os olhos.
− Sophia, não fale assim...o que Rafael e Natacha irão pensar de você?
− Eles já sabem como sou, se gostam que fiquem...se não, que saiam. − Falo e Nath sorri abraçando-me o pescoço.
− Eu lhe amo assim, mesmo sendo tão ogra. − Ela diz.
− Tem gosto para tudo mesmo. − Rafael revira os olhos dizendo e mamãe sorri junto a Caleb.
− O Rafa também lhe adora, ele só não é capaz de demonstrar afeto.
− Temos outra Sophia aqui então! − Papai fala beijando minha bochecha. Finalmente o empata almoço chega, mamãe põe a lasanha sobre a mesa e já me preparo para devora-la.
− Hoje irei sair daqui com a barriga estourada de tanto comer.
− Caleb brinca e todos riem, menos eu fazendo com que o mesmo se irrite. Sempre tivemos essa briga de que nunca iriamos rir um da piada do outro, é claro que o mesmo já perdeu, porém permaneço firme até o fim.
− Tudo bem, a Sophia irá orar pela refeição. − Papai me executa naquele momento, lhe olho surpresa. Não gosto muito de orar para que ouçam, minha oração é meio diferente dos outros.
− Obrigado pela refeição, amem. − Sussurro e sou obrigada a fechar os olhos, quando papai me fuzila com ira divina. − Está bom, fechem os olhos aí. − Todos fecham os olhos e finjo que estamos só nós dois ali, eu e Deus. – Oi Jesus, estamos aqui nesta mesa cheia de coisas boas, valeu pela comida e sempre dê força para que meu pai continue trabalhando, assim não me deixando passar fome. Tamo junto e depois a gente conversa, com mais privacidade. Amem. − Todos abrem os olhos e dizem "amem" em uníssono.
− Gostei de sua oração, é bem particular...parece ser muito íntima com Jesus. − Rafael elogia minha oração e sorrio agradecendo, em silêncio.
− Então Rafael, irá se casar com nossa filha? − Papai diz subitamente, fazendo com que Rafael engasgue com o suco, sendo socorrido por sua irmã que bate em suas costas. Todos riem e meu rosto simplesmente queima, me levanto e corro em direção ao meu quarto, só precisava ficar sozinha, tudo aquilo estava sendo demais para mim. Nunca fui muito de chorar, mas acabei desabando, sem motivo concreto, mas desabei.
− Com licença, posso entrar? − Natacha diz batendo na porta. Limpo meus olhos com a blusa e a mesma sorri, sentando-se ao meu lado. − Sabe, eu lhe admiro muito...você é incrível, uma garota forte. Sei que nos conhecemos faz pouco tempo, mas quero muito ser sua amiga.
− Ultimamente não tenho me dado muito bem, quando confio nas pessoas. − Falo ainda com a voz embargada, Natacha me abraça. Acredito que não exista nada melhor do que um abraço, ele quando é verdadeiro tem o poder de arrancar todas as suas dores.
− Estarei aqui, sempre que precisar. Pode contar comigo. − Somos interrompidas por meu telefone que vibra, atendo ouvindo a voz de Bianca do outro lado.
“Sophi, preciso de você...por favor, vem aqui...”