CAPÍTULO OITO

1945 Palavras
— Entende que para mim também foi chocante e depois me senti um… vadio? – Ele continuou e Lila não conseguiu segurar o riso ao ouvi-lo se denominando como vadio. – Não sou diferente de você só porque sou homem. Creio que deveria ter feito diferente. Senti atração por você de imediato, e como disse antes, isso nunca havia me acontecido antes, é até estranho, ainda não consegui processar direito. Isso, esse sentimento que sinto quando estou com você. Então, por favor, você não foi uma v***a, nem nada do gênero, ou eu também fui e não acho que tenhamos sido. Depois, pensei melhor e fiquei grato por podermos conversar sobre isso mais profundamente. Não se sinta m*l, por favor. — Ok, senhor Socorrista. Me deixou muito mais tranquila quanto a isso e sim, aceito almoçar em seu apartamento hoje, desde que eu possa ajudá-lo no preparo. — Claro, será um prazer. O que acha de começarmos ao meio dia, já que o prato é rápido? — Tudo bem, mas o que pretende preparar? Me ofereci sem saber se saberei ajudá-lo. — Algo simples mesmo. Escolha seu sabor preferido: tenho carne, bacon, galinha e galinha caipira. Ele se levantou, e se preparava para ir embora, só parou quando viu a dúvida estampada no rosto dela, sorriu e disse antes de ir-se: — Macarrão instantâneo. Não me diga que não gosta? E foi, deixando Lila sorrindo. Foi uma luta, como sempre era, tirar Meg da piscina. Os gritos e esperneios dela, assustariam alguns desavisados. Parecia que Lila estava judiando ou sequestrando-a. Entraram no elevador com Meg ainda aos prantos, mas mais chorosa do que gritando. Estava cansada e com sono. Quando o elevador as deixou no andar, Meg abria a boca de sono e estava mole no pescoço da madrinha. — Teve show? – Perguntou Sandal, quando entraram no apartamento. Estava debruçada no computador da sala. — Dava para se ouvir a quilômetros, não sei como não fica rouca. Vou dar um banho nela, antes que adormeça cheirando a cloro e protetor solar. Sandal deu banho na chorosa Meg e a pôs para dormir. Foi para a cozinha, preparou um chá que Sandal adorava e sentou-se no sofá, depois de depositar a xícara fumegante ao lado da amiga. — Estou terminando aqui, obrigada pelo chá e por tê-la levado à piscina. Sairemos daqui uma hora mais ou menos, você se vira com o almoço? Tem vários cartazes de comida deliciosas na gaveta do armário, caso queira pedir algo. — Vou almoçar fora, meu bem. — Ah, é verdade, vai sair com Lucca e Magda, não é? — Não. Até vou mandar mensagem avisando que não poderei hoje e remarcar. Sandal era jornalista, apaixonada pela profissão. Lila despertou sua curiosidade. Tirando os óculos de leitura, virou-se na cadeira, curiosa. — Vai almoçar com quem? — Um certo Socorrista que conheci. — Me conte tudo. Agora. — Encontrei-o na piscina agora de manhã e ele me convidou, não só para almoçar, mas para jantar também. E, pasme, será no apartamento dele. — Uau! Vamos preparar uma mega produção. Venha, vestimos quase o mesmo tamanho. Tenho lingeries que ainda nem usei, uma com espartilho, branca, nossa, vai ficar linda em você. Sandal estava fora de si e, agarrada ao punho de Lila, a arrastava para seu quarto. Lila ria e seguia-a. Sentou-se na cama enorme da amiga e esperou. Sandal abriu uma porta grande do guarda-roupas e foi pegando diversas lingeries na cama. — Calam, Sand. Nós só vamos almoçar. — Claro , você só ia buscar os biscoitos dele no carro, lembra? Tem que estar preparada, Li. — Me escute. – Sandal sentou-se na cama ao lado da amiga, mas continuou mexendo nas finas peças, escolhendo uma bonita. — Conversamos sobre isso e foi muito legal, Sand. Eu estava meio, sei lá, me sentindo m*l por ter avançado nele tão rápido, só sabia o nome dele. Pois ele me disse que se sentiu assim também. Que gostou do que rolou com a gente, mas achou que agiu como um safado e ficou m*l por isso. — Que gracinha vocês dois, tão puritanos. Mas, sério, sei que planeja ir lá só para almoçar ou jantar, mas não acha que deve estar preparada para o caso de… Né? O que me diz? — Tá bem, vai, mas não vou t*****r com ele! — Aham, claro que não. Se está dizendo que não vai, quem sou eu para discordar? Agora tire essa roupa e vamos experimentar esse conjunto aqui. Você se depilou? — Ontem. — Claro, que pergunta b***a a minha – Sandal revirou os olhos. Greg chegou e foi acordar Meg para se arrumarem para o passeio e a compra do presente do amiguinho dela. Saíram pouco antes do meio-dia e Lila estava deitada no sofá assistindo uma série. Meg fez um show ao saber que a tia – como a chamava – não iria acompanhá-los, mas como toda criança, o choro parou tão logo entraram no elevador, a tia esquecida. Vestida com um short jeans de barras desfiadas, um chinelo simples e uma regata fresca, estava de pés para o alto, quando a campainha tocou. Imaginado que fosse Greg ou Sandal que tivessem esquecido algo, como as chaves do carro e do apartamento, já que bateram, ao invés de entrarem, ela destrancou a porta e encontrou Kemar, emoldurando o batente; um pé cruzado na canela, o ombro encostado no umbral e um lindo sorriso nos olhos. — Estou atrasada? – Perguntou ela, olhando para o relógio no pulso. – Acho que me distraí assistindo uma série, desculpe. — Não está atrasada. Vim buscá-la, pensei que pudesse mudar de ideia. — Não mudei. Entre. Vou só pegar meu celular. Kemar a acompanhou e ela sentiu um arrepio ao ver que o apartamento de repente parecia menor com ele ali. Kemar parecia ocupar todo o espaço com seu tamanho. Usava uma bermuda jeans e uma camiseta branca, um chinelo esportivo e ela se sentiu novamente uma adolescente ao perceber que achava até os pés dele bonitos. Até os cabelos acima dos dedos dos pés dele, eram perfeitos. Meu Deus, estou condenada! – pensou ela. Lila trancou o apartamento e o seguiu até o fim do corredor, não tinha pensado ainda onde era o apartamento dele, só sabia que era no mesmo andar, agora via que era o último do corredor. — Seu apartamento é diferente do da Sandal – foi a primeira coisa que ela viu ao entrar. O apartamento de Sandal e Greg, a entrada dava para a sala, já o de Kemar, entrava-se em um largo hall. — Esperei meses para conseguir esse. Mas foi por causa da vista que tem para o parque, venha ver. Ela o acompanhou e realmente era bem diferente do da amiga. A sala era muito maior, bem como a cozinha, dava para perceber de onde ela estava. A sacada – diferente da da amiga, que era pequena – era quase do tamanho de um cômodo – , tinha uma vista fantástica de um parque da rua de trás, muito arborizado e bem arquitetado. A noite, um chafariz era ligado e no final de ano, ficava todo enfeitado para o natal, deveria ser lindo de se ver a noite. Lila ficou um tempo a olhar para aquela magnífica vista, não só do parque, mas dava para ver quase toda a cidade dali. — E nem foi só por causa da sacada, mas o andar, também, Para ter essa vista, teria que ser esse andar, só o comprei, quando consegui que vagasse . Estava alugado na época e esperei dois anos para ficar desocupado. — Que paciência a sua. — Eu morava com meus pais, então estava tranquilo e esperei numa boa. Meu trabalho exige muito da mente, é muito estafante, então, nada melhor que ter uma boa vista para mudar o humor quando se chega de um dia cansativo. — Imagino. Sei que já deve ter ouvido centenas de vezes, mas por que escolheu ser Socorrista? — Sou enfermeiro. Minha irmã mais velha, sempre brincava comigo quando éramos criança de ER, não sei se já assistiu. É um seriado de médicos que passou há algumas décadas. — Sim, eu amava! Era apaixonada pelo John Carter! – Lila ficou empolgada e bateu palmas ao se lembrar do seriado e por ele o ter assistido. — Minha irmã também. Fui apaixonado pela Abby Lockhart! – Kemar tinha os olhos brilhantes ao confessar isso. – Vamos, vamos preparar nossa massa e continuar a falar de nossa primeira paixão. Ou, se preferir, pode fazer um tour pelo apartamento, mas já a advirto, só a entrada e a sacada são diferentes do de Sandal e Greg. — Prefiro ajudá-lo a preparar o macarrão instantâneo e falar dos meus amores, sim, eu amava mais de um. Era pervertida desde criança. A série era repleta de médicos e enfermeiros lindos. A cozinha de Kemar era muito parecida à de Sandal e Greg, com a diferença de que os móveis eram mais modernos e todos em aço escovado. — Adoro cozinhar, gostaria de ter mais tempo, então tenho muitas ferramentas para preparar muitos pratos. — Percebi mesmo, você tem um arsenal aqui – Lila olhava a tudo admirada, uma mesa média, de madeira, com suporte abaixo, continha diversos caldeirões pendurados em ganchos, a decoração era muito bonita; o antigo e o moderno se mesclava. — Mas eu disse que gosto de cozinhar, não que sou um bom cozinheiro, já aviso logo. Não tenho o dom como muitas pessoas que fazem pratos simples deliciosos, ou gostam de inventar e sempre dá certo. Já passei meses sem ligar o fogão, na verdade. Ia comer na minha mãe quando me mudei, demorei para me acostumar a me virar sozinho na cozinha e não sei fazer, por exemplo, carne de panela, de nenhum tipo. — Você é muito sincero, gosto disso. Não sou muito boa na cozinha também, meus bifes ficam duros. — Os meus ficam parecendo solo de sapato. Como fazem para ficar moles e suculentos? Sem perceberem, estavam à vontade um com o outro, falando sobre banalidades e o episódio do elevador foi esquecido, não pairava no ar. — Mas, sente-se aí, se precisar te peço para me ajudar. Continuando, como estava dizendo, minha irmã e eu brincávamos muito sobre sermos médicos ou enfermeiros, reproduzíamos os episódios que assistíamos de ER e a paixão cresceu. Dizíamos que iríamos ser médicos quando crescessemos, mas com o passar do tempo, percebemos que eram os enfermeiros que estavam mais na linha de frente e a paixão não foi embora. Sempre gostei da área. — E sua irmã? – Lila estava prestando atenção a tudo que ele falava. Sentada à mesa com os cotovelos apoiados, ela o ouvia, e, enquanto ele colocava uma grande panela no fogão com água para ferver e preparava os condimentos, ela fazia perguntas acerca de sua profissão. — Cissy é uma excelente enfermeira assistente de UTI. Se formou bem antes de mim. Fiz estágio em UTI também, mas depois de alguns anos, resolvi ir para a rua. Trabalho na ambulância, em socorros, sabe. — Que legal. Admiro muito sua profissão. — Obrigado. Está com muita fome? – Ele perguntou, quando começava a fritar cogumelos. — Não estava, mas esse cheiro despertou uma fome de leão – ela sorriu. – Quer ajuda? — Pode abrir um vinho e deixar no balde para suar. Lila abriu a geladeira, pegou o vinho e o abriu, pegou no armário acima da pia duas taças, encheu-as e deu uma para ele. Ficar tão perto dele, lhe deu um comichão. Ela viu que ele sentiu o mesmo.
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