A escola estava uma comoção. O assunto do momento era o soco que Damian havia dado em Keita e que Axel, o aluno do 2° ano também havia se envolvido. Poderia ter sido uma simples discussão, mas muitos presenciaram as atitudes dos alfas e sabiam que o que havia acontecido tinha relação com o portador dos olhos lilás e cabelo branco, Nakamura Ren.
- Ren, não fique pensando demais no que aconteceu. – Chris tentava acalmar o amigo que parecia disperso enquanto olhava para o seu lanche – Não foi sua culpa. Aquilo simplesmente foi um desentendimento entre... colegas? – acabou se perdendo no que dizia, pois não sabia de fato como fazê-lo esquecer do assunto.
- Alguns acham que o veterano Axel quem começou, mas era óbvio que foi o Hasekura quem arrumou problema. – soava irritada – Como ele teve coragem de jogar a bola na direção do Ren e dizer que não havia sido ele? É a cara dele fazer alguma coisa contra alguém, principalmente contra o Ren!
- Hana! – o beta chamou a atenção.
- O que foi? Estou demostrando a minha indignação! Espero que ele tenha quebrado o nariz, quem sabe agora pare de se achar tanto. Damian e o veterano foram para a sala do diretor sem reclamar, se fosse eu teria-
- Hana, já deu. Assim você não me ajuda com o Ren. Olha como ele está! – advertiu – Não disse nada desde a aula de educação física, acho que ainda está em choque por causada bola. Eu não julgo, porque provavelmente eu teria desmaiado na hora. – dizia sentindo um arrepio só de pensar.
- Frouxo! – a ômega falou – Eu fiquei tão preocupada como Ren e assustada também. Eu estava do lado dele e tinha que ter visto, o veterano Axel agiu tão rápido em segurar a bola, que parecia que tinha previsto que ela viria... Foi tão legal. – dizia admirada pelo feito – Mas ao mesmo tempo, achei estranho – direcionou o olhar ao ômega que se encontrava sentado do seu lado.
- Se interessou pelo veterano? – Chris perguntou com uma expressão de desinteresse. Estava se sentindo incomodado pela ômega estar falando tanto sobre outra pessoa.
- Bem... Algo do tipo. – respondeu pensativa – Vocês repararam nesse veterano? O cabelo dele é daquela cor mesmo ou ele pintou? Pelo nome ele deve ser de outro país.
- E o que isso tem demais?
- Ajuda Chris! O que você achou dele, Ren? Eu vi durante a aula que vocês pareciam ter se divertido bastante. Não tem nada que queira compartilhar conosco?
- Hã? – soou meio confuso – Desculpa, eu não estava prestando atenção. Me perdi nos meus pensamentos por um tempo...
- Está tudo bem? – perguntou a amiga.
- Sim. Eu só estava pensando em uma coisa que o veterano me perguntou, não é nada demais, então não precisam se preocupar.
- Pensei que estive incomodado com os comentários dos outros, ou então preocupado com os meninos. – Hana falava vendo o quão alheio o seu amigo estava – Mas se não é esse o caso...
- Os comentários sobre mim não me incomodam mais e eu estou sim preocupado. – dizia vendo a feição dos amigos que não pareciam acreditar muito no que dizia – O que vocês querem que eu faça?
- Aparente estar preocupado? – soaram juntos como se fosse o óbvio. Ren suspirou em seguida.
- Então... Eu deveria ir até a sala do diretor só para bisbilhotar eles? – questionou vendo os amigos se entreolharem e sorrirem – Eu não farei isso! – disse com certeza.
- E se você pedir o doutor Kim para verificar a situação para nós? Ele parecer ser do tipo que ajuda os alunos em situações como essa. – dizia Chris – E você tem ido bastante até a enfermaria por causa dos seus enjoos.
- É verdade. – Hana concordou – Não seria estranho se você aparecesse por lá agora. O que você acha?
Não era por causa de enjoos que o ômega ia com frequência á enfermaria. Desde que os indícios passaram a se manifestar, Ren tem ido fazer check up´s dos seus hormônios e os resultados lhe deixavam ansioso. O doutor Kim dizia que estavam sofrendo alterações, em alguns momentos estáveis e em outros acima do nível adequado. Por esse motivo ele receitou supressores para caso ele sentisse os sintomas mais fortes.
A última vez que visitou o Kim em sua sala havia sido há uma semana. Como não sentiu nada de diferente não foi vê-lo, mas agora como a situação de Damian o preocupava, pensava ser um bom momento para retornar.
- Eu irei. – disse se levantando da cadeira – Vejo vocês depois.
- Não vai comer? – o beta perguntou – Você m*l tocou no seu lanche Ren. Precisa repor a energia que perdeu na aula de educação física. – dizia preocupado.
- Estou sem fome. Até depois!
Hana o observou se distanciar aos poucos e depois lançou um olhar sério para o beta, que acabou a encarando com um semblante confuso.
- Por que está me olhando assim? Meu rosto está sujo? – perguntou passando a mão no rosto antes mesmo de ter a sua resposta.
- Chris, por você ser beta não consegue sentir os feromônios dos alfas e nem dos ômegas, não é? – questionou e o outro assentiu – Mas você sabe como eles funcionam certo? – balançou a cabeça em afirmação.
- Podem ser usados para submissão, ou então sedução, mas também pode ser usado como ameaça ou marcação de território pelos alfas. – dizia analisando se faltava algo de errado ou não – Ah! Ás vezes pode ser um indício de cio, já que os hormônios ficam desregulados tornando o controle deles algo difícil.
- Exatamente. Quando eu vejo o Ren, consigo sentir dois tipos de feromônios vindo dele – Chris a olhou sem entender – Um é o dele, que ás vezes parece estar mais forte que o normal e o outro...
- O outro...?
- É o do Damian. Em algumas das vezes o cheiro dele está tão presente no Ren, que fica difícil para eu me aproximar muito, é como se estivessem gritando para mim “não se aproxime”. E nesses dias eu quase não sinto o cheiro do próprio Ren, acredita?
- Mas é o esperado. Quero dizer, eles vivem andando juntos e até dão uma sumida ás vezes. – suspirou – Por que eles simplesmente não namoram? – disse como se fosse a coisa mais óbvia a ser feita.
- Por que em uma relação alfa e ômega não precisa sempre de um pedido. Ás vezes essas atitudes de marcar o outro com o próprio cheiro é uma forma de dizer para todos que aquela pessoa em especifico já tem alguém. Por você ser um beta provavelmente não vai entender o que eu quero dizer...
- Está me desmerecendo?
- Não. Eu só estou querendo dizer com isso tudo, é que pelo Damian ser um alfa, temo que ele esteja sendo um pouco possessivo demais. E a atitude que ele tomou hoje me relembrou que ele é um lúpus. Sendo assim, não acha que talvez ele possa ser um perigo para o Ren?
- Hana, você está pensando demais, não acha não? Acabou de dizer que o cheiro dele está no Ren, isso não significa que gosta de verdade dele? Damian simplesmente não quer que outros se aproveitem da pessoa que ele tanto estima.
A ômega suspirou.
- Talvez tenha razão. Eu devo estar mesmo pensando demais. Se o Ren está bem e feliz, não há motivos para eu me preocupar.
- Exatamente. O que devia estar te preocupando mesmo é se o cheiro do Ren ficar muito forte, certo? Sabe, por causa do primeiro heat dele... – comentou baixo sobre a última parte.
- É verdade! Eu tinha me esquecido desse detalhe. Preciso conversar com ele sobre isso, quero tentar ajuda-lo compartilhando a minha própria experiência.
- É muito r**m? – acabou perguntando sem pensar – Desculpa! Isso não é algo para sair dizendo para qualquer um.
- Que bom que tem noção disso. – dizia o olhando de escanteio. Viu que o beta havia ficado com uma expressão de culpa – Mas talvez eu te conte um dia.
- O que isso significa? – questionou vendo Hana expelir um ar mais pesado.
- Que você não é qualquer um – revirou os olhos – Ás vezes eu me surpreendo com o seu nível de lerdeza sabia? Será que isso é transmissível? – resmungou se retirando da mesa.
- A onde você vai? – perguntou, mas a ômega continuava seu caminho sem olhar para trás – Hana! – a chamou – Espere por mim!
.
Ren caminhava pelos corredores da escola pensativo. Estava tão alheio ao seu redor que acabava tendo que se desculpar com a maioria dos alunos por esbarrar neles. Havia três coisas que lhe atormentavam, a pergunta do veterano sobre alguém da sua família ser estrangeiro, a reação de Damian quando sorriu para ele e qual seria a punição que os alfas poderiam receber do diretor.
Poderiam ser assuntos banais que nem se quer precisavam da sua atenção, mas o ômega não conseguia deixar nada disso de lado. Pensava tanto que parecia que a sua cabeça iria explodir a qualquer momento.
Suspirou.
Ao chegar ao seu destino, parou de frente para porta da enfermaria e antes que pudesse abrir a mesma, Keita a abriu. Estava com um curativo no canto da boca e outro no nariz, os lugares onde foi machucado. O alfa franziu o cenho ao ver o ômega na sua frente.
- Tsc! Olha o que os seus namoradinhos fizeram com o meu rosto. Deve estar muito feliz de saber que tem alguém nessa escola que olha tanto por você, mesmo que você seja desse jeito.
O ômega estava cansado, cheio de ouvir as baboseiras que ele dizia. Keita havia parado de mexer consigo depois do ocorrido do telhado, mas sem motivos, mais uma vez fez algo para tentar atingi-lo de forma direta.
- Por que...
- Hã?
- Por que você faz isso? – Ren perguntou em um tom ameno.
- O que foi? Fale mais alto se quiser dizer alguma coisa.
- Eu estou perguntando... Por que você pega tanto no meu pé? – soou alto a ultima parte – Por que você é tão cismado comigo? Estou cansado de ter que ouvir suas piadas e da sua obsessão por mim, então por que não finge que eu não existo e vai viver a sua vida! – Ren colocou tudo para fora e por ter feito isso lhe faltou o ar.
O alfa por outro lado, mesmo se surpreendendo com aquilo, riu.
- Não é que você tem coragem? – se aproximou mais do ômega que mostrava um olhar afiado mesmo ainda tentando recuperar o próprio fôlego – Você perguntou o motivo de eu pegar no seu pé... é algo bem simples na verdade. Nakamura Ren, você me irrita. Toda vez que eu vejo esse seu rosto não consigo suportar. Tenho vontade de judiar de você, apenas isso.
- Como você diz uma coisa dessas... com tanta naturalidade? – rebateu o ômega – Como... – Ren não conseguiu continuar a fala.
Sentiu uma pontada forte em sua cabeça enquanto ainda tentava recuperar o ar, mas parecia cada vez mais ofegante. Seu corpo parecia ter esquentado de forma súbita e lhe faltava forças para conseguir se manter em pé.
O alfa estranhou as ações do outro, principalmente quando cambaleou, e ao tocá-lo no ombro sentiu um cheiro adocicado adentrar as suas narinas, foi então que percebeu que eram os feromônios de Ren. Estava sendo atraído pela fragrância do ômega e seus instintos lhe diziam para agarrar a pessoa que estava na sua frente. Vendo a expressão necessitada do ômega, engoliu seco, e antes que agisse foi afastado para o lado pelo doutor Kim.
- Hasekura, volte para sala que eu cuidarei disso. – disse o mais velho pegando Ren em seus braços.
- Mas doutor ele-
- Se recomponha e vá para a sua classe! – soou com uma voz autoritária e Keita o atendeu.
Azumaya entrou com o ômega na enfermaria, fechou a porta e o colocou sobre a maca. Vendo as reações que Ren tinha e a fragrância que exalava já sabia o que estava acontecendo e precisava dar conta disso, antes que mais um alvoroço acontecesse na escola em menos de 24 horas.
- Minha cabeça está latejando... meu corpo está quente. É difícil respirar.
- Ren, você tomou os supressores que eu te dei semana passada? – questionou o alfa enquanto se preparava para mexer em seus materiais.
- Sim, os três que me deu.
- Isso é incomum. Não era para você estar assim... – suspirou – Te dar um supressor agora seria ineficaz também. Você já teve relação s****l com alguém?
- Não...
- Então talvez dessa vez seja necessário. Os seus feromônios estão descontrolados e para estabilizá-los precisa se relacionar com um alfa. Você tem alguém em quem confie para passar o seu cio, não tem?
Ren não respondeu, mas o seu silencio foi uma resposta.
- Irei injetar uma injeção para diminuir temporariamente os seus feromônios, você deve ficar estável até o período da tarde. Fique pelos próximos dias em casa e passe pelo seu cio, tentar retardá-lo ainda mais quando já deu fortes indícios, pode acabar te prejudicando.
- Eu vim para pedir um favor, mas acabei ficando assim. – disse expelindo um ar pesado. Quando Damian veio a sua mente, sentiu o seu peito apertar e algo no seu interior se revirar – Por que isso acontece quando penso nele? – questionou baixo.
O Kim fez os procedimentos necessários. Ren estaria estável por algumas horas, mas se sentiria meio indisposto por causa da injeção e por esse motivo ficaria na enfermaria.
- Eu fiquei sabendo o que aconteceu na aula de educação física. Não precisa se preocupar com eles, o professor disse que o diretor lhes daria uma advertência e que talvez ficariam um tempo de aula na sala de detenção.
- Que bom. – Expeliu um ar pesado, mas por estar aliviado – Na hora que tudo aconteceu eu não consegui raciocinar direito. Deve ter sido por causa do susto.
De fato.
- Você está muito sobrecarregado. Conviver com as pessoas nessa escola não é algo simples. – dizia o Kim.
- Eu sei. Todos os dias durante três meses eu pensava assim, mas depois tudo me pareceu mais fácil de se lidar. Eu devo ter caído na ilusão de que ao fazer amigos nada de r**m me aconteceria mais, porém eu me enganei. – dizia sentindo os olhos pesarem – Ainda assim, eu não me arrependo de estar aqui. Me sinto um pouco mais leve depois de ter colocado para fora o que eu sentia a respeito das atitudes do Keita.
- Mas isso foi arriscado. – ressaltou.
- Estou ciente. Mas não posso viver sendo submisso á ele, porque ele provavelmente não será a única pessoa que irá se colocar na minha frente. Mesmo depois que eu sair daqui, ainda corro risco de passar por situações como essa na faculdade, no trabalho... Não posso depender dos outros para sempre, preciso ser mais independente.
- Mesmo sabendo que a maioria dos ômegas de determinadas classes ainda sofrem com situações inconvenientes só por serem ômegas?
- Sim.
- Você é mesmo incrível Ren. – dito isso o ômega sorriu.
- Tento ser melhor como eu posso.
O Kim ficou ao lado do ômega fazendo algumas anotações até que ele dormisse. Depois aproveitou para fazer uma ligação.
- Irmã, eu achei melhor suspender os medicamentos. – dizia sério – É preferível que ele passe pelo cio.
- O que está dizendo? Os supressores deveriam ter surtido efeito. Eram dosagens altas, justamente para que funcionassem nele.
- Se continuasse tomando essas dosagens, iriam desregular mais ainda os hormônios dele. Ren precisa ter a experiência do primeiro cio com um alfa, assim irá se estabilizar.
-Não é você quem decide isso! – gritou do outro lado da linha – Eu te pedi para que ficasse de olho nele e seguisse o que eu mandasse.
- Sendo médico não posso receitar um tratamento que seja prejudicial ao meu paciente. Você me pediu para não deixar que nada r**m acontecesse com ele. Então. Eu estou fazendo isso.
- Azumaya!
- O Ren não precisa de ninguém o controlando e ele também não é uma cobaia para passar pelos seus experimentos. Sabe disso, não sabe?
- Azumaya. O Ren é especial e por ele ser assim, não pode passar o seu primeiro cio com qualquer um. Ainda não encontramos um parceiro adequado para ele.
- E você acha que ele aceitaria qualquer um? Eu já te enviei os meus relatórios anteriormente e apresentei alguém adequado. O Ren reage á essa pessoa.
- Por que é tão difícil você me escutar?
- Talvez porque você seja ambiciosa demais. Em todo o caso, não há o que você possa fazer mais para intervir. – dito isso finalizou a ligação e suspirou.
Viu que o ômega ainda dormia e se aproximou para verificar se ele estava bem. Levou a mão na testa do mais novo para verificar a temperatura e ficou aliviado em ver que ela havia diminuído. A respiração também havia normalizado, mas os feromônios ainda estavam um pouco fortes.
- Continue descansando. O suficiente para que recupere suas energias para o que ainda está por vir... - afagou os fios do mais novo e logo suspirou - Não será fácil, mas acredito que conseguirá lidar com tudo.