O sábado amanheceu ensolarado. Meg entrou gritando no quarto de Lila às sete da manhã.
— Tia, cóida! Vamooooooo.
— Desculpe, só consegui segurá-la para mamar, estava doida para que você fosse brincar com ela na piscina – Sandal entrou no quarto, e ajudou Meg a subir na cama. – Mas, olhe, te trouxe café.
— Já estava na hora mesmo de eu levantar, lá em casa levanto antes do céu nascer, estou ficando preguiçosa aqui. Venha aqui, doçura da tia! – Ela cobriu Meg de beijos, a garotinha esperneava e gargalhava.
— Nadar. Nadar – a pequenina gostava de ir à piscina do prédio e Lila a tinha acompanhado todos os dias, desde que chegara, na semana passada.
— Deixe só a tia beber café, tudo bem? Nós vamos descer – Lila a beijou mais uma vez, antes de pegar a xícara fumegante de café da mão da amiga.
— Meg, vá buscar sua bóia para descer, vá. – Sandal colocou a garota para fora do quarto e Meg saiu gritando animada, por saber que iria nadar.
— Greg está tomando café?
— Ele já foi trabalhar, saiu tem uns cinco minutos. Ele disse para você aproveitar o sábado, viu? Segundo ele, eu a monopolizo quando está aqui. Magda e Lucca, ligaram ontem perguntando por você e ele ouviu, ele acha que sou ciumenta e a quero só para mim.
— Relaxa, você é um amor. Vou almoçar com eles hoje. E adivinhe o que vou fazer à noite? – Enquanto sorvia o delicioso café, Lila a olhava por cima da borda da xícara.
— Deixe-me adivinhar, irá jantar no apartamento do gostosão do Socorrista Kemar e irão t*****r em cada canto do apartamento?
— Errou. Vamos jantar fora, ou beber algo, vamos conversar um pouco, vestidos dessa vez.
— Que decepção.
Lila jogou um travesseiro nela, que escapou por pouco, deixando o travesseiro bater na parede.
Lila tomou um banho rápido, vestiu um biquíni amarelo que adorava, colocou um vestido leve por cima, calçou um chinelo e, antes de sair do banheiro, pôde ouvir os berros de Meg, a menina estava ansiosíssima para descer e deveria estar deixando a mãe maluca.
— Pelo que vejo, não vou poder nem tomar um café da manhã de verdade, não é? – Perguntou Lila, ao entrar na cozinha e ver Meg pulando ansiosa e Sandal tentando fazer com que ela comesse uma maçã.
— Ela mamou, mas a ansiedade não lhe permite comer uma fruta – respondeu a mãe da garota sorridente com seu maiô, também amarelo. – Olhe como as duas estão lindas de amarelo.
— Tia, vamoooooooo?
— Vamos sim, mas antes, temos que nos alimentar e passar o protetor solar. Venha aqui, enquanto você come uma fruta, a tia passa o protetor.
Ainda pulando, Meg tomou da mão da mãe a maçã e correu para a tia.
Minutos depois, desciam no elevador, Meg toda falante e cheirando a protetor, carregava uma minúscula mochila azul – sua cor favorita – nos ombros e pulava achando que o elevador fosse descer mais rápido, caso ela pulasse.
— Pula, tia, pula.
Lila pulou o restante dos andares, até chegarem ao térreo. Por ser sábado e ainda muito cedo, a piscina não estava muito cheia. A das crianças estavam quase desertas e encaminharam-se para lá. Sandal havia dito que no final da tarde, um amiguinho de Meg faria na área de churrasco uma festa de aniversário e Sandal e Greg iam ao Shopping após o almoço comprar um presente para o garoto.
— Vamos cair na água, princesa? – Lila pôs Meg no chão e a menina saiu correndo e gritando de alegria ao ver a piscina. – Não vamos ficar muito hoje porque mamãe e papai vão levá-la ao Shopping logo mais, lembra?
Meg a ignorou, já chapinhava na piscina infantil, sem tê-la sequer ouvido.
Lila arrumou uma cadeira próximo à piscina infantil, colocando a garrafa de água fresca, as toalhas e o protetor solar, tirou o vestido leve para entrar e se divertir com a garota, e , m*l entrou na piscina de água tépida, Meg começou a lhe jogar água, em um frenesi infantil.
— Bom dia, garotas – cumprimentou o salva-vidas, Túlio. Um amável rapaz, que sempre as cumprimentava quando as via.
— Bom dia, Túlio. Vim trazer a garota para se refrescar logo cedo ou ela derrubava o apartamento – Lila sorriu para ele.
— Melhor hora, viu, menos gente, a água está gostosa e as crianças precisam mesmo pôr para fora um pouco de energia.
Túlio continuou sua solitária caminhada em volta da piscina infantil e Lila e Meg se divertiram por uns vinte minutos, até Lila travar uma luta com a criança para que saísse uns minutos para beber água e retocar o protetor solar.
Meg já havia parado com os gritos de protesto, quando mais três mães com crianças chegaram para nadar.
Aliviada por poder se sentar um pouco no sol ameno da manhã e deixar Meg confraternizar com os amigos, pegou o celular e o fone de ouvido e, ao colocá-lo e se recostar na cadeira, antes de escolher qual seleção de música ouviria, viu que tinham algumas mensagens não lidas, entre elas, uma de Kemar, enviada há dois minutos.
Com alegria, ela viu que a mensagem era de áudio; um áudio curto de seis segundos, que ela clicou antes de olhar as outras mensagens.
“ O vestido era perfeito, mas o biquíni? Caramba!”
O coração dela se descompassou, não só pelo conteúdo da mensagem, mas pela voz dele. Instantaneamente seu corpo respondeu e não era o sol que a deixou quente de imediato.
Ele estava ali na piscina? Como poderia saber que ela estava usando vestido e biquíni?
Devagar ela baixou o celular e olhou para os lados. As piscinas dos adultos eram separadas das infantis por uma parede baixa. Eram três, para adultos e duas para crianças. Viu Meg brincando em um brinquedo aquático, um sapo verde grotesco, que ela não entendia como não assustava as crianças. Meg e mais outras duas crianças desciam na língua do sapo, que fazia as vezes de escorrega.
Outra mensagem de Kemar chegou, dessa vez de texto:
“ Perdão, bom dia. É que a imagem de você de biquíni apagou minha educação por completo.”
“ Bom dia, Socorrista. Obrigada pelo elogio, mas onde está você? ”
“ Escondido.”
“ Por quê?”
“ Por causa de seu biquíni!”
“Ha ha ha, bobão.”
E ele chegou devagar, com uma cadeira que colocou ao lado dela. Usava um short curto, vermelho de tecido leve e estava sem camisa. Bom Deus, ele estava sem camisa. Como podia um homem ser assim tão bonito? Usava um óculos de sol espelhado, que combinava com o ângulo de seu rosto, os cabelos e o shorts estavam molhados, ao que parecia, ele acabara de sair da piscina.
— Tudo bem? – Ela perguntou, com um sorriso.
— Muito bem, obrigado. Não estou te seguindo, gosto de dar um mergulho pela manhã todos os dias, quando o horário do meu trabalho me permite, claro. E hoje foi um dia assim, qual não foi minha surpresa encontrá-la aqui.
Lila ficou constrangida ao ouvi-lo falar isso e com os elogios.
— Obrigada. Meg gosta de ficar na piscina e os pais não estão com tempo hoje. Vão almoçar fora e levá-la ao Shopping mais tarde. Gosto de ficar com ela o maior tempo que posso quando estou aqui. Ela é um amor, sou madrinha dela.
— Que legal. Sim, sempre a encontro pelo corredor do prédio e no elevador, é um amor. E você mora onde?
Lila demorou um pouco para responder. Olhou para Meg, disfarçando, fingindo estar cuidando para ver se ela estava bem e se divertindo e só depois de quase um minuto inteiro ela lhe respondeu:
— Moro em Nazaré, uma pequena cidade.
Kemar franziu o sobrolho, tentando se lembrar desse nome.
— Não conheço, é longe daqui?
— Bem longe. Estou de férias e aproveitando para ver os amigos e parentes esse mês.
Podia ser coisa de sua cabeça, mas mesmo Kemar estando de óculos, ela pareceu ver que ele ficara triste por ela morar longe. Mas, tão logo a impressão veio, se foi, quando ele sorriu, olhando para ela.
— O que me diz então de almoçarmos juntos, ao invés de jantarmos? Ou podemos almoçar e jantar, estou de folga.
— Parece ótimo. Estava sem planos para o almoço e pretendia comer um lanche.
— Sem lanches em suas férias, garota. O que me diz de uma massa em meu apartamento? É minha especialidade.
— Está doido para me levar para seu apartamento, não é?
— Fui tão óbvio assim? – Ele perguntou com tom de deboche, zoando com ela. – Brincadeira, Lila. Você tem razão, podemos ir a um restaurante, você escolhe.
— Também estava brincando com você. Prometo me comportar dessa vez. Pare de me olhar assim! Não é porque eu o ataquei no elevador e no estacionamento, que o atacarei em seu apartamento. Para, Kemar.
Ele gargalhava, Meg, as mães e as outras crianças olhavam para os dois e para Kemar que se abaixava entre os joelhos para rir.
— Está bem, seu bobão, sei que não fez sentido algum o que falei, mas quer apostar como irei ao seu apartamento e me comportarei como uma Lady?
Ela o acompanhava no riso. Claro que, estando dentro do apartamento dele, com a química que emanava dos dois, era muito mais certo que fosse rolar algo. Pois se se atacaram em um elevador, imagine estando os dois sozinhos no ambiente tranquilo de seu lar. Kemar continuava rindo, tirou os óculos, os olhos vermelhos de rir.
— Foi bom ter tocado nesse assunto. Vamos lá, você estava preocupada de ter sido uma, bem, imoral.
— v***a, foi o que eu disse.
— Que seja. Mas o que dizer de mim? Fomos nós dois dentro daquele elevador e no estacionamento, se bem me lembro.
Lila sentiu o rosto aquecer ao ser lembrada do que fizeram.
— Isso que estou tentando te dizer, Lila. Também me recriminei depois, e isso é normal.