Febre

1227 Palavras
Todas as manhãs, antes de Ithan ir trabalhar, ele me mandava uma mensagem de bom dia, conversávamos um pouco e ele ia para a cabanha. Mas já eram quase 8h e ele ainda não tinha me mandado nada.   Ontem à noite o deixei em casa, a contragosto. Ele queria que eu ficasse em minha casa e ele iria dirigir o restante do trajeto, mas ele estava muito cansado, então eu não deixei. Estacionei o carro na garagem, o levei até seu quarto e depois que saí, me transformei e voltei para casa, embora minha vontade fosse ficar com ele.   Talvez tivesse perdido a hora, pensei. Mandei uma mensagem.   9h e nada. Mandei outra mensagem. Nada de resposta.   9:35h liguei. Não atendeu. Já estava ficando preocupada.   9:43h liguei de novo.   — Alô! — não era a voz de Ithan.   — Oi! Com quem eu falo? — perguntei, apreensiva.   — Com Jefferson Sky. Leah, é você?   — Sim, senhor Sky! O Ithan está? Estou preocupada com ele.   — Leah, eu queria te pedir para vir aqui e casa. Ithan está na cama ainda, mas ele não está bem, está com uma febre muito alta. Eu acho que… que ele… você sabe… — sua voz era trêmula.   Fiquei muda. Não queria que ele se transformasse. Ele não!! Por que, espíritos, porquê? Ele merecia ter uma vida normal, trabalhar, dormir tranquilo todas as noites, ter paz em seus pensamentos, uma temperatura normal. Não queria que ele tivesse a mesma vida que eu. Eu era feliz agora com ele, do jeito que ele era, mas se ele estava se transformando, precisaria da minha ajuda.   Peguei minha bolsa, que já estava com umas roupas dentro e pulei varanda a fora, me transformando. Era o jeito mais rápido de chegar lá. Tínhamos combinado com Sam de evitar nos transformar durante o dia para evitar transtornos, mas era uma emergência. Estávamos em paz, sem ameaças aparentes e há um bom tempo ninguém mais havia se transformado. Por que agora?   Enquanto eu corria até a casa de Ithan, comecei a ouvir pensamentos confusos na minha cabeça. “O que está acontecendo?”, “não, não quero”, “quero voltar”, “por que eu?” Era o Ithan, ele já havia se transformado, mas foi rápido demais, em apenas uma noite!   “Calma, Ithan! Já estou chegando!” “Onde você está?”   Seus pensamentos sumiram da minha mente. Será que tinha voltado a forma humana? Quando cheguei próximo à cabanha, escutei uns estrondos na floresta. Barulhos parecidos com os de uma batalha, árvores caindo, pássaros e animais se assustando.   “Leah, onde você está?”   “Estou chegando!” Fui o mais rápido possível. Me aproximei e vi um lobo enorme, pelos longos, num castanho avermelhado intenso. Seu cheiro exalava por toda a floresta e que cheiro maravilhoso, um cheiro de frescor, de relva molhada, de madeira fresca. Inebriante. E era o maior lobo que já vi, maior até que Sam e Jake, mas estava agoniado, se debatendo entre as árvores.   “Ithan, estou aqui! Está tudo bem!”   “Leah, eu não queria isso. Por que isso aconteceu comigo?” — ele estava sofrendo, agonizando.   “Os espíritos sabem o que fazem, Ithan. Não podemos fazer nada para mudar isso.”   “Mas por que agora?” — estava balançando a cabeça, descontroladamente. Eu me aproximei, encostei minha cabeça em seu pescoço e ele foi se acalmando.   “Eu não sei. Comigo foi logo depois que meu pai morreu. Eu e Seth nos transformamos e ajudamos a caçar uma… vampira! Ah, como eu sou burra. Os Cullen! A garota do Jacob! Ela te tocou e você começou a se sentir m*l. Foi isso! Seus genes de lobo foram ativados porque identificaram os vampiros como perigo. Eu não acredito que pude deixar isso acontecer...”   Ithan se acalmou, retribuindo meu carinho, encostou sua cabeça no meu corpo. Ele era muito maior do que eu. Parecia ter mais de 3m de altura! Sua temperatura era a mesma que a minha, seus pelos caíram sobre mim. Eu tive o imprinting, eu deveria protegê-lo, mas parecia que era ele que me protegeria agora.   “Ithan, eu juro que eu não queria que isso acontecesse, mas agora que aconteceu, tenho que te ajudar a se adaptar! Seu corpo é muito maior e mais forte agora!” Quando terminei de pensar isso, senti um cheiro diferente, uma criatura se aproximava. Me virei imediatamente. Ithan percebeu também. Seus sentidos estavam muito mais apurados. Olhamos na mesma direção. Por entre os arbustos, vi uma loba enorme, com os pelos longos e castanhos avermelhados. Era muito parecida com Ithan, a não ser por alguns pelos brancos que formavam uma meia lua no lado direito da sua cabeça. Olhei pra Ithan, sem entender.   “Quem é você?” — Ela não parecia me ouvir. Foi se aproximando, passo por passo. Eu rosnei, me colocando a frente de Ithan, que estava paralisado atrás de mim, encarando aquele ser.   “Espere, Leah! É a minha mãe!” Virei meu rosto para trás. Ele continuava a encarando. Olhei novamente para ela. Chegou mais perto, se inclinando na minha frente. Era como se pedisse permissão para mim, para entrar na matilha. Dei dois passos para frente. Ela ainda estava inclinada, dei um rosnado e ela levantou sua cabeça. Seus olhos eram iguais aos do Ithan.   “Meu filho, quero muito falar com você, te ajudar” — foram os primeiros pensamentos dela.   “Mãe, o que você está fazendo aqui? Como você se transformou?” — pensou se aproximando, ficando ao meu lado.   “Filho, preciso contar muita coisa para você!” — chegou ao lado de Ithan e se aconchegou, roçando seu focinho no dele. “Vamos para a casa do seu avô. Eu trouxe umas mantas para cobrir vocês. Esperem aqui!” — se afastou, voltando para trás dos arbustos. Em minutos, voltou na forma humana. Ela era linda, alta, mais alta que eu, o rosto lembrava o das primas do Ithan, aparentava ter pouco mais de 45 anos, cabelos negros, longos, com uma mecha branca moldando o lado direito da face e os olhos, estes eram iguais aos do seu filho, negros como a noite sem luar.   Estava vestida com um vestido preto, de alças, até o joelho e trouxe nas mãos duas mantas que ela colocou primeiramente sobre o filho, que se abaixou para que ela conseguisse alcançá-lo, depois fez o mesmo comigo, mas eu não precisei me abaixar.   — Ajude meu filho a voltar a forma humana, por favor — pediu, com a feição preocupada.   “Ithan, preciso que você limpe sua mente, não pense em nada. Respire fundo e sinta seu corpo. Relaxe e respire” — enquanto eu ia falando, ele foi seguindo o que eu dizia. Conseguiu recobrar a forma humana, embaixo daquela manta e eu fiz o mesmo. Ao olhar para o lado, vi a senhora Jane abraçada ao filho. Me enrolei na manta e fiquei observando. Ithan parecia uma criança com medo em noite de chuva nos braços da mãe. Ele não merecia isso.   — Querida, obrigada por estar com Ithan nesse momento difícil. Sei que você é muito importante para ele! — falou, olhando em minha direção, com um leve sorriso nos lábios. — Vamos, meus amores. Vamos para casa! 
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