The blue and gold

2555 Palavras
No dia seguinte, Ren seguiu a sua rotina antes de ir para escola. Ele sempre deixava o café da manhã preparado para sua mãe e também colocava o lixo pra fora, porém diferente dos outros dias, estava meio ansioso. No caminho para a escola pensava se o aluno novo faria questão de sentar ao seu lado mais uma vez. Não sabia o porquê, mas o alfa lhe chamava a atenção de uma maneira inexplicável, sentia seu interior agitado só de pensar nele. Na escola, assim que sentou no seu mesmo lugar de sempre, a pessoa que estava tomando seus pensamentos chegou na porta da sala e lhe mostrou um grande sorriso. - Bom dia, Ren! – soou animado. Caminhou até o ômega e se sentou na mesma carteira que havia sentado no dia anterior. – Por favor, tome conta de mim hoje e também pelos próximos dias. - Bom dia... Farei o meu melhor. - Como estão os seus joelhos? Conseguiu vir para escola sem nenhum problema? – questionou num tom de preocupação. - Ah! Eles estão bem, não se preocupe. Desde pequeno meus ferimentos se curam muito rápido, então hoje eu até tirei as faixas. – por estar usando a tradicional bermuda azul marinho da academia, Ren mostrou os joelhos para que o outro visse que estava tudo bem. Damian ficou encarando-os por um tempo e tocou sutilmente a região. Ren sentiu um formigamento estranho pelo corpo e por reflexo se ajeitou na carteira. - Realmente eles estão curados, nem parece que se machucou. Nesse caso, acho que não poderei usar isso como desculpa para te levar em casa – soou em um tom de decepção – Mas já que está bem, irá me mostrar a escola hoje? Ouvi dizer que tem uma quadra de basquete enorme nesse lugar. - Tem na segunda unidade. Como hoje teremos um tempo livre depois do intervalo, eu posso te mostrar o segundo prédio, é onde ficam as quadras. Tem de vôlei, handball, futebol e também a de tênis... Também é lugar dos laboratórios. - Gosta de algum esporte? - Eu prefiro só assistir. - Então irá me assistir se eu for jogar? – perguntou esperançoso. Ren paralisou pela aproximação repentina do alfa. - Você... Você gosta de ficar muito próximo dos outros. – Damian recuou um pouco. - Me desculpa. Eu te incomodo agindo desse jeito? - Não. É só que eu não sou acostumado com isso. As pessoas costumam me evitar na maioria das vezes... - Então você só tem que se acostumar comigo. – falou simplista – Mas se eu passar dos limites pode me repreender sem medo. Tudo bem? – o ômega assentiu – Ótimo! Me dê o seu número, eu acabei esquecendo de pegar ontem. Como iremos fazer o trabalho juntos precisamos ter o contato um do outro, não concorda? Foi só o tempo de trocarem os números que os outros alunos começaram a chegar. Ren se voltou para o lado da janela para evitar olhar para os demais, mas principalmente na intenção de não conversar muito com o alfa, pensando que assim aliviaria as fofocas sobre o moreno. - Ren. – o chamou – Não fique com medo de falar comigo na frente dos outros. Eu não tenho vergonha de você, nem nada do tipo. Somos amigos. Se os outros quiserem falar sobre mim, eu não ligo. Mas se começarem a te incomodar fale para mim, eu darei um jeito nisso para você. Comovido, foi como o ômega se sentiu. Os meliantes do dia anterior assim que chegaram encararam Ren, mas quando os olhares se encontraram com o de Damian, se apressaram para sentar em seus lugares sem dizer absolutamente nada. A aula ocorreu tranquila, mesmo com alguns cochichos dos outros colegas, porém acima disso, pela primeira vez Ren se sentiu seguro durante aquele tempo de aula. Na hora do intervalo o ômega pensou se seria uma boa ideia ir para o terraço da escola, porém ao se lembrar do que aconteceu no dia anterior achou melhor não. - Me acompanha até a cantina? – Damian perguntou – Não cheguei a conhecer essa parte e também me esqueci de trazer o meu lanche. Se importaria de ir até lá comigo? - Tudo bem. - Eu irei com vocês! – Chris parou de frente para os dois – Não tem problema, certo? Aliás, você está bem Ren? – ao questionar isso o ômega estranhou o fato dele falar consigo. - Sim... - Que alívio. Ficamos preocupados com você, sabia? - Ficaram? – o beta assentiu – Você e quem? – acabou perguntando antes mesmo que seu cérebro pudesse raciocinar a pergunta. - Eu, a Hana e o Damian também, mesmo tendo sido ele quem te levou até a enfermaria. – o olhou confuso – Você conhece a Hana, certo? Ela é um pouco calada que nem você, mas de vez em quando ela surpreende todo mundo respondendo algumas coisas durante as aulas. - Eu sei quem é... – mas o que Ren estava estranhando mesmo era o fato de dizerem ter ficado preocupado com ele. - Hoje ela não veio, então não dá para irmos comer juntos, mas amanhã tenho certeza de que ela ficaria contente em se juntar. - Desculpa interromper a conversa de vocês, mas eu realmente estou com fome. – Damian disse mostrando um sorriso forçado para Chris – Tem certeza de que quer vir conosco, talvez queira ir na nossa frente primeiro, não? - Não. Quero acompanhá-los! – soou animado. Ao chegarem na cantina viram que a fila estava grande e que provavelmente demorariam a ser atendido já que tinha apenas uma pessoa para atender um batalhão de jovens. Ren se sentia meio desconfortável naquele tumulto, principalmente porque a maioria olhava para ele. - Ren, que acha de irmos pegar logo uma mesa? – Chris sugeriu – Se ficarmos nessa fila, até chegar a nossa vez não terá lugar para nós sentarmos. - Mas você não vai comprar também? – perguntou o ômega. - Não. Eu sempre trago meu lanche, igual a você. – disse sorridente mostrando sua lancheira que até então nem havia notado. – Você vai ficar bem, né Damian? - Mas é claro... Já me encontro com vocês. Ren e Chris se sentaram em uma das mesas vazias e logo começaram a degustar seus lanches. Por coincidência ambos levaram sanduiche natural para comer. - Parece que temos gostos parecidos. – disse o beta brindando os pães, fazendo o outro rir de tal ação – Oh! Você sabe sorrir! Sempre parece tão sério nas aulas. – viu ter deixado o de olhos lilás desconfortável com o comentário – Me desculpa. Eu te ofendi? – perguntou preocupado que tivesse soado desrespeitoso. - Ah, não! Achei que fosse o único a trazer lanche, a maioria sempre compra na cantina. - Bem, eu compro uma vez ou outra, mas prefiro trazer de casa. Não somos os únicos a trazer comida, tem outros alunos que fazem a mesma coisa. Mas sendo sincero, acho a comida aqui muito cara sem haver necessidade, a mensalidade já é o olho da cara. - Não é? - Você é bolsista, não é? A Hana também. Ela entrou fazendo aquela prova maluca deles e conseguiu uma bolsa de 80%. – suspirou – Eu invejo vocês, pessoas inteligentes. Eu tentei fazer essa prova só para saber como era e acertei só 20% das questões... Meu pai ia pagar a mensalidade de qualquer forma, mas mesmo assim quis tentar fazer. - E o que achou? – perguntou o ômega curioso. - Impossible. Eles colocam questões de alto nível para o exame, mas nossas provas bimestrais são bem mais fáceis que aquilo. É uma injustiça! Mas sabe, infelizmente é esse o sistema dessa escola... Um sistema bem elaborado para barrar o ingresso de pessoas de baixo nível. Um fato inegável que deixava Ren e alguns outros decepcionados, mas mesmo assim pensando no futuro, estar ali ainda era uma conquista. - Alcancei vocês. – disse Damian. Sentou ao lado de Ren com a bandeja cheia de sucos de caixinha, bolos, pães e biscoitos, quase tudo caindo para fora da bandeja. - Comprou a cantina inteira por acaso? – o beta perguntou olhando surpreso para a montanha de guloseimas. - Não. Eu ia comprar só um pão de yakisoba, mas teve um dos estudantes que disse que pagaria para mim e depois todo mundo começou a me dar essas coisas... Eu nem gosto de bolo. – suspirou. O alfa viu que Ren parecia estar de olho nas comidas e achou meio fofo – Pode pegar o que quiser Ren. - Tem certeza? – assentiu e ele foi rápido em pegar o bolo de chocolate – Obrigado! – agradeceu sorridente. - Você gosta de bolo pelo visto. – disse Chris – Eu também gosto de bolo... - É mesmo? Que legal. – o alfa soou desinteressado – Pode pegar o que você quiser, Ren. Eu não gosto muito de comer doces, ainda mais essa hora. . Depois do intervalo Ren aproveitou do tempo vago para mostrar a escola para Damian e claro, Chris acabou acompanhando os dois. O alfa já não estava mais aguentando ouvir o beta falar, queria mandá-lo para outra dimensão se possível, mas via que Ren parecia estar gostando de ouvir as piadas sem graça e também sobre o quanto ele gostava de introduzir a Hana em todos os assuntos. Não foi difícil para eles logo perceberem que Chris gostava da menina. - Se eu estiver falando demais podem me mandar calar a boca. É que ás vezes eu me empolgo, se bem que- - Nesse caso, pode parar agora. – dizia Damian – A gente já entendeu que você é afim dessa tal de Hana. – dito isso o beta coçou a nuca meio sem graça. - Deve ser legal gostar tanto assim de alguém... – Ren falou chamando a atenção dos dois – Espero que dê tudo certo entre vocês e que consigam ficar juntos. Quando perceberam, Chris e Damian estavam parados na porta da sala vendo o ômega se sentar em seu lugar. O beta notou a maneira que o outro olhava na direção de Ren, então passou o braço em volta dos ombros alheios e o puxou mais para perto. - O que você está fazendo? – perguntou o alfa esperando por uma explicação plausível pela ação repentina do outro. - Viu ele uma vez e se apaixonou de primeira, foi? – tentou provocar. Damian se desfez do ‘abraço’ do beta e continuou olhando na direção de Ren. - Algo do tipo. - Se esse é o caso, por que não fala de uma vez para ele e começam a sair? - Me diz você. Por que não confessa para a menina o que sente de uma vez? – rebateu. - Eu não acho que ela me vê da mesma forma. Nós nos conhecemos desde pequenos, mas ela nunca demonstrou interesse em mim. - No meu caso, estou esperando pelo momento certo. Quando duas pessoas são feitas uma para outra é o destino delas ficarem juntas, não importa quanto tempo demore. – ao dizer isso, Chris notou o olhar dourado em Damian. Sentiu como se houvesse uma outra presença ali, além da do próprio Damian. - Você é do tipo romântico? – soou duvidoso – De qualquer forma, pode contar comigo, amigo. - Não me lembro de ter dito que nós éramos amigos. - Nos tornamos amigos a partir do momento em que nós compartilhamos sobre os nossos interesses. Aliás, pode contar comigo para proteger o Ren quando você estiver longe. - Tsc! Não consegue nem se proteger sozinho, quem dirá cuidar de outra pessoa. – entrou na sala deixando o colega inconformado com suas palavras. O sinal tocou, significando o inicio do próximo tempo de aula. Damian passou a aula de física concentrado em olhar Ren fazer as atividades do livro. Se encantava com cada expressão que o ômega esboçava, ora parecia concentrado, já outras emburrado. Se pudesse gravaria todas as reações no celular, porém o uso destes era proibido durante as aulas e ele não podia chamar mais atenção para si. - Quer ajuda? – perguntou o ômega – Você está me olhando há um tempo. Não está conseguindo fazer? - Não me dou bem com números. – era mentira. Mas ele queria que o menor lhe desse alguma atenção, a mais mínima que fosse. – Poderia me ajudar? - Claro! Damian não prestou nenhum um pouco de atenção nas explicações de Ren, apenas aproveitou para olhar em cada detalhe do rosto do menor. Os olhos, nariz, boca... - Você não mudou nada mesmo... Só ficou ainda mais bonito. - Hã? – Ren foi surpreendido pelas palavras do alfa. Mas o que lhe surpreendeu mais ainda, foi o fato de seu coração ter errado uma batida ao ver o sorriso do outro para si. Tão singelo. Não soube como responder ao elogio. Sua mente tentava formular uma frase, mas nada lhe vinha na cabeça, ainda assim conseguia ouvir os batimentos do seu coração muito bem. Damian debruçou os braços sobre a mesa e deitou sobre eles com o rosto direcionado ao outro. O ômega tentava esconder o rosto abaixando levemente a cabeça na direção do livro, mas mesmo que os fios caíssem sobre o seu olho agora, o alfa conseguiu notar o rubor presente no rosto alheio. - Pelo visto elogios te deixam constrangidos. Que fofo. - Por favor, pare de me olhar desse jeito... – pediu ainda com a cabeça abaixada. Sentia que se olhasse para o alfa agora, seria ainda mais vergonhoso porque sabia que seu rosto devia estar vermelho. - De que jeito? - Como está me olhando agora. - Mas como sabe que eu estou te olhando, se você nem sequer está me vendo agora? – provocou – Olhe para mim, Ren. Me deixe ver os seus olhos. – pediu vendo o outro balançar a cabeça em negação – Se fizer isso por mim, talvez eu pare de ficar te olhando tanto. Ren ficou pensativo por uns instantes, o suficiente para sentir o seu rosto livre da ardência por conta da vergonha. Assim que virou para vê-lo, se encantou ao ver a transição do olho azul para o dourado. Se fosse comparar as cores, diria que o azul lhe lembrava o oceano e também o céu, enquanto o dourado o sol. - São lindos. – acabou falando sem antes pensar e graças a isso viu a feição de surpreso do outro. - Os seus também, Ren! São únicos e muito bonitos. E eu gosto de poder olhar para eles. – ao fazer a declaração, mais uma vez percebeu ter deixado o ômega sem graça – Por eu gostar, me deixe olhá-los sempre. Afinal eu sou um apreciador do que é bonito e raro, gosto de cuidar bem do que se encaixa nesse padrão e você além de se encaixar, supera tudo isso. O ômega já havia entendido uma coisa, Damian era um uma pessoa bem direta e não tinha medo de expressar o que sentia. E por ele ser assim, ainda que se sentisse envergonhado por certas palavras, o admirava por ele conseguir transmitir tão bem as emoções. Mas claro, tentaria não se envolver demais para não acabar se tornando algum tipo de fardo para o alfa.
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