Na manhã seguinte, Lan XiChen chegou aos aposentos da senhorita He Hua logo ao amanhecer, mas ele não havia sido o primeiro. O cirurgião-chefe de GusuLan estava a examinar a sua paciente, assim sendo, o líder Lan se obrigou a esperar no corredor por alguns minutos até o médico se retirar.
“Sua hóspede está se recuperando muito rapidamente!” Lan Xion falou assim que terminou o cumprimento à Lan XiChen. “Eu até recomendo que a senhorita He Hua saia dar uma pequena caminhada pelo Recanto das Nuvens! Nada muito cansativo, temos que ir aos poucos!” Explicou e se retirou.
Lan XiChen ficou contente ao saber que poderia levar a jovem senhorita para conhecer a sua seita.
“ZeWu-Jun!” He Hua falou de dentro do quarto ao perceber que sua fiel companhia havia se despedido do cirurgião.
“Senhorita He!” A cumprimentou, entrando em seu quarto.
“Creio que hoje já posso conhecer as belezas de GusuLan pelo lado de fora da janela!” Sorria contente, levantando sua coberta e fazendo um movimento para sair da cama.
“Sim!” Respondeu, estendendo-lhe a mão para que ela pudesse ter amparo ao levantar-se, afinal, a dias que ela estava em repouso e seus pés não tocavam o chão, sentindo-se honrado por receber seu toque. Discretamente, admirou a beleza da jovem mestra, vestida com uma roupa tradicional das discípulas de Lan, que o líder havia providenciado para ela. ‘Está magnífica!’ Pensou, mas não exteriorizou sua impressão receoso que pudesse deixá-la envergonhada.
“A-Hua!” Sua prima chegou, trazendo uma bandeja com o desjejum. “O que está fazendo?” Correu ao seu encontro.
“A-LiAn, não me repreenda! O mestre Lan Xion me liberou para fazer uma caminhada e hoje eu quero comer na mesa de refeições!” Indicou, ainda segurando a mão de Lan XiChen e se dirigindo para a saída do quarto.
Seus olhos estavam atentos a tudo, já que conhecia apenas o quarto daquela residência. Observou a decoração sóbria, mas ao mesmo tempo elegante da morada do líder Lan e encantou-se com o local, observando a neblina gélida que entrava pelas janelas e portas abertas, escondendo a magnífica paisagem que rodeava o local.
Ainda com a ajuda de Lan XiChen, sentou-se à pequena mesa e foi servida pela prima, que acompanhou a ambos nessa pequena refeição.
Lan XiChen não deixava de encantar-se a cada palavra, a cada gesto, a cada sorriso que sua visitante expressava.
“Agora eu quero seguir a recomendação de meu médico e sair caminhar!” Falou em meio a um sorriso direcionado ao líder Lan. “Posso ter a honra da companhia de ZeWu-Jun?” Perguntou.
“A-Hua?!” Sua prima a chamou, num ar de repreensão.
“Está tudo bem, A-LiAn! Nada melhor do que conhecer o Recanto das Nuvens na companhia do Líder Lan!” Respondeu.
Por mais que soubesse que não era correto o que estava fazendo, queria aproveitar cada instante que estava ao lado do cultivador que salvou-lhe a vida e fez seu coração bater descompassado.
Deixando a prima para trás, He Hua seguiu lado a lado o líder Lan, que a conduzia entre os caminhos e corredores de GusuLan, contando com palavras gentis e suaves a história de sua seita e indicando as construções e suas funcionalidades. Ao saírem por um pequeno caminho de pedras brancas que seguia mata a dentro, He Hua ficou curiosa por onde o líder Lan iria levá-la.
“ZeWu-Jun, onde estamos indo agora?” Questionou, mas confiante de que seria um lugar digno de toda beleza que já vislumbrara no Recanto das Nuvens.
“É um local que não me pertence, mas certamente a fará ficar encantada!” Respondeu, com o mesmo tom doce e sorriso discreto nos lábios.
“Achei que tudo no Recanto das Nuvens pertencia ao Líder Lan!” Comentou, provocando-o.
“De certa forma sim!” Respondeu, depois de um suspiro. “Mas este local é mantido por meu irmão e ele o preserva com toda a sua dedicação!” Explicou.
Seguiram por mais alguns metros e logo as pequenas bolinhas de pelo brancas foram avistadas por ambos, mas como não estavam acostumados a visitas, esconderam-se por entre os arbustos e bambus.
“Coelhos!” Exclamou surpresa, vendo a movimentação dos pequenos animais.
“WangJi os alimenta todos os dias! Ele ama esses animais!” Comentou.
He Hua parecia encantada, com os olhos brilhando ao admirar os coelhos e aproximou-se de um dos arbustos, conseguindo pegar um coelhinho distraído, que estava alimentando-se com uma folha na boca.
O segurou com carinho e o acariciou entre suas mãos. Lan XiChen sentiu seu coração acelerar ainda mais ao visualizar a imagem da mestra que havia lhe tirado o sono brincando com criatura tão amável.
“Eles são muitos!” Observou, circulando seus olhos ao redor e vendo os demais coelhinhos se aproximarem.
“É proibido caçar no Recanto das Nuvens e também são proibidos animais de estimação, por isso WangJi os cria soltos pelo bosque!” Explicou solicito.
Embora quisesse passar o restante do dia a brincar com os animaizinhos, He Hua sentiu que estava na hora de voltar a seus aposentos e descansar, afinal, precisava recuperar-se, mas seu sorriso sumiu de seus lábios ao recordar que quando isso acontecesse, ela partiria.
“ZeWu-Jun, podemos voltar?” Perguntou, assim que devolveu o coelho aos seus companheiros peludos.
“Sim!” A conduziu pelo caminho de volta, quando viu a jovem inclinar-se levemente, levando a mão ao peito.
“Ahhhh” suspirou dolorosamente.
“Senhorita He!” Lan XiChen assustou-se, parando imediatamente e segurando a mestra pelo braço, quando notou as vestes brancas e azuis manchadas de sangue, que estava espalhando-se por sua mão também.
Imediatamente, Lan XiChen levantou He Hua em seus braços, pegou impulso e planou até a cobertura de uma das construções de GusuLan. Mais um impulso e chegou até a janela do quarto em que He Hua estava hospedada. O desespero e a angústia tomaram conta do Líder Lan. Arrependeu-se de ter levado a jovem num passeio tão longo e demorado.
Ao entrar no aposento, colocou a jovem deitada sobre a cama.
“Eu vou chamar o cirurgião! Tudo vai ficar bem, senhorita He!” E saiu apressadamente, encontrando uma mestra enfermeira pelo caminho e a orientando a atender a jovem senhorita até que o cirurgião chegasse.
“A-Hua! A-Hua!” He LiAn viu quando ZeWu-Jun passou por sobre as construções de GusuLan com a sua prima em seus braços e correu para ver o que havia acontecido. Ao chegar no quarto, viu o sangue se espalhando pelas vestes, enquanto a enfermeira tentava estancar o sangramento.
“Não se preocupe! Já selei meus pontos vitais!” Falou, tentando acalmar a prima.
“Mas está sangrando muito!” He LiAn beirava ao desespero.
“Não consigo selar aqui, pois está próximo ao coração!” Respondeu, ainda mantendo o dedo indicador e o médio sobre a ferida, enviando energia espiritual para a região e assim diminuindo o sangramento, que mesmo assim persistia.
“Senhorita He!” O cirurgião chegou, com Lan XiChen logo em seguida. “Esperem lá fora! Vou examina-la!” Orientou, ficando apenas ele, He Hua e a enfermeira no quarto.
Lan XiChen sentia que seu coração iria sair para fora do peito de tão rápido que batia. Seu remorço por tê-la levado tão longe o atormentava e não se perdoaria se algo acontecesse com a jovem mestra.
He LiAn compreendia bem o que estava acontecendo ali. He Hua e Lan XiChen não conseguiam disfarçar, mas ela sabia que esses sentimentos que estavam brotando tão descontroladamente só provocariam dor e sofrimento a ambos, tanto quanto ela já sentia e entristecia-se ao saber que a prima passaria pelo mesmo.
“Pronto! Sangramento estancado!” Lan Xion saiu do quarto e dirigiu-se ao Líder Lan. “Foi apenas um ponto que desprendeu-se e a caminhada acelerou a pulsação da Senhorita He, gerando o sangramento! Por hoje, chega de caminhadas!” Orientou e retirou-se.
Lan XiChen e He LiAn entraram apressadamente no quarto após a enfermeira retirar-se com as roupas ensangüentadas. He Hua estava sentada em sua cama e com roupas limpas.
“Senhorita He, perdoe-me por tê-la feito andar tanto!” Lan XiChen transmitia o sofrimento em sua voz.
“Está tudo bem!” Respondeu prontamente. “Eu adorei o passeio!” Voltou-se para a prima e solicitou. “A-LiAn, você pode trazer chá e uns biscoitos? Estou com fome!” Pediu e a prima logo entendeu que o que ela queria de fato era ficar a sós com o Líder Lan.
He LiAn prontamente atendeu a seu pedido e se retirou do quarto, deixando-os a sós.
“ZeWu-Jun, sente-se ao meu lado!” Chamou, dando espaço para que ele sentasse a sua frente, sobre a cama. “Não se preocupe!” Pegou em sua mão quente e macia. “Eu adorei o passeio e ficaria contente se repetíssemos ele outro dia!” Sugeriu.
“Senhorita He, seria uma honra, mas temo por sua saúde!” Externou sua angústia.
He Hua não queria que Lan XiChen se sentisse assim e levou sua mão ao rosto do líder Lan, acariciando sua bochecha. O toque surpreendeu a Jade de Lan, mas ele resolveu não evitá-lo, do contrário, fechou os olhos e aproveitou ao máximo tal carinho.
“ZeWu-Jun...” He Hua sussurrou. Estava nervosa, temerosa, mas sentia que talvez não tivesse outra oportunidade e sem pensar muito para não vacilar, prosseguiu. “XiChen...” chamou-o pelo seu nome de cortesia, fazendo-o sair de seu transe e abrir os olhos.
Surpreendeu-se ao percebeu que a jovem senhorita estava com seu rosto perigosamente próximo. Deixou-se levar pela emoção do momento e sem ter controle por seus atos, seus lábios tocaram os da mestra a sua frente e mais que isso. Os olhos fechados de ambos permitiu que eles se desvinculassem da realidade e apenas aproveitassem o que os sentidos lhes mostravam. Lábios macios e quentes, o sabor do desejo, línguas se envolvendo e o êxtase que tudo isso trouxe os levou a perceber que era isso o que ambos tanto queriam, mas ao voltar a si, He Hua afastou-se rapidamente, levando as mãos a boca.
“Senhorita He, me perdoe... eu... eu me excedi...!” Lan XiChen não sabia direito o que falar, mas sabia que o que havia feito era extremamente desrespeitoso com a jovem mestra.
“Não se desculpe... fui eu que...” também não conseguia raciocinar direito depois de tantas sensações boas a invadirem.
“A-Hua, seu chá!” He LiAn entrou no quarto, percebendo que algo de errado havia acontecido.
Lan XiChen levantou-se rapidamente e se despediu.
“Deixarei a senhorita He Hua descansar por hoje! Voltarei amanhã para vê-la!” Inclinou-se, cumprimentando-as e se retirou.
Seu coração estava descontrolado e um misto de emoções tomava conta de seu interior. Ele já havia percebido que os seus sentimentos para com a senhorita He Hua não tinham mais volta e ele havia decidido que era isso que ele queria para o restante de sua vida.
“He Hua, você não fez o que eu estou imaginando, fez?” He LiAn a acusou.
O silêncio de He Hua entregou tudo o que havia se passado e He LiAn percebeu que não havia mais saída.
“Minha prima, você sabe que isso não é certo! Despertar os sentimentos do Líder Lan sem poder cumprir com suas expectativas...” falou sôfrega, sentando-se ao lado de He Hua.
“Eu sei...” respondeu angustiada, deixando seu sofrimento escorrer de seus olhos por meio de lágrimas incontroláveis. He LiAn a puxou para seu colo, abraçando-a. “Eu preciso acabar com isso...” Decidiu-se entre os soluços derramados nas vestes verdes da sua prima.
Pelo restante do dia, He Hua não conseguiu alimentar-se direito e somente tomou o chá medicinal preparado pelas mestras enfermeiras. He LiAn entristeceu-se com o estado da prima, mas não havia nada que elas pudessem fazer quando a decisão do Líder He estava acima delas e nenhuma jamais teria coragem de contrariar os desejos do patriarca He.
Na manhã seguinte, o líder Lan demorou mais que de costume para apresentar-se na residência que hospedava as jovens He. Decidiu-se por ir mais tarde, depois de Lan Xion a ter examinado e dela já ter tomado seu desjejum. Repassou em sua mente tudo o que havia planejado e ao encontrar-se com o cirurgião chefe, recebeu a notícia que a senhorita He Hua poderia sair passear, porém, de forma mais contida e apenas por alguns minutos, já que o médico havia refeito os selamentos nas veias de He Hua para evitar novos rompimentos.
Ao chegar na residência, avistou as discípulas He na sala ao centro, terminando o seu chá.
“ZeWu-Jun!” Ambas levantaram-se e cumprimentaram a Lan XiChen.
“Soube que a Senhorita He poderá dar mais um passeio hoje!” Comentou, querendo logo ter a companhia da jovem mestra.
“Sim! Me pergunto se terei a honra da companhia do Líder Lan novamente...” He Hua respondeu, com um sorriso nos lábios, mas sabendo que o que viria a seguir seria a atitude mais c***l que já tomou em sua vida.
“Sim! A levarei em um dos meus lugares preferidos de GusuLan!” Lan XiChen comunicou.
O trajeto entre a residência e a Biblioteca do Recanto das Nuvens foi curto e silencioso. Ambos não sabiam direito o que falar e nem como puxar assunto, então, quando os olhos de He Hua brilharam ao avistar a placa em frente a tão imponente construção, Lan XiChen percebeu que estava conduzindo tudo da maneira correta.
“A famosa biblioteca da seita Lan...!?” He Hua estava admirada.
“Vamos entrar?” Lan XiChen convidou, abrindo a porta.
He Hua deslumbrou-se ainda mais ao ver a grandiosidade do seu interior, percorrendo seus olhos entre as imponentes estantes cheias de livros e manuscritos.
“ZeWu-Jun! Mestra He!” Dois juniores que estavam na biblioteca os cumprimentaram assim que os avistaram entrando no recinto.
“Continuem seus estudos!” Lan XiChen os orientou.
“Já estávamos de saída!” O mais velho respondeu, pegando dois livros em suas mãos e os cumprimentando em retirada, levando o outro menor junto, deixando-os sozinhos na biblioteca e fechando a porta assim que saíram.
“Os juniores o olham com muita admiração e respeito!” Comentou, sentindo um frio na barriga ao ver-se novamente sozinha com o Líder Lan. Ele suspirou e um sorriso singelo se formou.
“Os juniores veem a mim e a WangJi como modelos a serem seguidos, mas nós também somos falhos e temos nossos defeitos...!” Admitiu.
Um breve silêncio se fez e He Hua voltou a admirar a esplêndida Biblioteca.
“Senhorita He, quais livros mais lhe agradam?” Perguntou, curioso.
“Romance!” He Hua respondeu prontamente, sem pensar antes de proferir a resposta.
“Então me acompanhe!” A chamou, conduzindo-a até um corredor entre as prateleiras enfileiradas, deixando-a a frente de uma infinitude de livros dos mais diversos autores.
Os dedos delicados de He Hua percorreram as lombadas de vários títulos, retirando um ou outro para folhear, quando Lan XiChen lhe estendeu um exemplar.
“Flor do inverno...!” Leu em voz alta, observando o livro.
“É um dos meus preferidos...” Lan XiChen comentou.
He Hua já havia lido este livro que trazia a história de dois jovens que cresceram juntos, quase como irmãos, separando-se durante a adolescência, mas reencontrando-se na fase adulta e vendo os sentimentos de amor mútuo se desenvolverem enquanto lutavam em exércitos inimigos.
Seus olhos voltaram-se para o Líder Lan, admirada por saber que este já havia lido livro de tamanha sensibilidade e romantismo. Sem que percebessem, novamente seus corpos agiram sem que eles pudessem controlar e novo beijo aconteceu. He Hua permitiu-se tocar na Jade de Lan, levando suas mãos ao peito do cultivador a quem estava entregue. Lan XiChen segurou-a delicadamente pela cintura, desejando profundamente que nada pusesse fim a esse momento em que os sentimentos de ambos falavam mais alto.
Quando deu-se por si, He Hua afastou os lábios do Líder Lan dos seus e num movimento repentino, virou-se, ficando de costas para Lan XiChen.
“Senhorita He, perdoe-me pela audácia! Sei que o que estou fazendo é um enorme desrespeito, mas estou disposto a reparar meus erros...” começou a falar, segurando a mestra He pelos ombros. “A acompanharei de volta a seita He e se for de sua vontade, pedirei ao líder He...” foi interrompido pela jovem, que não podia mais suportar tamanha angústia.
“Líder Lan, isso não será possível!” Tentou manter-se firme para não transparecer tamanho sofrimento. “Eu deixei isso ir longe demais! Não poderia ter permitido de forma alguma que esses beijos acontecessem... eu sinto muito, Líder Lan, mas acho melhor não nos vermos mais até a minha partida de GusuLan!” Concluiu, conseguindo segurar as lágrimas que formaram-se em seus olhos.
Sem ter coragem de olhar para trás, saiu rapidamente da Biblioteca, atravessando apressadamente os corredores de GusuLan até chegar à residência em que estava abrigada.
“A-Hua!” He LiAn exclamou assim que a viu adentrando a residência aos prantos e se jogando nos braços da prima.
Lan XiChen sentiu como se seu coração houvesse sido estilhaçado em milhares de pedaços. ‘Por que? Por que?’ Se questionava. Ele tinha certeza que seus sentimentos eram retribuídos pela mestra He, então por que ela o rejeitou?
Ele nunca havia suposto que sentiria dor maior do que a traição que sofreu por parte de Jin GuangYao, mas aquilo não chegava nem perto do que sentia nesse exato momento.
No dia seguinte, ao saber que seu irmão não havia saído de sua residência de reclusão e nem ao menos havia aceito as refeições que os serviçais lhe levaram, Lan WangJi foi até o Líder Lan para saber o que estava se passando.
“XiChen!” O chamou, adentrando o local e encontrando o irmão com a face envolta em dor e sofrimento.
“WangJi, agora eu te entendo...” falava com a voz nitidamente embargada. “Como...? Como você foi capaz de suportar?” Perguntou, com os olhos vermelhos, mas sem mais nenhuma lágrima, já que todas ele já havia derramado ao longo da noite.
“XiChen...” Lan WangJi não sabia o que falar nesse momento, mas estava nítido o que havia acontecido.
“Não me diga que vai passar, por que eu sei que não vai...” sussurrou.
Lan WangJi sentiu-se impotente diante do estado em que seu irmão se encontrava e tudo o que pode fazer foi tocar sua Guqin para tentar pacificar a alma do Líder Lan, embora ele soubesse muito bem que isso não seria o suficiente.
Nos dias seguintes, levou seu pequeno Wei-Wei para brincar com o tio e assim tirá-lo desse estado de inércia em que se encontrava. Lan WangJi e Wei WuXian estavam extremamente consternados pelo líder Lan, mas não poderiam fazer nada para fazê-lo superar sofrimento que ambos conheciam muito bem.
Wei WuXian percebeu o quanto o Líder Lan era extremamente parecido com seu marido, sendo fiel aos seus sentimentos e respeitando as decisões tomadas por quem lhes era dirigido seu afeto, ao mesmo tempo que vislumbrou ali o que Lan WangJi também havia passado todas as vezes que foi rejeitado pelo patriarca em sua outra encarnação.
Uma semana se passou desde que a jovem He Hua havia despertado e com seu ferimento completamente cicatrizado, Lan Xion a liberou para partir em direção ao Píer Lótus, mas como o próprio Líder Lan havia prometido escoltá-las, preparou-se para a a viagem. Lan WangJi e Wei WuXian iriam juntos levando seu pequeno bebê para conhecer ao tio Jiang e a seita de origem de seu pai mais jovem, se é que poderia ser assim chamado, devido ao seu corpo ser mais jovem do que o de seu amado.
Na manhã seguinte, os cavalos já estavam prontos para levarem a pequena expedição ao pé da montanha. Lan Xion proibiu a jovem mestra de voar em sua espada e por isso a viagem deveria seguir por terra. Ao chegarem no pequeno vilarejo nos arredores de GusuLan, os cavalos das senhoritas He foram trocadas por uma carruagem, na qual elas viajariam até YunemngJiang.
Lan Wei adorou o passeio a cavalo e a todo momento queria segurar as rédeas do animal a qual estava montado, hora com seu pai WangJi, hora com seu pai WuXian, hora com seu tio, que agradeceu silenciosamente pela presença do pequeno o distraindo em situação tão torturante.
Fizeram mais uma parada para passarem a noite em uma pousada e no dia seguinte pararam apenas para almoçarem em uma vila no caminho, chegando ao Pier Lótus ao final da tarde.
Ao adentrarem a seita, as duas discípulas He foram a frente, deixando os outros três cultivadores com o bebê a uma certa distância. Quando Jiang Cheng as avistou atravessando o pátio de sua residência, imediatamente foi ao encontro delas.
“He LiAn! He Hua!” Exclamou efusivamente assim que terminou seu cumprimento. “Eu já estava prestes a partir para GusuLan para encontrá-las!” Confessou.
“Não seria necessário, A-Cheng! Retornamos bem!” He LiAn contou.
“E como você está, He Hua?” Dirigiu-se para a herdeira He.
“Estou bem! E o meu pai?” Perguntou angustiada.
“Eu o contive! Disse que não havia com o que se preocupar, pois você estava apenas acertando alguns detalhes do nosso casamento!” Explicou, sentindo o gosto amargo dessas palavras subirem a sua boca.
Lan WangJi e Wei WuXian imediatamente trocaram olhares ao ouvir o que Jiang Cheng havia acabado de contar. Então era isso! A senhorita He Hua era noiva de Jiang Cheng e por isso desprezou Lan XiChen.
A Primeira Jade de Lan achava que nada o faria sofrer mais do que a recusa de seus sentimentos pela senhorita He Hua, mais ao ouvir que ela estava prometida em casamento ao Líder Jiang, sentiu como se um punhal o atingisse bem no meio do peito, sangrando-o lentamente, enquanto o punhal era girado e rasgava ainda mais sua carne, roubando-lhe o ar dos pulmões.
“Fez bem, Jiang Cheng! Eu só preciso descansar agora...” falou tristemente.
“Oh, sim!” Chamou uma serva que estava a poucos metros atrás de si e a orientou a encaminhar as duas senhoritas aos seus aposentos.
Os três cultivadores aproximaram-se, mas Wei WuXian percebeu que havia algo de errado quando vislumbrou a troca de olhares ente Jiang Cheng e He LiAn, tornando a face do Líder Jiang séria e pesarosa.
Com a retirada das duas senhoritas, Jiang Cheng cumprimentou aos três.
“ZeWu-Jun, obrigado por socorrer He Hua e tratá-las com tamanha hospitalidade!” Comentou cordialmente, recebendo um sorriso discreto em retribuição, sorriso este que disfarçava muito vagamente o verdadeiro estado interior do líder Lan. “E este é o bebê de quem He LiAn me falou em suas cartas?” Dirigiu-se a pequena criança, que dormia serena no colo de Lan WangJi.
“Sim! Ele é o único sobrevivente do ataque que quase tirou a vida da senhorita He Hua, mas o encontramos protegido e o levamos para o Recanto das Nuvens!” Wei WuXian explicou ao seu irmão de cultivo.
“Lan Wei, não é!?” Lembrou-se do nome que a senhorita He LiAn contou.
A criança moveu-se nos braços do pai e abriu os olhos, encontrando a face do tio a sua frente. Assustou-se por não conhecer aquela pessoa e começou a chorar.
“Wei-Wei, você se assustou com a cara feia do tio Jiang, foi?” Wei WuXian tomou o filho nos braços, acalmando-o. “Eu não vou deixar que o tio Jiang o assuste novamente!” Falou, lançando um sorriso m*****o para o irmão de cultivo. Foi então que lembrou-se de algo. “Jiang Cheng, que história é essa de casamento?” Perguntou, demonstrando certa irritação.
“É uma longa história! Depois te conto!” Respondeu, mas Wei WuXian percebeu que o irmão de cultivo não estava nem um pouco entusiasmado com tal evento.
“Depois terei uma longa conversa com você sobre isso!” Wei WuXian o intimou.
“Wei Ying!” Lan WangJi o chamou, num tom repreendedor.
“Não se preocupe, Lan Zhan!” Wei WuXian voltou-se para o marido. “Só quero entender tudo isso, mas por enquanto, vou mostrar o Pier Lótus ao nosso pequeno Wei-Wei!” Suspirou, fazendo cócegas no pequeno bebê, provocando-lhe risadas.
“Nos encontramos na ceia!” Jiang Cheng ditou. “ZeWu-Jun, o acompanharei até os aposentos que preparei para a sua estadia!” Chamou o líder Lan e ambos foram em direção aos aposentos para que a Jade de Lan pudesse descansar.
“Lan Zhan, você também percebeu que Jiang Cheng não está muito animado com esse casamento?” Perguntou, observando os líderes afastarem-se.
“Não devemos interferir!” Lan WangJi respondeu.
“Não se preocupe! O segredo do seu irmão está bem guardado comigo, mas não posso deixar Jiang Cheng cometer esse erro!” Exclamou.
Embora Lan WangJi estivesse triste com a situação do irmão, ele e nem Wei WuXian poderiam interferir nas decisões dos líderes das seitas. Se Lan XiChen respeitava a decisão de He Hua por se casar com Jiang Cheng, ele guardaria seu sofrimento para si e não iria interferir, só restando se conformar.