Amigos e seus benefícios

Capítulo 4

O celular já tinha despertado há algum tempo, mas eu me recusava a sair da cama. Estava profundamente arrependido de ter dito que ia trabalhar hoje. Estava tão bom ali que por mim passaria o final de semana inteiro daquele jeito. Com Holly nua, agarrada ao meu corpo sem a mínima intenção de soltar. Estávamos de lado na cama e de frente um para o outro. Ela com um braço em volta do meu pescoço e o rosto em meu peito. E eu, com o braço firme em volta da sua cintura.

Eu percebia em seu rosto adormecido o quanto ela estava cansada. Só por isso não acordou com o toque estridente do meu celular. O cansaço, obviamente, não era só pelo ritmo acelerado da semana de trabalho. Tenho quase certeza que a maior parte daquela exaustão se devia ao sexo intenso que fizemos na noite passada. Fechei meus olhos e vários flashes passaram à minha mente... o suficiente para acordar meu pau. E não era a reação involuntária de todas as manhãs e sim pelas recordações.

Somente ontem eu tive a real noção do quanto o sexo com as outras mulheres parecia insignificante perto do que fiz com ela. Não estou querendo dizer que era ruim, claro que não. Já fiquei com mulheres bastante agradáveis e que sabiam o que fazer na cama. Mas Holly era imbatível. E meu subconsciente podre e debochado riu de mim por permitir que tantos babacas usufruíssem da delicia que era estar na cama com ela.

E não era só isso. Havia a personalidade dela que a tornava única. Eu era mesmo um grande imbecil. Por que não tive a ideia de uma amizade com benefícios antes?

—Não vai ficar atrasado?

A voz dela soou arrastada e preguiçosa me fazendo rir. Beijei a ponta do seu nariz e ela abriu os olhos.

—Pensei que estivesse dormindo.

—Era o que queria, mas eu preciso ir ao banheiro. E meu corpo se nega a sair daqui.

—SE quiser eu te levo no colo.

—Até parece que vou deixar você me ver fazendo xixi.

—Eu já vi algumas vezes.

—Em todas elas eu estava bêbada.

Eu ri, mas em seguida fiquei sério. Meu olhar perscrutava seu rosto e eu não fazia questão nenhuma de disfarçar.

—Pare com isso, Jay. Eu sei o que está fazendo.

—O que?

—Está procurando algum sinal de arrependimento.

Eu bufei por ter sido descoberto. Mas o que eu esperava? Holly e eu nos conhecíamos como a palma de nossa mão. Eu conseguia perceber o que se passava com ela, na maioria das vezes só olhando em seu rosto. E o mesmo acontecia com ela, como agora.

—Confesso.

Ela se afastou um pouco para me olhar melhor e balançou a cabeça.

—Eu não me arrependo de nada.

—Acho que consegui me redimir dessa vez.

—Redimir? Está falando do que, louco?

—Da nossa primeira vez. Eu sei que fui um fracasso.

Ela se sentou rapidamente, pouco se importando com sua nudez. Meu olhar, como não poderia deixar de ser, se fixou no meio de suas pernas, e meu pau que já estava duro só com as lembranças, agora ficou pior com a imagem.

—Que absurdo é esse? É obvio que não.

Estupidamente meu coração deu um salto e um arremedo de sorriso brincou em meus lábios.

—Sério? Holly... eu sei que não foi tão bom para você quanto foi para mim. Você não sentiu tanto prazer quanto eu.

—Eu não senti aquele orgasmo fabuloso. Não senti tanto prazer, não gozei loucamente quanto ontem..., mas foi bom sim. E por favor, Jay, eu não era tão inocente assim. Eu sabia que a primeira vez não seria tão maravilhosa. Mas por ser a nossa primeira vez... foi incrível para mim.

Meu coração disparou mais ainda, e feito um adolescente bobo, eu me sentei na cama de frente para ela e agarrei suas mãos.

—Céus, Holly... isso é verdade? Foi incrível para você assim como foi para mim? Sei lá... eu acho que deveria ter me controlado mais um pouco e...

—Pare com isso. —Ela tocou meu rosto, acariciando várias vezes e sorrindo ao sentir minha barba crescendo raspando sua pele macia. —Foi incrível porque foi com você. E se eu tivesse o poder de voltar ao passado, eu faria a mesma coisa. Seria você o escolhido.

Eu avancei sobre ela, enlouquecido por suas palavras, e me esquecendo completamente do quanto ela era fresca em conversar com alguém logo após acordar e sem escovar os dentes. Eu a beijei, segurando em sua nuca para que ela não fugisse, mas Holly parecia tão afetada quanto eu e correspondeu com ardor.

—Eu também, floquinho. Eu faria de novo e de novo...com você.

Infelizmente eu não pude fazer o que desejava que era penetrar novamente aquele corpo delicioso e me perder, me esquecendo de tudo, inclusive do trabalho. Mas Holly me expulsou da minha própria cama e um tanto contrariado eu tomei meu banho, logo depois de ela ter usado o banheiro. Mas eu nem ia reclamar disso, já que eu não esperava encontra-la ainda no meu quarto. Foi uma deliciosa surpresa encontra-la dormindo em minha cama, abraçada ao meu travesseiro.

—Inferno, Holly. você vai acabar comigo.

Resmunguei baixinho enquanto me vestia ali mesmo. Eu não ia perder a oportunidade de ficar olhando para ela. Mas só quando cheguei ao trabalho eu me dei conta da minha situação. Eu estava agindo como se fôssemos namorados e não apenas amigos coloridos. Eu precisava me controlar um pouco mais quando o assunto fosse minha melhor amiga. Eu fiz isso até hoje, não fiz? Por que ia mudar agora?

****

A todo instante eu conferia as horas em meu relógio de pulso. Que grande merda. Eu não conseguia me concentrar no trabalho. Irritado, depois de passar pelo menos uns vinte minutos apenas olhando para a tela do computador, eu me levantei e decidi ir buscar um café.

—Precisa de alguma coisa, Jayden?

Lucy, minha secretária, perguntou solícita ao me ver saindo da sala.

—Obrigado, Lucy. Vou buscar um café, assim caminho um pouco e espanto esse ócio.

—Ócio? Você? Duvido. Está sempre tão disposto.

—É, mas hoje eu estou preguiçoso.

—Eu aposto que foi a noite quente com aquela gata. —A voz veio de trás de mim e eu girei para encarar meu tio. —Pode ficar tranquilo, não vou pedir detalhes.

—Eu não planejava dar nenhum detalhe mesmo. Mas a minha noite foi muito mais que quente. Foi ardente.

—Uau... bom, se eu fosse você nem teria vindo. Ficaria recarregando as energias para terminar a noite hoje.

—Nem pensar.

Só falei isso porque ele imaginava que minha noite tinha sido com Victoria. Porque se tivesse sido com ela, eu realmente não ia repetir. Esse tipo de comportamento só me daria dor de cabeça mais tarde. Eu já estava vacinado contra isso.

—Vocês jovens e essa mania de não querer repetir mulher. Quanta bobagem, gente. Se foi bom, por que não repetir? Pode surgir um amor daí, sabia?

—E pode surgir uma obsessão também. Tio, o senhor bem sabe que elas não saem comigo somente por causa do meu belo corpo.

—Experimente mostrar um pouco do verdadeiro Jayden para elas. Aposto que logo vão querer sair com você sem que sexo esteja em primeiro lugar.

Neguei balançando a cabeça. Não queria sair com mulher nenhuma no momento. E muito menos queria sexo. Eu estava bem satisfeito com minha amizade colorida, embora ela tivesse começado a apenas um dia.

Owen se afastou rindo e eu segui meu caminho até a cantina. Voltei pouco depois com o copo de café na mão, mas ao me aproximar da mesa da minha secretária eu quase fiz meia volta. Sentada na poltrona de couro, com suas longas pernas cruzadas e desnudas estava Victoria me fuzilando com o olhar.

—Bom dia Victoria.

Olhei de soslaio para Lucy que parecia um tanto assustada com a expressão no rosto da outra. E confesso que eu também estava. Ela, nesse momento, mais parecia uma esposa traída em busca de vingança. Ela se levantou num salto felino e caminhou até mim. O vestido branco abraçava todas as suas curvas e fazia um bonito contraste com sua pele. Mas nada daquilo me impressionava... não mais.

—Bom dia? — Ela vociferou, se esforçando para não gritar ou estapear minha cara. —Só se for para a vagabunda com a qual você passou a noite e me deixou feito uma idiota à sua espera.

Eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, mas de uma maneira ruim. Quase podia sentir meu sangue fervendo em minhas veias. Ainda que ela não fizesse ideia de com quem eu estive, eu não ia aceitar que ela falasse assim de Holly. Ninguém nunca, jamais ia se referir a ela daquela forma.

—Você não sabe de nada, então acho bom moderar o seu palavreado comigo. Venha até minha sala, por favor.

—Não! — Ela gritou, descontrolada. — Está com medo de que sua secretária saiba o canalha que você é? Aposto que ela já sabe. Tenho a certeza de que muitas mulheres já passaram pela mesma coisa que eu.

—Muitas não. Somente as insignificantes.

Eu sabia que não deveria ter dito isso. Aliás, por mais que uma mulher me agredisse verbalmente, eu jamais me rebaixava ao mesmo nível. Eu apenas ouvia sem revidar à altura. Mas dessa vez eu me descontrolei... e Victoria também, já que o tapa em meu rosto ardeu consideravelmente.

—Cachorro. Não pense que terá uma segunda chance, porque não terá, Jayden.

—Acredite... eu não faço a mínima questão. E quer a sinceridade? Você não me deixou tão interessado assim, tanto que eu busquei mil desculpas para desmarcar. Mas no final das contas, minha companhia foi tão agradável que eu me esqueci completamente de você.

Eu a vi fechar as mãos com força e quase arreganhar os dentes como um animal selvagem. Eu nunca passei por uma situação semelhante. Quer dizer, já ouvi coisas duras de algumas mulheres, mas nunca na frente de outras pessoas. Victoria extrapolou e conseguiu realmente me tirar do sério.

Ela ajeitou o decote do vestido, deslizando as mãos e me encarou, sorrindo de um jeito debochado.

—Mas eu já estou a par do que aconteceu. Todos estão comentando. Só sinto pena de você que deixou de desfrutar de momentos bons para ficar limpando lágrimas da sua amiguinha corna.

Eu juro por Deus... Victoria teve sorte de cuspir aquelas palavras nojentas e se afastar, sumindo das minhas vistas. Se ela tivesse permanecido na minha frente, eu teria me esquecido de toda a educação que recebi de meus pais e teria revidado o tapa. Maldita cadela. Ela não chegava aos pés de Holly.

—Esqueça essa cena patética, Lucy, por favor.

—Já deletei. Mas se me permiti dizer uma coisa... fuja desse tipo de mulher. Só lhe trará aborrecimentos.

Imediatamente a imagem de Holly tão linda dormindo em minha cama me veio à mente e eu sorri.

—Eu já fugi, Lucy. Pode ter a certeza disso.

Entrei em minha sala e peguei meu celular, digitando uma mensagem para Holly antes mesmo de me sentar novamente.

"Ei floquinho. Afim de um final de semana divertido e tranquilo? Quer dizer, mais divertido que tranquilo?

A sua resposta foi quase imediata.

"Eu até já imagino o que pode ser, Jay. Já vou começar a arrumar minhas coisas. Quer que eu arrume as suas?

Respondi que sim, e meu sorriso não abandonou meu rosto até o momento em que sai do trabalho quase três horas depois.