Não tem mais nós dois

Enquanto ando atrasada pelas ruas em rumo a um táxi com o meu café forte para aguentar mais um dia torturador de trabalho em mãos, falo ao telefone com uma das minhas clientes que se faz de cínica e não diz a verdade. Como eu vou ajudar alguém que não abre a droga do jogo? - Letícia Novaes - Me gritam e me viro dando de cara com quem eu menos queria. Insistência. - Depois nos falamos, dona Cláudia . E abre o jogo comigo - Aviso a mulher da outra liga e desligo o celular - Bom dia! senhora Dantas - Suspiro antes de ter a sua proximidade. - Meu marido vai ficar durante três meses, preso sem ter feito nada. Isso é injusto - Levanto os meus óculos escuros a altura da cabeça. - Nós duas sabemos melhor que ninguém em que o seu marido meteu-se, senhora Dantas - Falo ajeitando a minha bolsa nos ombros. - Mas, Letícia... - A interrompi. - Dona, era pro seu marido ficar preso durante três anos e ficaria um bom tempo sem poder receber visitas. Consegui mudar tudo com o juiz e passar para apenas três meses, eu fiz de tudo, mas não deixaram sair impune. Tem como por favor a senhora aceitar e dar esse caso como encerrado? Eu preciso mesmo trabalhar agora - Tento ser o mais simpática possível. - Eu te paguei uma grana preta para isso? - A grana fez cosquinha nos seus bolsos e quer algo melhor? Tente com outro advogado. Passar bem - Apresso os meus passos sem olhar para trás e esbarro com um peso deixando a minha pasta dos casos cair no chão - Tem como esse dia piorar? - Reclamo enquanto me abaixo para pegar os papéis. - Me desculpa, linda - Se abaixa e me ajuda com os papéis. Levanto do chão tentando ajeitar e bufo impaciente - Quer uma ajuda? - O olho de cara feia - Tá toda estressada assim. Quer tomar um milk shake no Bk? - Eu tenho idade pra ser sua mãe, não uma menininha do seu colégio que quer comer - Pego os papéis de sua mão e guardo na pasta. - Minha mãe já está bem velha, tem seus 40 anos - Rir nasal. - Não muda muita coisa, já que tenho 30 - Cruzo os braços. - Você tem 30 anos? - Concordo e ele começa a rir. - Qual é a graça? - Você não tem cara de 30. - De 16 que eu não tenho, o que deve ser sua idade. - Tenho 19. - Uma pena que eu não ligo. - Então vai tomar um milk shake comigo? - Tenho cara de adolescente que perde tempo com isso menino? Volta pro seu colégio que tenho muito trabalho. - Faculdade - Me corrige. - Tem algum formulário na minha mão pra ficar me dando tantas informações sobre você? - Ironizo. - Você é meio diferente. - Diferente como? Se for um diferente de extraordinário está explicado. - Sabe, eu te daria 21 - Me surpreendo com sua opinião. - Obrigada - Tento não sorrir e falho. - Acho que está atrasada. - Pra que mesmo? - Franzi o cenho. - Não tem trabalho? Me lembro e arregalo os olhos olhando no me relógio de pulso ser cinco pras oito - Eu vou ser demitida, que droga! - Corre que alcança o tempo. - Que ótimo conselho - Faço um valeu com os polegares em deboche e tento correr com aquele meu salto até o táxi mais próximo. - Nos vemos por ai - Grita enquanto corro e o ignoro. Com tantas pessoas pra eu conhecer por esse Brasil, tinha que ser justamente um rostinho adolescente de bebê que é irritante e questionador? Só sei que o meu chefe vai comer o meu cu se eu chegar atrasada. Meu chefe não me dá um pingo de valor que mereço. Que vontade eu tenho de matar aquele velho nojento.