— Entende que para mim também foi chocante e depois me senti um… vadio? – Ele continuou e Lila não conseguiu segurar o riso ao ouvi-lo se denominando como vadio. – Não sou diferente de você só porque sou homem. Creio que deveria ter feito diferente. Senti atração por você de imediato, e como disse antes, isso nunca havia me acontecido antes, é até estranho, ainda não consegui processar direito. Isso, esse sentimento que sinto quando estou com você. Então, por favor, você não foi uma v***a, nem nada do gênero, ou eu também fui e não acho que tenhamos sido. Depois, pensei melhor e fiquei grato por podermos conversar sobre isso mais profundamente. Não se sinta m*l, por favor.
— Ok, senhor Socorrista. Me deixou muito mais tranquila quanto a isso e sim, aceito almoçar em seu apartamento hoje, desde que eu possa ajudá-lo no preparo.
— Claro, será um prazer. O que acha de começarmos ao meio dia, já que o prato é rápido?
— Tudo bem, mas o que pretende preparar? Me ofereci sem saber se saberei ajudá-lo.
— Algo simples mesmo. Escolha seu sabor preferido: tenho carne, bacon, galinha e galinha caipira.
Ele se levantou, e se preparava para ir embora, só parou quando viu a dúvida estampada no rosto dela, sorriu e disse antes de ir-se:
— Macarrão instantâneo. Não me diga que não gosta?
E foi, deixando Lila sorrindo.
Foi uma luta, como sempre era, tirar Meg da piscina. Os gritos e esperneios dela, assustariam alguns desavisados. Parecia que Lila estava judiando ou sequestrando-a. Entraram no elevador com Meg ainda aos prantos, mas mais chorosa do que gritando. Estava cansada e com sono.
Quando o elevador as deixou no andar, Meg abria a boca de sono e estava mole no pescoço da madrinha.
— Teve show? – Perguntou Sandal, quando entraram no apartamento. Estava debruçada no computador da sala.
— Dava para se ouvir a quilômetros, não sei como não fica rouca. Vou dar um banho nela, antes que adormeça cheirando a cloro e protetor solar.
Sandal deu banho na chorosa Meg e a pôs para dormir. Foi para a cozinha, preparou um chá que Sandal adorava e sentou-se no sofá, depois de depositar a xícara fumegante ao lado da amiga.
— Estou terminando aqui, obrigada pelo chá e por tê-la levado à piscina. Sairemos daqui uma hora mais ou menos, você se vira com o almoço? Tem vários cartazes de comida deliciosas na gaveta do armário, caso queira pedir algo.
— Vou almoçar fora, meu bem.
— Ah, é verdade, vai sair com Lucca e Magda, não é?
— Não. Até vou mandar mensagem avisando que não poderei hoje e remarcar.
Sandal era jornalista, apaixonada pela profissão. Lila despertou sua curiosidade. Tirando os óculos de leitura, virou-se na cadeira, curiosa.
— Vai almoçar com quem?
— Um certo Socorrista que conheci.
— Me conte tudo. Agora.
— Encontrei-o na piscina agora de manhã e ele me convidou, não só para almoçar, mas para jantar também. E, pasme, será no apartamento dele.
— Uau! Vamos preparar uma mega produção. Venha, vestimos quase o mesmo tamanho. Tenho lingeries que ainda nem usei, uma com espartilho, branca, nossa, vai ficar linda em você.
Sandal estava fora de si e, agarrada ao punho de Lila, a arrastava para seu quarto. Lila ria e seguia-a. Sentou-se na cama enorme da amiga e esperou. Sandal abriu uma porta grande do guarda-roupas e foi pegando diversas lingeries na cama.
— Calam, Sand. Nós só vamos almoçar.
— Claro , você só ia buscar os biscoitos dele no carro, lembra? Tem que estar preparada, Li.
— Me escute. – Sandal sentou-se na cama ao lado da amiga, mas continuou mexendo nas finas peças, escolhendo uma bonita.
— Conversamos sobre isso e foi muito legal, Sand. Eu estava meio, sei lá, me sentindo m*l por ter avançado nele tão rápido, só sabia o nome dele. Pois ele me disse que se sentiu assim também. Que gostou do que rolou com a gente, mas achou que agiu como um safado e ficou m*l por isso.
— Que gracinha vocês dois, tão puritanos. Mas, sério, sei que planeja ir lá só para almoçar ou jantar, mas não acha que deve estar preparada para o caso de… Né? O que me diz?
— Tá bem, vai, mas não vou t*****r com ele!
— Aham, claro que não. Se está dizendo que não vai, quem sou eu para discordar? Agora tire essa roupa e vamos experimentar esse conjunto aqui. Você se depilou?
— Ontem.
— Claro, que pergunta b***a a minha – Sandal revirou os olhos.
Greg chegou e foi acordar Meg para se arrumarem para o passeio e a compra do presente do amiguinho dela. Saíram pouco antes do meio-dia e Lila estava deitada no sofá assistindo uma série. Meg fez um show ao saber que a tia – como a chamava – não iria acompanhá-los, mas como toda criança, o choro parou tão logo entraram no elevador, a tia esquecida.
Vestida com um short jeans de barras desfiadas, um chinelo simples e uma regata fresca, estava de pés para o alto, quando a campainha tocou. Imaginado que fosse Greg ou Sandal que tivessem esquecido algo, como as chaves do carro e do apartamento, já que bateram, ao invés de entrarem, ela destrancou a porta e encontrou Kemar, emoldurando o batente; um pé cruzado na canela, o ombro encostado no umbral e um lindo sorriso nos olhos.
— Estou atrasada? – Perguntou ela, olhando para o relógio no pulso. – Acho que me distraí assistindo uma série, desculpe.
— Não está atrasada. Vim buscá-la, pensei que pudesse mudar de ideia.
— Não mudei. Entre. Vou só pegar meu celular.
Kemar a acompanhou e ela sentiu um arrepio ao ver que o apartamento de repente parecia menor com ele ali. Kemar parecia ocupar todo o espaço com seu tamanho. Usava uma bermuda jeans e uma camiseta branca, um chinelo esportivo e ela se sentiu novamente uma adolescente ao perceber que achava até os pés dele bonitos. Até os cabelos acima dos dedos dos pés dele, eram perfeitos. Meu Deus, estou condenada! – pensou ela.
Lila trancou o apartamento e o seguiu até o fim do corredor, não tinha pensado ainda onde era o apartamento dele, só sabia que era no mesmo andar, agora via que era o último do corredor.
— Seu apartamento é diferente do da Sandal – foi a primeira coisa que ela viu ao entrar. O apartamento de Sandal e Greg, a entrada dava para a sala, já o de Kemar, entrava-se em um largo hall.
— Esperei meses para conseguir esse. Mas foi por causa da vista que tem para o parque, venha ver.
Ela o acompanhou e realmente era bem diferente do da amiga. A sala era muito maior, bem como a cozinha, dava para perceber de onde ela estava. A sacada – diferente da da amiga, que era pequena – era quase do tamanho de um cômodo – , tinha uma vista fantástica de um parque da rua de trás, muito arborizado e bem arquitetado. A noite, um chafariz era ligado e no final de ano, ficava todo enfeitado para o natal, deveria ser lindo de se ver a noite. Lila ficou um tempo a olhar para aquela magnífica vista, não só do parque, mas dava para ver quase toda a cidade dali.
— E nem foi só por causa da sacada, mas o andar, também, Para ter essa vista, teria que ser esse andar, só o comprei, quando consegui que vagasse . Estava alugado na época e esperei dois anos para ficar desocupado.
— Que paciência a sua.
— Eu morava com meus pais, então estava tranquilo e esperei numa boa. Meu trabalho exige muito da mente, é muito estafante, então, nada melhor que ter uma boa vista para mudar o humor quando se chega de um dia cansativo.
— Imagino. Sei que já deve ter ouvido centenas de vezes, mas por que escolheu ser Socorrista?
— Sou enfermeiro. Minha irmã mais velha, sempre brincava comigo quando éramos criança de ER, não sei se já assistiu. É um seriado de médicos que passou há algumas décadas.
— Sim, eu amava! Era apaixonada pelo John Carter! – Lila ficou empolgada e bateu palmas ao se lembrar do seriado e por ele o ter assistido.
— Minha irmã também. Fui apaixonado pela Abby Lockhart! – Kemar tinha os olhos brilhantes ao confessar isso. – Vamos, vamos preparar nossa massa e continuar a falar de nossa primeira paixão. Ou, se preferir, pode fazer um tour pelo apartamento, mas já a advirto, só a entrada e a sacada são diferentes do de Sandal e Greg.
— Prefiro ajudá-lo a preparar o macarrão instantâneo e falar dos meus amores, sim, eu amava mais de um. Era pervertida desde criança. A série era repleta de médicos e enfermeiros lindos.
A cozinha de Kemar era muito parecida à de Sandal e Greg, com a diferença de que os móveis eram mais modernos e todos em aço escovado.
— Adoro cozinhar, gostaria de ter mais tempo, então tenho muitas ferramentas para preparar muitos pratos.
— Percebi mesmo, você tem um arsenal aqui – Lila olhava a tudo admirada, uma mesa média, de madeira, com suporte abaixo, continha diversos caldeirões pendurados em ganchos, a decoração era muito bonita; o antigo e o moderno se mesclava.
— Mas eu disse que gosto de cozinhar, não que sou um bom cozinheiro, já aviso logo. Não tenho o dom como muitas pessoas que fazem pratos simples deliciosos, ou gostam de inventar e sempre dá certo. Já passei meses sem ligar o fogão, na verdade. Ia comer na minha mãe quando me mudei, demorei para me acostumar a me virar sozinho na cozinha e não sei fazer, por exemplo, carne de panela, de nenhum tipo.
— Você é muito sincero, gosto disso. Não sou muito boa na cozinha também, meus bifes ficam duros.
— Os meus ficam parecendo solo de sapato. Como fazem para ficar moles e suculentos?
Sem perceberem, estavam à vontade um com o outro, falando sobre banalidades e o episódio do elevador foi esquecido, não pairava no ar.
— Mas, sente-se aí, se precisar te peço para me ajudar. Continuando, como estava dizendo, minha irmã e eu brincávamos muito sobre sermos médicos ou enfermeiros, reproduzíamos os episódios que assistíamos de ER e a paixão cresceu. Dizíamos que iríamos ser médicos quando crescessemos, mas com o passar do tempo, percebemos que eram os enfermeiros que estavam mais na linha de frente e a paixão não foi embora. Sempre gostei da área.
— E sua irmã? – Lila estava prestando atenção a tudo que ele falava. Sentada à mesa com os cotovelos apoiados, ela o ouvia, e, enquanto ele colocava uma grande panela no fogão com água para ferver e preparava os condimentos, ela fazia perguntas acerca de sua profissão.
— Cissy é uma excelente enfermeira assistente de UTI. Se formou bem antes de mim. Fiz estágio em UTI também, mas depois de alguns anos, resolvi ir para a rua. Trabalho na ambulância, em socorros, sabe.
— Que legal. Admiro muito sua profissão.
— Obrigado. Está com muita fome? – Ele perguntou, quando começava a fritar cogumelos.
— Não estava, mas esse cheiro despertou uma fome de leão – ela sorriu. – Quer ajuda?
— Pode abrir um vinho e deixar no balde para suar.
Lila abriu a geladeira, pegou o vinho e o abriu, pegou no armário acima da pia duas taças, encheu-as e deu uma para ele. Ficar tão perto dele, lhe deu um comichão. Ela viu que ele sentiu o mesmo.