Aos olhos de Gabi
Antes mesmo do final da noite, algumas doses de tequila me fizeram perder o controle sobre a minha própria boca.
Contei intimidades que não se deixa escapar para alguém que acabou de conhecer. Falei do meu namoro fracassado, da minha frustração com os homens e até que eu era a única virgem do meu grupo de amigos.
Quando o estupor do álcool deixasse a minha corrente sanguínea, além da dor de estômago da ressaca física, eu sofreria também da vergonha de uma ressaca emocional.
— Não sei porque deixei a Nina me convencer a vir. Festas assim não têm nada a ver comigo.
— Ah, mas eu estou muito feliz por ela ter te convencido.
— Não está não, você deve ter companhias melhores do que alguém que não tem muita coisa para falar ou oferecer.
— Pois eu não trocaria um minuto de uma conversa com você para cair na cama de alguma dessas garotas.
Puxei o canto da boca em um sorriso amarelo, sem acreditar muito no que estava ouvindo.
Sem que pudéssemos trocar alguma outra palavra, começou a tocar uma música que seria impossível não dançar.
Diferente dos filmes e livros, aquela coincidência tinha nitidamente o nome de Nina, minha melhor amiga, que praticamente obrigou o cara que estava responsável pelas playlists a tocar “ perfect” de Ed Sheeran.
— Me dá a honra?— Fred estendeu a mão na minha direção.
Dei uma risada alta, um pouco por constrangimento, um pouco por achar engraçado todo aquele cavalheirismo forçado.
Como ainda estava com “ combustível” o suficiente para me dar coragem, aceitei a oferta e segurei a mão dele.
Outros casais já tinham tomado a frente, inclusive a Nina e o Pedro - o que achei estranho, já que minha amiga não parecia muito entusiasmada na companhia dele.
Fred segurou na minha cintura, sem que eu esperasse, e me puxou sutilmente contra o seu corpo. Prendi o ar diante surpresa e tentei disfarçar o leve tremor nas pernas ao sentir o corpo forte e morno, tão imponente, pressionar o meu.
A proximidade dos rostos e o hálito quente que soprava sobre a minha boca, me fez achar que tentaria me beijar.
Ele me surpreendeu totalmente quando posicionou nossas cabeças lado a lado e começou a conduzir a dança. Não tinha mãos deslizando para baixo ou nada que induzisse segundas intenções. Fred respeitou os limites do respeito dentro da sedução, e aquilo me impressionou.
Me deixei levar pela música e pelo acolhimento do corpo dele - além do cheiro amadeirado do perfume que embebedava meu nariz, de tão próximo de seu pescoço.
Antes mesmo da música acabar, uma voz conhecida irrompeu o ambiente e destruiu o transe da música.
— Então quer dizer que todo esse gelo que vem me dando, é porque está com outro cara.
Afastei-me do outro, assustada com a chegada repentina. Arregalei os olhos ao me deparar com a última pessoa que esperava encontrar.
— Não sabia que estaria nessa festa — Me esforcei para falar, demonstrando frieza.
— Se soubesse não estaria agarrada com outro?— Ele rebateu com um tom ácido.
— Quem pensa que é para chegar assim e insultar a Gabi? — Fred deu um passo a frente.
Ficando cara a cara com o seu rival.
— O namorado dela — Breno cuspiu as palavras.— E você, g**o de briga, quem pensa que é?
— Meu namorado uma vírgula. Não temos nada além de um caso insignificante que eu nem quero mais — Gabi, para evitar um confronto, entrou no meio dos dois.— Não posso te mandar embora porque a casa não é minha, mas fica longe de mim.
Assim que perceberam a confusão, Nina e Pedro se aproximaram.
— Ah, mas é muito cara de p*u você vir querer cobrar exclusividade da Gabi — Interferiu Nina.
— Não se mete! — Breno lançou um olhar fuzilador para ela.
— Abaixe o tom para falar com a minha amiga! — Gabi o empurrou para trás.
— Eu deveria quebrar a sua cara por falar assim com a Nina — Pedro aproximou-se do outro, intimidador.
— Ah, entra na fila, porque eu quero fazer isso primeiro — Fred cerrou os punhos.
— Chega! — Me coloquei na frente dos meninos, ficando de costas para o Breno.— Ninguém vai quebrar a cara de ninguém. As pessoas estão olhando, pelo amor de Deus. Estamos na casa dos outros.
— O que está havendo aqui? — Perguntou Allan, o anfitrião.
Julgando por seu olhar confuso e os cabelos bagunçados, tinha um tempo que havia sumido do salão.
— Um convidado indesejado na sua festa, meu amigo — Explicou Fred.— Por um acaso conhece esse cara?
Allan analisou o Breno, tentando lembrar de onde o conhecia.
— Você estudou com o meu irmão, não foi?— Allan perguntou Breno.
— Sim, o Paulo. Foi ele quem me convidou.
— Estranho, porque o Paulo viajou com a namorada esse final de semana.
Breno enrugou a testa, tentando entender o motivo de seu amigo ter lhe convidado para uma festa, sendo que sequer estaria lá.
— De qualquer forma, cara, você está sobrando. Não pode ficar aqui depois de ter arranjado confusão com os meus convidados. Por favor, vai embora — Allan apontou para a porta.
— Depois continuamos essa conversa — Breno lançou um olhar fulminante para mim.
— Se a Gabi não quiser, você não vai chegar perto dela — Fred apontou o punho fechado na direção dele.
Já caminhando para a porta, o Breno mostrou o dedo do meio para o outro.
Fred fez menção de ir até ele, mas foi impedido por seus amigos e por mim.
— Ei, não vale a pena — Segurei o rosto dele, fazendo-o me olhar.— Por que não voltamos a dançar.
— Ótima ideia, vamos voltar a dançar — Concordou Nina, animada.— Peça ao Renan para tocar a próxima da playlist — Ela puxou o Pedro pela gola da camisa e o empurrou na direção do homem mencionado.
Entendendo o olhar sugestivo da minha amiga, Allan também se afastou.
Ri ao perceber a intenção dela em brincar de cupido.
— Acho que sua amiga não é muito discreta — Murmurou Fred.
— Nem um pouco — Concordei.
— Mas fico feliz de voltarmos a dançar sem ninguém interromper — Fred novamente colocou a mão na minha cintura, assim que a próxima música começou a tocar.
Me trouxe para perto, com cuidado, e dessa vez nos mantivemos de frente um para o outro.
Dessa vez era “ Halo” de Beyonce.
Fred sorriu fraco, assim como eu. Mantemos um longo contato visual enquanto - sem perceber - diminuíamos a distância entre nossos rostos.
Ele parecia hesitar em tomar uma iniciativa, então tomei por nós dois e o beijei sem mais suspenses.
Retribuiu o meu beijo, sem pressa, e introduziu a língua na minha boca assim que teve oportunidade. Dominei a língua dele com a minha, e enrolei os braços no pescoço do homem. Fred apertou a minha cintura e pressionou um pouco mais os nossos corpos.
Ele chupou a minha língua e eu mordisquei e repuxei o lábio inferior dele.
Paramos o beijo apenas quando a música parou. Eu sorri com os lábios colados aos dele, feliz porque realmente gostei de experimentar outro homem, ainda que não tivesse a menor certeza do que aconteceria dali por diante.