Capitulo 2 - Carta de Demissão

1054 Words
Inclino a cabeça olhando para a cadeira e forço a mão contra a roda tentando colocar ela no lugar, ela se mexe, mas volta para o lugar torto dela. Porcaria - Acho que quebrou – a senhora Nanci diz e eu suspiro empurrando mais forte - Vamos ter fé, o que me diz? - Fé eu tenho, só não sei se isso vai funcionar com você dessa vez – arqueio uma sobrancelha para ela que sorri e dá de ombros do seu lugar no sofá – Vamos lá querida, admita, você tentou concertar e quebrou a cadeira de rodas. - Eu não quebrei - Quebrou sim, e eu que não vou me sentar em uma cadeira em que a roda está virada para o lado errado - Você vai poder ir para dois lugares ao mesmo tempo, isso é legal, não é? - Muito engraçado – ela diz chateada e eu reviro os olhos - Não se preocupe, vou pedir para que olhem - E até lá eu durmo no sofá? – ela diz arregalando os olhos e eu me levanto empurrando a cadeira para trás.... Ela foi para o lado direito. Bem, tanto faz - A senhora vai dormir em sua cama, como sempre – eu falo e arrumo sua cama, ajeitando os travesseiros – Quem quebrou foi a cadeira, não a cama - Bom, e você vai me carregar no colo? - Eu poderia, sabe? – finjo fazer um muque batendo em meu antebraço com força – Sou muito forte Nanci começa a rir e eu sorrio empurrando os lençóis para o lado, onde ela vai se deitar. - E como foi a viagem? – ela pergunta e eu começo a colocar os remédios do lado de sua cama. - Foi boa - Fez algo do qual se arrependeu? – ela pergunta animada e eu quase digo não. Mas aí me lembro do beijo e suspiro irritada - Sim, fiz - Ótimo – ela bate palmas e eu sorrio desconfiada – Uma viagem só é uma viagem se você fizer algo do qual se arrepende - Isso tem em algum livro de autoajuda? - É claro que não, eles não são tão inteligentes assim - Ou.... - Pego o copo de água e a deixo do lado da cama – Eles são sensatos Nanci bufa e faz um gesto com a mão dispensando o meu comentário - A vida não é sensata querida - Não posso dizer que a senhora está errada - Inteligência sua Balanço a cabeça e vou até a porta, olho no corredor e aceno para um dos enfermeiros vir me ajudar com Nanci. Cinco minutos depois e muitos resmungos da parte da paciente, conseguimos colocar ela na cama. - Tenha uma boa noite Nanci – eu falo e ela resmunga mais alguma coisa se ajeitando nos lençóis. Volto para a porta e já ia fechando a porta quando ela chama o meu nome, me viro de novo e coloco a cabeça para dentro do quarto. - Sim? - Não escolha sempre o caminho certo. - Perdão? – eu digo confusa e ela suspira aborrecida - Porque as vezes o que você procura está no outro caminho, e você tem medo de mais de trocar de pista - Não foi isso que eu ouvi dizer - Eu já disse, eles são meio burrinhos mesmo – ela faz uma careta e olha para mim – As vezes os melhores caminhos são aqueles que são imprevisíveis. - Você está muito intensa hoje, engoliu um livro de filosofia? - Você é irritante, sabia? – ela diz e eu fecho a porta rindo.   ........................... Sabe no tempo da escola quando você estava sentada na sua cadeira sem fazer nada e aí de repente uma voz ressoa na sala chamando o seu nome e o seu corpo inteiro fica em estado alerta querendo correr para o lado oposto? Bom, aconteceu comigo agora. A única diferença é que foi a enfermeira chefe do meu departamento que me chamou e não a diretora. Mas eu meio que acho que dá no mesmo. As duas sempre estão com expressões fechadas e com cara de quem vai te dar um belo sermão. Então me preparo para dizer que a culpa de a cadeira ter sido quebrada não é minha. - Temos que conversar sobre um assunto muito delicado, srta. Fontaine - É sobre a cadeira? Porque eu juro que.... - Cadeira? Que cadeira? – Jennifer Bulton é uma mulher bonita, do tipo de cabelos grandes, olhos claros, rosto pequeno, mas quando ela fica piscando os olhos como estava fazendo agora, ela me parecia muito um passarinho. - Cadeira nenhuma – eu falo me desviando do assunto – Prossiga por favor Ela suspira e se senta na cadeira a minha frente, cruzando as mãos sobre a mesa ela sorri e eu me preparo, lá vem notícia ruim. - O departamento está precisando se recuperar de alguns problemas financeiros, então estão fazendo alguns cortes e.... - Espera, isso é você tentando me demitir? – eu falo arregalando os olhos assustada. - Sinto muito – ela diz e eu me levanto da cadeira – Mas algumas pessoas terão que sair para começarmos a organizar tudo novamente sabe? - Eu gosto do meu trabalho Jennifer, nunca cheguei atrasada...- paro e reformulo a frase, até porque nunca é uma palavra muito forte – Eu só não entendo. - Eu sei, mas não há nada que eu possa fazer Suspiro cansada e olho ao redor da sala. O primeiro emprego dela depois de terminar a faculdade de enfermagem fora ali, no hospital St. John, onde todos se comunicavam em grupo e onde todos ajudavam no que pudessem e agora depois de seis anos trabalhando em um local do qual gostava ela estava sendo demitida. Sem nem ao menos o direito de lutar pelo cargo. Isso era maldade. Olho de novo para Jennifer e sorrio me desculpando. - Tudo bem, a culpa não é sua – pigarreio e dou um passo à frente – Quanto tempo eu tenho? - Somente esse mês - Certo. Obrigada Jennifer Ela sorri se levantando e sai da sala, pego o meu pingente na correntinha em volta do pescoço e aperto. Nanci disse que eu deveria tomar novos caminhos. Tudo bem, eu poderia fazer isso. Só tinha que descobrir como.
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