Mal o CEO saiu do banheiro, já lançou a Catalina um olhar carregado de desdém. Enquanto vestia uma camisa social, disse, sem nem olhar para ela:
"Pare com esse choro. Lágrimas falsas não vão me comover."
Não houve resposta. A garota nem piscou, seus olhos fixos em Wesley como os de um animal acuado. Ela já entendera que qualquer palavra seria inútil. O silêncio era sua única defesa.
"Vou te dar uma última chance. Conte-me... quem está por trás de você? Se for honesta, talvez eu até seja condescendente."
Enquanto o CEO terminava de se vestir, Catalina permaneceu em silêncio. Por mais que seu coração estivesse cansado daquelas acusações, ela precisava se manter forte.
"Então é assim? Vai continuar nesse teatro? Tudo bem, mas não espere sair deste quarto."
Wesley saiu e trancou a porta com um clique decisivo. Sua expressão era de puro desprezo. Para ele, Catalina não passava de uma oportunista.
"Tia Milani, ninguém entra no meu quarto até eu voltar", ordenou à governanta, que acabara de arrumar a sala de jantar.
A mulher, de cabelos grisalhos e rosto sério, assentiu. "Como o senhor mandar."
"E distribua meu café da manhã entre os funcionários. Preciso ir ao escritório imediatamente."
A governanta concordou novamente, sem questionar. Ela notara a frieza incomum na voz do patrão.
No escritório, Dominic já o esperava, o rosto sombrio.
"É verdade então? A mulher foi à sua casa?"
"Estou à beira de um ataque de nervos por causa dessa garota", rosnou Wesley, deixando-se cair na cadeira.
"O que houve?"
"Alguém me dopou com um estimulante. Tive relações com ela."
As sobrancelhas do secretário se ergueram até a testa. "Cê tá de brincadeira?"
"Quem me dera", suspirou o CEO, esfregando o rosto. "Não bastava o problema da casa demolida, agora isso. Só espero que a garota não engravide. Nem pensei em anticoncepcional."
"Wesley... tem um problema maior."
O CEO se endireitou na cadeira. Um mau pressentimento o atingiu.
"O que foi?"
Em silêncio, Dominic colocou um envelope marrom sobre a mesa. Wesley não precisou de três segundos para ver o conteúdo.
Fotos de Catalina entrando em sua propriedade, fotos dele na casa dela... até o beijo forçado durante o incidente do café. Os olhos do CEO se arregalaram.
"O que é isso?"
"O conselho recebeu o mesmo conjunto. Eles agora acreditam que você conspirou com a Catalina para sabotar o projeto NexaCore."
Um som de incredulidade escapou dos lábios de Wesley.
"Eles enlouqueceram? Por que eu sabotaria meu próprio projeto?"
"Por isso, a reunião desta tarde foi adiada. Em compensação, seu pai quer vê-lo."
A testa de Wesley se franziu.
"Meu pai? Ele também desconfia de mim?"
"Não sei. Mas é melhor você comparecer."
Wesley recostou-se na cadeira, a mão apoiada na têmpora. A situação estava ficando insustentável.
"Boa tarde, pai", cumprimentou Wesley, com um sorriso tenso.
Herbert Myers ignorou a saudação, seu rosto uma máscara de irritação.
"Dispensa as cerimônias, Wesley. Explique-se!"
O CEO suspirou. Mesmo na sala à prova de som do VVIP, ele se sentia acuado.
"Fui vítima de uma armadilha. Alguém pagou para aquela garota atrapalhar o projeto."
Herbert franziu o cenho, cético.
"E o que uma garota comum conseguiria fazer?"
"Ela se recusou a vender a casa, mesmo por quatro vezes o valor de mercado", retrucou Wesley, confiante.
O pai balançou a cabeça, o lábio inferior projetado em descrença.
"Então ela mesma demoliu a própria casa para difamar sua empresa?"
"Tenho certeza de que foi paga por um concorrente."
"Suponhamos que sim. Por que, então, não roubaram dados da NexaCore? Sinto muito, Wesley. O conselho perdeu a confiança em você. Deve renunciar."
Wesley olhou para o pai, incrédulo.
"Espere! Você não pode simplesmente me afastar. Isto é um m*l-entendido. Posso resolver."
"Não, Wesley. A decisão é final."
"O conselho está sendo precipitado! Se me condenam injustamente, a empresa sofrerá. Nossos avanços tecnológicos ficarão parados!"
Wesley gesticulava, tentando fazer o pai entender. Precisava convencê-lo.
"Pelo menos, me dê um prazo para limpar meu nome."
"O que você fará?"
"Vou garantir que a garota não cause mais problemas. Ela receberá uma compensação, sem prejudicar a empresa. Sem protestos, sem escândalos. O projeto NexaCore continuará."
A sala ficou em silêncio. Herbert observava o filho, ponderando.
"Você terá uma semana. E durante esse tempo, está afastado da empresa. Todo o seu acesso será revogado."
"O quê? E meus compromissos?" As mãos de Wesley se abriram em um gesto de frustração.
"Deixe seus assuntos com o Dominic. Seu afastamento é necessário para evitar suspeitas. Se algo acontecer nesse período, o conselho saberá que você não é o traidor."
"Traidor?" Wesley repetiu, a palavra ecoando amargamente em sua boca.
"Está bem. Vou provar minha lealdade. O projeto NexaCore é minha ideia, minha prioridade. Jamais o sabotaria."
Herbert acenou com a cabeça, sem qualquer calor.
"Uma semana", confirmou, como se o destino do próprio filho lhe fosse indiferente.
Ao sair, Wesley ligou para Dominic imediatamente.
"Alguma novidade da investigação?"
"Ainda não. A segurança verificou as câmeras. Nenhum suspeito. Parece impossível rastrear quem acessou seu e-mail."
O CEO apertou o nariz, fechando os olho por um instante.
"E a garota? O que descobriu?"
"A casa era herança dos pais falecidos. Ela a valorizava muito."
Wesley inclinou a cabeça, surpreso. "Só isso?"
"Catalina é professora de piano. Participa de competições, mas nunca venceu. Está classificada para a segunda fase de um concurso, na próxima semana."
De repente, Wesley lembrou-se do vídeo que vira. Encenação ou não, a determinação de Catalina parecia genuína.
"Certo, obrigado, Dominic. Já sei o que fazer."
Ele voltou para casa em alta velocidade.
"Algum problema na minha ausência?", perguntou ao mordomo.
"Nenhum, senhor. A moça permaneceu quieta no quarto."
Após um aceno seco, o CEO subiu a escada dois degraus de cada vez e arrombou a porta do quarto. A garota jazia sob os trapos do vestido, exatamente onde a deixara.
"Acorde!"
A imagem de seu afastamento da empresa invadiu sua mente ao vê-la. Dois segundos, três... Nenhum movimento. Ela permanecia imóvel.
"Tsc, parou de fingir? Quer evitar o confronto? Levanta agora!"
Wesley deu um leve toque com o pé na perna dela. Nenhuma reação.
"Você está testando os meus limites."
Ele se aproximou e puxou o braço da garota para erguê-la. No mesmo instante, seus olhos se arregalaram. A pele que tocava estava fria como gelo, e o rosto da jovem tinha a palidez da morte.
"Ei, acorde! Pare com isso!", disse Wesley, sua voz repentinamente rouca. A dúvida apertou sua garganta.
"Catalina?"
Suas mãos começaram a sacudir o rosto da garota, cada vez com mais urgência. Mas não obtiveram resposta.