Ellie não lembrava da última vez que havia se divertido tanto.
Por mais que fosse primo do Peter e que tivessem uma criação parecida, Alex era totalmente diferente.
Ele parecia gostar verdadeiramente de SunFlowers, e era simples o bastante como para não se importar com o ambiente rústico da taverna.
— Quer dizer então que você se especializou em enologia com uma francesa e que quase se casou com ela.
— É, não exatamente casar, mas digamos que tivemos uma união estável.
— E o que te fez terminar com ela?
— A saudade do Brasil. Eu já conheci muito desse mundo, Ellie, mas sabe quando a memória afetiva te chama? Pois bem. Foi justamente depois da Genevieve que eu pude aprimorar os meus conhecimentos e consegui alavancar a minha exportadora.
— E você ainda tem sentimentos por ela?
— Afeto, gratidão, amizade… Mas apenas isso. Eu não tenho a menor vontade de retomar um relacionamento com a Genevieve.
— Eu acho que eu nunca me apaixonei de verdade. Já conheci algumas pessoas, claro, mas nada que me tirasse o ar.
— Ou te fizesse tremer as partes.
— Ou fizesse a barriga gelar.— Ellie sorriu ao completar.
Alex esticou uma das mãos para segurar a dela.
Ellie ficou imóvel, como se estivesse apreensiva com a aproximação.
— Você ainda vai encontrar uma paixão que te vire do avesso, que faça a gravidade girar de sentido, que te tire o ar.
— A vida é feita de paixões, não é? Por mais que todo mundo diga que teme tanto estar apaixonado, nos apaixonamos o tempo todo. Por pessoas, por lugares, por experiências…
— Você é uma mulher incrível, Eleanor. E você tem uma visão incrível sobre as coisas.— ele disse com sinceridade, sem tirar os olhos dos olhos dela.
Ela apenas sorriu, não teve tempo de dizer nada.
Os assistentes de palco logo se aproximaram dois dois, era noite de karaokê.
— A mesa dos senhores foi a sorteada. Nos dá a honra?— Perguntou a moça.
Ellie e Alex se entreolharam, surpresos.
— Eu já tive essa experiência, a vergonha não é algo que me atormenta.
Ellie riu alto.
— Eu acho que nunca cantei na frente de tantas pessoas.
— Para tudo tem uma primeira vez.— Alex ficou de pé e esticou a mão na direção dela.
Ellie acabou aceitando a proposta.
Os dois subiram no palco, juntos, cada um posicionado atrás de um microfone.
As letras da música ficavam no telão, pela ordem indicada, Alex seria o primeiro a cantar.
— Oh, where oh where can my baby be?
The Lord took her away from me
She's gone to heaven, so I got to be good
So I can see my baby when I leave this world.
Ellie parecia impressionada, Alex até que tinha um timbre de voz bom.
Logo foi a vez dela, que entrou sem perder o tempo.
— We were out on a date in my daddy's car
We hadn't driven very far.
There in the road, up straight ahead.
A car was stalled, the engine was dead.
I couldn't stop, so I swerved to the right.
I'll never forget the sound that night.
The screamin' tires, the bustin' glass.
The painful scream that I heard last.
Os dois cantaram juntos uma pequena parte, antes de finalizarem.
— Oh, where oh where can my baby be?
The Lord took her away from me
She's gone to heaven, so I got to be good
So I can see my baby when I leave this world.
Por incrível que parecesse, o público aplaudiu.
Ellie estava extasiada com aquela sensação de ter feito algo tão diferente.
No final da noite, enquanto voltavam para casa, ela ainda comentava aquele feito.
— Eu não acredito que eu cantei na frente de tantas pessoas, em um bar. Melhor ainda… Em um bar em SunFlowers, um lugar onde todo mundo conhece todo mundo.
— Você deu uma desafinada ou outra, sorte que os bêbados não tem um ouvido musical.— Provocou Alex.
— Ah, é?— ela arqueou uma das sobrancelhas.— Você teve sorte porque ficou com a parte mais fácil da música.
Alex não rebateu, apenas sorriu.
O rádio do carro estava ligado, a próxima música a tocar seria justamente a que os dois cantaram no karaokê.
Empolgada, Ellie aumentou o volume para que pudessem cantá-la novamente.
— Oh, where oh where can my baby be?
The Lord took her away from me
She's gone to heaven, so I got to be good
So I can see my baby when I leave this world.
Ao chegarem em Londres, continuaram naquela mesma empolgação.
Alex deixou Ellie na porta de casa e fez questão de descer para conversarem mais um pouco.
Justo no momento em que ele desceu do carro e deu a volta para abrir a porta dela, Peter cruzou a rua no sentido da sua casa.
Ele não resistiu em diminuir a velocidade, queria entender o que estava acontecendo. Foi uma grande surpresa ver Eleanor e Alex juntos, aquilo o incomodou como jamais pudesse imaginar.
Alex deixou um beijo no rosto dela, os dois ainda conversavam bem próximos. Foi nessa hora que Peter desceu do carro, por impulso. Precisaria de uma desculpa muito boa para se livrar daquele constrangimento.
— Eleanor!— Exclamou Peter, interrompendo os dois sem nenhuma cerimônia.
Alex não demonstrou nenhuma reação, embora não esperasse que o seu primo fosse aparecer ali.
— Peter? O que está fazendo aqui?— Ellie perguntou, intrigada.
— Precisamos conversar, e é urgente.
— Assuntos de trabalho podemos conversar amanhã.
— Precisa ser hoje, é muito importante. Será que pode nos dar licença, Alex? É confidencial.— ele se voltou para o homem mencionado.
— Foi um prazer ter a sua companhia por hoje.— disse Alex para Ellie.
Ele beijou a mão dela antes de voltar para o carro.
— Quer dizer que você faltou um dia inteiro de trabalho para sair com o Alex?
— Eu não te devo satisfações da minha vida, Peter, você é meu sócio, não meu chefe. Diga logo o que quer falar, porque eu preciso entrar.
— Quer saber? Eu não vou falar mais nada, você que se dane, não falte na próxima vez.— ele deu de ombros, pisando duro até o carro.
Aquela foi uma boa estratégia,
Peter não fazia a menor ideia do que iria inventar ao extremo de considerar importante.
— Filho da…— Ellie mordeu os lábios antes de continuar com o insulto.
Ela tratou de entrar logo em casa, esqueceu que supostamente tinha algo importante a ser dito.
Seja lá o que fosse, não seria Peter Fernsby que estragaria a sua noite.