Lan WangJi tocou a sineta à porta e uma senhora de meia idade abriu a porta, assustando-se com a visita em tão avançada hora.
“A-Zhan! O que faz aqui, meu menino?” A senhora se referia tão carinhosamente a Lan WangJi, que até parecia sua mãe.
“A- Zhong! Preciso de sua ajuda!” Se ajoelhou a frente na mestra, abaixando sua cabeça e recebendo um afago no rosto.
“Levante, meu menino! Entrem! Está frio aqui fora!” Chamou, ajeitando o xale sobre os seus ombros e seguindo para o interior da residência.
Wei WuXian nunca imaginou que Lan WangJi teria tal i********e com alguém e isso realmente aqueceu o coração do patriarca, que os seguiu, sentindo que o lugar emanava amor e cuidado.
“Farei um chá para vocês!” Seguiu para o fogareiro, de onde tirou uma chaleira e voltou-se para a mesa ao centro da residência, onde o casal se sentou, servindo-os. “Você deve ser o jovem mestre que é o companheiro de meu A-Zhan!” Voltou-se carinhosamente para Wei WuXian.
“Oh! Sim! Me chamo Wei WuXian!” Respondeu solicito, ainda embalando o bebê dorminhoco.
“E esta criança? A última vez que A-Zhan me procurou aqui, estava com um menino um pouquinho maior!” Falou, saudosa.
“Este é Lan Wei!” O patriarca respondeu contente.
“A-Zhong, vim pedir para que nos ajude com Lan Wei!” Lan WangJi a olhava suplicante.
Ela já havia entendido desde que se deparou com o casal a sua porta.
“A-Zhan, você sabe que eu faço tudo por meus meninos!” Respondeu carinhosamente, estendendo os braços em direção ao bebê. “Vou cuidá-lo como se fosse meu filho, assim como cuidei de você, de A-Huan e A-Yuan!” Pegou a criança em seus braços.
Wei WuXian estava realmente surpreso! Nunca viu ninguém chamar seu marido e seu cunhado assim e nem mesmo os juniores sabiam o nome de nascimento de Lan SiZhui.
“Obrigado!” Lan WangJi agradeceu.
Wei WuXian ficou angustiado por deixar a criança que eles adotaram nas mãos de outra pessoa, mas sabia que ele e seu marido não teriam condição de se dedicar 24 horas por dia para cuidar de um bebê e esta era a melhor solução, deixar o bebê aos cuidados de quem já havia ajudado a educar as Jades de Lan e o discípulo querido deles.
“Amanhã, voltaremos para vê-lo!” Lan WangJi falou, também sentindo uma angústia no peito, pois já amava aquela criança como um filho, mas consciente de que essa era a melhor decisão.
“Não partam ainda! Venham!” Os chamou, indo para um corredor que levava a um pequeno quarto. “Lembra-se disso, A-Zhan?” Indicou um berço de vime, rodeado de um tecido bordado com motivos de nuvens.
Lan WangJi deixou escapar um pequeno sorriso, lembrando-se de tal móvel.
“Pertenceu a A-Huan e depois a você! Quando A-Yuan chegou aqui, ele já era grandinho e não pode usar esse berço!” Contava alegremente, deitando o bebê naquele bercinho.
“A-Zhong...” Lan WangJi parecia emocionado, mas como sempre, firme.
“Não diga nada, meu menino! Não precisa!” Acariciou novamente a face do Cultivador-chefe. “Eu sei o que fazer!” Sorria.
O casal deixou a mestra e o bebê, dirigindo-se para o seu Jingshi afim de descansar depois de um dia tão longo, mas Wei WuXian não podia guardar mais isso para si e parou seu marido no meio do caminho.
“Lan Zhan!” Abraçou seu amado, surpreendendo-o. “Eu te amo!” Segurou ao máximo, mas mesmo assim uma lágrima teimosa escapou de seus olhos. Agora, não eram apenas os dois! Agora eles tinham um filho.
*
“HanGuang-Jun! Mestre Wei!” Lan SiZhui e Lan JingYi chegaram apressados e quando se depararam com seus mestres, pararam imediatamente e os cumprimentaram cordialmente, mas ao levantaram seus olhos, surpreenderam-se com o que estavam presenciando.
O casal de cultivadores estava brincando com uma pequena criança, que andava cambaleante tentando ir atrás dos coelhos da Segunda Jade de Lan.
“SiZhui? JingYi? Vocês nunca viram um bebê antes?” Wei WuXian perguntou, rindo da expressão assustada que ambos estampavam em suas faces. “Venham conhecer nosso bebê!” Chamou aos dois, que se entreolharam e se aproximaram da criança, que havia acabado de cair sentada, mesmo assim não esboçava nenhum sinal de choro.
“Como se chama, mestre Wei?” Lan SiZhui perguntou curioso, enquanto a criança esforçava-se para alcançar uma das cenouras que os coelhos haviam deixado para trás.
“Lan Wei!” O patriarca exclamou alegremente com um sorriso radiante. “HanGuang-Jun é bom em escolher nomes, não é SiZhui?” Insinuou, sorrindo para o jovem, que retribuiu o sorriso e logo ele percebeu também que Lan WangJi tinha o esboço de um sorriso nos lábios vendo a criança se aproximar de um coelho com a cenoura em mãos.
Lan JingYi estava achando aquilo muito estranho. Seus mestres haviam adotado um bebê? Desde quando seu mestre HanGuang-Jun gostava de crianças? A única criança que ele havia sido próximo era SiZhui e mesmo assim, seu amigo não lhe dera detalhes de como Lan WangJi o tratava na infância. De fato, ele nunca havia visto a Segunda Jade de Lan tão compenetrado e até mesmo ‘contente’ observando uma criança brincar a ponto de arrancar um sorriso deste.
“E por que vocês vieram até aqui atrás de nós?” Wei WuXian perguntou, percebendo que os dois juniores estavam apressados a procura deles.
“Ah, o General Fantasma...” Lan JingYi lembrou-se a que veio e falou apressadamente, mas quando percebeu o deslize, se corrigiu. “O Mestre Wen Ning acabou de chegar e nós estávamos a procura dos mestres para atendê-lo, já que ZeWu-Jun está na enfermaria e pediu para que não fosse interrompido!” Explicou.
“Oh, sim!” Wei WuXian foi se levantando de onde estava sentado e Lan WangJi fez o mesmo. “Lan Zhan, vamos falar com o Wen Ning!” Pegou o pequeno Lan Wei e o levantou a altura de seus ombros, arrancando uma gargalhada do bebê. “Wei-Wei, comporte-se com seus geges!” Jogou a criança pra cima e as suas gargalhadas ecoaram pelo bosque. “E vocês, cuidem bem do seu Didi!” Voltou-se para os dois juniores.
Lan SiZhui fez um sinal afirmativo com a cabeça, abrindo um sorriso discreto, enquanto Lan JingYi estava pasmo.
“N-Nós do-dois? Cuidarmos desse bebê?” Estava apavorado e Wei WuXian assentiu com a cabeça, deliciando-se com a expressão aterrorizada do discípulo. “Mas e se ele sentir fome? E se precisar fazer xixi ou coco?” Perguntou.
“Então, se isso acontecer, você descobrirá que bebês não sabem se limpar sozinhos!” Ironizou, ainda com um sorriso m*****o.
“SiZhui!” Lan WangJi chamou. “Daqui a cerca de uma hora, leve-o para a mestra Zhong!” Mandou.
“HanGuang-Jun, nós não temos autorização...” Lan SiZhui falou, envergonhado por lembrar seu mestre dessa proibição de entrar na ala das mulheres solteiras a partir do momento que chegaram a adolescência.
“Eu estou lhe dando permissão!” Respondeu em seu tom firme.
Wei WuXian entregou o pequeno para os braços de Lan SiZhui e o Wei-didi logo sorriu para seu Gege.
O casal de cultivadores despediu-se de seu filho e deixou os dois juniores para trás, seguindo o caminho de pedras em direção à entrada de GusuLan.
Lan SiZhui brincava jogando seu didi para o alto, enquanto Lan JingYi ainda estava incrédulo.
“Então HanGuang-Jun resolveu adotar mais uma criança?” Ainda estava chocado. “E o mestre Wei será a mãe?” Refletiu, fazendo uma careta de estranhamento ao pronunciar tais palavras.
“JingYi!” Lan SiZhui chamou sua atenção. “Respeite o Mestre Wei! Se HanGuang-Jun te ouve, eu não quero nem imaginar a punição que te dará!” Ralhou com ele. “Wei-didi, não dê importância a esse gege!” Brincou com o pequeno, fazendo voz de criança. Logo, o irmão mais novo se cansou do colo e quis voltar a andar pelo bosque atrás dos coelhos, sendo acompanhado de perto pelos seus geges.
“Eu tenho algumas vagas lembranças de quando eu era pequeno e HanGuang-Jun me trazia para brincar e alimentar os seus coelhos aqui!” Lan SiZhui comentou, lembrando-se dos tempos em que sua única preocupação era a espera para que Lan WangJi o levasse para brincar no bosque com aquelas pequenas bolinhas de pelo brancas. “Eu ficava horas aqui e as vezes, HanGuang-Jun tocava alguma melodia em sua guqin pra mim!” Sorria ao lembrar disso, mas sem tirar os olhos do bebê que cambaleava atrás dos animaizinhos donos do bosque.
Logo que chegaram à entrada de GusuLan, Wei WuXian e Lan WangJi avistaram Wei Ning parado, com o olhar admirado, como se contemplasse a paz e o silêncio do Recanto das Nuvens.
“Wen Ning!” Wei WuXian o chamou. “Jiang Cheng tomou as providências quanto ao m******e no clã Deshi?” Perguntou, sabendo que Wen Ning não sairia de lá até que os cultivadores de YunmengJiang chegassem.
“Irmão Wei! HanGuang-Jun!” Os cumprimentou e prosseguiu. “O líder Jiang chegou antes do escurecer com muitos cultivadores e eles cremaram os corpos dos cadáveres e fizeram o ritual de purificação do lugar, criando um selo no pátio para que a energia ressentida não mais o afetasse! E também providenciaram o sepultamento de todos os seus mortos!”
“Hummmm... e você descobriu mais alguma coisa?” Questionou.
“Encontramos mais alguns servos que sobreviveram ao ataque fugindo pelos fundos, enquanto a mestra Deshi combatia aos cadáveres! Eles se esconderam em um curral ali próximo e nos contaram a mesma história que o servo que encontramos na residência!”
“Ah! Que alívio!” Wei WuXian suspirou feliz por descobrir que mais vidas foram salvas. “E você encontrou algo suspeito enquanto estava por lá?” Ainda queria saber mais.
“Hum...” refletiu e após uns instantes prosseguiu. “Nada estranho na propriedade, mas o líder Jiang...” Wen Ning se conteve, pensando que talvez não fosse bom levantar suspeitas.
“O que tem Jiang Cheng?” Wei WuXian se preocupou.
“Ele... ele...” Wen Ning se arrependeu de ter começado a falar sobre o líder Jiang, mas sabia que agora ele não poderia voltar atrás. “... ele parecia muito nervoso e me interrogou sobre o ocorrido, mas... mas...” vacilou novamente, desviando o olhar, mas sabia que Wei WuXian não se daria por satisfeito com meias palavras. “... ele estava muito preocupado com as senhoritas da seita He e queria ter certeza de que elas estavam bem! Eu contei tudo o que vi e ele... ele falou algo como ‘eu não posso ir lá... ou então não irei me controlar...’, mas quando eu perguntei o que ele quis dizer com isso, ele disse que não havia dito nada!” Contou, confuso.
“Hummm...” Wei WuXian refletiu sobre o que o amigo havia acabado de contar. “Jiang Cheng está nos escondendo algo...” lançou um olhar cúmplice ao seu marido, que também desconfiou desse comportamento, mas definitivamente não poderiam fazer nada no momento.
Wei WuXian voltou-se novamente para o amigo sempre tão fiel e gentil.
“Wen Ning, descanse um pouco no Recanto das Nuvens! Os juniores vão gostar de ter sua companhia aqui por uns dias!” Sugeriu, trazendo um sorriso a face pálida do amigo.
“Eu... eu também gostaria da companhia deles!” Falou não disfarçando o contentamento. Então Wei WuXian orientou a Wen Ning para que ele pudesse ir até a Fonte Fria e assim tentasse descansar, embora o patriarca soubesse que isso era um tanto quanto impossível, mas talvez trouxesse um pouco de relaxamento ao seu companheiro de tantas batalhas.
Os dias passavam tranquilos no Recanto das Nuvens, enquanto as noite eram calorosas no Jingshi. O casal de cultivadores fazia questão de passar algumas horas do seu dia junto ao seu bebê, brincando com ele no bosque entre os coelhos, tocando a guqin ou a chenqin para niná-lo, passeando entre a floresta e as cachoeiras, caminhando entre os corredores do Recanto das Nuvens, fazendo as risadas do pequeno ‘Wei-Wei’ ecoarem por entre as construções. Até mesmo Lan QiRen se sentiu saudosista, lembrando dos tempos em que seus sobrinhos eram pequenos e ele se esgueirava discretamente para visitar a mestra Zhong em busca de notícias dos seus pequenos discípulos.
Mas por outro lado, Wei WuXian e Lan WangJi não deixavam de se preocupar com o comportamento de Lan XiChen. Para eles e para todos os mestres médicos e enfermeiras de GusuLan, era óbvio o que estava acontecendo ali, porém, não havia nada que eles pudessem fazer além de esperar.
Naquele dia em que Wen Ning chegou ao Recanto das Nuvens, logo ao raiar do Sol, Lan XiChen deixou sua residência de reclusão, mesmo não tendo dormido direito e dirigiu-se à enfermaria, onde foi direto ao aposento no qual a jovem mestra He estava se recuperando. Sem deixar que a enfermeira saísse do quarto, o próprio líder Lan se ofereceu para enviar mais energia espiritual para a cultivadora ferida, assim ajudando-a na sua recuperação.
Lan XiChen deu ordens expressas de não ser interrompido e só parou quando o cirurgião precisou examiná-la, se retirando para dar a privacidade que o trabalho do médico exigia.
Alegrou-se ao saber que a ferida estava cicatrizando rapidamente e poderia transferi-la para a sua residência, onde ela seria melhor acomodada junto com sua prima, que também passava a maior parte do tempo junto ao seu leito.
Quatro mestras enfermeiras se revezavam nos cuidados com a mestra He, mas era a energia espiritual do próprio líder Lan que a alimentava, ausentando-se apenas para tentar dormir – sem sucesso – na sua residência de reclusão e voltando ao nascer do dia seguinte.
He LiAn não deixava de notar o tamanho da dedicação que o líder Lan despendia para a sua prima, mas haviam assuntos que ela não poderia interferir de forma alguma e preferia manter sigilo, embora esse comportamento a deixasse nitidamente comovida. Todos os dias enviava mensagens através de um mestre de confiança que o líder Lan disponibilizou, mantendo o líder Jiang informado da situação e sempre ressaltando que ele não poderia revelar ao líder He o ocorrido com sua filha. As mensagens iam e eram respondidas de imediato pelo Líder Jiang, que não disfarçava a agonia com tal situação, embora He LiAn não desse detalhes do tratamento que sua prima recebia.
Lan XiChen deu sua palavra que iria escoltar pessoalmente as duas senhoritas para o seu destino assim que He Hua estivesse pronta para a viagem. Esse compromisso de certa forma mantinha a cabeça de Jiang Cheng no lugar, mas ele não sabia por quanto tempo ainda iria suportar ficar trancado em YunmengJiang, fingindo que estava tudo bem.
He AnLi também não se aguentava mais, na angústia por não saber quanto tempo levaria para sua prima acordar e elas poderem seguir para o Pier Lótus, porém, sabia que He Hua não poderia estar melhor assistida, sendo cuidada de perto pelo próprio líder Lan.
No quinto dia após a chegada da mestra He ao Recanto das Nuvens, o cirurgião observou que a sua paciente já possuía um nível de energia espiritual satisfatório e agora apenas restava aguardar ela recobrar sua consciência. Recomendou ainda que fosse tocado a “Melodia do Equilíbrio” para auxiliar no seu despertar.
Prontamente, o líder Lan começou a tocar sua xiao e a melodia calma e serena invadiu sua residência oficial, trazendo ainda mais paz ao local.
A seção melodiosa durou a manhã toda e quando He LiAn se retirou para poder ler a mensagem recém-chegada de Jiang Cheng entre os caminhos silenciosos de GusuLan, Lan XiChen sentiu um movimento no leito da mestra He.
“Ahh... A-LiAn...” chamou pela prima com a voz arrastada e fraca.
“Senhorita He, está tudo bem agora!” Lan XiChen calou sua xiao e se aproximou da cama onde He Hua repousava, falando calmamente com ela enquanto a mestra abria os olhos, acostumando-se com a luz que entrava pelas janelas do cômodo.
“Quem é você?” A visão embaçada não permitia que a mesma reconhecesse a face a sua frente.
“Me chamo Lan Huan, mas todos me chamam de Lan XiChen!” Respondeu, tendo a audácia de tocar em sua mão quente e conferir seus batimentos cardíacos e o fluxo de sua energia espiritual.
“Lan... Lan XiChen...?” He Hua esforçava-se para lembrar de quem era esse nome enquanto seus olhos ainda não haviam se firmado, quando sua mente finalmente trouxe à tona a quem pertencia tal nominação. “ZeWu-Jun!” Exclamou, assustada, levantando-se com o susto e sentando-se na cama, afastando suas mãos nesse movimento. “Líder Lan...!?”
“Sim! Eu... eu cheguei na residência do clã Deshi enquanto você estava lutando para defender a senhorita He LiAn!” Respondeu, ainda com o tom de voz pacífico, que fez o coração de He Hua voltar a bater em seu ritmo normal, finalmente conseguindo focar sua visão no rosto do Líder Lan, reconhecendo os olhos daquele que foi o último a quem viu antes de perder os sentidos e desfalecer com o ferimento que sofreu.
Depois de alguns segundos em que seus olhos ficaram presos nos dele, conseguiu os desviar, olhando ao redor e se deu conta de que não estava em nenhum lugar a qual já tivesse frequentado antes. Baixou os olhos e percebeu que suas roupas haviam sido trocadas por um robe branco.
“Minhas roupas!?” Fitou Lan XiChen, temerosa do que pudesse ter acontecido.
O Líder Lan deu um leve sorriso ao presenciar momento de tamanha timidez de mestra tão poderosa.
“Não se preocupe, uma mestra enfermeira as trocou após a cirurgia!” Explicou, tentando acalmar novamente a jovem. He Hua se sentiu envergonhada ao perceber que havia tido pensamentos tão indignos daquele que possuía fama de ser tão puro quanto uma Jade.
“Cirurgia?” Levou sua mão ao peito quando se deu conta de tal palavra e sentiu uma leve dormência na região onde tocou.
“Senhorita He, você foi muito corajosa lutando contra todos aqueles cadáveres ferozes, mas seu ferimento quase lhe custou a vida!” Lan XiChen respondeu, demonstrando sua preocupação e ao mesmo tempo sua admiração.
“Há quantos dias isso aconteceu?”
“Há cinco dias!” Contou, provocando mais um susto na mestra, que levou as mãos a boca.
“Meu pai deve estar preocupado!” Sentiu um aperto no peito, lembrando que a saúde do seu velho pai e líder He estava oscilando muito ultimamente.
“Não se preocupe!” Sorriu benigno mais uma vez. “A senhorita He LiAn não permitiu que comunicássemos ao líder He e o líder Jiang também está mantendo sigilo sobre essa situação!” A voz serena de Lan XiChen trazia tanta calma para o coração da jovem mestra, que ela apesar de preocupada com o que se passara nesse tempo em que esteve inconsciente, não conseguia se agitar na presença do famoso líder Lan.
“ZeWu-Jun, foi descoberto o motivo do ataque?”
“Por favor, senhorita He, pode me chamar de XiChen!” O líder Lan a permitiu, recebendo um sorriso tímido em resposta.
Lan XiChen explicou calmamente tudo o que descobriram e o que se passara ao longo de todos esses dias em que a mestra He esteve inconsciente.
Os olhos atentos de He Hua não deixavam de captar cada detalhe do rosto imaculado da Jade de Lan e ela pôde confirmar aquilo que apenas havia ouvido falar. O líder Lan era o homem mais bonito, gentil e amável que já havia a agraciado com sua presença. Sua voz pacífica trazia uma onda de paz e tranquilidade e sua postura imponente entregava a grandiosidade de sua alma.
Deixou-se encantar pelos movimentos dos lábios do Líder Lan e não conseguia desviar o olhar, tão fascinada estava pela honra de tal companhia em seus aposentos, que ela logo descobriu a quem pertencia.
Ficou ainda mais encanta ao saber que o próprio líder Lan cuidou de transferir sua energia espiritual e auxilia-la em sua recuperação, mas isso só a deixou mais intrigada.
“Senhorita He, espero que o Recanto das Nuvens possa lhe ajudar a restabelecer sua vitalidade!” Falou, por fim.
“Líder Lan... ZeWu-Jun...” recordou-se do título pelo qual a Jade de Lan era conhecido, não encontrando coragem para chamá-lo apenas de XiChen. “Eu fico grata por toda a vossa dedicação, mas eu creio que deva seguir para o Píer Lótus o mais breve possível!” Exclamou, sentindo uma dor em seu peito ao ditar tais palavras, querendo no fundo do coração poder desfrutar mais da presença de figura tão encantadora.
“Bem, não poderei deixá-la partir antes que seu médico a libere e como ele é meu subordinado, acredito que terei de usar da minha influência para fazê-la permanecer mais alguns dias em GusuLan!” Lan XiChen gracejou, sem conseguir disfarçar o sorriso e surpreendendo a jovem.
‘Então ele deseja a minha presença aqui...’ pensou, sentindo o seu coração agitar-se descontroladamente dentro de seu peito.
“Senhorita He Hua!” A mestra enfermeira exclamou assustada ao entrar no cômodo e encontrar a sua paciente sentada em seu leito, conversando com o Líder Lan. “A senhorita não pode levantar-se tão de pressa!” Deixou a bandeja com os curativos que iria trocar em um pequeno móvel ao lado da porta e foi até a mestra.
“Ah, eu estou bem!” Sorriu para a enfermeira que já pôs-se a examiná-la.
O sorriso sincero e amistoso de He Hua desconcertou Lan XiChen, que assim que percebeu que seu olhos miravam os lábios da cultivadora, saiu de seu lado, dando dois passos em direção à porta para deixá-las a sós.
“Líder Lan...” He Hua chamou sem ao menos pensar no que diria a seguir.
Lan XiChen virou-se e seus olhos se encontraram com os da mestra He, ficando presos ali por alguns instantes.
“Senhorita He, chamarei o seu cirurgião e sua prima para a visitarem!” Falou depois de alguns segundos, aproximando-se novamente, como se não quisesse deixá-la nem um instante.
“Obrigada, ZeWu-Jun!” Exclamou, sentindo um calor formar-se ao redor do seu rosto. Mais um sorriso escapou aos lábios do Líder Lan, que já havia se conformado que não ouviria seu nome de cortesia sair dos lábios de tão gentil senhorita.
Forçou-se a sair do quarto e encontrou o cirurgião, solicitando sua presença para atender sua única paciente no momento e logo que saiu pelas portas de sua residência, já encontrou He LiAn, que estava retornando.
He LiAn não coube em si de alegria quando soube que sua prima havia acordado e correu até seus aposentos, sem ao menos lembrar-se de alguma regra que as enfermeiras haviam lhe alertado.
“A-Hua! A-Hua!” Entrou no quarto onde a prima se recuperava e jogou-se aos pés da mesma, na extremidade da cama.
“Pare com isso, A-LiAn! Eu estou feliz que você está bem!” Comentou, sorridente, enquanto o cirurgião examinava seu ferimento, afastando levemente seu robe na altura de seu peito, mas sem expor demais seu corpo. O líder Lan achou por bem esperar na porta do cômodo, com os olhos baixos até o exame terminar.
He LiAn derramara-se em lágrimas de alegria ao ver a prima recuperado e em seu humor habitual.
“Me parece que a senhorita é uma guerreira muito forte! Sua cicatriz está quase fechada!” O cirurgião comentou.
“Então poderemos partir logo para o Pier Lótus?” He AnLi perguntou rapidamente, sem disfarçar a alegria e secando as lágrimas, mas He Hua e Lan XiChen pareceram não gostar dessa suposição, cruzando seus olhares novamente, dessa vez de forma triste.
“Oh, por enquanto não! Recomendo mais uma semana de repouso, já que a senhorita He Hua perdeu muito sangue e precisa repor suas energias, visto que a energia espiritual doada pelo líder Lan, apesar de ser muito poderosa, não é a mesma coisa que a energia produzida pelo próprio núcleo dourado!” Explicou, trazendo um certo alívio aos corações de ambos. “Além do mais, sem espadas por pelo menos mais um mês. Portando, poderá viajar, mas somente numa montaria, por isso, a ferida deverá estar completamente fechada!”
He Hua sentia um misto de emoções. Ao mesmo tempo que queria ficar, e para isso desejava que demorasse a se recuperar, mas também sabia que tinha uma missão a cumprir, missão esta já adiada por cinco dias.
Ao perceber a confusão na face de He Hua, Lan XiChen teve uma ideia.
“Mestre Xion!” Dirigiu-se ao cirurgião. “Permite-me trazer visitas para alegrar a estadia da senhorita Hua?”
“Claro! Mas não vamos exagerar! Por hoje, não levante-se desta cama!”
Lan XiChen pediu licença e saiu, logo o cirurgião orientou a enfermeira a preparar uma refeição leve, mas nutritiva para a sua paciente e ambos também saíram, deixando apenas as duas discípulas He no quarto.
“A-LiAn, como está Jiang Cheng?”
“Eu consegui contê-lo para não vir aqui! Se ele estivesse no Recanto das Nuvens, poderia deixar transparecer seus sentimentos...” comentou tristemente.
“Melhor que ele fique no Píer Lótus mesmo...!” Suspirou.
“Agora você tem que me dizer o que aconteceu com você!” Exclamou. “Nunca você se feriu de um jeito tão banal e por um inimigo tão fraco! O que aconteceu naquele momento?” Perguntou, preocupada com o que presenciou.
“Eu... eu ouvi o seu grito e corri para defendê-la, mas no exato momento em que saltei a frente daquele cadáver, eu o vi! Era ele! O cultivador que estava com outros dois e o Jiang Cheng nos campos de treinamento do Píer Lótus!” Contou, sentindo seu coração bater descontrolado contra o peito. “Quando o vi, eu não consegui reagir e então fui atingida!” Explicou.
“Você está querendo dizer que aquele cultivador era o Líder Lan?” Perguntou, levando as mãos a boca.
He Hua respondeu fazendo um aceno com a cabeça.
“Pelos deuses, você está se apaixonando por ZeWu-Jun?”
“Parece que o amor não bateu apenas a sua porta...!” Suspirou mais uma vez, desviando o olhar e sentindo seu coração se entristecer novamente.
“O que você pretende fazer agora, A-Hua?”
“Nós devemos seguir os planos de meu pai...” respondeu angustiada.
“Eu sei... não podemos decepciona-lo...” He LiAn exclamou, segurando para uma lágrima não escapar aos seus olhos.
“Ah, minha prima, venha aqui!” Chamou, fazendo He LiAn deitar sua cabeça nas pernas de He Hua, que a acariciou, consolando-a.
‘O destino está sendo muito injusto conosco...’ He Hua refletiu, segurando a dor que esse pensamento provocara em seu peito.
“Senhoritas!?” A voz doce e calma de Lan XiChen chamou, tirando ambas desse momento de i********e. “Podemos entrar?” Perguntou, recebendo um sorriso em resposta de He Hua.
Junto com Lan XiChen estavam Lan WangJi e Wei WuXian, carregando nos braços um pequeno Wei-Wei adormecido.
“Achei que ficaria contente em saber que por sua causa, foi possível salvar essa criança!” Lan XiChen explicou, lembrando que por sua coragem e valentia ao socorrer a mansão, a criança havia ficado protegida, trancada dentro daquela alcova até ser encontrada.
“Mestres!” Mesmo sentada na cama, esforçou-se para fazer um cumprimento, assim como sua prima vez, pondo-se em pé ao lado da cama.
“Mestra He, por favor, não precisa de formalidades para conosco!” Wei WuXian se adiantou. “A senhorita não deve se lembrar de mim, não é mesmo?”
“Realmente não me recordo, mas sei de quem se trata, Patriarca Yiling!” Respondeu amistosamente. “E suponho que este neste seja HanGuang-Jun!” Indicou, recebendo uma resposta afirmativa de Lan WangJi.
He Hua dirigiu seus olhos para aquele pequeno bebê, de vestes brancas com desenhos de nuvens e logo recordou-se da história que Lan XiChen havia lhe contado. Seu coração alegrou-se ao ver que aquela pequena criança havia saído ilesa de ataque tão c***l.
“Eu poço pega-lo por um instante?” Pediu e o patriarca não pode recusar. Com a ajuda de He LiAn, colocou o pequeno adormecido nos braços de He Hua, de forma que não forçasse o lado de seu peito que estava com o ferimento.
O rosto de He Hua iluminou-se com um grandioso sorriso ao embalar aquela criança.
O peito de Lan XiChen parecia que iria explodir com tal cena. Era a perfeição, como se deslumbrasse o paraíso a sua frente, diante da cultivadora embalando o bebê.
Logo, a enfermeira chegou com uma bandeja, portando a sopa medicinal que o cirurgião solicitou. He Hua entristeceu-se ao ter que devolver a criança aos braços do pai, mas sabia que tinha que repor suas forças e conformou-se com a saída de seus visitantes. Mas antes que o último mestre saísse, ela o chamou novamente.
“ZeWu-Jun...!” Mais uma vez não sabia o que falar, só sabia que queria ficar em sua presença.
“Senhorita He, mais tarde voltarei para tocar a “Melodia do Equilíbrio!” Respondeu, lançando um olhar carinhoso para a jovem mestra, que sorriu em retribuição.
“Lan Zhan!” Wei WuXian chamou a atenção do marido enquanto ambos seguiam para seu Jingshi com o pequeno adormecido no colo da Segunda Jade de Lan. “O seu irmão, ele não consegue disfarçar que está apaixonado pela mestra He...”
“Hummm!” Respondeu, preocupado.
“Você também acha que tem algo que nós não sabemos ainda?” Questionou ao marido, recebendo um olhar angustiado em resposta.