A Garota Da Língua Afiada
Rafael Lopes
Em minha última sessão, após torturar-me com minhas próprias chantagens, meu psicólogo indicou que começasse a expressar o que existe em minha mente, na forma de escrita. Não é um diário, podemos chama-lo de "O Caderno". Pode parecer estranho, mas, eu me chamo Peregrino, porém meus pais intitulam minha pessoa como Rafael Lopes. Não que minha opinião importe, mas, olhe para nós estamos todos neste mundo em uma enorme fila, resta decidirmos como passaremos o tempo, enquanto nossa senha não é chamada.
Desde que me mudei para Angra dos Reis, papai me obrigou a cursar arqueologia. Em sua família as profissões de seus filhos são escolhidas quando ainda pequenos, então você deve entender o porquê deste caderno ser tão importante para minha autoestima, a ponto de um psicólogo recomenda-lo. Angra dos Reis é um lugar maravilhoso, quando seu sonho é ser fotógrafo, em cada espaço que você vai, existe uma nova obra de arte para se admirar.
Mas, meu pai não parece estar totalmente feliz aqui... o deputado Marcos nos isola dentro da mansão dos “Lopes” e nos proíbe de “andar por aí”, com a ideia de que pessoas seminuas nos induziriam ao pecado. Chegamos há alguns meses no Rio de Janeiro, somos quatro, mamãe, Natacha (minha irmã mais velha) e meu pai, que eu já até descrevi um pouco sobre suas tão solenes qualidades.
Mamãe é doce, carinhosa e gentil. Parece querer abraçar o mundo inteiro com seus pequenos braços, mas não consegue se desvencilhar do seu maior m*l, o casamento que já fracassou há muito tempo.
Natacha, tem 24 anos e está proibida de casar. Não sei lhes dizer totalmente o porquê, já que meu pai muda seus motivos todos os dias, bom, o melhor deles é que “Natacha é uma das virgens, da parábola”... Eu acredito que meu pai não costuma ler muito bem a bíblia a ponto de entender que Jesus utilizava de histórias para nos trazer ensinamentos muito maiores. Talvez, digo, sem medo de errar, ele não conheça a Jesus e nenhum de nós aqui em casa conhecemos, Marcos é o senhor desse lar, tem suas próprias doutrinas.
— Filho, seu pai irá chegar em alguns minutos. Por favor, não se atrase para o almoço. — Ouço mamãe falar atrás da porta fechada. Respiro fundo e admiro pela última vez, de cima da sacada, aquela praia e pessoas que pareciam tão mais felizes do que eu e acabo me perguntando, se Deus seria apenas isto que conheço, uma brisa que passa e voa para longe de mim.
•. Segundo dia em Angra. Bom, este capítulo de minha vida poderia se chamar “A Garota E O Cachorro"
Tomo meu banho e estou sobre o parapeito da sacada, admirando mais uma vez as belas voltas circulares e azuis que o mar me proporcionava, pessoas sorrindo e outras querendo chorar, crianças comendo areia e os pais brigando com elas por isso. Até que algo me chama a atenção, um labrador cor creme atravessa a rua como se fugisse da carrocinha, enquanto logo atrás aquela garota, a menina dos cabelos encaracolados e loiros esvoaçantes, sobre um skate velho assim como seu jeans surrado e sua camiseta de qualquer banda que eu desconheço. Ela grita, sua voz é estridente como a sirene de uma ambulância, quando o caso do paciente é bem grave.
— Sherlock, não corra de mim!!! Seu... Seu Cachorro!!! — A mesma esbraveja sem se importar com os olhares dos curiosos, acabo rindo de forma involuntária, ela não parecia ser muito experiente com xingamentos. Em um súbito sou obrigado a engolir meu riso, pois a jovem desesperada havia ouvido minha gargalhada. A mesma consegue agarrar o cachorro, segurando em seus braços e equilibrando o skate com o pé. — O que foi parceiro? Tá tirando uma com a minha cara?! — Ela grita assassinando o português e me atrevo a dizer até mesmo o próprio Aurélio.
− Peço desculpas, não fora minha intenção. – Digo. Confesso, acabo me rendendo ao ver aqueles cabelos que brigavam com o vento sobre quem poderia ser mais livre.
— Cara, o que cê tá me olhando?! Por acaso pareço com teus parentes? – Ah meu Deus, estava ficando cada vez pior, dessa vez nem mesmo seus cabelos foram capazes de sondar meus ouvidos.
− Na verdade, olhando bem... parece com a minha avó!! – Grito começando a me divertir com a situação.
− Se eu tivesse um neto como você, eu doaria!!
− Ei! Quem pensas que é? Não podes querer definir quem sou, nem mesmo me conheces. – Falo e depois busco entender o que eu havia acabado de dizer. Sem resultados.
− Meu querido, do jeito que você fala... já dá para saber que é mó coxinha!!! – Respiro fundo após ouvir aquilo e grito perdendo a razão.
− Está com inveja de minha pessoa! - Falo e ela sorri de forma debochada, pondo uma mão na cintura e dizendo, como se ali tivesse ganho a briga.
− Desculpa, mas, quem está preso em uma masmorra não sou eu. Agora só falta o dragão!
− Ei garota, para de fazer baderna em frente à minha casa!! − Ouço a voz de Marcos chegar próximo ao meu ouvido como um estrondo.
− Pronto, agora não falta mais ninguém!
– Exclama e segue ao seu destino, me deixando ali com as consequências.
− Quantas vezes já não lhe disse para que não converse com estes imundos daqui!!
− Papai exclama tirando seu cinto da calça e me agredindo com o mesmo, meu corpo queima e minha alma grita, as lágrimas de dor insistem em descer, mas, eu respiro o mais fundo que posso. – Nunca mais desrespeite meu nome dessa forma. – Diz seguindo para fora, me deixando no chão com as lágrimas presas em minha garganta.
Sophia Castilho
− Sim, eu amo você... não pelo seu exterior, mas, pelo que tem dentro de ti. – Digo enquanto abro a geladeira e encontro resto de pizza de ontem.
− Filha, como foi lá? − Mamãe pergunta vindo em minha direção, a luz do sol reflete em sua melanina que brilha e seu largo quadril balança junto a um pano de prato pendurado em sua saia.
− Tudo certo, papai pediu para que eu leve o almoço! − Grito pulando no sofá e ligando a televisão.
− Eu não sei como vocês dois se parecem tanto. – Fala empurrando meus pés para baixo e batendo sobre o lugar que eles estavam apoiados.
Quando eu tinha apenas dois meses de vida, fui deixada em um orfanato que tinha por nome “Carmesim”, em Minas Gerais. Ana Paula e seu marido Humberto trabalhavam no local e me adotaram desde então. Apesar de sermos diferentes fisicamente, mamãe apenas se importou com o amor que eu precisava ter, agradeço todos os dias por Deus ter me colocado em seu caminho, posso dizer que não consigo imaginar pais melhores.
− Mãe, hoje aconteceu uma coisa esplendorosa. – Digo e minha mãe me olha assustada, prendendo seus cabelos tingidos de vermelho e recém chapados por minha tia Jeane.
− Tudo bem, não sei o que pergunto primeiro. Sobre o que aconteceu ou, onde você aprendeu essa palavra. – Fala e dou risada sendo empurrada para o canto do sofá, pela senhora que deveria cuidar de minha pessoa.
− Bom, estava eu em busca do Sherlock, quando um garoto riu de minha pessoa.
– Falo e mamãe arqueia suas sobrancelhas em forma de preocupação.
− Ah meu Deus! Sophia você discutiu novamente com alguém? O que já conversamos sobre isso?
− Que devemos dar a outra face, como Jesus Cristo nos ensinou. Mas, não precisa ficar na neura, ainda não bati nele
− Não quero mais saber de você brigando. Agora vá tomar seu banho, para que possamos almoçar. – Respiro fundo e sigo para o meu quarto. Na maioria das vezes, costumo não testar a paciência de minha mãe, ela não erra facilmente ao jogar o chinelo em minhas pernas.
Havia acabado de voltar da praia e precisava realmente tirar toda aquela areia impregnada em meu corpo. Papai trabalha em uma agência de turismo e o ajudo na parte da manhã com a comunicação, não que eu seja boa em atendimento ao público, mas, falo um pouco de inglês e isso auxilia na conversação (Friends School). Moramos em um bairro pequeno, numa casa de cor amarela, arbustos enormes e quatro cômodos, sendo um deles o meu quarto, santuário da aspirante a jornalista e ativista social.
− Sophia!!! − Ouço uma voz como de um trovão ecoar na cozinha, estalando dentro de meus ouvidos, atrapalhando meu momento Diva Gospel.
− Já estou saindo, poxa vida em!! − Falo em seu mesmo tom de voz, respondendo minha doce mãe.
− Não grita comigo não garota, não sou tuas coleguinhas! Está pensando que sou dona da SAAE!! Não esquece de arrumar esse quarto que está um bololô, vou revelar isso para o pessoal que vive te olhando no BLOGG. – Diz e sorrio seguindo para o meu quarto, o encontrando quase por uns tris de ser engolido pelas roupas e sapatos que o tornavam tão charmoso quanto eu. Bom, em minha defesa, tenho estado muito ocupada com o blog “Fala Memo Sophia”, vocês nem imaginam o quanto é difícil ser jornalista, ativista, ótima no karaokê e ainda ser filha, isso não é para todo mundo, poxa.
Rafael Lopes
− Rafa, o que aconteceu contigo? Está tudo bem? – Natacha indaga ao me encontrar no chão do meu quarto. Assinto com a cabeça e me levanto com sua ajuda.
− Foi só uma discussão com o Marcos, ás vezes penso que não deveria ter voltado para casa... para igreja.
− Ah Rafa, não diga isso. Nós dois sabemos que o papai não defini muito bem o que é um cristão.
− Queridos, o que aconteceu? − Mamãe diz ao nos ver sentados sobre a cama. Seus olhos se encontravam marejados e isso me feria por dentro.
− Mãe, está tudo bem. Olhe para você ver, fui descer da sacada e acabei esbarrando na porta. — Digo e Natacha concorda forçando um sorriso nervoso. Samara, minha mãe não precisava de mais preocupações e peso para suas costas.
− Tudo bem, que tal vocês saírem para tomar um sorvete. O Marcos foi viajar, tragam uma cestinha para mim... sem cobertura. — Fala ajeitando seu avental e limpando o rosto vermelho com as mãos.
— Eu acho ótimo, quero tanto ver a luz do sol! Poxa vida, isso é tão mórbido.
– Natacha diz correndo em direção ao seu quarto para se vestir. Natacha é a melhor pessoa do mundo, tem uma alegria dentro de si que nem mesmo meu pai foi capaz de destruir, já mamãe e eu não somos tão fortes assim.
— Nath, já está pronta? — Questiono Natacha enquanto a mesma ri em frente ao computador. Ela desliga o mesmo rapidamente e concorda várias vezes com a cabeça. – Estava assistindo aquela garota de novo? Queria ver quem é essa que encanta a minha irmã.
− Rafa, não conta para o papai. Ele não para de dizer que rede sociais são artimanhas do inimigo e tudo mais, ela é cristã...então não vejo problema nenhum em fazer algo que me deixa feliz e ainda faz bem à alma.
− Claro que não vou contar, só estou com ciúmes. Minha irmã é fã de outra pessoa que não seja eu. – Brinco fazendo bico e a mesma sorri, me abraçando e seguimos para o primeiro andar, onde pegamos nossas bicicletas e finalmente encontramos a luz, no caso...a luz do sol.
Sophia Castilho
− Impar! − Par! − Papai e eu disputamos quem seria o perdedor e enfrentaria a tão temida louça do almoço, já que em casa temos a regra de que “quem cozinha, não lava louça”
− Crianças, vamos almoçar primeiro, depois vocês decidem quem será o grande merecedor de lavar essa maravilhosa forma de frango.
− Nossa, estou com muita fome, fico feliz de ter chego antes da Sophia comer tudo.
– Papai comenta e rimos juntos.
− Fico feliz por você também, pois minhas tripas estão se comendo uma a outra.
– Entro na brincadeira.
− Meu Deus, que horror Sophia. O que eu faço com vocês dois em? – Mamãe diz de forma assustada.
− Nos alimente, simples assim. – Humberto responde e sorrimos os três. Sou impedida de desfrutar de minha alimentação, por alguém que chama no portão. – Vocês já perceberam que essa garota sempre aparece na hora do almoço, só pode ser vidente.
− Com licença. – Digo e meus pais concordam com a cabeça, sigo até o portão de grade multicolorido, onde Bianca se encontra com os olhos inchados. Bianca é uma linda garota, que mede quase o dobro de minha altura (1.55 – é altura normal de uma pessoa, não me julguem), acredito que a maioria das garotas da faculdade morrem de inveja dela e os garotos queriam namora-la, mas, a mesma insiste em ser iludida pelo mesmo cara desde os 14 anos, quando nos tornamos amigas. Deixando claro, que até hoje não encontro o que temos em comum. – Oi panda, o que ele fez?
– O Cle...ah como eu queria ser como você, não ter coração para ser machucado. – Fala se jogando em meus braços. Tudo bem, não me senti ofendida. Yes, estou alcançando meu objetivo, as pessoas querem viver sozinhas como eu!
− Limpe essas lágrimas e vamos para o meu quarto. − Digo e seguimos para dentro de casa, sendo fuzilados pelos olhos curiosos de meus pais.
− Bom dia, senhor e senhora Castilho.
– Bianca diz fungando o nariz. Bianca é a pior pessoa para disfarçar algo, se fosse depender dela teríamos sido descobertas quando fomos para o aniversário de quinze anos da Celine.
− Quer almoçar, querida? − Mamãe pergunta e negamos juntas. – Sophia não esquece de arrumar toda aquela bagunça do seu quarto!! − Mães e suas facilidades em fazer os filhos passarem vergonha.
− Aquilo não é bagunça, sabe, é muito importante dar liberdade para que suas roupas se sintam confortáveis. – Falo por fim. Bianca se senta em um dos puffs que haviam em meu quarto e faço o mesmo, segurando o Steve Pizza em meus braços.
– Fala aí, o que aquele palhaço fez?
− Eu e o Cleinilson terminamos. – Em primeiro lugar, alguém que dá um nome desse para o filho, bom sujeito não é. Sem querer ofender a todos os Cleinilsons da face da terra, se é que exista algum. – Disse que precisava de um tempo, pelo menos uma semana.
− Nossa, que coincidência ele pedir um tempo na semana do carnaval. Posso imaginar o quanto deve ser difícil para o Cleinilson, passar essa data comemorativa solteiro. – Falo com ironia e Bianca começa a chorar novamente. “ Ah Sophia, sem sentimentos” − Eu sei que ele disse amar você, mas, também digo que lhe amo e é mentira. – Digo sorrindo e ela faz o mesmo me abraçando.
− Mas, não custa nada esperar três dias...certo? − Diz e a empurro bruscamente.
− Não custa nada eu lhe dar um t**a, quem sabe assim teu amor próprio volte.
– Sento-me na cadeira da escrivaninha e começo a balançar uma caneta. Enquanto a jovem doutora pró-amor inicia seu discurso.
− Você precisa de um namorado, Sophia. Encontrar o amor da sua vida.
− Eu preciso de dinheiro ou encontrar uma grande reportagem, que me impeça de fazer o TCC e passar direto.
− Você é tão irritante.
– Irritante é você, não disse que estava esperando a pessoa certa? − Indago e Bianca sorri maliciosamente.
– É tão difícil quando as erradas beijam tão bem. – Diz e rimos juntas. Como eu disse, ainda não encontrei o que temos em comum.
− Vou gravar um vídeo agora, quer participar? − Pergunto e a mesma discorda com a cabeça. – Então senta ali do lado para não sujar o vídeo. – Brinco e a mesma faz careta sentando perto da parede.
Olá meus quadrados e alienígenas do mundo inteiro!! Hoje estou aqui para postar um vídeo sobre uma das praias aqui em Angra dos reis que está coberta de lixo. Eu e meu amigo Caleb, que está solteiro, gravamos o cuidado que o prefeito tem com a comunidade e seus visitantes. Toda aquela bagunça que está lá consegue ganhar do meu quarto, e olha que não arrumo faz uma semana. Vou estar deixando o link do vídeo aqui e curtam até os nossos governantes verem. Ah, sobre o pessoal que está falando da minha face sem “make”, vão orar, beleza? Quer ver gente bonita, vão em blogs de maquiagem. Beijos no órgão que bombeia sangue!!
− Pronto, agora vamos lá tomar um sorvete. – Digo calçando meus all star e pegando o skate nos braços.
− É sério que você vai ir de jeans? Deve estar cheio de pessoas na rua, futuros namorados para você. – Bianca fala e meus olhos giram em torno de 180 graus.
− Tipo, pensei que íamos dar um rolé e não ficar procurando namorado para mim.
− Mas, é claro que só vamos dar um “rolé” amiga, você acha que eu teria ligado para um carinha da sua Church nos encontrar na praia?
− Pode ligar e dizer que peguei catapora, ou então esquece de sorvete. – Digo e a mesma pega o celular digitando algo. Não acredito que ela realmente havia marcado um encontro para mim.
Rafael Lopes
− Rafa!! − Natacha grita me trazendo o sorvete de chocolate, enquanto já degusta o seu de chiclete. – A Sophia está vindo neste momento para a sorveteria. Meu Deus, acho que meu espirito está saindo do meu corpo neste exato momento. – Imaginem uma garota gritando e batendo as palmas das mãos, era exatamente assim que minha irmã de 24 anos estava, por uma garota que fala um monte de bobagem na internet.
− Eu espero que você não se decepcione, nem sempre é bom conhecer nossos "heróis". – Digo com todo meu mau humor, mas, Natacha estava muito feliz para se importar.
− Você sabia que, ela ensina confeccionar várias coisas usando garrafa pets, aqueles anéis de latinhas e tantos outros objetos que iriam para o lixo. Não é demais? − Concordo com a cabeça, admirando o sol que estava bem quente naquele dia.
– Mas que...não acredito que essa garota está aqui de novo. – Falo para mim mesmo ao ver a senhora rabugenta. Dirijo meus olhos para Natacha e ela está com um sorriso de orelha a orelha no rosto, não mundo, você não faria isso comigo.
− Sophi!!!! − Ela grita e a menina lhe retribui um olhar assustado sendo agarrada por minha tão amável e eufórica irmã. – Eu sou sua fã, sério, a número um!!
− Chegou tarde, a primeira fã dela, sou eu. Muito prazer, Bianca. – "Temos aqui uma dupla de mulheres chatas. Natacha, vamos nos salvar enquanto ainda podemos."
− Bom, fico feliz em saber disso...afinal, pensei que meus únicos fãs eram meus pais e ainda tinha dúvidas. Agora já tenho duas.
– Sophia diz e Natacha sorri, como se fosse a piada mais engraçada do mundo. Ponto positivo, por ela não ser esnobe.
− Eu lhe conheço do “Fala memo, Sophia”, esse nome é muito legal. Qual foi sua inspiração para... − Natacha para de falar por um minuto e dirijo meus olhos até a garota que está me encarando de forma nada gentil.
− O que você está fazendo aqui? Esse garoto é seu namorado? Poxa cara, tem bom gostos para pessoas como eu e nenhum gosto para outras como ele. – Diz debochando de minha pessoa.
− Bom, parece que concordamos em algo. Essa daí é a garota que eu lhe disse, a injusta.
− Opa, opa...a Sophi é muito justa, ok? Só em questão de comida que não é muito, mas no resto ela é supeeer!! − A maluca que estava ao seu lado diz e Sophia agradece com um aceno. – Caramba, ele é um gato...você não disse que ele era bonito assim. – Continua falando, agora em um sussurro. Meu rosto acaba corando, por que pele de boneco de neve, por quê???
− Fora contigo que ele discutiu de manhã?
− Natacha questiona a mesma. Finalmente serei defendido. – Desculpa meu irmão, sabe como os homens podem ser inconvenientes as vezes.
− Sim, eu sei muito bem. Bianca, vamos procurar um lugar para nos sentarmos.
– Ela resmunga para outra.
− Podemos nos sentar aqui? Está meio cheio o quiosque. Claro, se o teu irmão não se importar. – A tal Bianca questiona Natacha.
− Haha, ele não se importa. – Natacha diz apertando minha perna. Sophia é puxada bruscamente por sua amiga e sentam-se em nossa mesa.
− E então Rafael, você tem namorada?
− Bianca pergunta e Natacha responde por mim.
− Ainda não, mas, se souberem de alguém aposto que ele adoraria namorar.
− Haha, que coincidência a Sophi também!!
− Vocês duas, vão querer alguma coisa ou só vão ficar ai ocupando espaço? − Uma jovem de cabelos escuros e corpo pequeno, se aproxima de nossa mesa, Sophia e Bianca se entreolham e reviram os olhos.
− Duas águas de coco, na garrafa lacrada, obrigada. – Sophia diz e a jovem segue cascavelando até a barraca.
− Ela costuma babar nos sorvetes, essa cara de cachorro. – Bianca sussurra para mim e minha irmã e Sophia concordam.
− O sorvete está muito bom. – Digo e as três riem. Sophia se levanta e puxa Bianca, para irem embora.
− Nós temos que ir, foi muito bom conhecer você...Nath, quem sabe não nos vemos outra vez. – Diz e Natacha concorda lhe abraçando.
− Me adiciona nas redes sociais, meu nome é Natacha Lopes. Eu amei te conhecer, foi muito importante para mim.
− Vem Sophia, tchau Natália. – Se eu fosse uma mulher, diria que Bianca errou o nome de minha irmã de propósito, mas, como sou homem vou continuar achando que foi de propósito SIM.
Sophia Castilho
Havíamos nos encontrado duas vezes no mesmo dia, essas coisas assim não acontecem sempre. Rafael era um rapaz atraente, vinte e poucos anos, cabelos escuros como a noite sem estrelas, corpo forte, porém esguio, 1.80 de altura, pele clara como de um boneco de neve e usava óculos de leitura, não que ele realmente precisasse. Suas roupas eram um tanto inconsistentes, sabe, quando parece ainda não ter descoberto seu estilo, você pode achar isto sem valor, mas, o que vestimos diz muito sobre quem somos. Seus jeans escuro e camisa social azul, combinava perfeitamente com os olhos castanhos claros e tristes, ele deve sentir raiva de si mesmo e claro, um pouco de mim também.
Já Natacha, sua irmã, usava um vestido cinza e seus cabelos ruivos, presos por uma pequena presilha de flores. Apesar de sentir-se presa ás vezes, a mulher conseguia encontrar alegria dentro de si, para sobreviver mais um dia.
− Vai adiciona-la, na rede social? − Bianca questiona, tirando-me dos meus devaneios. Movo minha cabeça em concordância e ela respira fundo, com olhar de desaprovação. – Você acabou de conhece-la, e se ela for uma maluca? E outra, sempre fomos só nós duas, Sophia.
− Para de ciúmes Bianca, nosso grupinho tem espaço para mais gente, tipo, aqui é igual coração de mãe. – Digo achando graça de tudo aquilo. A mesma começa a andar mais rápido e lhe sigo. – Fala logo, o que foi em?
− Vai ter que escolher, se for amiga daquela patricinha, não terá mais eu e você. – Diz enfim, fazendo um bico maior do que o próprio rosto.
− Beleza então, não falo mais com nenhuma das duas. – Digo remando meu skate para longe dali. Não quero comentar sobre a atitude da Bianca, como eu disse, somos amigas desde o quatorze e ela sempre quis me impedir de ter outros amigos, não sou propriedade de ninguém além de mim mesma.
− Você parece um moleque!! − A mesma grita. Como Bianca costuma dizer “Em uma discussão, sempre sou a última a falar”. Sigo em direção a pista de skate, era um lugar bom para esfriar a cabeça, quando sua melhor amiga é uma ciumenta. Acabo encontrando Caleb que sorri ao me ver, o mesmo ajeita suas calças frouxas e se aproxima de mim.
− Loirão!! − Exclama nosso apelido. Não posso falar se acho ele bonito ou f**o, por que somos praticamente irmãos e isso seria extremamente estranho, as garotas parecem gostar, mas, Caleb tem muita coisa para se preocupar. Nos conhecemos desde os meus seis anos, ele tem 24 e sempre foi meu herói, me protegendo dos perigos e das discussões que na maioria das vezes, havia sido eu quem tinha começado. – Sabe, eu criei uma manobra e apelidei com o meu nome. – Diz, se sentando ao meu lado sobre o início da pista de skate.
− Deixa eu adivinhar, você sobe no skate e cai? − Brinco e ele finge uma risada de deboche, batendo em minha cabeça. — Moreno, posso lhe fazer uma pergunta?
— Questiono e o mesmo concorda, passando as unhas sobre sua barba malfeita. – Me acha, bom, muito masculina?
− Claro que não, quem foi que lhe disse isso? − Indaga e não lhe respondo nada.
– Sabe loirão, cada garota é diferente uma da outra, algumas choram muito e outras sorriem demais, algumas vão ao shopping e outras andam de skate, não é isso que define o tipo de mulher que você é, e sim a sua força para enfrentar as dificuldades.
− Ah sei lá cara, eu falo um monte de gírias e brigo com todo mundo, além do mais, você me apelidou de “loirão”. Bem que a Bianca diz que nunca vou arrumar um namorado.
– Falo e o mesmo sorri me abraçando.
− Para miga, a Bianca é uma bobona. – Diz afinando sua voz e acabo dando risada.
– Um dia vai encontra alguém que goste até das tuas gírias, eu sei, parece impossível, vou orar por você. – Zomba e lhe deposito um t**a pegando meu skate e remando, sendo seguida pelo mesmo, até nossas casas. – Vamos ao culto hoje, certo?
− Acha que eu vou perder? Broow!! − Digo gesticulando minhas mãos e ele ri, adentrando o portão de sua casa à frente da minha. Passo pela porta e sinto minha coluna arder ao cair no chão, sim, mamãe estava limpando a casa. A mesma me olha e sorri, debochando de minha pessoa. Sigo para o meu quarto e papai se encontra deitado em minha cama. – Pai, acho que não vou para o culto.
− Se não for sua mãe irá te agredir. – Diz e sorrio me deitando ao seu lado. – Você sabe que, quando Jesus diz “nem por força ou violência”, não se referia as mães.
− Parece que não mesmo, bom, vou tomar um banho...agora vê se sai do meu quarto, uma garota precisa de privacidade.
− O que eu posso fazer, seu quarto é um único onde o ventilador ainda funciona.
– Diz usando o Steve pizza como apoiador para cabeça.
− Pai, o senhor acha que sou muito masculina? − Lhe questiono e o mesmo se levanta, olhando para mim sem entender muito bem a pergunta.
− Não deveria esperar até os vinte e quatro anos para decidir sobre isso? − Indaga e sorrio com ar de deboche, seguindo para o banheiro.
PS: Sejam Bem Vindos, a História de Sophia Castilho! Um grande beijo no órgão que bombeia sangue!