Casal bem louco [M]

004

Daniel

Fui descendo o morro e cumprimentando cada um que eu conheço por aqui. Já avistei o Henrique e a Rebeca fumando.

Dn:Uma hora dessa, Rebeca.

Beca:Se fuder. Quer? - me estende, e nego.

Dn:Tô indo trabalhar, posso ir com cheirinho de maconha não.

Hq:O pai é trabalhador, Rebeca. Convida depois do trabalho, agora não, po.

Beca:Cala boca que tu nem devia tá aqui.

Dn:Ela tá certa.

Hq:Tô de segurança hoje. Acha que tô na frente da casa do cara por quê?

Dn:Faz sentido.

Beca:Como tá as coisas com a Helena?

Dn:Bem. E botando agora que vou ter filho - finjo dar de ombros.

Beca:Eu vou ser titia? - se anima e concordo.

Hq:Como essa porra aconteceu?

Beca:Com o dedo que não foi, Henrique. Mano, mamãe precisa saber disso.

Dn:Aquieta o cu, eu vou depois com a Helena lá.

Beca:Sabe que a mamãe não vai muito com a dela, né?

Dn:Mãe tem que parar de julgar as pessoas pelos pais. Ela é barraqueira, e sou o oposto.

Hq:Já a filha é pior ainda - brinca, rindo junto comigo, e Rebeca bate nele.

Beca:Toma no cu não quer.

Hq:Já disse que nada habita nessa terra.

Dn:Tô indo. Ainda preciso arrumar um emprego melhor pra sustentar as duas crianças.

Beca:Helena não é nenhuma criança, ela é bem esperta pra onde nasceu. Me amarro na dela.

Dn:Tô ligado. Tô falando mesmo porque ela come como uma criança, sem fundo aquilo ali - eles riem da minha cara.

Hq:Sabe que ainda tá de pé a minha proposta na minha boca.

Beca:Envolve meu irmão nas tuas coisas podres não.

Hq:Bem que tu tá com o podre, né. Tu mora com o podre que te dá de um tudo, Rebeca.

Beca:Se esse é o problema, eu ralo. Volto pra minha mãe sem problema algum. É o que você quer, Henrique?

Dn:Tô ralando.

Meto meu pé da confusão e vou andando até o buraco da estação.

Rebeca

Fiz o maior fuzuê com o Henrique mesmo.

Sai de casa pra morar com ele na época que eu fiquei grávida. Não tínhamos nada sério nessa época, mas ele disse que iria assumir a responsabilidade do bebê direitinho e chamou pra morar com ele, pra ficar mais perto do filho.

Eu topei já que ia fazer bem ao bebê, mas fomos só pela criança mesmo. Na minha décima semana de gestação, eu perdi a criança quando cai da escada do terraço. Eu tinha ido estender a roupa, e como tinha chovido, acabei escorregando na escada molhada e fui com tudo a baixo.

Me senti culpada pra caralho e ainda me sinto. Eu tinha que ter sossegado o cu no sofá.

Henrique me ajudou naquele momento mais difícil e ficou do meu lado. Aquela situação toda só foi nos aproximando mais, até eu decidir ir embora, já que não teríamos mais a criança. Catei meus panos de bunda enquanto ele estava na boca e fui pra minha mãe de volta.

Quando ele voltou da boca e não me viu em casa, foi atrás de mim na minha mãe e começou a me chamar no portão até eu ir atender ele. Me disse que tava amarradão na minha e que queria continuar morando comigo, que tava amando minha companhia e o caralho a quatro, a chegar em querer me assumir e tal.

Claro que eu não fico como outras fiéis daqui como corna. Ele sabe que acabo com a raça dele e me garanto muito bem dentro de casa pra ele procurar na rua. Botou em mim, vai no mesmo troco e ralo da vida dele. Por isso nem arrisca, sabe que descubro tudo num piscar de olhos.

Beca:É o que você quer, Henrique? - desafio ele, que abaixa a guarda - Fala, caralho - grito.

Hq:Não, amor - fala baixinho e vêm pra me abraçar.

Beca:Quero abraço não - mantenho a postura, e o distancio.

Hq:Vai fazer isso comigo? - segura meu rosto.

Beca: Bem que tu tá merecendo - levanto da calçada - Tô indo pra casa - devolvo a maconha e ralo bem rapidinho dali.

Helena

Tomo um banho gelado assim que o Daniel sai de casa.

Visto um short de pano mole e uma regata sem botar sutiã mesmo. Vou ficar em casa e os peitos são meus.

Começo arrumando a sala e a cozinha. Depois arrumo o quarto e lavo o banheiro. A casa não é muito grande, se resume em somente quatro cômodos.

Eu nunca liguei se o Daniel tem muito ou pouco. Eu sei que o que ele tem, se esforçou com seu suor até aqui pra conseguir com muita luta, e admiro tudo que ele faz.

Minha família tem o que tem por cima de outras pessoas e se alegrando com a infelicidade de cada um.

Lavo as roupas sujas e fico de olho na máquina até parar de bater. Posso ter crescido em uma família com dinheiro e empregados, mas minha mãe e a vovó, fez a questão de eu aprender o básico.

Lavar roupa, arrumar casa e cozinhar. Ela disse que mesmo que tenhamos quem faça isso pela gente, o melhor ainda é ajudar aqueles que nos ajuda arrumando nossa bagunça pra não dar trabalho.

Coloco a roupa limpa no cesto e levo pro quintal, estendo tudo e entro pra casa. Assim que fica mais tarde, faço uma macarronada rapidinho e ajeito na mesa, deixando esfriar um pouco. Mandei mensagem pro Daniel perguntando se iria almoçar em casa.

Pego o dinheiro que ainda tenho na carteira, calço o chinelo e vou no barzinho aqui embaixo comprar uma coca pro almoço.

Lena:Seu Zé - me encosto na bancada.

Zé:Ô menina - me cumprimenta. Ele é um velhinho muito fofo, fico horas conversando com ele se deixar - Tempo que você não vem aqui.

Lena:Estou pra ficar de vez e prometo que venho mais.

Zé:Gostei - rimos - E o menino Daniel?

Lena:Foi pro trabalho. Vim comprar coca.

Zé:Vou pegar- ele vai e não demora pra voltar com uma bem geladinha e me entrega. Fico conversando um pouquinho com ele ali.

[...]

Daniel

Como a minha mercadoria toda já tinha acabado, resolvi ir pra casa comer com a Helena.

Desci na minha estação, e fui subindo pra casa com alguns amigos meus.

Enquanto estávamos zoando, um deles parou de andar do nada.

Dn: Qual foi, Paulinho?

Paulinho: Não é a tua mina ali? — aponta, pra dentro do bar.

Olho pra lá, e vejo a loira encostada no balcão, conversando com seu Zé. Me subiu um ódio. Não um ódio por ela estar ali, sim por chamar atenção dos babacas que estão ali só olhando e gostando, até comentando entre eles.

Respiro fundo e vou até ela.

Dn: Boa tarde, seu Zé — cumprimento ele.

Zé: Oi meu rapaz. Vi que trouxe nossa menina pra cá, finalmente.

Dn: Pois é — forço um sorriso — Vamos, Helena.

Ela me olha e concorda com a cabeça.

Lena: Tchau, seu Zé — acena pra ele.

Pego o refrigerante, e vou andando pra fora do bar, o mais rápido possível.