Capítulo 01

1837 Words
Marisa Flores / Queen Estaciono Monalisa na minha vaga dentro do orfanato e sinto o cheiro da gasolina adulterada que uso na minha pequena lata velha. Um dia eu ainda vou morrer junto com a Monalisa, mas sorrio por não ter sido nessa manhã. Ajeito minha roupa e pego minha bolsa no banco do carona colocando-a no ombro. Saio de Monalisa e sigo para dentro do lugar que sempre foi minha casa, Orfanato Saint' Mateo. - Bom dia, Barb. - Aceno para a recepcionista e ela sorri de volta acenando. - Queen, acelera essas meninas que eu não tenho paciência para adolescentes. - Nicolas diz entrando na recepção irritado. - Você só tem que ter um carinho a mais. - Aponto andando em direção ao corredor que ele acabou e sair. - Sabe, aquela coisa que você nasceu sem? - Pergunto debochada e Nicolas franze a testa ofendido, mas logo dá de ombros ao perceber que eu estou totalmente certa. Nicolas era o auxiliar no acompanhamento escolar, ou seja, fazia a ponte entre os órfãos e as escolas em que estudavam. Por sempre estar acostumado com as burocracias e a objetividade fria da lei, não tinha muito jeito com pessoas reais. Entro no quarto feminino de 14 a 18 anos e dou risada quando encontro as meninas se maquiando para a aula. - Vocês vão estudar, meninas, e não encontrar um príncipe encantado. - Comento divertida apoiada no batente da porta. - Mas vai que eu encontro, Queen? Preciso estar preparada. - Nina responde passando o batom nos lábios. - Queen, vai dizer que você não se maquiava para ir para a escola? - Pergunta Alicia sentada de pernas cruzadas na cama. - Eu era igual a você, Ally, mas claro, sem todo o cabelo de fogo. - Brinco e ela ri. - Andava mais com os meninos então, não passava muita maquiagem. - É por isso que está encalhada ainda, porque se passasse maquiagem já ia ter algum boy magia em volta de você. - Nina caçoa rindo. Reviro os olhos e bato palmas para atrair a atenção para mim. - Vamos meninas, que se eu chegar atrasada novamente para a aula de vocês, o Diretor Farrel me mata. - Aviso e as meninas se apressam finalizando os últimos retoques, ou como Ally, apenas prendem o cabelo um rabo de cavalo mostrando a beleza na simplicidade. As meninas me seguem pelo corredor e eu as direciono para irem até a van. Bato na porta dos meninos e quando abro recebo gritos e protestos ao ver que alguns ainda estavam se trocando. - Sai, Queen. - Grita Luke irritado antes de me empurrar para fora e fechar a porta atrás de si. - Alguns estão pelados lá dentro, mulher. - Diz irritado e eu rio do seu jeito protetor. Eu era muito apegada ao Luke, ele faria dezoito em breve e seria livre para escolher onde viver, ou seja, iriam mandar ele embora e ele teria que se virar no mundo sozinho. Luke entrou no orfanato aos 7 anos e ficou um ano atrasado a escola, assim como Mike e John, dois outros adolescentes que foram transferidos para cá na mesma época. - Ei, menino, eu vi esses garotos pelados quando eram pequenos. - Digo rindo e ele cruza os braços bufando. - Mas você é como a nossa mãe, tem que entender que não pode sair entrando assim, tirando a nossa privacidade e... - Luke começa a falar e eu dou risada o puxando para um abraço. - Eu amo vocês como mãe, menino. - Declaro suspirando. - Eu sei e... Não se preocupe, eu e os meninos vamos arrumar um lugar. - Diz ele tocando em um assunto delicado para mim. - Vocês vão para a casa. - Aviso e ele nega rindo. - Não foi uma pergunta, Luke. - Digo séria e ele acena concordando. Os meninos começam a sair do quarto já prontos e seguimos para a van onde as meninas nos esperávamos. - Achei que as princesas iam demorar mais tempo. - Ally provoca e Stuart semicerra os olhos irritado. Esses dois ainda vão acabar nos tapas e eu que vou ter que separar... Ligo a van quando todos estão dentro e sigo até a Escola Estadual Professor Antônio Alves, escola de ensino fundamental e ensino médio. Eu era a responsável pelos órfãos de 14 a 18 anos, então toda a rotina deles estava sob os meus cuidados. Alguns tinham trabalho treinee depois da escola, outros tinham curso e outros ficavam no orfanato, toda essa logística era minha responsabilidade. Minha rotina então era pegar os meninos de manhã e levar para a escola, pegar da escola e levar para o almoço, depois para os cursos e trabalhos de treinee e no fim levar para o orfanato e ficar com eles até as sete horas da noite. Trabalho das seis às sete, treze horas por dia, de segunda a sexta e não pego férias há nove anos, ou seja, desde que comecei a trabalhar com os meus meninos, eu não consigo e nem quero fazer outra coisa além disso. Estava tranquila tamborilando os dedos no volante da van esperando o semáforo ficar verde, horas depois de ter deixado todos na escola, quando meu celular começa a tocar: Diretor Farrel. Oh droga, os três fizeram dessa vez? - Bom dia, diretor, está tudo bem? - Pergunto receosa. - Não preciso nem dizer o que me fez te ligar no meio da aula, não é? - Resmunga ele irritado. - Michael, Luke e John, de novo. - Estou indo, me desculpe. - Digo apenas e dirijo de volta para a escola. Esses três ainda me matam... Entro na escola apressada e a recepcionista me olha com cara feia. Sorrio sem jeito e ela apenas aponta para o corredor que eu já conheço bem: a diretoria. - Senhorita Flores. - A voz de Farrel me irrita e eu respiro fundo com o seu tom de voz. - Bom dia, diretor. - Aceno me sentando entre John e Mike que olham para as mãos envergonhados pelo diretor ter me chamado novamente nesse mês. - Terceira vez no ano, segunda vez no mês. Acho que nossos encontros estão ficando cada vez mais frequentes. Se eu te encontrar mais um par de vezes, você tem que concordar que vou ter que tomar atitudes para não ver esses três nunca mais. - Suspira ele e eu mordo o lábio inferior nervosa. - Me desculpa, diretor, eu vou conversar com eles para isso não acontecer mais. - Digo implorando mentalmente para Farrel não expulsar os três. - Não se preocupe, Marisa, você não tem que fazer nada. Essas pestinhas que tem que agradecer por você estar com eles e por mimá-los tanto quando o faz. - Diz Farrel e eu franzo o cenho incrédula. - Deviam ser mais gratos à Marisa, já que ela não tem obrigação nenhuma com vocês, garotos terríveis, e sem pa... - Não fale o que eu acho que você vai dizer! - Digo alto cruzando os braços. - Eles às vezes fazem coisas que não são legais, mas eles são apenas adolescentes. Eu sei que existem outros nessa escola que não é o responsável legal que vem na diretoria e sim os pais biológicos que vem quase toda semana. Então, por favor, Farrel, eu achei que você fosse melhor do que isso, estou decepcionada. - Respiro fundo quando acabo de falar e vejo Farrel com uma expressão perdida. - Olhe, Marisa, eu gosto de você e acho que o que você faz pelo orfanato algo bonito, mas até quando vai ficar limpando a bagunça desses três? - Pergunta o diretor com a voz mais baixa. - Não é bagunça, é comportamento adolescente. Eles brincaram enquanto o professor estava passando a matéria? Brigaram com outro rapaz? Colaram na prova? Não venha me dizer que são os únicos adolescentes que fazem isso. Eu vou conversar com eles, mas não porque eu tenho que arrumar a bagunça deles, mas sim porque eles têm que rever o caráter e amadurecerem e isso não tem nada a ver com eles serem "garotos terríveis e sem pais". - Digo fazendo aspas com os dedos e Farrel assente. - Agora vocês... - Me viro para os três que olhavam para o chão. - Olhem para mim! - Digo cruzando os braços e eles me olham. - A gente vai conversar assim que entrarmos naquela van. - Aviso e eles assentem. - Aqui. - Farrel me direciona um papel de autorização de saída dos órfãos e assino no nome dos três no dia de hoje. - Obrigada, diretor, e me desculpe pelo que aconteceu. - Digo apenas e puxo os três comigo. O caminho até a van foi silencioso e eu a abro. Eles se sentam ao meu lado no banco com três lugares na frente. Suspiro e tamborilo os dedos no volante. - O que vocês estavam pensando? - Pergunto cansada. - Desculpa, Queen. - Pede Mike me encarando, ele era praticamente o líder desse trio por ser o mais responsável deles. - Nós não pensamos que iria dar nisso. - Eu sei. - Me limito a dizer. - Não sei por que você se preocupa. - John dá de ombros. - Assim que eu sair da responsabilidade do orfanato eu vou parar a escola e... - Você vai parar o caralho, John. - Aponto o dedo indicador para ele que sorri de lado por eu ter falado palavrão. - Me deve um real. - Ri John me fazendo revirar os olhos. Um real por um palavrão era o único jeito de fazer todos os adolescentes não falarem palavrão. - Droga. - Pego a carteira e lhe dou uma moeda. - Mas voltando, você vai para minha casa, os três vão e vão finalizar o ensino médio nem que seja a força. - Cruzo os braços irritada. - Queen, já tem cinco pessoas morando no seu apartamento, com você são seis, não tem espaço para mais três. - Luke diz dando de ombros. - A gente dá um jeito. Espalho colchão no chão, mas vocês vão para casa. - Aviso. - Ei, eu tenho um real. - John aponta mudando de assunto. - Vamos comprar picolé? Reviro os olhos rindo. - Não consigo conversar sério com vocês, não é? - Pergunto e os três negam saindo da van até a vendinha de frente da escola. - Você vai pagar para a gente, não é? - Pergunta Luke rindo. - Dois reais? - Pergunto e eles assentem. - Mas que porra, viu caralho. - Digo pegando minha carteira novamente. *** Queen & King está de volta! Saudades desses dois lindos! O que vocês acharam da nossa Queen? Ainda não deu para compreender ela por completo, mas esperem por barracos e falta de medo de "falar algumas verdades". Lembrem-se de votar e comentar, é super importante pra mim ?? Lembrando que tenho um Instagram para conversar com vocês!!! Está como @amandinelourec, igual aqui no wattpad.
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