Janeiro de 2025
Cidade do Milharal - São Paulo
~ Carolina
— Três passos para frente e já estará na porta.— Breno murmurou bem próximo ao meu ouvido.
Ele me conduzia pela cintura enquanto uma venda cobria os meus olhos.
— Pode esticar a mão que vai tocar a maçaneta.
Fiz o que ele mandou.
Mordi os lábios em expectativa. Quando Breno finalmente me deixou ver, fui surpreendida por uma suíte master em um hotel fazenda.
Um jantar a luz de velas nos esperava no canto, de frente para a grande janela de vidro que dava para os vinhedos.
O abracei e ele me girou. Nos beijamos assim que o homem me devolveu para o chão.
— Eu não acredito que você preparou essa surpresa.
— Não é todo dia que fazemos sete anos de relacionamento.— Ele caminhou até a mesa posta.
Fez questão de nos servir com o melhor vinho da região e logo após o jantar, veio a maior surpresa de todas.
Quando cortei a torta com a colher, surgiu um anel de ouro branco e brilhantes entre as migalhas escuras.
Fitei o objeto, incrédula, antes dos meus olhos embargarem.
— Me dá essa honra?— Perguntou o homem.
Eu aquiesci, as lágrimas rolando por minhas bochechas.
Estiquei o braço sobre a mesa e após limpar o anel, Breno o colocou em meu indicador direito.
Fiquei de pé e fui até ele. Sentei-me no seu colo e o beijei.
Dormimos juntos aquela noite, fazia parte da comemoração.
No dia seguinte, corri do hotel para o aeroporto. Breno me levou até lá e se despediu com um beijo.
— Três meses passarão depressa.— Ele sussurrou.
— Para mim serão uma eternidade.— Choraminguei.
— Está indo para Londres fazer a sua grande reportagem, meu amor. É tudo o que sempre quis.
Eu sorri de felicidade em meio as lágrimas. Por mais que morresse de saudades, sabia que o Breno estaria aqui, esperando por mim.
— Eu só estou triste porque vou perder o seu aniversário.
— O meu presente é saber que você está feliz, realizando o seu sonho. Deixa de bobagem, Carolina. Estarei aqui te esperando.
O beijei mais uma vez, já guardando uma grande saudade. Assim que atravessei o portão do embarque, uma memória do passado invadiu meus pensamentos.
Eu já estive no lugar do Breno e acabei não resistindo.
— A sua situação é diferente, Carolina.— Falei para mim mesma enquanto caminhava.— Você volta em três meses. Três meses não é nada.
O tempo passou depressa, para o meu alívio.
Além de ter muito trabalho em Londres, conversava com o Breno por videochamada — todos os dias.
Toda a minha dedicação teve um ótimo resultado: Em menos de três meses o material estava pronto e eu já podia retornar para o Brasil.
A minha felicidade era indescritível. Chegaria a tempo de comemorar o aniversário do Breno. Decidi fazer uma surpresa, não avisaria a ninguém sobre minha volta antecipada.
No caminho preparei todos os detalhes. Encomendei em um ourives londrino um anel em ouro amarelo — com o brasão da família de Breno. Comprei também um lindo buquê de flores de cristais para entregar junto.
Peguei o vôo das cinco da manhã.
Foram quase 12 horas no avião e mais quatro horas de estrada até Cidade do Milharal.
Estava um caco, mas valeria a pena. Ver o sorriso no rosto de Breno e o seu abraço caloroso compensariam tudo.
Entrei na sua casa usando minha chave, sem fazer barulho. Deixei minha mala na sala de estar e subi as escadas com as pontas dos pés, carregando apenas a caixinha aveludada do anel e o buquê de flores de cristais.
Ouvi o barulho do chuveiro ligado, com certeza Breno estava no banho. Eu entraria no quarto sem fazer barulho, organizaria os presentes e o esperaria deitada na cama.
Quando girei a maçaneta e entrei no quarto, meus planos foram por água abaixo.
A minha mente parecia ter entrado em colapso, porque no primeiro momento eu não soube o que pensar e em como reagir.
O meu mundo virou pelo avesso no instante em que vi outra mulher, completamente nua, cavalgando no colo do meu noivo, completamente nu.
O que tornava a situação ainda mais agravante: a tal mulher não era nenhuma desconhecida. Era a minha tia Silvia.
O buquê de flores caiu da minha mão para se quebrar no chão. Os cristais rompidos se espalharam pelo quarto.
Breno tentava justificar o injustificável, mas eu não ouvia nenhuma palavra. Sua voz estava distante e distorcida.
Quando finalmente consegui reagir, me afastei. Desci as escadas correndo e só peguei a minha mala.
Vaguei pelas ruas por um bom tempo, até decidir parar no Merci’s. Precisava de algumas doses de uísque antes de voltar para casa e encarar os meus pais.
— Eu quero o mais forte que você tiver.— Exigi, assim que sentei de frente para o balcão.
O atendente que já me conhecia serviu o que pedi.
Assim que o copo chegou, entornei a primeira dose sem nenhum suspense.
Um homem que me observava de longe finalmente se aproximou. Também pediu uma dose — como quem não quer nada.
Após a minha terceira, ele criou coragem para falar:
— Dia difícil?
— Após sete anos de relacionamento, peguei o meu noivo na cama com a minha tia.— Respondi, com a língua enrolada.
— Isso sim é o que chamo de casos de família.— Brincou o desconhecido.
— O cretino é ex noivo. Mas não existe ex tia, não é? Aquela p*uta continua tendo o meu sangue.
— É melhor tomar mais uma dose. Você precisa relaxar, te convido para uma rodada completa.
— Mais uma dose!— Pedi para o atendente.
Bebemos juntos uma boa parte da noite. Aquele homem não estava tão despretensioso quanto queria me fazer acreditar.
A primeira investida dele foi colocar uma das mãos na minha coxa.
— Não, eu não quero.— Afastei a mão dele.
— Deixa eu te ajudar a esquecer.— Ele se aproximou mais um pouco.
— Eu não quero … IC!… esquecer.— Rebati, o corpo deslizando pelo banco que eu estava sentada.
Precisava me livrar daquele homem, mas já tinha perdido a autonomia das minhas pernas.
— Eu te ajudo a se vingar.— Insistente, tornou a segurar minha coxa.
Dessa vez enfiou-a no meio das minhas pernas.
— Eu não quero… IC!… sai daqui.
— Ah, eu te escutei e paguei várias doses de uísque para você. Vai ter que me compensar de alguma forma.
— Tire as suas patas imundas dela!— Exigiu uma voz grave.
Olhei para cima, surpresa. Aquele som era familiar demais para que eu pudesse esquecer.
Encontrei o Victor segurando o aproveitador pelo colarinho e bastou um soco dele para que o outro parasse no chão.
— Victor…— Falei o seu nome com a voz falha.
— Eu vou te levar para casa.— Retrucou o homem, seco.
Ele me ajudou a ficar de pé e me carregou no colo. Sentir o seu cheiro abraçada ao seu corpo fez com que eu resgatasse um passado quase esquecido.